Quando,
no momento do meu regresso como encenador à colectividade, propus à direcção
do CETA este magnifico texto do polaco Slawomir Mrozek intitulado «Tango»,
arriscando e apostando muita coisa na construção desta peça corrosiva, de
humor a roçar o surrealista, exigente na preparação das suas personagens e
rigorosa na criação do clima teatralmente inquietante e dolorosamente insólito,
que se desprende do sub-texto, sabia que este trabalho iria exigir um esforço
de grande profissionalismo aos actores participantes, mesmo que se tratassem de
amadores como é o nosso caso. Requereria também uma ambiência plástica e cénica
muito convincente, dentro de um espaço fechado e, deliberadamente, confuso, quase
caótico, o que oferecia, inevitavelmente, dificuldades ao pequeno palco do
teatro de bolso do CETA. Mas, com o espírito de sacrifício de sempre, de paixão
pela arte e alguma (muita!) coragem, pusemos mão à obra, pois o desafio era (e
é!) aliciante. Por isso, envolvemo-nos na consecução de um espectáculo que
fosse digno, interessante e motivador para ambos os lados (elenco responsável e
público).
Apraz-me
registar que o trabalho desenvolvido por esta equipa, mesclada de experiência e
debutância, foi sempre feito com consciência e entusiasmo.
Um
velho amigo meu já desaparecido, o actor-encenador Varela Silva, que realizou
esta peça em finais da década de 1960, dizia que “O Tango é uma teoria da
alienação levada ao paroxismo, que apresenta, denuncia e inquieta homens que
se crêem livres!”
Eu
termino, acrescentando às múltiplas análises já efectuadas a esta obra de
Mrozek, que se trata, possivelmente, de um conflito de gerações, onde os
valores e regras funcionam do avesso, em relação às forças em desencontro.
|