A Pneumónica
Capítulo
8
Foi por
essa altura que Quinta do Frade sofreu uma provação terrível.
Coincidindo com a fase final da Primeira Grande Guerra, embora
provavelmente sem relação directa com ela, surgiu a pneumónica – a que
também se chamou gripe espanhola – epidemia gravíssima, que abalou o
mundo inteiro e a que Quinta do Frade não ficou imune. Pelo contrário: a
razia de mortes, que afectou praticamente todas as famílias, foi tão
grande que a Junta de Freguesia se viu obrigada a contratar mais um
coveiro para o Cemitério, porque o que existia não era capaz de dar
vazão sozinho ao elevado número de enterramentos a que era necessário
proceder.
Capítulo
9
Padre
António não tinha mãos a medir, desdobrando-se em esforços para consolar
as famílias afectadas, cujo número crescia todos os dias. O povo,
terrivelmente angustiado sob tamanha calamidade, não sabia que os
primeiros casos tinham ocorrido na América, em Março desse ano de 1918.
Chegando à Europa em Abril atingiu tropas francesas, britânicas e
americanas em França. A sua primeira manifestação em Portugal foi no mês
de Maio seguinte.
Apesar
de a sua duração ter sido curtíssima, a epidemia assustou mortalmente as
pessoas devido à sua grande mobilidade e extrema virulência. Na primeira
fase, de Abril a Agosto de 1918, foi ainda relativamente benigna; mas na
segunda, de Setembro a Dezembro do mesmo ano, foi gravíssima e provocou
uma enorme mortalidade; finalmente, na terceira fase, de Janeiro a Maio
de 1919, entrou em declínio e desapareceu.
Ainda
hoje a pneumónica é considerada a pandemia mais letal de sempre,
presumindo-se que tenha afectado cerca de 50% da população mundial. No
Ocidente, terá dizimado de 20 a 40 milhões de pessoas. Desconhecem-se os
números do Oriente, onde o total terá sido imensamente maior, mormente
entre as numerosíssimas e paupérrimas populações da Índia e da China.
Estima-se, por exemplo, que esta doença tenha sido responsável por cerca
de 80% das baixas sofridas durante a guerra pela Marinha dos EUA.
Em
Portugal supõe-se que tenha causado cerca de 120.000 mortes, sobretudo
de pessoas entre os 20 e os 40 anos. Foi ela que matou prematuramente,
entre outros, o jovem e notável pintor modernista Amadeo de
Souza-Cardoso.
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