Críticas à peça   

 

ESCREVE CLAUDE ROY, AUTOR DA VERSÃO FRANCESA

«Encontrei nesta peça a realidade dos dias presentes e as ideias do nosso tempo. Nela ouvi o eco estilizado das conversas havidas com os nossos filhos e descobri uma aliança rara de observações feitas sobre costumes cruéis e problemas sociais da actualidade. Uma peça divertida e muita rica em conteúdo.

Tanto em Varsóvia como em Berlim ou em Londres, pôde cada qual interpretar «Tango» a seu belo prazer. E ora nela encontrar uma sátira antiburguesa, como uma farsa antistaliniana, uma peça revolucionária, como uma peça reaccionária, uma farsa de costumes e um drama de ideias burlescas, como um «valdeville» absurdo ou uma obra de tese. Ninguém parecia estar de acordo a não ser num único ponto: «Tango era, sem dúvida, uma peça diabolicamente palpitante de vida».

O GRANDE CRÍTICO INGLÊS MARTIN ESSLIN DEDICOU, DEPOIS DA CRIAÇÃO DE «TANGO», NO TEATRO ALDWYCH DE LONDRES, UM IMPORTANTE ESTUDO SOBRE A PEÇA DE MROZEK DO QUAL EXTRAíMOS ESTA PASSAGEM:

«Tango» é uma peça sobre a dialéctica das revoluções — e sobre muitas coisas mais. Sob o ponto de vista da cultura, uma revolução destrói as ideias assentes e os valores estabelecidos. O que Mrozek demonstra nesta peça, e servindo-se da forma mais teatral do Mundo, é que o ex-intelectual não é, por certo, o homem que melhor pode servir o poder em toda a sua nudez. No fim de contas, aqueles que tomam conta do poder são os sem­escrúpulos, os que são vulgares e bárbaros e não perdem tempo reflectíndo demasiadamente. No final da peça, o tango é o símbolo do absurdo da revolução conseguida. É uma imagem de grande força dramática e de uma amarga ironia, que consegue impressionar, do mesmo modo, o público dos dois lados da cortina de ferro, porque é uma imagem clara e forte.

Uma peça que obriga a reflectir não é uma peça cuja substância intelectual esteja definida, porque nela se debatem «ideias». É uma obra onde as «ideias» estão incarnadas, personificadas, e concretizadas pela acção e pela característica da própria peça. É neste sentido que o significado e o valor de «Tango se me afiguram universais».

 

EXTRAIDO DA PUBLICAÇÃO FRANCESA

Ouvi «contar» «Tango» mais de vinte vezes: e nunca exactamente da mesma maneira. Em Varsóvia, pessoas de uma certa idade diziam-me que se tratava de uma sátira terrível sobre os costumes da época moderna; e a gente nova que as pessoas de certa idade viviam na peça alguns maus quartos de hora. Os conservadores afirmavam que Mrozek troçava do regime comunista; e os revolucionários diziam que ele se mostra feroz e sobrevivente do Antigo regime. Em Londres, sustenta-se a opinião que se trata da ira de um jovem contra o «Establishment» e, em Berlim, que é uma comédia de costumes tratada à maneira de «farsa do absurdo». O que é certo é que, em toda a parte, a peça obtém um enorme êxito e que, portanto, é excelente e rica de conteúdo, visto que, ao ouvi-la, nela cada qual encontra o seu valor, o seu prazer e ainda mil sentidos.

«Tango» é uma peça divertida e que em todo o lado tem provocado o riso. Um riso, nem por isso, muito sentido, o riso ansioso daquele «humour» que Chris Marker chamava: «la politesse du désespoir».

 

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