Problemas do BAIXO-VOUGA

POR

ENG.º DIOGO A. VIANA DE LEMOS *

 

Águas da Serra que de horizontes fechados em picos altaneiros e vales de escarpa serpenteando à condição da natureza, correm ao desejo da planura com vista de mar e aroma de maresia.

Da floresta, da urze e giesta, do campo de centeio ao vício do orado, da semente do tubérculo, da verdura do pasto onde a Arouquesa domina, as águas chegam ainda cristalinas à proximidade da planura aluvional da Bacia do Vouga.

Longos quilómetros percorridos no cantar em toque de granito, como que estranham as margens da planura onde o milho, o trigo e o prado também, dão sustento de míngua. A Marinhoa e a Turina dão paisagem em pastoreio de composição florística indefinida em solo de aluvião!

E o Vouga, como que adormecido ao som do cantar melodioso, no afago das alcantiladas marginais, vem aceitando orgulhoso as dádivas dos afluentes que desde a Pontinha ao Rio Mau, vão aumentando o seu caudal.

Porém, em terras de Sernada, já em planura, tempos recentes motivam águas intranquilas que o Vouga estranha, ao sentir o seu leito perturbado pela deposição do Caima.

Mais além recebe o Águeda já confluído com o Cértima, originando um conjunto de caudais volumosos que o obrigam a espraiar-se margens além, criando problemas de sobrevivência a toda uma agricultura artesanal, subordinada ao regime de cheias, em face das sérias deficiências de condições de enxugo.

E o Vouga cansado, já um tanto desiludido do seu poder de fertilidade em nateiro de potência de / 84 / solo, em viço de planta, lá vai correndo em direcção ao mar.

Eis se não quando, de novo se perturba por efluente de esgoto da maceração e lavagem de pastas, perde o jeito do seu vigor de rio serrano, nascido de rocha, permitindo então que revessas de água salgada transformem a sua natural docilidade, agravando ainda m:1is possíveis aproveitamentos agrícolas.

E os campos fundos e férteis, a jusante dos que servem a floresta de natureza aluvional de elevada potencialidade forrageira, descansam ainda, praticamente ao sabor da flora espontânea, no aguardar da intervenção do homem, no regular dos caudais, na sangria dos efluentes, na drenagem das marginais e no evitar que águas salgadas revessem do delta para montante.

E o Vouga, triste e desapontado, vai vivendo de uma longínqua recordação em que as suas águas límpidas davam criação piscícola em prazer e lucro, nateiravam terras de amanho, regavam pastoreio e permitiam pista náutica com inigualáveis condições em terra de remadores com tradições além fronteiras.

Ultrapassado tamanho impasse, será óbvio pensar numa sensível melhoria da agricultura de toda a Bacia Hidrográfica do Baixo-Vouga, onde parqueamentos de estudo poderão dar indicações em fomento da composição florística mais adequada à estrutura do solo e ao microclima regional.

Campos do Águeda, do Cértima e do Vouga, em pleno benefício, darão, em relativo espaço de tempo, o fruto da reconversão a que se obrigarem, com implicação na melhoria do binómio agro-pecuário que aqui tem condições excepcionais de motivação.

Aveiro, Maio de 1978.

D. A. V. L.

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. Engenheiro Técnico Agrário

 

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