Jaime Gralheiro, A longa marcha para o esquecimento - CETA

<<<                                  QUADRO XIII

 

(Praça pública. Repique de sinos. Gaitas. Apitos. Recos-recos. Gritos. Vozearia. Pandemónio. Ao centro, uma espécie de jaula ambulante ou carreta de transporte de presos. Chega Gomes de Carvalho, atado a um grilhão, roto e descomposto, acompanhado pela força militar que o foi prender, comandada por Almeida Coimbra. A multidão ululante quer agredi-lo. Insulta-o. Chama-o de “pedreiro livre”, “herege”, “jacobino”. Insistem: “ladrão”, etc. Gritam: “Fora! Fora!". Os guardas têm de fazer algum esforço para evitarem que ele seja linchado. Finalmente é metido dentro da carreta. Atiram-lhe ovos, tomates, etc. Apupam-no. Mandam-lhe socos por entre as grades. Gomes de Carvalho olha para tudo com um ar aparvalhado de quem não consegue compreender o que se passa. Gera-se à volta uma dança infernal. Gomes de Carvalho procura defender-se de vez em quando, mas não consegue... Nem sabe!... Pouco a pouco, o som vai desaparecendo e há apenas um movimento grotesco de esgares, gritos mudos, agressões silenciosas... Pesadelo! Enquanto a cena vai escurecendo um pregoeiro lê.)

PREGOEIRO

Aos vinte e um dias de Junho do ano de 1823, nesta cidade de Aveiro, a vereação municipal, em reunião extraordinária, presidida pelo excelentíssimo D. Rodrigo de Sousa Teixeira da Silva Alcoforado, ilustre Barão de Vila Pouca, com a assistência do Clero, da Nobreza e do Povo, deliberou, por unanimidade, expulsar desta cidade o engenheiro Luís Gomes de Carvalho, por indesejável, jacobino, liberal e incompetente!

(De novo, irrompem o ruído, os gritos, os sinos, os apitos, as gaitas, os recos-recos e as agressões.)

ALMEIDA COIMBRA

(Sobrepondo-se)

Juro fidelidade a S. Alteza Real, o príncipe D. Miguel!

TODOS

(estendendo o braço)

Jurol

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