Era uma fonte particular,
da Quinta da Medela, situada nos Cruzinhos, à beira do caminho que parte
das traseiras da Capela de S. João e se dirige para sudoeste, até à
estrada nacional. A fonte já não existe. O caminho foi invadido pelas
silvas e tem estado intransitável nestes últimos anos. A Junta de
Freguesia vai agora recuperá-lo e transformá-lo em rua asfaltada, para
criar mais uma saída alternativa da parte norte de Verdemilho para a
estrada nacional.
XXXI
Contemos agora a
história que está associada à antiga Fonte dos Cruzinhos. Tempos houve,
séculos atrás, que o mar chegava até aos vales que circundam Verdemilho.
Nos Cruzinhos havia dunas de areia, uma das quais, devido ao seu formato
e grande tamanho, o povo designava de lomba. Foi no cimo dessa lomba
que, segundo a lenda, apareceu numa bela manhã uma imagem de Nossa
Senhora. Não conhecendo a imagem, não sabendo de onde veio, nem como
veio, o povo atribuiu o seu aparecimento a um milagre. Construiu-se no
local uma ermida para a albergar. Atendendo ao lugar onde foi
encontrada, deu-se à imagem o nome de Nossa Senhora da Lomba.
Nossa Senhora da
Lomba passou a ser o oráculo de Verdemilho. A rua que levava à sua
ermida (actual Rua de S. João) passou a chamar-se Rua da Senhora.
Escreveu o Major Lebre: "A primeira visita pastoral a esta ermida, teve
lugar a 24 de Setembro de 1758, realizada pelo Desembargador Francisco
da Cunha Sampaio, anotando a necessidade de serem adquiridos novos
paramentos" e "a 22 de Junho de 1790,
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por provisão do 1º Bispo de Aveiro, D. António Freire Gameiro de Sousa,
foi visitador o Desembargador da Mesa Eclesiástica, Doutor José Pedro
Santiago. Depois de visita à Igreja Paroquial, vem à Capela da Senhora
da Lomba e refere a necessidade de a consertar e pôr telhado novo. O bom
e crente povo de Verdemilho, sempre zeloso, em vez de fazer remendos,
resolve alargá-la, dando-lhe melhor perspectiva arquitectónica,
cinzelando no arco-cruzeiro da capela-mor, a data já registada"(2). A
data a que se refere o Major Lebre(3) é o ano de 1636, que,
efectivamente, se encontra inscrito no arco da capela-mor da actual
Capela de S. João. Não sei se essa data corresponde à construção da
ermida original ou à sua transformação em capela, de cujo alargamento,
no final do Século XVIII, como atrás se referiu, resultou a Capela de S.
João que hoje conhecemos. Não vou aqui aprofundar o assunto, que não é o
objectivo deste trabalho. Deixo-o à consideração de quem quiser fazer a
historia dessa capela. Outra coisa interessante a averiguar nessa
oportunidade seria definir quando e porque é que a invocação da capela
passou de Nossa Senhora da Lomba para S. João. Segundo António Lebre
(4), nas anotações da visita feita pelo Desembargador José Joaquim de
Azevedo Neves, por delegação do 10 Bispo de Aveiro, em 15 de Dezembro de
1796, a referência já é feita ao S. João de Verdemilho. Porém, numa
relação sem data dos bens afectos ao culto existentes na freguesia,
arquivada num conjunto de documentos relativos à aplicação da Lei de
Separação da Igreja e do Estado, datados de 1912, que encontrei no
Arquivo Histórico Municipal de Aveiro (5), a capela é ainda denominada
de Nossa Senhora da Lomba. A relação diz textualmente: "Capela de Nossa
Senhora da Lomba, confrontando: N com a rua da Senhora S com quintal dos
herdeiros de José Gonçalves Sarrico e E com a rua da Senhora e O com
terreno público". Isto quer dizer que era ainda conhecida pelo seu nome
original no início deste século. A contradição entre esta informação e a
contida no livro do Major Lebre é evidente. Assunto, portanto, a
esclarecer.
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Segundo a opinião do
historiador de arte A. Nogueira Gonçalves, citada por Amónio Lebre(6), a
imagem de Nossa Senhora da Lomba, que ainda existe, é uma escultura de
castanho e outras madeiras, do Século XV. |