I Bienal Internacional de
Cerâmica Artística
Por iniciativa da Câmara Municipal de Aveiro, que contou com a
prestimosa e imprescindível colaboração de uma Comissão Organizadora e
de uma Comissão Executiva, realizou-se no pavilhão octogonal do Recinto
de Feiras e Exposições a I Bienal Internacional de Cerâmica Artística de
Aveiro, que teve o seu início em 11 de Novembro e encerrou em 16 de
Dezembro.
Conforme se lia no respectivo Regulamento, o certame destinou-se «a
mostrar as tendências de maior relevância da cerâmica actual,
contribuindo assim para uma formação didáctica e estímulo à criatividade
e ao desenvolvimento de carácter cultural, além de uma procura de novos
materiais, técnicas e formas». O número elevado de visitantes,' que
rondou os 8.000, mostra bem o interesse que as obras expostas
despertaram não só em Aveiro como no país.
O júri, reunido em 25 de Outubro para efeitos de selecção
definitiva e premiação, atribuiu o primeiro prémio ao artista Xoan
Manoel Viqueira (Espanha), o segundo prémio ao artista Luís Ferreira da
Silva (Portugal) e o terceiro prémio, ex-aequo, aos artistas
Anisabel (Portugal) e Anne-France de Bruyn (Bélgica), para além das
menções honrosas a Rosa Soler Garcia (Espanha), Osório de Castro
(Portugal), Beatrix Weissflog (República Democrática Alemã), Cecília de
Sousa (Portugal), Annelies Buchart (República Federal Alemã), Mário
Ferreira da Silva (Portugal), Ana Domingos (Portugal), Vasco Afonso
(Portugal), Bota Filipe (Portugal) e João Carqueijeiro (Portugal).
A Câmara Municipal também procedeu à edição primorosa do respectivo
Catálogo, em quadricomia, cujo «design» foi do artista Artur Fino, que
também foi o autor do logotipo; o texto é em português e em inglês,
sendo a tradução de Celso Manuel dos Santos, Augusto Lopo, Anthony
Laurel e Gaspar Albino. Dele transcrevemos as palavras de abertura,
tanto do Presidente da Câmara Municipal, Dr. José Girão Pereira, como do
Vereador do Pelouro da Cultura, Prof. Celso dos Santos:
1 – DESCENTRALlZAÇÃO CULTURAL: NECESSIDADE URGENTE
«Uma Bienal Internacional de Cerâmica Artística em Aveiro, porquê?
Para começar, por motivos geográficos e históricos. De facto, é a
região pioneira em muitos dos aspectos com que a cerâmica (nas suas
múltiplas facetas) se relacionam. Pelas características geológicas de
grande parte dos seus terrenos, há que levar em consideração barros de
boa qualidade. E viria a propósito evocar aqui a importância, a nível
nacional, da actividade da Fábrica Jerónimo Pereira Campos.
Além disso, foi a partir da actividade da Fábrica da Vista Alegre,
com a «descoberta» do caulino em terras aveirenses, que se deu um outro
importante passo em frente, com porcelanas do maior prestígio mundial.
Ainda de forte vector histórico (e isto para não recordar
importantes fábricas já inexistentes, como a da Fonte Nova, entre outras
no concelho de Aveiro) há
/ 50 / que referir também grande parte da produção da Fábrica Aleluia,
que dispensa adjectivos.
Para abreviar (pedindo escusa de, neste texto, não salientarmos
também grandes unidades fabris do sector laborando um pouco por todo o
Distrito, com especial incidência em Águeda, mas sem esquecer
Albergaria-a-Velha, Anadia, Ílhavo, Mealhada e Oliveira do Bairro),
entendemos chamar especial atenção para o facto de a Universidade de
Aveiro, instituição base do desenvolvimento de toda a nossa região (e
não só), proporcionar licenciatura em Engenharia da Cerâmica e do Vidro.
E vem a propósito aqui deixar expressos alguns dos objectivos que
presidem à razão de ser dessa licenciatura, no que respeita
especificamente à Cerâmica.
De facto, o processo tecnológico actual exige continuamente o
desenvolvimento de novos métodos de fabrico e de materiais (cerâmicas,
metais, polímeros) com características dia a dia mais sofisticadas. A
produção actual de materiais cerâmicas engloba não só os tradicionais
produtos de elevada tonelagem de fabrico (tijolos, azulejos, sanitários,
refractários, vidros, cimentos, etc.) como também muitos outros produtos
essenciais ao desenvolvimento de tecnologias modernas.
O referido Curso tem ainda o objectivo de formar técnicos
superiores com um grau de conhecimento que permite um melhor
aproveitamento das capacidades do parque industrial de Cerâmica.
Acrescentamos que, embora a principal razão de ser da Licenciatura
em análise tenha a ver, essencialmente, com vertentes tecnológicas e
científicas, a verdade é que é fácil, e lógico, relacionar essas
finalidades com o aspecto artístico, porque na Cerâmica Artística todos
esses conhecimentos são diriam os que indispensáveis, na medida em que
abrem perspectivas renovadas para a criatividade e inovação artística.
Além disso, e a acrescentar às razões desta Bienal em Aveiro, há
que levar em consideração a cada vez mais necessária e urgente
descentralização cultural, principalmente quando as respectivas acções
se desenvolvem em locais especial e naturalmente vocacionados para
determinadas demonstrações, salões ou mostras – como é, neste caso,
Aveiro e a sua região».
2 – CREDIBILlDADE
«Conseguir, num primeiro Salão com as características desta Bienal,
uma presença de tão rica representatividade nacional e internacional
como a que se patenteia só pode atribuir-se à credibilidade que a sua
própria estrutura naturalmente impôs, concitando as atenções e
interesses de artistas da mais elevada craveira, a todos os níveis
relacionados com a Mostra em referência.
Assim se explica ter ascendido a 425 o número de obras inscritas
para esta I Bienal Internacional de Cerâmica Artística realizada em
Aveiro, entre 11 de Novembro e 16 de Dezembro de 1989.
O júri composto pelo Prof. Mestre Júlio Resende, Dr. Vasco Branco,
Dr. Joaquim Mattos Chaves e Prof. Pintor Francisco Laranja – recusou,
numa primeira triagem, 151 obras; após uma segunda e definitiva triagem,
foram admitidas 170, correspondentes a 116 inscrições.
Na acta do júri pode ler-se que este se «congratula com a
iniciativa, e, por isso, felicita os Serviços de Cultura da Câmara
Municipal de Aveiro, além de «manifestar a sua satisfação pelo modo como
os trabalhos decorreram».
Das obras admitidas, 84 são de Portugal, distribuindo-se as
restantes pela República Federal da Alemanha, Bulgária, Austrália,
Bélgica, Brasil, Espanha, Finlândia, Holanda, Jugoslávia, Polónia,
República Democrática Alemã e Suíça.
Para a referida credibilidade deste Salão muito contribuiu a
constituição do júri, exigente mas justo, com natural evidência para o
respectivo Presidente, Prof. Mestre Júlio Resende.
Também não poderiam ser esquecidos não só todo o pessoal dos
diversos Serviços Camarários (que, com o seu dinamismo e dedicação,
conseguiram erguer toda uma estrutura de características inéditas no
Pavilhão Octogonal) como também os artistas (aveirenses e não só) que
prestaram o seu apoio contínuo e desinteressado ao desenvolvimento de
todo o processo que culminou nesta realização que a todos nós prestigia
e, de certo modo, positivamente nos orgulha.
A terminar, uma saudação, e uma sincera homenagem, às entidades e
empresas nacionais e estrangeiras que não só acreditaram em nós como
evidenciaram essa credibilidade com a sua presença efectiva, sem a qual
a I Bienal Internacional de Cerâmica Artística em Aveiro poderia não
passar de um sonho».
COMISSÃO DE HONRA
Secretária de Estado da Cultura
Secretário de Estado do Turismo
Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian
Governador Civil de Aveiro
Presidente da Câmara Municipal de Aveiro
Presidente da Região de Turismo da Rota da Luz
COMISSÃO ORGANIZADORA
Dr. José Girão Pereira
Prof. Celso dos Santos
Dr. Amaro Neves
Artur Fino
Coronel Cândido Teles
Dr. Emanuel Moreira da Cunha
Dr. Énio Semedo
Eng.º Faria Frasco
Fernando José Morgado
Prof. Dr. Henrique Diz
Jeremias Bandarra
Mons. João Gonçalves Gaspar
Dr. Vasco Branco
COMISSÃO EXECUTIVA
Prol. Celso dos Santos
Artur Fino
Jeremias Bandarra
Dr. Emanuel Moreira da Cunha
António José Bartolomeu
SECRETARIADO
Alexandrina Maximino
Isabel Neto
Maria Luísa Andias
JÚRI
Prol. Pintor Júlio Resende
Dr. Vasco Branco
Dr. Joaquim Mattos-Chaves
Prof. Pintor Francisco Laranjo
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