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Boletim n.º 19 - Ano X - 1992

O Ressurgimento do Gabão de Aveiro

M. Ed. dos Santos Oliveiros

Vila Nova de Monsarros (Bairrada)

«Eu fui o Gabão de Aveiro.

Fui alguém, prestei serviços;

a todos agasalhei»

(Dr. José Pereira Tavares, em A Última visita de Pangloss, 1956)

 

Traje de gala da Confraria dos Enófilos da Bairrada

Traje académico dos estudantes da Universidade de Aveiro

Traje de cerimónia da Confraria Gastronómica de S. Gonçalo de Aveiro

 

O Gabão de Aveiro, antiga e tradicional vestimenta não só dos "Aveiros" como de todos os povos que vivem e labutam em redor da Laguna, a que chamamos Ria de Aveiro, é "peça de grande carácter" como o qualifica J. S. Franco referido por Rocha Madahil em Alguns Aspectos do Traje Popular na Beira Litoral, publicado em 1941.

Foi este estudioso que, nesse ano e nesse seu trabalho, escreveu assim, ao referir-se, entre outras vestimentas, ao gabão de Aveiro: «... são ainda o mercantel da Ria e os pescadores de Ovar, da Murtosa e Ílhavo, com (...) seus gabões cingidos e encapuzados, os mais lídimos representantes dos mais característicos trajos masculinos do povo português.»

Após as leituras que tenho feito, poderei não só acrescentar como especificar que, para além dos mercantéis da Ria e dos pescadores de Ovar, Murtosa e Ílhavo, também os pescadores de Aveiro, os mareantes, os marnotos, os mesteirais, os camponeses e os agricultores bem como os "grandes senhores" de Aveiro e outras terras são lídimos representantes da elegante vestimenta da Região: – o típico "gabão de Aveiro" que mais tarde se chamou também "Varino".

Presumivelmente conhecido e usado pelos Romanos, quando da estadia das suas legiões na Lusitânia, está representado numa figura vestida «com um manto especial a que não falta capuz e parece ter romeira» (...), figura esculpida na célebre coluna rostrata, erigida no ano de 112 da era cristã, em Roma, no Fórum Trajano, em honra deste Imperador, nascido em Itálica, cidade situada na via romana para a Lusitânia.

Esta peça de vestuário era designada pelos Romanos pelo nome latino de LACERNA, capa muito ampla, aberta à frente de alto a baixo e segura, ao pescoço, por um colchete ou alamar; dispunha de um capuz, que se podia puxar para a cabeça, quando se desejava ocultar o rosto.

Também não podemos deixar de pensar, igualmente, na influência que poderá ter tido o "albornoz" mourisco durante os cinco séculos que os mouros se mantiveram na faixa ocidental da península ibérica e, principalmente, quando faziam as suas incursões ou arremetidas até aos povoados situados na actual Ria de Aveiro, vindos quer de locais perto, até serem empurrados para lá dos campos do Mondego, quer de Lisboa até à conquista desta cidade, no ano de 1147.

De remota ascendência, esta característica vestimenta, o gabão de Aveiro, mistura feliz de veste monástica e de trajo civil medieval – a capa com mangas e capuz da Idade Média – que foi tão vulgar em todos os países da Europa e também em Portugal, vem aparecer-nos no séc. XIII e XIV com o nome de "gabinardo" e "tabardo arrequifado", a menos que se tratasse de um gabão de "mangas curtas", como se observa nos cartógrafos do Painel da Escola de Sagres, caso em que era conhecido por "ferragoulo" ou "ferragoilo".

 

SÉCULO XV:

No Painel que representa a Escola ou Academia de Sagres, criada após a fundação da / 30 / Vila do Infante em 1443, vemos o Infante D. Henrique rodeado de cartógrafos, astrónomos, construtores navais e pilotos, destacando-se em primeiro plano um dos seus caravelistas.

Este mareante – o caravelista – veste uma rodada capa com mangas, romeira e capuz, vestimenta que caracteriza gentes da região de Aveiro e que, então, era designada pelo nome de gabão.

Estamos, pois, na presença de um navegador da época de quatrocentos, caravelista do Infante como lhe chama Jaime Cortesão, (1) cuja veste o situa no solar do gabão de Aveiro, a região da nossa Ria.

Por certo que teria de ser "um homem de Ílhavo, marinheiro sabedor, ousado e valente, imprescindível na arte de navegar à vela", no dizer de Dinis Gomes em "Costumes e gentes de Ílhavo".

A Fábrica da Vista Alegre, num prato de porcelana comemorativo da "Partida de Vasco da Gama para a índia" – 8 de Julho de 1497 – e o pintor e aguarelista Roque Gameiro, no seu Quadro "A Partida de Vasco da Gama", não deixaram de prestar homenagem ao uso do gabão representado no desenho a sépia do prato V.A. e profusamente assinalado na aguarela de Roque Gameiro, vestindo o gabão nas areias da praia do Restelo,

"a gente da cidade (...)

uns por amigos, outros por parentes,

outros por ver somente (...)"

como canta Camões nos Lusíadas.

 

SÉCULO XVI

No Livro 22 das Ordenações de D. Manuel I, de 1514, pode ver-se uma figura, retirada de uma magnífica gravura em madeira, representando um lavrador agarrado à rabiça de um arado e tendo por vestimenta uma larga capa "a que nem sequer falta o capuz", amarrada à cintura por um cordel, tal como ainda, não há muitos anos, o gabão era usado pelos pescadores de Aveiro, que o cintavam com uma corda.

– Estou a referir-me aos pescadores da "chincha" os "chincheiros de penosa vida", como diz Evangelista Campos.

Sabemos – e não há dúvidas – que o gabão de Aveiro nasceu na região da Ria de Aveiro Ovar, Murtosa, Estarreja, Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira – e que daqui irradiou, não só para os concelhos vizinhos, tendo grande implementação na região da Bairrada – principalmente em Águeda, Anadia e Mealhada – como para outros lugares distantes do país.

Camilo Castelo Branco, no seu Romance Histórico "O OLHO DE VIDRO", no qual muito fala de então Vila de Aveiro e dos seus arrabaldes, logo na Introdução nos diz que no dia 28 de Janeiro de 1692, há cerca de 300 anos, «Francisco encapuzou-se no gabão, e abriu as portadas da janela (...)».

Trata-se de Luís de Abreu, estudante do segundo ano médico da Universidade de Coimbra. (2) Estamos na última década do séc. XVII.

O uso do gabão está representado no século XVIII num quadro existente no Museu Marítimo e Regional de Ílhavo, que tem como legenda: "Aveiro -- Varino e Peixeira", século XVIII". O varino traja um gabão castanho debruado a vermelho escuro na orla, no cabeção e capuz; está cintado com uma corda à maneira dos chincheiros.

Chegamos, agora ao século XIX, o século que pode ser considerado como a "idade d'oiro" do uso do gabão.

Só a partir de agora o "gabão de Aveiro" começa a ser conhecido, também, por "varino". Vejamos:

A. G. Madahil no seu trabalho Alguns aspectos do trajo popular na Beira Litoral, a página 62 afirma: «Tão usado foi... por pescadores da Ria, que por varino passou a ser designado o gabão, ganhando grande aura a nova denominação que, suponho, lançada no final do século dezanove».

No mesmo trabalho encontramos, na página 64, a opinião do agrónomo João Vasco de Carvalho, de Ovar, que em 1912 escreveu:

«O vestuário do vareiro, actualmente, pouco difere do comum do nosso povo!. Apenas há a notar o uso quase geral (...) do varino.» / 31 /

A apoiar esta opinião, encontramos na reedição de 1989 da Monografia da Gafanha, do padre João Vieira Resende, pároco da freguesia da Gafanha da Encarnação e historiador do Concelho de Ílhavo, a seguinte afirmação, referida ao ano de 1880:

«O gabão, a que mais tarde se chamou varino...» acrescentando que «o gabão, também de burel ou saragoça, era vestuário do casamento e na missa, e ainda aqui continuou a usar-se quando, por outras terras, há muito tempo tinha sido substituído pelo sobretudo. O varino foi uma peça de transição entre aquele e este vestuário.»

Ainda em 1869, J. S. Franco, ao falar da vestimenta do varino, isto é do homem da beira-mar entre o Furadouro e Mira, referia-se assim ao seu trajo: «No homem, um gabão que lhe desce até aos pés, de mangas e capuz.»

Severim Marques, no jornal "Litoral" de 7 de Abril de 1989, ao referir-se ao gabão e ao varino, esclarece que aquele passou a ser conhecido por varino, isto já no século XIX, mais propriamente a partir de 1828.

É nosso propósito esclarecer que a palavra "varino" pouco terá a ver com a cidade de Ovar, donde poderia ter derivado a designação de "varino" para designar os seus habitantes, termo muito pouco usado por ser mais frequente o uso das palavras ovarense ou vareiro.

Pretende-se que "varino" tenha derivado de "ovarino" por aférese do "o" inicial, mas a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, no seu volume XXXIV ensina que varino é «Tipo étnico português de gente da beira-mar dada tradicionalmente à faina da pescaria».

Vem a propósito anotar que, em 25 de Julho de 1985, António Manarte, um homem vareiro da mais pura estirpe, designou a veste típica que foi usada pelos vareiros com o nome de "varino" ou mesmo gabão vareiro (digo eu).

Das nótulas com a designação O Gabão - (Varino), da autoria de Severim Francisco Marques – um estudioso do gabão – que me foram gentilmente remetidas pelos Serviços da Cultura da Câmara Municipal de Aveiro, podemos concluir:

– A tribo dos "varinos", com origem tradicional na raça pelásgia, do norte da Grécia, veio fundar colónias piscatórias na costa portuguesa, tanto a norte como a sul da foz do Vouga. Era esta tribo constituída por gentes extremamente prolíferas, trabalhadoras e aventureiras, "os varinos", que lançaram para outras regiões o excedente da densa população da sua raça e que, sem perder um só dos seus caracteres, fundou, mesmo longe, numerosas, grandes e importantes colónias piscatórias, levando consigo o uso do traje dos pescadores da costa de Aveiro, com as suas mana ias, o GABÃO e o gorro de lã.

Assim se expressou na "Revista Portugália” (1889 a 1903) o Conselheiro Luís de Magalhães, grande e ilustre Senhor de Aveiro, que não desdenhava o uso do gabão, nas suas visitas nocturnas.

E ainda nas mesmas "nótulas" se refere haver notícia de o gabão ter sido usado na Póvoa do Varzim, em Vale de Papas, na Serra da Gralheira e lembrado em Castro Laboreiro.

Por mim, acrescento a notícia de que os gabões ainda hoje e já velhinhos são usados por pastores idosos, quando vão guardar os seus rebanhos na Serra da Estrela, mais concretamente nas povoações de Carvalho, Pai Viegas e Trajinha, ao norte da cidade da Guarda.

Chegou o momento de compilar todas as referências encontradas acerca do uso do gabão a partir dos primeiros anos do século XIX até ao final do século XX, mais precisamente até ao ano de 1990.

Comecemos por dizer que o gabão mais antigo que nos foi dado olhar e ver, se encontra exposto num manequim no Museu de Ovar: – tem a data de 1825 na legenda que apresenta e trata-se de um gabão castanho, debruado a preto, representando «um lavrador com gabão». / 32 /

Com a data de 1828 apresenta Kinsey em Portugal Ilustrado uma gravura de "Pescador de Ílhavo" com o seu gabão de burel amarrado à cinta com um nó feito pelas próprias pontas, capuz enfiado na cabeça (...) "em jeito muitos séculos repetidos pelos pescadores da Ria, murtoseiros ilhavenses ou gafanhões" comenta Rocha Madahil, afirmando também que «há gravuras que documentam graficamente o uso do gabão, desde 1828, pelos habitantes da Ria de Aveiro». (3)

O Dr. José Pereira Tavares, ilustre Reitor que foi do Liceu de Aveiro, diz ter conhecimento que tanto José Estêvão (1809-1862) como Mendes Leite (1809-1887) passeavam juntos, debaixo dos Arcos, em Aveiro, »embrulhados nos seus elegantes gabões», o mesmo acontecendo com outros senhores da cidade.

Estamos agora em 1843, data da publicação de Viagens na minha Terra de Almeida Garrett, onde o autor conta ter encontrado, no Tejo, alguns ílhavos que «vestiam o amplo saiote grego dos varinos (4) e o tabardo arrequifado (5) siciliano».

Dizendo o "saiote grego dos varinos" refere-se a uma tribo da raça pelásgia, vinda do norte da Grécia fundar feitorias ou colónias na foz do Vouga, entre as quais Ílhavo.

Tabardo arrequifado é uma espécie de capote com capelo e mangas, sendo estas e aquelas debruadas como era uso nos gabões, na sua forma mais antiquada.

A presença de gabões nas regiões ribeirinhas do Tejo não é de estranhar, pois é também Rocha Madahil que nos informa:

«Até para o Tejo os pescadores de Ovar, Murtosa e Ílhavo levaram o seu traje popular da Beira-Litoral, «afirmação que é corroborada pelo Rev.º Vieira Resende, quando se refere a um gabão numa lista de despesas com um enteado do seu paroquiano Pata.

São da mesma época, 1841/1842 e 1853, as Litografias de Jaubert, Macphail e Palhares publicados em 1968 em Trajos e Costumes Populares Portugueses no século XIX, em que estão representados vários pescadores de Ílhavo, com seus gabões debruados a azul.

 

Chegamos agora, aos finais do século XIX.

Eça de Queirós, nascido no ano de 1845, passou os primeiros anos da sua meninice e da sua adolescência em casa de seus avós paternos, na vizinha povoação de Verdemilho, em Aveiro; por isso mesmo se designou como «filho de Aveiro, quási peixe da Ria». (6)

Sendo certo "que o berço onde o homem nasceu tem por assim dizer uma espécie de infiltração natural, de poder secreto, misterioso e constante em todo o curso da sua existência", (7) este "quási peixe da Ria" ao escrever Os Maias, episódios da vida romântica – cuja acção se desenvolve em Lisboa a partir do outono de 1875, refere-se algumas vezes ao gabão de Aveiro, então muito em uso por algumas camadas sociais da Capital.

Assim é relatado em Os Maias que o Dr. Carlos da Maia, médico, quando à noite ia visitar uma das suas doentes, encontrava o MARCELINO, seu marido, defronte do leito, COM UM GABÃO DE AVEIRO PELOS OMBROS, e também que o seu grande amigo e companheiro, «o famoso CRAVEIRO, meditava a Morte de Satanás encolhido NO SEU GABÃO DE AVEIRO».

Mais adiante refere que o janota e rico Dr. CARLOS DA MAIA «à meia noite SAÍA ENCAFUADO NUM GABÃO DE AVEIRO» para ir de visita à Toca.

Quase no fim de Os Maias mais uma vez se refere ao trajo em uso, dizendo que ao elegante João da Ega, quando ia assistir a um sarau no Teatro da Trindade lhe «apareceu o» MARQUÊS ABAFADO NO SEU GABÃO DE AVEIRO". (8)

Data do último terço do século XIX o aparecimento do gabão ou varino nas praias da Nazaré e Quiaios, embora se presuma, sem confirmação, que ele foi também levado pelos ílhavos para Buarcos, Sesimbra, Afurada e Matosinhos, povoações onde fundaram colónias de homens do mar e pescadores.

Foi a partir de 1885 que o gabão de Aveiro começou a ser usado pelos nazarenos, núcleo populacional originário dos ílhavos. Do seu uso dá conhecimento o Painel "O Milagre da Sr.ª da Nazaré" do artista Almada Negreiros, painel decorativo que se encontrava na gare da Estação Marítima de Alcântara: nele se via um dos figurantes vestindo um gabão negro encapuzado.

Outrossim, se verifica num postal ilustrado da praia da Nazaré, onde figuram dois pescadores, vestindo cada um deles um gabão castanho.

Neste postal se inspirou o ceramista Afonso Henrique, com oficina em Aveiro, para criar uma escultura em barro vermelho – peça única, em meu / 33 / poder – representando um pescador de gabão com a inscrição: «Ida para o mar – Nazaré».

A presença deste vestuário em Quiaios é atestada pelo velho pescador Lila, da Praia de Mira, que se lembra de ver a "Companha da xávega do Belmiro" vir, em romaria, à festa da Senhora da Saúde, na Costa Nova, envergando, cada pescador, o seu gabão.

Embora sem confirmação, não deixamos de anotar que António Nobre, no seu livro de poemas , ed. Tavares Martins, 1950, pag. 51, insere uma longa poesia, intitulada «Viagens na Minha Terra, jornadas que eu fazia ao velho Douro, mais meu Pai» na qual conta que os seus companheiros da diligência, «passageiros, todos brancos, ressinavam em seus gabões».

Esta poesia está datada de Paris, no ano de 1892, e é de presumir que os companheiros de viagem fossem ílhavos ou vareiros habitantes quer da praia da Afurada, quer de Matosinhos, povoações da Foz do Douro onde fundaram colónias.

É de 1896 uma longa poesia do Conselheiro Luís de Magalhães (filho de José Estêvão) que numa das quintilhas conta ir «embuçado no seu gabão às reuniões em casa de Domingos Leite».

Também o juiz de Direito, Dr. Roberto Macedo, que frequentou o Liceu de Aveiro de 1900 a 1905, no seu poema "O meu Varino", nos dá a notícia de ter usado o gabão de Aveiro.

Eu mesmo, nascido em Aveiro nos princípios deste século, lembro-me de o ver muito usado até ao ano de 1930, quer pelos senhores de Aveiro, quer pelos camponeses, pescadores, marnotos, barqueiros e mercantéis.

Entre os senhores de Aveiro, quero mencionar o nome do "Aveiro" Evangelista Campos, como um dos últimos abencerragens na usança do gabão de Aveiro, quando nas suas "rondas nocturnas", (segundo a sua própria expressão), bem como o do ilustre clínico Dr. Humberto Leitão nas suas visitas de noite.

Também refiro o nome do diplomata e poeta António Feijó, que sempre o usou, muito especialmente quando nosso Ministro na Suécia.

Não quero esquecer o nome do coronel médico Dr. Zeferino Borges que tinha pelo gabão de Aveiro uma singular afeição. (9)

Podeis encontrá-los nas fotografias que fazem parte da publicação Aveiro Antigo, ed. da C. M. de Aveiro.

Podeis vê-los na publicação da ADERAV "O Postal Ilustrado" com datas de 1909 e 1928.

Ainda na década de 30 era usado pelo Dr. Alberto Vidal, de Salreu, quando se dirigia para Estarreja, onde dava aulas no Colégio daquela vila.

Também foi visto por mim, quase diariamente no Rossio de Lisboa, no passeio dos cafés, vestido por um elegante senhor, que me dissera ser professor da Escola Superior de Belas Artes: gabão preto, de boa fazenda de lã acetinada, de corte impecável, cingido à cintura por uma corda de esparto, cânhamo ou sisal.

Profusamente vulgarizado em terras bairradinas – até se afirma que o gabão de Aveiro é também da Bairrada – o gabão é vestimenta que ainda hoje se apresenta com toda a dignidade, exibido pelo arqueólogo Dr. Machado Lopes, director da Cantata e Tocata do Grupo Etnográfico da Pampilhosa – Mealhada.

Em abono desta asserção de o gabão de Aveiro ser também da Bairrada, lembramos que / 34 / entre os anos de 1880 e 1920 viveu em Arcos, concelho de Anadia, junto à igreja matriz, o mestre alfaiate Joaquim José de Pinho, com oficina de alfaiataria, onde confeccionava os afamados gabões de Aveiro que vendia ali aos seus clientes bairradinos, ou levava também para a sua loja de Aveiro e para as feiras da região.

Esta afirmação foi-me prestada por uma sua neta que reside actualmente na Curia, Anadia, e confirmada por um "Aveiro" que se lembra de ter visto o anúncio do mestre-alfaiate publicado, em tempos, no jornal "Povo de Aveiro" ou no "Democrata".

Por gentileza do autor de Achegas para a historiografia de Aveiro, tenho em meu poder fotocópia de uma "Comunicação" no "Povo de Aveiro" de 7 e 14 de Janeiro de 1883, em que o mestre-alfaiate, residente em Aveiro, informou que "mudou o seu estabelecimento de alfaiataria para o lugar de Arcos, perto de Anadia".

É igualmente a vestimenta que ostentam cerimoniosamente os confrades da Confraria dos Enófilos da Bairrada, desde a sua fundação em 1979, nas suas reuniões capitulares e nas suas visitas a outras Confrarias do país e do estrangeiro.

Queremos lembrar neste trabalho o mestre capitular Luís Costa, afamado vitivinicultor bairradino, alma-mater da fundação da Confraria e principal promotor do renascimento do uso do gabão de Aveiro, como traje obrigatório dos confrades enófilos.

Interessado estudioso do gabão bairradino, no seu trabalho o "GABÃO, algumas notas, 1981", conta-nos em cuidada prosa que «o gabão, ou varino como também era conhecido, trajo tradicional da Bairrada, até ao final da década de vinte, desapareceu complemente. Nos anos trinta, já não era vulgar encontrá-lo, embora, à noite, principalmente nas escarpeladas do milho, ainda aparecesse um ou outro "encapotado».

Se o gabão de encorpado surrobeco castanho era usado dia a dia, mesmo em certos trabalhos de Inverno se chovia ou se a temperatura era gelo, como por vezes acontecia durante a poda da vinha, o gabão preto, de boa fazenda de lã, era usado apenas nos dias domingueiros, nas festas ou para ir à missa.

Por isso mesmo, resolvemos adoptar o gabão tal como ele era, com toda a sua pureza, toda a sua verdade, toda a sua dignidade. Como o autêntico vinho da Bairrada, sem fantasia: – puro, verdadeiro, digno».

Isto sem esquecer aqueles outros mestres-capitulares – da Direcção da CEB – co-responsáveis pelo uso do gabão: – o eng.º Dias Cardoso, director da Estação Vitivinícola da Beira-Litoral, José Gamelas, Rui Alves, Lopo de Freitas e o eng.º Luís Pato.

Como notável bairradino, que é (nascido em Barrô; de Águeda), o Coronel Roque da Cunha contou-nos que na sua terra natal o gabão foi muito usado e que já nos últimos tempos era trajo obrigatório nas rondas nocturnas dos "homens bons" da aldeia, para sacudirem para suas casas a juventude noctívaga.

E também o aguadense Joaquim Madeira nos deu conhecimento de que na sua freguesia de Aguada de Cima, para além de ser usado ainda hoje na Festa da Escarpelada, o gabão foi muito usado nos trabalhos de campo e pelos barqueiros de Águeda, tendo acabado por ser vestido pelas mulheres casadas das redondezas, para de varapau em punho irem em busca dos seus homens, quando estes tardavam, à noite, em regressar a casa.

Factos semelhantes me foram relatados pelo arqueólogo Dr. Machado Lopes, da Pampilhosa, Mealhada, todos eles contribuindo para que o gabão de Aveiro, acabasse por ser designado em toda a região da Bairrada, por "Gabão Bairradino".

 

O GABÃO DE AVEIRO, NOS AÇORES

O nosso patrício Evangelista Campos dá-nos a conhecer, numa das suas magníficas "Achegas" insertas no "Litoral", que o gabão foi muito usado em terras açorianas, para onde os mareantes de Aveiro o levaram, quando para lá transportavam o sal das nossas salinas, ficando o gabão a ser conhecido, nessas ilhas, pelo significativo nome de "O Aveiro".

Para o seu uso nestas paragens muito contribuiu um propício clima.

Em 26 de Novembro de 1988, foi o gabão de Aveiro envergado pelo Presidente da República, Dr. Mário Soares, em soleníssima cerimónia de Investidura na Confraria dos Enófilos, realizada no salão nobre do Palácio do Buçaco, após um cortejo de algumas dezenas de gabões.

Foram exibidos em 14 de Maio de 1989, durante as Festas do Município de Aveiro, no desfile Etno-Folclórico da Região do Vouga:

– Catorze "Homens da Ria" vestindo gabões castanhos, pretos e amarelos, uns soltos, outros enfaixados com cintas pretas ou encarnadas e outros ainda com cordas. Assim desceram a Av. Dr. Lourenço Peixinho. (10)

Em 7 de Janeiro de 1990, assistimos a uma "arruada" nocturna, com a incorporação de mais de uma dezena de gabões, a desfilar ao som da música pelas ruas da freguesia da Glória, de Aveiro, arruada comemorativa da tradicional festa da "Entrega dos Ramos" da Confraria do SS.mo Sacramento.

Depois de o gabão ter sido aprovado como traje académico pelos estudantes da Universidade de Aveiro, reunidos num Colóquio/Debate em 8 de Março e num Plenário em 8 de Novembro de 1989, / 35 / realizados ambos no Anfiteatro III da mesma Universidade, procedeu-se à cerimónia da "Investidura" dos primeiros universitários, no dia 17 de Janeiro de 1990.

Nesse mesmo dia, foi investido como membro honorário da "Ordem do Gabão", em solene cerimónia, o Prof. Doutor Renato Araújo, Reitor da Universidade de Aveiro, bem como a Dr.ª Albertina Oliveiros, madrinha dos universitários investidos, e o Dr. Manuel Oliveiros, designado patrono do gabão, como traje académico.

Numa das escadarias da Universidade de Aveiro, o registo memorável do final da cerimónia da Investidura do gabão.

13 de Março de 1990: Apresentação no programa "Às Dez" da TV do Porto dos estudantes universitários de Aveiro com o seu traje académico, constando de uma entrevista com o 1.º bastonário da Ordem do Gabão, o quintanista de engenharia electrónica Luís Filipe, e da actuação do seu grupo de fados e canções.

Em Abril de 1990, foi o gabão apresentado em Barcelos pelos "Aveiros" Luís Clemente, Jaime Borges e Gaspar Albino, na festa da XXI Convenção Nacional de Lions.

13 de Setembro de 1990: – Entrevista no programa "Bom Dia" da TV do Porto, com o estudante universitário de Aveiro, Luís Filipe, versando o tema: – O "gabão de Aveiro" como traje académico. Esta entrevista foi precedida pela apresentação, no mesmo programa, dos mestres capitulares da Confraria dos Enófilos da Bairrada, com o seu traje de gala: – O "gabão de Aveiro".

Inspirado no traje académico dos universitários de Aveiro, Zé Augusto, o ceramista da expressão aveirense, modelou, em barro vermelho, um estudante envergando o gabão de Aveiro.

A escultura, peça única de que sou possuidor, tem 61 cm de altura e está assinada e datada de 1990.

Mas, depois de tudo isto, o que é afinal o "gabão de Aveiro"?

O gabão de Aveiro é uma "peça de grande carácter" que "durante muitos anos foi usada por pobres, remediados e ricos das diversas classes sociais" (11) e que nasceu na Ria de Aveiro, nas terras dos varinos, isto é, nas terras dos homens da beira-mar, desde o Furadouro até Mira: vareiros, murtoseiros, aveiros, gafanhões, ílhavos e mirões.

Foi vulgarizado por toda a Bairrada, especialmente em Águeda, Anadia e Mealhada.

"Foi moda durante alguns séculos, foi consolo de muitas gerações e o seu uso aproximava as classes, irmanava os homens, adoçava as / 36 / diferenças sociais; foi vestuário de janotas, luxo nesta terra de Aveiro, cobiça de estranhos e admiração de visitantes". (12)

Mesmo velhinho, era orgulho dos aveiros que, sem ele, não iam à igreja.

"Agasalho vulgaríssimo de pobres e ricos", era tão popular, que, ainda hoje, persiste na memória de muitos. (13)


"PEÇA DE GRANDE CARÁCTER", não é demais repeti-lo sempre, é a réplica da Beira Litoral ao Nordeste Transmontano, com a sua capa de honras de Miranda do Douro, rica e hierática.

"GABÃO DE AVEIRO" é uma capa bastante ampla e rodada, descendo quase até aos tornozelos, de cor preta (feito de pano de varas, fazenda de lã acetinada ou de merino) ou de cor castanha (se for feito de estamenha, de surrobeco, de burel ou mesmo de briche) com farta romeira ou cabeção curto, mangas e capuz em bico.

Inicialmente tinha uma gola, que acabou por desaparecer.

Algumas vezes é debruado a vermelho escuro – na região de Aveiro – ou a azul – na região de Ílhavo – ou a preto – na região de Ovar.

Aberto à frente, de alto a baixo, é aconchegado ao pescoço por um colchete ou alamar de metal, que os ricos usavam de prata.

Por vezes eram forrados, de castorina, de baeta ou escocês e de seda os de mais luxo.

Tem em si a alma e a magia da nossa Cidade e da nossa Ria.

Decorrido meio século, poderei parafrasear o investigador Rocha Madahil, dizendo que são não só os estudantes da nossa Universidade os mais lídimos representantes da mais característica vestimenta dos "aveiros", apresentando-se no Campo Universitário de Santiago e nas ruas da cidade envergando o seu traje académico, os elegantes e tradicionais gabões de Aveiro, mas também os confrades da Confraria dos Enófilos da Bairrada e os da Confraria Gastronómica de S. Gonçalo gozam do mesmo privilégio ao apresentarem-se nas suas manifestações culturais – os Grandes Capelos – vestindo os seus gabões, tal como em tempo o tinham feito José Estêvão, Mendes Leite, o Conselheiro Luís de Magalhães e mais recentemente outros grandes senhores da cidade de Aveiro.

Entre estes destaco os nomes do grande "aveiro" que foi o meu contemporâneo e quase vizinho Dr. David Christo e actualmente o euro-deputado Dr. Carlos Candal.

É agora o momento de prestar cuidadosa atenção à Associação Cultural – Confraria Gastronómica de S. Gonçalo de Aveiro.

Começada a organizar-se em 1987, veio a adquirir forma jurídica em 11 de Maio de 1989 outorgando os seus fundadores no Cartório Notarial de Aveiro a escritura de constituição.

Algum tempo depois de ter tomado conhecimento do facto, dirigi uma carta á Direcção da Confraria, na qual lembrava que todas as suas manifestações culturais careciam do uso de uma vestimenta que fosse testemunho vivo das suas raízes na milenária Alavario, sugerindo a adopção da quase vestimenta monástica, o "Gabão de Aveiro".

Alguns dias depois, em 16 de Junho, o confrade fundador Dr. Armando França, em amena conversa, me deu conhecimento de que a carta recebida tinha tido toda a aceitação e que iriam usar o gabão de burel.

Na assembleia-geral ordinária de 10 de Janeiro de 1990, dia festivo de S. Gonçalinho, mestres capitulares e confrades maiores não só adoptam oficialmente o gabão de cor castanha e de autêntico burel, como decidem apresentar-se em público no dia 12 de Maio de 1990, envergando as suas vestes de cerimónia, numa louvável manifestação de aveirismo.

Em 22 de Janeiro, o "Jornal de Notícias" anuncia "estar prevista a apresentação pública do traje de cerimónia da Confraria de S. Gonçalo e em 26 do mesmo mês o "Litoral" confirma a notícia adiantando que o gabão será de cor castanha, isto é, o de uso mais antigo e o mais castiço entre as gentes do bairro da Beira-Mar.

Assim o fizeram, incorporando-se com toda a pompa na procissão de Santa Joana Princesa, Padroeira de Aveiro, no dia do V Centenário da sua morte e dia comemorativo do VIII Centenário do nascimento de S. Gonçalo da Beira-Mar, nascido no ano do Senhor de 1190, e venerado como seu Patrono.

Que sejam louvados os mestres capitulares Carlos Souto, António Santos e Mário Cruz.

Na memorável noite desse 12 de Maio, realizou-se um Grande Capítulo da Confraria, onde se apresentaram engaboados nos seus gabões castanhos os mestres e confrades da Confraria de / 37 / S. Gonçalo, juntamente com mestres da Confraria dos Enófilos da Bairrada com seus gabões negros, acompanhados não só da Real Scalabitana Confraria de S. Nicolau, de Santarém, como da Confraria de Gastronomia Vicent Von Gogh da Friselandia (Holanda) e da Confraria d'Angers (França).

Estão a cumprir-se as profecias de Eduardo Cerqueira e de Mário de Fiuza, de seu nome José Vinício Caracol Meireles:

– (…) se é que não será possível ressurgi-los (…) aos gabões de Aveiro".

– "... mas tenho fé que das cinzas do passado ainda um dia voltará a renascer; e então o gabão de Aveiro tornará a ser o orgulho dos aveirenses".

Tudo começou em 26 de Março de 1988, XVIII Aniversário do Lions Clube de Aveiro, sob o signo de um verso de Fernando Pessoa:

"DEUS QUER; O HOMEM SONHA; A OBRA NASCE".

 

ANOTAÇÕES

"Cancioneiro de Aveiro"

Recolha e compilação de João Sarabando, 1966

"Ó Vitória Quintaneira,

Não vou mais ao teu serão;

Tu PEDISTE a Deus chuva

P'ra molhar o meu gabão.

 

"Cancioneiro rural de Ovar"

no jornal "Notícias de Ovar", de 5 de Abril de 1989

Tenho catorze piolhos

No capuz do meu gabão;

Hei-de matá-los a tiro,

Qu'a martelo já não vão.

 

"Cancioneiro de S. Gonçalinho"

"Redondilhas a S. Gonçalo" de Amadeu de Sousa, 1989

Para Ir pescar ao rio

fez-se o Santo costureiro.

Para resguardar do frio,

Criou o gabão de Aveiro.

 

Não Irei dançar contigo

Por causa do teu gabão.

Eu sei lá, se nesse abrigo,

Não se esconde uma traição.

 

Provérbios e Adágios

"Até ao S. João leva o teu gabão; do S. João em DlENTE leva-o sempre" .

Sentença escrita no painel da proa de um moliceiro, exposto no Museu Marítimo de Ílhavo.

"Nem no Inverno, nem no verão, guardes o gabão".

Adágio no Almanaque Bertrand, 1949.

"Lavra de gabão e sacha em leitão".

Rifão comunicado por J. Evangelista Campos.

"Quem tem capa sempre escapa; quem tem gabão ou escapará ou não" .

Provérbio popular, de tradição oral.

 

OS MESTRES-ALFAIATES DE AVEIRO:

Tomás Ferreira

Albano Pereira

Antero de Almeida

Manuel Inácio

Mário Teles

Gafanhão

Henrique Sobreiro

António da Silva Melo - Largo da Apresentação

Aurélio - Antiga rua da Sé

J. Salgado - Antiga rua Direita

Misael - Largo da Fonte Nova   / 38 /

Resta, para terminar esta anotação, relacionada com o nome dos mestres-alfaiates, referir-me à "Achega" de Evangelista Campos, no "Litoral" de 22 de Setembro de 1989.

Nela nos dá a notícia dos mestres-alfaiates, que na primeira metade do século XX marcaram uma posição de destaque no corte e feitio dos gabões de Aveiro.

São eles

O Tomás

O Manuel Inácio

O Antero

e também os "especialistas" que os tinham "prontos a vestir", como o Joaquim Dias Abrantes, em Aveiro, e o José Clemente, em Lisboa, na sua famosa "Casa das Tesouras".

Há a anotar a presença dos "adeleiros" que os expunham nas suas barracas da "Feira de Março", no Largo do Rossio, em Aveiro (1920 a 1930).

A gravura que se reproduz veio publicada no vol. 10 da Revista "Atlantis", da TAP Air Portugal, cujo exemplar me foi gentilmente enviado pelo Eng.º Sílvio Cerveira, Presidente da Câmara Municipal de Anadia.

Se bem atentarmos nas palavras do anúncio, não será difícil ajuizar que a moda do gabão estava bastante generalizada na Capital, no ano de 1877, data da montagem do telefone da "Casa das Tesouras" – (Algumas datas para a História do Telefone em Portugal – Museu CTT - 1974).

 
OS TECIDOS DOS GABÕES

gabões castanhos:

Burel – tecido de lã, simples, áspero.

Surrobeco – semelhante" ao burel, mas mais largo e áspero. Fabricado na Covilhã.

Estamenha – tecido ordinário, de lã.

Briche – tecido de lã, felpudo.

Saragoça – tecido grosso, de lã escura.

Catrapeanha – tecido grosseiro.

Saial – pano grosso e ordinário.

 

gabões pretos:

Pano de vara – pano de lã, baço.

Pano de lã acetinado – pano de lã macio, brilhante e aveludado, ao tacto.

Merino – tecido feito de lã, de merino, muito leve e macio à palpação.

 

Tecidos para forros de gabões:

castorina – tecido de lã leve, que tinha inicialmente pelo de castor.

baeta – tecido felpudo de lã.

cetim – espécie de pano de seda, lustroso e fino

escocês – tecido em riscas cruzadas de cores variadas e geralmente muito vivas.

 

O PREÇO DOS GABÕES

1843 – O Rev.º Vieira Resende na Monografia da Gafanha diz ter encontrado, entre os papéis de um seu paroquiano, um apontamento do ano de 1843, que diz o seguinte:

«Thive despesas com ho meu entiado Jozé: hum gavão pr  2000.»
 

1900 a 1905 – O Dr. Roberto Macedo, que frequentou o Liceu de Aveiro, de 1900 a 1905 diz que o seu gabão: "Ficou por onze mil reis...". ADA, vol. XXIX, 1963


1902 –
M. P. S. em "Litoral" de 22 Novembro de 1960. "Um gabão custav - 12.000 rs".


1979 –
gabão de fazenda preta, para a Confraria dos Enófilos da Bairrada -      7.000$00.


1981 –
gabão de pano acetinado, preto - 10.000$00.


1989 –
gabão, traje académico dos estudantes da universidade de Aveiro -      12.500$00.


1990 –
gabão de fazenda preta, para a Confraria dos Enófilos - 21.000$00.


1990 –
gabão (castanho) traje de cerimónia da Confraria de S. Gonçalo, de Aveiro 36.000$00.  / 39 /

1990 – um gabão de fazenda de lã preto, em Aveiro - 26.000$00.

 

CRONOLOGIA DO TRAJE ACADÉMICO DOS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

12 de Dezembro de 1988

O autor dirigiu à AEUA (Associação dos Estudantes da Universidade de Aveiro) uma exposição sugerindo o uso do gabão de Aveiro, como traje académico.

3 de Fevereiro de 1989

Convite da AEUA para o autor participar num Colóquio/Debate sobre o traje académico, para o qual foram convidadas AE's (Associações de Estudantes) das Universidades do Minho, Coimbra, Porto, Vila Real, Lisboa, Covilhã e Évora.

8 de Março de 1989

Colóquio/Debate no Anfiteatro III da Universidade de Aveiro.

Maio de 1989

Baile de gala da AEUA, no Teatro Aveirense. Recepção aos convidados por estudantes trajando o gabão de Aveiro.

6 de Novembro de 1989

Assembleia Geral, com a seguinte Ordem de Trabalhos:

Primeiro – Criação do Conselho Consultivo da Ordem do Gabão, constituído por:

Luís Filipe Botelho – Paredes

Joaquim Augusto Martins da Silva – St.ª Maria da Feira

Humberto Manuel Andril Carvalho – Aveiro

Belmiro Guimarães Ferreira Certo – Vila de Aves

Manuel António Gomes de Oliveira – Penafiel

Pedro Manuel Assis Loureiro Simões Vieira – Guarda

Carla Maria Oliveira Santos – Aveiro

Carla Maria de Almeida Brandão Guimarães – St.ª Maria da Feira

Isabel Manuela Pimentel Pinto dos Santos – St.ª Maria da Feira

Vera Lúcia Santos da Silva – St.ª Maria da Feira

Fernando Manuel Leão Ripa – Lamego (representante do Orfeão Académico).

Segundo – Eleição do III Bastonário da Ordem do Gabão:

Luís Filipe Botelho Ribeiro, quintanista de engenharia electrónica.
 

8 de Janeiro de 1989

Plenário no Anfiteatro III da Universidade de Aveiro, para apresentação do gabão de Aveiro, como traje académico.
 

17 de Janeiro de 1990

Cerimónia de Investidura da Ordem do Gabão dos universitários, que figuram no registo memorável:

1.ª fila, da esquerda para a direita:

1 – Dr. Manuel Oliveiros

2 – Carla Maria Oliveira Brandão Guimarães

3 – Luís Filipe Botelho Ribeiro

4 – Maria Daniel Giraldo M. Silva

5 – Irundina Maria de Moura

6 – Maria Margarida Silva Monteiro

7 – Cristina Alexandre Canelas Firmino

8 – Isabel Maria da Cunha Domingues

9 – Amélia da Conceição Rodrigues Barros

10 – Dr.ª Albertina Oliveiros
 

2.ª fila, da esquerda para a direita:

1 – Joaquim Augusto Martins da Silva

2 – Belmiro Guimarães Ferreira Certo

3 – Carlos Manuel Ferreira Nascimento

4 – Luís Alberto Correia Fernandes Baptista

5 – Adriano José Silveira de Almeida

6 – Paulo Adelino Varandas Dias

7 – Humberto Manuel Andril Carvalho

8 – João Paulo Rocha Martins

9 – Luís Miguel Dino Cerveira da Silva

10 – Manuel António Gomes Oliveira.

 _____________________________________

NOTAS

(1)Descobrimentos Portugueses, de Jaime Cortesão.

(2) – Já médico, veio viver em 1738 para a Quinta da Sr.ª da Oliveira, em Verdemilho, em "Aveiro, história e arte", de Amaro Neves, pag. 215.

(3) – “Arq. Dist. Aveiro”, vol. V, pag. 216.

(4) – As "manaias" dos homens da Ria: pescadores, marnotos, moliceiros e mercantéis.

(5) – Gabão debruado. Ver Litografias de Macpahil, Jaubert e Palhares, em "Trajos e Costumes Populares no séc. XIX", de Rocha Madahil.

(6) – Eduardo Cerqueira, em "Boletim Municipal de Aveiro", n.º 1, Março de 1983. Armando França, em "Litoral" de 22 de Setembro de 1989.

(7) – D. João Evangelista de Lima Vidal, em "Correio do Vouga" de 8 de Março de 1983.

(8) – "Os Maias", ed. Livros do Brasil, Lisboa 1971. Vol. I, pag. 96 e 120; vol. II, pag. 91 e 244.

(9) – Confrontar "Litoral", n.º 1576 do ano de 1989.

(10) – Documentário fotográfico do aveirense Fausto Ferreira.

(11) – Extraído do artigo "O Gabão de Aveiro" do Dr. José Pereira Tavares, vol. XXXVIII do Arq. Dist. de Aveiro.

(12) – Fala do gabão, na revista cénica "Ao Cantar do Galo", de Mário Fiúza ou José Fiúza como afirma Evangelista Campos.

(13) – Fala do Velho, na revista cénica "Última Visita de Pangloss", da autoria do Dr. José Pereira Tavares.

 

BIBLlOGRAFIA

"ALGUNS ASPECTOS DO TRAJO POPULAR NA BEIRA-LITORAL", A. G. Rocha Madahil, 1941.

"TRAJOS E COSTUMES POPULARES PORTUGUESES NO SÉC. XIX", Rocha Madahil.

"O GABÃO, Algumas notas", Luís Costa, 1981".

"AVEIRO ANTIGO. Fotografias de António Graça". Ed. da C. M. Aveiro, 1985.

"AVEIRO, História e Arte", Amaro Neves. Ed. ADERAV, Aveiro, 1984.

"PARA A IMAGEM ANTIGA DE AVEIRO - O POSTAL ILUSTRADO". Ed. ADERAV, 1984.

"AVEIRO. Silhuetas do Tempo que Passa", Amaro Neves e Carlos Ramos. Ed. ADERAV, 1985.

"VIAGENS NA MINHA TERRA", Almeida Garrett. Ed. Verbo, 1983.

"OS MAlAS", Eça de Queirós. Ed. Livros do Brasil, L. da Lisboa, 1971.

"SÓ", António Nobre. Ed. Tavares Martins, Porto, 1950.

"OLHO DE VIDRO. Romance histórico", Camilo Castelo Branco. 6ª edição, conforme a 1.ª, única revista pelo autor. Ed. A. M. Pereira, 1968.

"MONOGRAFIA DA GAFANHA", Pe. João Vieira Resende. Reedição da C. M. de Ílhavo, 1989.

"COSTUMES E GENTE DE ILHAVO", Diniz Gomes. Reedição da C. M. de Ílhavo, 1989.

"OS LUSÍADAS VAREIROS", de António Manarte, 1985.

"OS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES", Jaime Cortesão. Ed. Arcádia, n.º 1066, autografado.

"CANCIONEIRO DE AVEIRO", compilação de João Sarabando. Ed. 1966.

"S. GONÇALlNHO EM REDONDILHAS", Amadeu de Sousa. Ed. da C. M. de Aveiro, 1989.

"DICIONÁRIO GERAL E ANALÓGICO DA LÍNGUA PORTUGUESA", Artur Bivar. Ed. Ouro Lda., Porto, 1925.

"GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA".

 

PUBLlCAÇÕES CONSULTADAS

"Alguns Aspectos do Trajo Popular na Beira-Litoral", Rocha Madahil. Separatas do Arq. do Dist. Aveiro. volumes n.º IV, V, VII.

"O Meu Varino", Dr. Roberto Macedo. Separata do Arq. Dist. Aveiro, volume n.º XXIX, 1963.

"O gabão de Aveiro", Dr. José Tavares. Separata do Arq. Dist. Aveiro, volume n.º XXXVIII.

"Os gabões de Aveiro", Eduardo Cerqueira. Boletim Municipal de Aveiro, n.º 1,1983.

"O Gabão. Algumas notas", Luís Ferreira da Costa. Ed. da Confraria dos Enófilos da Bairrada, 1981.

"A Confraria dos Enófilos da Bairrada" – um pouco da sua história", Luís Ferreira da Costa. Boletim ADERAV, Maio de 1987.

"O Desaparecido gabão de Aveiro", Eduardo Cerqueira. Jornal "Correio do Vouga", n.º 2597, Junho de 1982.

"O que é o gabão de Aveiro?" Carta de M. P. S. no jornal "Litoral" de 12 de Novembro de 1960 - Ano V.

"Achegas para a Historiografia de Aveiro", CLXX e CLXXI, de 22 e 29 de Setembro de 1989, em o "Litoral".

"O gabão. Porquê Varino?", Severim Marques, em "Litoral" de 17 de Abril de 1989.

"Eça de Queirós, em Aveiro", Dr. Armando França. "Litoral" de 22 de Setembro de 1989.

"O gabão (Varino)" - nótulas de Severim F. Marques.

M. Ed. dos Santos Oliveiros

 

 

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