XXV
Algo, que nesse tempo
era de extrema importância na vida das pessoas na minha terra e hoje
quase de todo perdeu o seu significado, eram as fontes. Não havia
abastecimento público de água. Contar-se-iam pelos dedos as casas que
tivessem qualquer canalização no seu interior, porque a generalidade não
tinha casa de banho. Limitavam-se a ter uma retrete de madeira,
geralmente num casinhoto no pátio, com um tanque por debaixo para
armazenar os excrementos, que serviam para adubar o aido. Para se
lavarem, as pessoas usavam umas bacias grandes, de chapa de zinco,
utilizando um qualquer compartimento da casa para esse efeito. Então,
toda a água necessária para os diversos actos da vida (higiene,
cozinhar, beber...) tinha de ser trazida do exterior para dentro de
casa, em cântaros, em baldes, em púcaros, em regadores, feitos dos
materiais mais diversos, desde a madeira à chapa metálica, passando pelo
barro... porque o plástico, hoje omnipresente, ainda não tinha chegado.
Quem tinha poços em casa, utilizava a sua água; quem não tinha, ía
buscá-la à fonte. Para beber, contudo, iam geralmente todos à fonte. Os
ranchos de pessoas a trabalhar nos campos, sob o inclemente / 53 / sol
do Verão, precisavam de muita água para beber. Eram os garotos que a
traziam da fonte, nuns jarros próprios, de feitio específico, em barro
vermelho, não vidrado, que tinham a particularidade de manter a água
sempre fresquinha, não obstante o calor.
Havia então na nossa freguesia muitas fontes. Era potável a água que
corria de todas elas. Hoje, há ainda as mesmas fontes. Só que, agora, é
imprópria para consumo a água de quase todas. Basta este facto, na sua
singeleza, para nos dar conta do drama que é a poluição ambiental desta
segunda metade do século XX...
Seleccione a fonte que quer conhecer |