N.º 26 –
Março de 2003
Meu caro Vítor
Paquete:
Quando alguém morre,
mais cedo ou mais tarde, ouvimos dizer que foi “desta para melhor”. Eu
não sei se se vai para melhor ou pior, não conheço ninguém que tenha
voltado nem ninguém que conheça alguém que o tenha feito. Para mim a
morte não é mais do que o fim do pesadelo daquilo a que alguém
convencionou chamar vida.
De qualquer modo,
quem sou eu para saber a essência oculta do universo e o comportamento
das invisíveis energias que o compõem.
Portanto meu amigo,
neste momento só quero compartilhar contigo, tenhas acesso ou não ao que
escrevo, pensamentos/lembranças que surgem, anárquicas,
momento-a-momento, desencontradas da envolvente.
São lembranças dos
milhares de quilómetros que percorremos juntos naquela paisagem de
lonjuras que lava a vista e a alma. Nos tempos de tantas lutas. Numa
época em que ainda acreditávamos numa divisão mais justa da terra e dos
bens que a sua exploração traz. Fazendo propostas para a preservação da
nossa cultura e do ambiente em que ela se insere, sem que com isso
pretendêssemos parar a evolução e o progresso.
Foram também muitas
cantigas e copos em todos os cantos do Alentejo, com o cimentar de
algumas amizades, e digo algumas porque não convém, nem seria correcto,
banalizar o termo.
Parece tão longe esse
tempo. Às vezes parece que nem existiu a revolução de todas as
esperanças.
Neste momento, já que
por aqui, aos trambolhões vou andando, ainda penso que é preciso sonhar,
e como diz um amigo nosso, “é fundamental resistir”, mesmo com o medo
natural que a vigente perversão da democracia (quase diria ditadura da
maioria, parafraseando já não sei quem) provoca a pessoas com a minha
singela estrutura mental.
É melhor parar por
aqui, pois esta conversa é daquelas que não têm fim.
Saudações
Alentejanas e até sempre. |