EM TERRAS DE ESPANHA...
(NAVIA, Out.º de 1973 a Jan.º de 1975)
POR
ANTÓNIO CARRETAS *
Já não era a primeira vez que tal acontecia. Houvera anteriormente,
entre outras, Pontevedra, Alto Catumbela, e até Setúbal. Parafraseando
certo slogan publicitário, «a fama já vinha de longe»".
Desconheço se terá sido por todos estes antecedentes. O certo é que a CEASA (mais propriamente Celulosas de Astúrias,
S. A) fez questão em que fosse Cacia (na altura ainda CPC) a efectuar o
arranque das suas instalações. No contrato de assistência técnica,
firmado em 23 de Julho de 1973, fazia-se referência a «os serviços a
prestar pela CPC», «treino, na sua fábrica de Cacia, ao pessoal da CEASA»,
e «colaboração, por parte do pessoal da CPC, no arranque da fábrica..
.». Na primeira fase do arranque viria a ser englobado pessoal da Socel,
que aliás se integrou perfeitamente no resto da equipa.
Entre parêntesis, e agora à distância, poderemos considerar que talvez
tenhamos sido um pouco míseros nas condições impostas, se olharmos ao
que se paga ao pessoal estrangeiro, em idênticas ocasiões.
E em Outubro desse ano de 1973, a pequena vila de Navia, localizada na
margem direita e a uns três quilómetros da embocadura do rio do mesmo
nome, via chegar o primeiro grupo de trabalhadores deslocados para esse
efeito. Depois dos canadianos e ingleses da Parsons & Whittemore,
responsáveis pela montagem do equipamento, apareciam os portugueses para
a «puesta en marcha». Em muitas caras vimos admiração. Não julgavam os
vizinhos capazes de tanto!...
Devido a problemas vários a assistência prolongou-se, intervalada é
certo, até final do mês de
Janeiro de 1975. Entretanto, ao longo dos meses de Março e Abril de 1974
dera-se a rendição, regressando o pessoal destinado ao arranque da
Central Geradora e da Fábrica de Pasta, substituído que foi pelo pessoal
de Branqueamento e Preparação de produtos químicos. Para esta segunda
fase apenas colaboraram trabalhadores da CPC.
*
Para a história aqui registamos os nomes dos deslocados de Cacia:
–
Franco e Silva (responsável pela primeira fase), José Oliveira e João
Carlos de Almeida (Central), Gonçalo Magalhães (chefe de turno da F.
Pasta). António Pinho (Digestores), João Monteiro (Lavagem), Fernando
Gonçalves (Caustificação), Joaquim P. Monteiro (Forno), Francisco
Monteiro e António Ministro (Evaporadores), Adriano Antunes e Fernando T.
Almeida (Máquina de Tiragem), António Carretas (responsável pela segunda
fase), Henrique Rodrigues e António Marques (chefe de turno de
Branqueamento e Reagentes), Alfredo Monteiro e Adão Monteiro (Branqueamento),
João Costa e António Soares (Reagentes), Graciano Teixeira (Laboratório),
Joaquim Gonçalves (responsável em Janeiro de 1975).
Algumas efemérides do arranque:
Na primeira fase:
– a primeira cozedura efectuou-se em 5 de Novembro
de 1973;
– a pasta chegou à lavagem no dia seguinte;
– os primeiros fardos de pasta crua foram tirados em 1 de
Dezembro;
/
100 /
– os evaporadores arrancaram em 14 de Janeiro
de 1974;
– a caustificação em 17 desse mesmo mês;
– o forno da cal quase um mês depois (14 de
Fevereiro);
Na segunda fase:
– a refrigeração de água para o dióxido iniciou
a 24 de Outubro;
– o circuito de cloro arrancou em 19 de
Novembro;
– a 22 de Novembro foi a vez de se obter pela
primeira vez hipoclorito de sódio;
– Em 26 desse mesmo mês saiu a primeira pasta
semibranca;
– o primeiro dióxido de cloro foi produzido a 10
de Dezembro;
– a pasta branca viria a sair a 14 de Dezembro.
De um modo geral, o arranque na parte operacional foi francamente bom, não se deixando os créditos por mãos
alheias. A equipa tinha sido escolhida com critério e de modo a merecer
a máxima confiança dos responsáveis pelo arranque.
Note-se que o arranque foi efectuado com pastas de pinho, madeira
reconhecida entre nós como mais difícil de trabalhar.
Na parte respeitante a pastas branqueadas, poder-se-á ainda referir as condições de operação.
Para o semibranqueio, a sequência operacional foi C E H, tendo
estabilizado com as seguintes condições, a 9,5 t / hora;
/
101 /
1) – Cloração
660 a 740 kg/h de cloro; 28 a 30º C de temperatura; ph de 1,4 a 1,8;
cloro residual de 0,03 a 0,04 %.
2) – Extracção
4,6 a 4,7 % de Na OH; + - 60º C de temperatura; pH entre 10,0 e 11,4.
3)
–
Hipoclorito
4,0 % de Na CIO + 0,4 % de Na OH; + - 40º C de temperatura; pH entre
8,0 e 9,3; cloro residual de 0,20 a 0,50 %; brancura entre 74 e 76º GE.
O branqueio desta mesma pasta de pinho, cujo primeiro dia
significativo foi 15 de Dezembro, foi
levado a efeito segundo o esquema CEDED. A facilidade de brancura
com este esquema, que em Cacia se torna dificílimo, atribuímo-la à
qualidade da água do rio Navia, na verdade excepcional. As condições
médias de operação daquele dia foram:
Produção horária – 11,0/11,5 t/h.
1) – Cloração
900 a 1100 kg/hora de cloro; 25º C de temperatura; pH de 1,4 a 1,8;
cloro residual de 0,01 a 0,03 %.
2) – 1.ª extracção
4,4 % de Na OH; 50 a 60º C de temperatura;
pH de 10,6 a 11,5.
3) – 1.º dióxido
4,2 % de CIO2; 70 a 75º
C de temperatura; pH de 1,9 a 2,4; cloro residual de 0,00 a 0,20 %;
brancura de 70 a 76º GE.
4) – 2.ª extracção
1,8 % de Na OH; 55 a 65º C de temperatura;
pH de 10,7 a 11,9.
5) – 2.º dióxido
1,0 01,5 % de CIO2; 0,20 % de SO2; 70 a 75º°C de temperatura; pH de 2,4 a
3,0; cloro residual de 0,06 a 0,10 %; brancura entre 88 e 90º GE.
A preparação de hipoclorito de sódio deu-nos concentrações médias de 42
g/I como cloro activo e a de dióxido concentrações médias de 23 g/I na
mesma base, qualquer delas sem dificuldade.
Uma vez mais, ficaram provados o brio e a categoria profissional dos
trabalhadores de Cacia. Será altura talvez de tornar público um
documento que tem estado até agora «na gaveta». Transcreve-se:
«D. Pedro Maria de La Vega Zuazo, en su calidad de director de Ia fabrica em Navia de Celulosas
de Asturias, S.A.
Certifica:
que los trabajadores de Ia Companhia Portuguesa
de Celulose, de Cacia (Portugal):
(seguem os nomes atrás citados)
prestaron servicios en esta Fabrica colaborando
en el arranque de Ia misma, en virtud del acuerdo de Assistencia técnica
concertado entre ambos sociedades, habiendo demonstrado en todo momento un alto nível profesional y
una intachable conducta humana, habiendo-se hecho acreedores, por tales
motivos, de nuestro reconocimiento y estimación».
A. C.
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* Engenheiro Químico. Chefe de Serviços do Branqueamento do
Centro - CACIA.
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