HOMENAGEM AO AVEIRENSE
RANGEL DE QUADROS
João Gonçalves Gaspar
José Reinaldo Rangel de
Quadros Oudinot, emérito investigador e divulgador da história de Aveiro
e dos seus homens ilustres, nasceu nesta cidade em 19 de Março de 1842 e
aqui faleceu em 22 de Julho de 1918. Por isso, no ano transacto passou o
sesquicentenário do seu nascimento e, no próximo mês, vão completar-se
os setenta e cinco anos da sua morte. Esta dupla ocorrência dá-nos a
feliz oportunidade de recordar um aveirense, cujos escritos minuciosos
não podem deixar de ser manuseados por quem quiser conhecer a vida
passada desta terra que nos pertence, das instituições que nela
existiram e das pessoas que a amaram e serviram.
Rangel de Quadros revolveu
atentamente arquivos que entretanto desapareceram, visitou com cuidado
velhos conventos e igrejas – uns que ainda existem e outros que foram
destruídos, anotou cuidadosamente as alterações que a cidade foi
sofrendo, descreveu minuciosamente os acontecimentos que viveu, redigiu
com exactidão biografias de personagens tanto de outros tempos como da
época, recolheu carinhosamente tradições e dados históricos. Se não
fosse o seu amor pela terra natal e por tudo o que lhe dissesse
respeito, muito se teria olvidado para sempre, perdendo-se da memória
dos aveirenses.
"Dotado de primorosos dotes
de coração que o tornaram respeitado por todos os que com ele
conviveram, sabedor, culto, dedicando toda a sua vida à história da
cidade onde nasceu, frequentando os serões muito em voga, presidindo a
conversas, recitando versos (alguns da sua autoria), fraseando
amabilidades e ditos espirituosos numa inspiração repentina, ajudada por
uma memória prodigiosa, figura típica do seu tempo até no trajar... tal
é a recordação que me foi transmitida de meu tio, que faleceu tinha eu
dois anos» – escreveu em 1983 a sua sobrinha Dra. Maria Gabriela Oudinot Larcher de Sousa.
(a)
Rangel de Quadros não foi
orador nem conferencista, não foi parlamentar nem político. Contudo,
compôs inúmeros artigos de jornal, que ele próprio recortou e agrupou em
volumes:
I – Aveiro – Apontamentos
Históricos
1) Aveiro – Origem, nomes e
brasão – As antigas freguesias e suas igrejas – Aveiro e a Ordem de
Avis.
2) As muralhas – O hospital
de S. Brás – A Senhora da Alegria – O Senhorio e o Ducado de Aveiro.
3) Capelão e ermidas –
Festividades municipais.
4) Mosteiros e Conventos: O
Mosteiro de Nossa Senhora da Misericórdia – O Mosteiro de Jesus.
5) Mosteiros e Conventos: O
Convento de Santo António – O Convento de Nossa Senhora do Carmo – O
Mosteiro da Madre de Deus – O Convento de S. João Evangelista.
6) Mosteiros e Conventos: A
Ordem Terceira de S. Francisco – O Recolhimento de S. Bernardino;
Talábriga e Aveiro.
7) Honras e Privilégios. 8)
Imprensa e Jornais. 9) Fontes de Aveiro.
II – Aveirenses Notáveis
1) Biografias de I a LlV.
2) Biografias de LV a LXXV.
Entre os apontamentos
manuscritos do seu espólio, deixou ainda dois volumes sobre
Aveirenses Notáveis e um com o epíteto Aveiro – Apontamentos
avulsos. Conhecemos, outrossim, um livro impresso em 1884,
denominado «O Episcopado e o Governo de Portugal – Considerações acerca
da nova circunscrição diocesana e da supressão do bispado de Aveiro e
dos outros bispados suprimidos em 1882».
Atendendo a isto, Rangel de
Quadros bem merece ser lembrado e comemorado neste período áureo do
duplo aniversário, quiçá com as relevantes honras dignas de um filho
emérito de Aveiro, ao lado de tantos outros que se distinguiram nos mais
diversos ramos de actividade. É com esta finalidade que lhe dedicamos
esta página, embora modesta; assim como a capa do nosso Boletim.
Contudo, podemos acrescentar que é propósito da Autarquia Municipal
atribuir o seu nome a uma das artérias do bairro citadino da
Forca-Vouga. Aveiro honra-se, honrando os seus homens insignes.
30 de Junho de 1993
Gonçalves Gaspar
(a) – Em «Nota Biográfica»
do livro Aveiro – Origens, brasão e antigas freguesias (Rangel de
Quadros, Paisagem Editora, 1984).
|