Palavras do Encenador
José Júlio Fino   

 

Quando, no momento do meu regresso como encenador à colectividade, propus à direcção do CETA este magnifico texto do polaco Slawomir Mrozek intitulado «Tango», arriscando e apostando muita coisa na construção desta peça corrosiva, de humor a roçar o surrealista, exigente na preparação das suas personagens e rigorosa na criação do clima teatralmente inquietante e dolorosamente insólito, que se desprende do sub-texto, sabia que este trabalho iria exigir um esforço de grande profissionalismo aos actores participantes, mesmo que se tratassem de amadores como é o nosso caso. Requereria também uma ambiência plástica e cénica muito convincente, dentro de um espaço fechado e, deliberadamente, confuso, quase caótico, o que oferecia, inevitavelmente, dificuldades ao pequeno palco do teatro de bolso do CETA. Mas, com o espírito de sacrifício de sempre, de paixão pela arte e alguma (muita!) coragem, pusemos mão à obra, pois o desafio era (e é!) aliciante. Por isso, envolvemo-nos na consecução de um espectáculo que fosse digno, interessante e motivador para ambos os lados (elenco responsável e público).

Apraz-me registar que o trabalho desenvolvido por esta equipa, mesclada de experiência e debutância, foi sempre feito com consciência e entusiasmo.

Um velho amigo meu já desaparecido, o actor-encenador Varela Silva, que realizou esta peça em finais da década de 1960, dizia que “O Tango é uma teoria da alienação levada ao paroxismo, que apresenta, denuncia e inquieta homens que se crêem livres!”

Eu termino, acrescentando às múltiplas análises já efectuadas a esta obra de Mrozek, que se trata, possivelmente, de um conflito de gerações, onde os valores e regras funcionam do avesso, em relação às forças em desencontro.

 

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