CIDADES IRMÃS
AVEIRO – BOURGES
No dia 13 de Maio, os representantes da cidade de Aveiro
e de Bourges assinaram uma declaração conjunta, pela qual ratificaram o
protocolo de amizade e irmanação celebrado naquela cidade francesa no
dia 2 de Fevereiro passado. Participaram na cerimónia, que se revestiu
de justificada solenidade, o «Maire» de Bourges, Mr. Jacques Raimbault,
os Presidentes da Assembleia Municipal e da Edilidade Aveirense,
Vereadores das duas Câmaras, representantes do Município italiano de
Forli, representantes do Instituto Politécnico de Bourges e do Instituto
Superior de Contabilidade e de Administração de Aveiro, e ainda o
Vigário Geral da Diocese, Mons. João Gonçalves Gaspar.
Francisco da Encarnação Dias, Presidente da Assembleia
Municipal de Aveiro, abrindo a sessão, que teve lugar no salão nobre dos
Paços do Concelho, enalteceu este intercâmbio de relações amigáveis,
afirmando:
– «São as minhas primeiras palavras para saudar V.as
Ex.as, dar-lhes as boas vindas, e fazer ardentes votos para
que o dia de hoje constitua uma grata recordação.
Distantes vão os tempos em que os homens, separados por
fronteiras, pela língua, por hábitos de vida ou mesmo religião, viam no
seu vizinho o inimigo constante, a ameaça permanente, o elemento a
abater.
Nas últimas décadas, com mais propriedade a partir da
última grande guerra, este cataclismo mundial que devastou cidades,
ceifou centos de milhares de vidas, encheu a humanidade de sofrimento,
mas sem dúvida alguma – e como sempre acontece – também incentivou a
criatividade, evoluiu a ciência e, muito especialmente, destruiu
estruturas.
Estruturas que, uma vez enterradas, estão na origem duma
outra dinâmica de sociedade, uma outra concepção de vida, sem dúvida
menos fechada, menos egoísta mais alargada, e que se rege por outros
parâmetros. Os novos conceitos acompanham uma nova geração, que se
traduzem e se alargam a uma criatividade invulgar, intensiva a todos os
campos das ciências, das artes ou das letras.
A par de uma revolução de ideias, estamos na presença
também duma verdadeira revolução de mentalidades.
Neste contexto, o homem movimenta-se em todas as
latitudes e as nações vão-se organizando por grandes áreas territoriais
chamadas de estratégicas e ainda económicas e sociais.
No caso específico de Portugal, com mais uma vantagem. A
comunidade lusa é mais abrangente, mais universalista, está em tudo o
que é sítio do globo. Presença física e presença histórica.
Talvez por isso, quero crer que por isso mesmo, nós
estamos aqui hoje, nesta sessão mesmo solene, neste encontro de amigos
com amizade de irmãos.
Confirmamos aqui – com os mesmos princípios – o
compromisso de geminação assinado em Bourges.
E permitam-me V.as Ex.as trazer
aqui a lembrança do Dr. Alberto Souto, grande francófilo e que foi
ilustre presidente desta Câmara.
Na introdução ao prefácio do livro «Cartas de Fuzilados»,
num período difícil da vida da França e que é a história dos que
morreram para que a França viva, escreveu o Dr. Alberto Souto:
«Efectivamente, apesar das dores que as hostes napoleónicas nos causaram
no período megalómano, mas brilhante, do primeiro império, e apesar das
humilhações que o Napoleão, sem brilho, do segundo império nos impôs
também, a verdade é que a França não deixou de ser para os portugueses,
como diz a frase consagrada, uma verdadeira mãe espiritual»
'Uma mãe espiritual.' Estão aqui hoje os seus
representantes, para ratificar o acordo de gemi nação. Que este acto
possa servir os povos das duas nações, que na sua latinidade têm
igualmente em comum duas histórias pátrias maravilhosas».
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GEMINAÇÃO
Chegou a altura em que BOURGES, a térrea, e AVEIRO, a vizinha do
Oceano, se reconhecem e se ligam pelos laços da geminação.
A História une as nossas duas cidades no momento em que,
numerosos, os valentes filhos da antiga Lusitânia procuram ainda
um destino melhor nas terras da antiga Gália. Cuidemos na
perenidade duma estima recíproca.
Num passado longínquo, BOURGES e AVEIRO vibraram, ambas animadas
pelo mesmo gosto de aventura e pela mesma e profunda fé.
Com a mesma audácia, as caravelas de Jacques COEUR e as dos
grandes navegadores portugueses lançaram-se pelo mar
desconhecido.
Igual fé religiosa erigiu a catedral SAINT ETIENNE e a Igreja de
São Domingos e foi essa mesma fé que se revelou a Sainte Jeanne
de France, filha de Luís XI, e a Princesa Santa Joana, filha de
Afonso V.
Numerosos foram os homens, as mulheres e os jovens de BOURGES e
de AVEIRO a conhecerem a cidade gémea.
AVEIRO tem a sua laguna imponente, a sua ria; BOURGES tem os
seus pântanos verdejantes. AVEIRO glorifica a impetuosidade do
rio Vouga; BOURGES honra os seus rios calmos.
Tanto aqui como lá, a Natureza atrai os seus amigos e inspira os
sonhadores.
O ano 2000 aproxima-se, com os seus riscos e as suas promessas,
as suas aventuras e a sua necessidade de fé.
No momento em que BOURGES e AVEIRO embarcam nas caravelas da
Europa, fiquemos atentos para que a Revolução de 1789 e a
Revolução dos Cravos continuem a ser promessas de fraternidade!
Pelos laços de geminação, as Câmaras Municipais de BOURGES e de
AVEIRO prometem obrar para a compreensão mútua dos povos francês
e português.
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– Documento assinado na «Mairie de Bourges (França), no
dia 10 de Fevereiro de 1989, e subscrito pelo Presidente da Assembleia e
da Câmara Municipal, respectivamente Francisco da Encarnação Dias e Dr.
José Girão Pereira, e pelos seus homólogos franceses.
O Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Dr. José
Girão Pereira, depois de destacar a presença de representantes da
Edilidade italiana de
/ 44 / Forli que, como referiu, «a partir desta data passam a
ser amigos de Aveiro», historiou o processo que conduziu à gemi nação
das cidades de Aveiro e Bourges, destacando o papel importante que
tiveram a Associação de Comerciantes da Rue d'Auron, e a Associação de
Amizade Portugal-França, ambas ali representadas, pondo em destaque o
desejo de que «as nossas cidades – pessoas - tenham a criatividade
suficiente para levar por diante o que foi feito até hoje, e assim tudo
fazerem para dignificar este tipo de relações».
Leandro Gasparrini, adjunto do Presidente da Com una de
Forli, salientou o sentimento espontâneo que se criou quando em
Fevereiro passado, e pela primeira vez, delegações de Aveiro e daquela
cidade italiana se juntaram em Bourges, manifestando-se de acordo com a
afirmação do Dr. Girão Pereira, quando este referira que «fazemos hoje a
primeira etapa para um longo caminho em comum», deixando o convite «para
que os amigos de Aveiro visitem Forli num novo encontro
Aveiro-Bourges-Forli».
Jacques Raimbault, «Maire» de Bourges, mostrou-se
sensibilizado pelo acolhimento que foi dispensado a toda a comitiva
francesa, reforçando-se também o papel desempenhado pelos diversos
agentes que possibilitaram este estreitamento de relações, salientando
que «a Europa livre tem muito a ver com este relacionamento onde as
culturas se intercalam pelo intercâmbio das nações». Concluiu depois com
o desejo de que nos próximos anos as duas cidades e os dois países se
aproximem ainda mais na multiplicação destes contactos.
No programa desta ratificação do acordo de irmanação,
refere-se ainda a inauguração da Rua de Bourges em Aveiro e a plantação
de três árvores na Baixa de Santo António, numa réplica do que foi a
plantação no «bosque da fraternidade» em Fevereiro passado, na cidade
francesa. Regista-se também a assinatura de um protocolo de intenções
entre o Lions Clube de Santa Joana e o Lions Clube de Bourges e as
visitas ao Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro
e à Universidade de Aveiro.
Ao fim da tarde, as comitivas francesa e italiana foram
recebidas na sede da Associação Comercial de Aveiro onde, depois das
palavras do presidente daquela Associação, António Gregório Videira, foi
feita a entrega de lembranças aos visitantes.
AVEIRO - CIUDAD RODRIGO
O Município Aveirense esteve representado na I Exposição
de Ciudad Rodrigo (Espanha), inaugurada no dia 12 de Agosto e que se
prolongou até ao dia 20 do mesmo mês. A Câmara de Aveiro montou um
«stand», no qual se demonstraram as potencialidades turísticas e
culturais, e o desenvolvimento económico, industrial e comercial da
nossa região. Houve passagem de vídeos, ofertas de lembranças aos
visitantes e informações sobre vários aspectos.
Esta iniciativa integrou-se nos contactos anuais com
Ciudad Rodrigo, cidade com a qual Aveiro mantém relações de amizade,
sobretudo depois da assinatura do protocolo de irmanação, ocorrida há
anos.
O último dia da Exposição foi dedicado a Portugal,
estando também representados os Municípios de Almeida, Gouveia, Guarda e
Sabugal. Para esta comemoração deslocou-se uma delegação aveirense,
constituída pelo Presidente da Assembleia Municipal, pelo Presidente da
Edilidade e por dois Vereadores.
O dia de Ciudad Rodrigo é normalmente comemorado entre
nós durante a Feira de Março ou nas Festas do Município.
AVEIRO - NEWARK
No dia 26 de Maio, nos Paços do Concelho, foi recebida
uma delegação da cidade americana
/ 45 / de Newark, presidida pelo «mayor»
daquela cidade, Sharpe James. Esta visita testemunhou a vontade das duas
cidades – Aveiro e Newark – em estreitar laços de amizade de forma a
que, no futuro, se venha a proceder à assinatura de um protocolo de
geminação.
A região de Newark é das zonas dos Estados Unidos onde há
mais emigrantes portugueses e, entre estes, uma grande colónia de
naturais da Murtosa e seus filhos; aí se comemora anualmente o «Dia de
Portugal» que chega a reunir trezentas mil pessoas, que assim se juntam
aos portugueses ai radicados.
Esta foi a primeira vez que Aveiro recebeu um «mayor» dos
Estados Unidos – o que não se deve estranhar, pois, conforme disse o Dr.
José Girão Pereira, em Portugal não é muito habitual o encontro entre
Edilidades nacionais e Câmaras americanas. «Temos mantido encontros
habituais com Câmaras da Europa, da África e do Oriente, onde realizámos
uma irmanação com a cidade japonesa de Cita; começa agora entre nós uma
nova tradição neste campo que são estas relações com uma Câmara da
América» – salientou o Presidente do Município Aveirense nas palavras
iniciais da recepção oficial ao responsável de Newark. E acrescentou: –
«É com grande agrado que vejo começar hoje e aqui a história das nossas
relações, que marcam um passo no diálogo entre os povos, pois é a
primeira vez, não só em Aveiro mas também em Portugal, que se estreitam
laços de amizade e de cooperação com cidades americanas».
O «mayor» Sharpe James, na sua alocução, manifestou o
desejo de que tais laços sejam fortes, dada a importância da comunidade
portuguesa radicada na sua cidade. «É com agrado disse - que vejo
estreitarem-se os laços de amizade entre as nossas cidades, pois em
Newark há uma comunidade de perto de sessenta mil portugueses e dez mil
brasileiros. A comunidade portuguesa desempenha um importante papel no
desenvolvimento económico da região; os portugueses decidiram abrir um
banco português em Newark, e para isso são necessários pelo menos três
milhões de dólares, e o banco foi aberto com um capital de nove milhões.
Este facto é bastante significativo e por isso queremos estreitar os
laços de cooperação».
No final da sessão solene, os dois responsáveis
municipais trocaram entre si as medalhas das respectivas cidades.
AVEIRO - INHAMBANE
As cidades de Aveiro e Inhambane, no dia 30 de Maio,
assinaram a ratificação do protocolo de geminação; foi o culminar de um
processo principiado em 15 de Dezembro de 1988, na altura em que
autarcas aveirenses se deslocaram àquela cidade moçambicana. Com este
gesto, pretende-se um intercâmbio cultural e económico, sem esquecer que
as duas cidades são realidades diferentes.
A delegação moçambicana, composta por Luís Gabriel
Muthisse, Assessor do Governador da Província e Procurador Provincial do
Tribunal Popular de Inhambane, e Vitorino Macuvel, Presidente do
Conselho Executivo da cidade de Inhambane, estabeleceu contactos não
apenas com as autoridades locais mas também com diversos sectores de
actividade com o objectivo de captar agentes económicos e encontrar
plataformas de apoio aveirense para as deficiências na sua região. De
facto, como foi amplamente referido, a cidade de Inhambane dispõe de
condições para o investimento em alguns sectores como o da indústria
pesqueira, o dos citrinos, o do algodão e o do café.
Das várias dificuldades sentidas na cidade de Inhambane,
destaca-se, à semelhança da realidade nacional moçambicana, a falta de
formação de técnicos. «Moçambique é um país em crescimento, tem
problemas de vária ordem e não possui técnicos nacionais para cobrir as
necessidades do país; por isso, estamos empenhados na sua formação,
nomeadamente através do apoio técnico estrangeiro» – disse na ocasião da
assinatura do protocolo Luís Gabriel Muthisse.
Vitorino Macuvel fez questão em salientar que «os
portugueses sempre foram amigos; aliás disse – nós lutámos durante dez
anos contra o regime colonial português e não contra os portugueses;
hoje temos uma visão diferente de Portugal; se antes o conhecíamos
apenas pelos livros, agora levamos uma nova e boa imagem deste país para
Inhambane».
O Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, em breves
palavras, recordou que este protocolo de geminação se insere num
programa global de «viragem à Europa dentro do espírito de integração
europeia e de aproximação às relações com os países africanos de língua
oficial portuguesa». Debruçando-se sobre os constantes actos que
precederam este protocolo, o Dr. Girão Pereira afirmou que «estamos
perante três realidades, uma virada para a América em função dos
emigrantes lá residentes, a segunda virada para as relações ligadas à
Europa e inserida nos acordos de adesão e no âmbito político do Estado
europeu e a terceira referente às relações com os países africanos de
expressão portuguesa». E, referindo-se às suas especificidades, acentuou
que «das três realidades, como cidadão, a que mais me toca e a que me é
mais querida, tendo de ser apoiada e correspondida, é a respeitante à
colaboração com os países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP'S);
para além dos traumas e dos factos políticos de anteriores décadas, há
uma / 46 / realidade histórica e cultural pelo facto de nesses países se
falar português; há uma história comum; é preciso não ficarmos marcados
pelo que aconteceu e que os nossos povos não tenham o trauma de falar
português, porque a língua é um dos seus elementos de independência».
AVEIRO - ARCACHON
Aveiro e Arcachon (França) são agora cidades irmãs, tendo
assinado, quer lá, quer agora cá, no dia 28 de Outubro, o seu protocolo
de amizade fraterna, após um tempo de três anos em contactos de
aproximação.
«Vai fazer três anos que a nossa cidade e Aveiro se
conhecem. Foi um tempo de noivado e ao noivado sucede o casamento. Hoje,
realiza-se, em Aveiro, o casamento de duas cidades». Estas palavras
foram ditas por Pierre Lataillade, «Maire» de Arcachon, que, ao definir
o espírito desta geminação, acrescentou: – «A Europa não é feita para
tornar todos os homens iguais, mas para que todos os homens se conheçam
e aceitem; que façam as coisas em conjunto, porque só assim se pode
construir o futuro».
Por sua vez, o Presidente da Câmara Municipal de Aveiro,
Dr. José Girão Pereira, afirmou: – "Creio que estão criadas todas as
condições para que esta geminação não fique só no papel e no contrato
que vamos assinar, mas que inicie um longo intercâmbio de vitalidade,
não apenas de relações humanas, mas também técnicas, científicas e
económicas». Acrescentou: – «É preciso que os homens se entendam; e não
é o Estado nem as instituições que vão fazer a universalização 1 dos
valores; somos nós, cidadãos, a quem compete fazer uma Europa de
pequenas comunidades, da cultura europeia, a Europa das geminações».
Aveiro soube receber a cidade-irmã. E foram muitos os
gestos de amizade: Associação Comercial de Aveiro, Lions Clube de St.ª
Joana, Grupo Etnográfico e Cénico das Barrocas, Grupo Folclórico do
Baixo-Vouga (Eixo) – todos assinaram protocolos de amizade, irmanando-se
com colectividades congéneres daquela cidade francesa.
Queremos referir a participação digna e piedosa do Coral
Arcana na Eucaristia da Sé, no domingo, dia 29, onde o Vigário Geral da
Diocese, em nome do Bispo de Aveiro, saudou a embaixada francesa de
Arcachon. Uma palavra de realce também é justa para o bom espectáculo na
noite anterior, no Teatro Aveirense.
«Um desafio conjunto para a construção de duas cidades,
mais humanas e mais próximas» – oxalá sejam realidade concreta estas
palavras do Presidente do Município Aveirense.
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