PARA A HISTÓRIA DA CELULOSE – CACIA

O fabrico de Pastas de Eucalipto

 

As instalações da Companhia Portuguesa de Celulose foram estudadas, projectadas e montadas tendo expressa e unicamente em vista a utilização do Pinus pinaster. Sabia-se que esta matéria-prima não se apresentava ao nível de competição da espécie silvestris e dos Abies da Europa do Norte. Esperava-se todavia um mínimo de competitividade susceptível de permitir a colocação fácil das pastas e dos papéis nos mercados europeus.

Nos primeiros anos a comercialização dos produtos não deixou de apresentar certas dificuldades. Os principais clientes, em Inglaterra, punham algumas reservas à utilização plena das pastas de Cacia, nos papéis kraft, criticando sobretudo aspectos de qualidade relacionados com as resistências físicas e a cor. Era, então, especialmente posta a exigência de fornecimento de pastas cruas húmidas (a 50 %) para obviar a certa depreciação de qualidade que derivaria da secagem. A instalação de branqueamento, em três fases, na base de cloro, soda cáustica e hipoclorito de cálcio, não permitia, por sua vez, qualquer oportunidade técnica de obtenção de pastas branqueadas com um mínimo de êxito. A qualidade da água de que as instalações dispunham para o fabrico estava sempre na origem de múltiplos problemas, afectando a qualidade das pastas e, consequentemente, dos problemas comerciais.

Em 1957, após uma aturada investigação feita em Cacia por exclusiva iniciativa dos seus técnicos, investigação esta conduzida não só quanto ao fabrico de pastas cruas e branqueadas, como quanto à sua inclusão nos papéis kraft e de impressão em geral, começaram a vender-se na Europa as pastas cruas e branqueadas de eucalipto. Os primeiros estudos foram conduzidos à escala laboratorial. Transpostos para a escala industrial, processando a nova matéria-prima fibrosa no equipamento que fora estudado e instalado para o pinho bravo, os resultados foram confirmados em toda a linha.

Alguns anos depois, em 1961, a Companhia de Celulose do Ultramar Português, em Angola, inicia a laboração usando o Eucaliptus saligna. Em 1964 arranca a SOCEL (decalcando a técnica e organização de Cacia) e em 1967 a CELBI, esta com projecto de fabrico de pasta solúvel de eucalipto, que a breve trecho transforma para pasta papeleira.

Alguém – não obrigatoriamente os engenheiros de Cacia – nos anos 60 ou mais tarde, teria pensado no aproveitamento desta essência para fins papeleiros e algo teria feito no sentido de a utilizar. O que é certo é que o mérito dessa iniciativa, investigação e pioneirismo pertence a Cada. É necessário que se afirme que a introdução das pastas de eucalipto nos mercados europeus, anos depois estendidas a outros continentes, se deveu aos técnicos de Cacia. A utilização destas pastas, hoje generalizadíssima, revolucionou a técnica papeleira e destronou pastas então convencionalmente julgadas insubstituíveis em determinados tipos de papéis, nomeadamente o esparto e as pastas ao sulfito.

Não fora este êxito técnico e comercial obtido com as pastas cruas e branqueadas de eucalipto – e a existência ocasional desta matéria-prima no País –, o que teria sido a Companhia Portuguesa de Celulose nos anos 60? Muito difícil de vaticinar. A Companhia teria singrado, sem dúvida, com um investimento e estrutura idênticos aos dos seus primeiros anos de existência, relativamente próspera e com marcada implantação no País, mas pouco projectada no exterior. Ter-se-ia fundado uma ou duas novas empresas ou fábricas produzindo pastas de pinho e integrando este ou aquele fabrico de papel e pouco mais.

O futuro do sector teria sido entretanto modesto e de horizontes limitados. A abertura de perspectivas novas talvez viesse a surgir com bastante atraso.

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