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Revista Alentejana (2ª série) in memoriam. Um texto para memória, o Estatuto Editorial e 26 editoriais. Lisboa, 2011, 36 páginas.


O respeito é bonito e a gente gosta

N.º 14 – Março de 2000

Vezes sem conta, algumas delas a despropósito, somos/fomos metralhados com frases do tipo, “o direito de propriedade é sagrado”, “a casa de um homem é o seu castelo”, e outras que tais. Entretanto, lentamente, muito lentamente, pelo menos até certa altura, ia crescendo e ganhando força uma nova corporação, a dos caçadores. Não a dos caçadores a que estávamos habituados, mas uma outra espécie. Uma casta que tudo pode.

Por um lado, os poderosos financeira e economicamente, dominando as enormes herdades onde galopam grandes manadas de veados e pastam javalis com fartura, não havendo, naturalmente, qualquer outro tipo de produção.

Por outro lado, há os outros que não dominando as propriedades através do poder do dinheiro, as devassam e desrespeitam os seus proprietários, de forma incrível, violando todas as regras e leis. Impunemente ensaiam as espingardas disparando contra as paredes dos Montes, abatem tudo o que mexe, apropriam-se de “recordações”, apanham azeitonas para as conservas, e se aparece algum borrego ou galinha a jeito, também não lhes escapam.

Estes elementos de uma nova e poderosa casta (temos que reconhecer o seu poder...), de camuflados vestidos, quais frustrados últimos “guerreiros do império”, metem despudoradamente as viaturas dentro de uma qualquer propriedade onde à hora entendida por conveniente confeccionam/comem o repasto do almoço.

Arrancam pernadas das árvores para fazerem esconderijos, sem qualquer respeito pelo tipo de árvore ou escolha de pernada, para além do mais fácil.

Se os devotados cães, por qualquer motivo não lhes agradam e não cumprem as ordens, são desumanamente abandonados, quando não abatidos.

Se alguém, mesmo dono da propriedade, lhes faz algum reparo, quando não lhes apontam a arma é, no mínimo, enxovalhado.

Obviamente que nem tudo na caça é mau, nem todos os caçadores são vis.

Mas algo/muita coisa vai mal neste sector. Urge pôr fim ao escandaloso. Urge disciplinar. O respeito é bonito e a gente gosta.

 

 
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