ampliação da fábrica

POR

RUI RIBEIRO *

 

Para quem viveu toda a história de Cacia desde as fases finais da montagem do equipamento, na primeira parte de 1953, até hoje, é difícil escolher um tema para abordar nesta revista comemorativa de vinte e cinco anos de laboração.

Após os tempos difíceis e mal dormidos dos primeiros meses de arranque, a estabilização da operação da fábrica, o apuro da qualidade dos produtos e o contributo decisivo que a produção de pasta de eucalipto trouxe para a rentabilidade da empresa,
abriam perspectivas que permitiram .aos responsáveis de então tomar a decisão de aumentar a capacidade de produção da fábrica de pastas.

Com base na experiência de Cacia e no êxito conseguido pelas pastas branqueadas de eucalipto, tinha entrado já em laboração a fábrica da ex-Socel em Setúbal e estava em projecto a fábrica da Celbi na Leirosa. A necessidade de garantir o futuro, tendo em conta a acção da concorrência, levava a encarar o interesse de melhorar a produtividade e sobretudo de possibilitar o fabrico do tipo de pastas que então e ainda hoje se considerava como o de melhores perspectivas para a produção nacional.

Sem a decisão de aumentar a capacidade de Cacia seria muito diferente hoje, e naturalmente para pior, a situação do Centro. Não nos podemos alhear na nossa situação de indústria exportadora concorrendo com a de países como a Suécia, a Finlândia, o Canadá e os Estados Unidos da América, onde a produtividade é muito elevada e onde existem unidades modernas e altamente eficientes. As novas unidades produtoras de países que surgem hoje no mercado como fortes concorrentes, e entre as quais destacamos o Brasil, têm capacidades acima de 200000 t/ano e é com estas que temos de concorrer.

Ter mantido Cacia, como alguns pretendiam, na capacidade inicial, significaria a impossibilidade de competir sem sofrer elevados prejuízos.

Em meados de 1964 foi decidido iniciar o projecto de ampliação, criando um gabinete de estudos próprio, respondendo directamente à Administração, e de cuja orientação fui incumbido.

Assim arrancou o Gete, sem instalações próprias, no meio de muita desconfiança e alguns e bons apoios, e se iniciou um período cheio de dificuldades e trabalho. / 74 /

Inicialmente desligado das estruturas técnicas da fábrica, incluiu depois a Sala de Desenho e uma secretaria própria. As dificuldades iniciais foram sendo superadas, mas só no final de 1965 foi possível dispor de meios mínimos necessários à. amplitude da tarefa, incluindo as ainda existentes instalações provisórias.

Os primeiros trabalhos incidiram na escolha da implantação das novas instalações, subordinada ao interesse de localizar os novos sectores junto dos equivalentes já existentes, o que foi normalmente dificultado pela configuração da fábrica e pela falta de espaço existente.

A solução encontrada não corresponde ao ideal para uma nova fábrica, mas julgamos ter sido a mais apropriada aos condicionalismos existentes.

A escolha da capacidade foi motivo de muita discussão – inicialmente o máximo previsto para o digestor era de 200 t/d – e foi impossível fazer com que a dimensão do novo branqueamento e tiragem fosse, como devia ser, equivalente à do digestor contínuo. De qualquer modo reservou-se um espaço de expansão que permitiu recentemente a instalação de novo branqueio e tiragem.

Considero hoje, como então, que foi um erro não se ter projectado imediatamente uma maior capacidade para o digestor contínuo e uma capacidade equivalente para o branqueamento e a respectiva tiragem. Tal facto teria evitado a segunda fase de expansão, ainda não terminada, e simplificado a fábrica.

Reconheço que na altura havia razões que levaram a essa decisão – dúvidas quanto ao mercado, dificuldades de capital, interesse em manter a possibilidade de expansão do fabrico de papel – mas um pouco mais de arrojo teria facilitado o futuro.

lembro ainda a solução escolhida para o parque de madeiras, que foi imposta por objectivos de economia e que provocou estrangulamentos que o novo equipamento, agora em fase final de montagem, resolverá.

Pelas mesmas razões de economia, a que se juntaram vantagens de espaço e concentração da operação, se optou pela instalação de um filtro para a clarificação da lixívia branca – o famigerado Webtrol – que tantas dores de cabeça provocou posteriormente.

Foram muitos os problemas a resolver, contratempos nos trabalhos de terraplanagem e construção civil, atrasos no fornecimento de equipamento, etc.. Seria maçador enumerar todos os casos e todas as peripécias de um trabalho que terminou em 1969 com o arranque das novas instalações. Foi depois o novo afinar da operação que culminou com o ano recorde de 1974 (ainda se lembram?).

Desses tempos, que recordo com saudade, ficou a lembrança de um trabalho feito com dedicação por uma equipa, de que não quero destacar nomes, que realizou uma obra que ainda hoje nos deve dar satisfação.

Da sua validade mais do que as palavras falam os resultados obtidos.

8-5-1978.

R. R.

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* Engenheiro Electrotécnico, membro do Conselho de Gerência da PORTUCEL

 

 

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