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Boletim n.º 13-14 - Ano VII - 1989


CIDADES IRMÃS

 

AVEIRO – BOURGES

No dia 13 de Maio, os representantes da cidade de Aveiro e de Bourges assinaram uma declaração conjunta, pela qual ratificaram o protocolo de amizade e irmanação celebrado naquela cidade francesa no dia 2 de Fevereiro passado. Participaram na cerimónia, que se revestiu de justificada solenidade, o «Maire» de Bourges, Mr. Jacques Raimbault, os Presidentes da Assembleia Municipal e da Edilidade Aveirense, Vereadores das duas Câmaras, representantes do Município italiano de Forli, representantes do Instituto Politécnico de Bourges e do Instituto Superior de Contabilidade e de Administração de Aveiro, e ainda o Vigário Geral da Diocese, Mons. João Gonçalves Gaspar.

Francisco da Encarnação Dias, Presidente da Assembleia Municipal de Aveiro, abrindo a sessão, que teve lugar no salão nobre dos Paços do Concelho, enalteceu este intercâmbio de relações amigáveis, afirmando:

– «São as minhas primeiras palavras para saudar V.as Ex.as, dar-lhes as boas vindas, e fazer ardentes votos para que o dia de hoje constitua uma grata recordação.

Distantes vão os tempos em que os homens, separados por fronteiras, pela língua, por hábitos de vida ou mesmo religião, viam no seu vizinho o inimigo constante, a ameaça permanente, o elemento a abater.

Nas últimas décadas, com mais propriedade a partir da última grande guerra, este cataclismo mundial que devastou cidades, ceifou centos de milhares de vidas, encheu a humanidade de sofrimento, mas sem dúvida alguma – e como sempre acontece – também incentivou a criatividade, evoluiu a ciência e, muito especialmente, destruiu estruturas.

Estruturas que, uma vez enterradas, estão na origem duma outra dinâmica de sociedade, uma outra concepção de vida, sem dúvida menos fechada, menos egoísta mais alargada, e que se rege por outros parâmetros. Os novos conceitos acompanham uma nova geração, que se traduzem e se alargam a uma criatividade invulgar, intensiva a todos os campos das ciências, das artes ou das letras.

A par de uma revolução de ideias, estamos na presença também duma verdadeira revolução de mentalidades.

Neste contexto, o homem movimenta-se em todas as latitudes e as nações vão-se organizando por grandes áreas territoriais chamadas de estratégicas e ainda económicas e sociais.

No caso específico de Portugal, com mais uma vantagem. A comunidade lusa é mais abrangente, mais universalista, está em tudo o que é sítio do globo. Presença física e presença histórica.

Talvez por isso, quero crer que por isso mesmo, nós estamos aqui hoje, nesta sessão mesmo solene, neste encontro de amigos com amizade de irmãos.

Confirmamos aqui – com os mesmos princípios – o compromisso de geminação assinado em Bourges.

E permitam-me V.as Ex.as trazer aqui a lembrança do Dr. Alberto Souto, grande francófilo e que foi ilustre presidente desta Câmara.

Na introdução ao prefácio do livro «Cartas de Fuzilados», num período difícil da vida da França e que é a história dos que morreram para que a França viva, escreveu o Dr. Alberto Souto: «Efectivamente, apesar das dores que as hostes napoleónicas nos causaram no período megalómano, mas brilhante, do primeiro império, e apesar das humilhações que o Napoleão, sem brilho, do segundo império nos impôs também, a verdade é que a França não deixou de ser para os portugueses, como diz a frase consagrada, uma verdadeira mãe espiritual»

'Uma mãe espiritual.' Estão aqui hoje os seus representantes, para ratificar o acordo de gemi nação. Que este acto possa servir os povos das duas nações, que na sua latinidade têm igualmente em comum duas histórias pátrias maravilhosas».

 

GEMINAÇÃO

Chegou a altura em que BOURGES, a térrea, e AVEIRO, a vizinha do Oceano, se reconhecem e se ligam pelos laços da geminação.

A História une as nossas duas cidades no momento em que, numerosos, os valentes filhos da antiga Lusitânia procuram ainda um destino melhor nas terras da antiga Gália. Cuidemos na perenidade duma estima recíproca.

Num passado longínquo, BOURGES e AVEIRO vibraram, ambas animadas pelo mesmo gosto de aventura e pela mesma e profunda fé.

Com a mesma audácia, as caravelas de Jacques COEUR e as dos grandes navegadores portugueses lançaram-se pelo mar desconhecido.

Igual fé religiosa erigiu a catedral SAINT ETIENNE e a Igreja de São Domingos e foi essa mesma fé que se revelou a Sainte Jeanne de France, filha de Luís XI, e a Princesa Santa Joana, filha de Afonso V.

Numerosos foram os homens, as mulheres e os jovens de BOURGES e de AVEIRO a conhecerem a cidade gémea.

AVEIRO tem a sua laguna imponente, a sua ria; BOURGES tem os seus pântanos verdejantes. AVEIRO glorifica a impetuosidade do rio Vouga; BOURGES honra os seus rios calmos.

Tanto aqui como lá, a Natureza atrai os seus amigos e inspira os sonhadores.

O ano 2000 aproxima-se, com os seus riscos e as suas promessas, as suas aventuras e a sua necessidade de fé.

No momento em que BOURGES e AVEIRO embarcam nas caravelas da Europa, fiquemos atentos para que a Revolução de 1789 e a Revolução dos Cravos continuem a ser promessas de fraternidade!

Pelos laços de geminação, as Câmaras Municipais de BOURGES e de AVEIRO prometem obrar para a compreensão mútua dos povos francês e português.
 

 


– Documento assinado na «Mairie de Bourges (França), no dia 10 de Fevereiro de 1989, e subscrito pelo Presidente da Assembleia e da Câmara Municipal, respectivamente Francisco da Encarnação Dias e Dr. José Girão Pereira, e pelos seus homólogos franceses.

O Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Dr. José Girão Pereira, depois de destacar a presença de representantes da Edilidade italiana de / 44 / Forli que, como referiu, «a partir desta data passam a ser amigos de Aveiro», historiou o processo que conduziu à gemi nação das cidades de Aveiro e Bourges, destacando o papel importante que tiveram a Associação de Comerciantes da Rue d'Auron, e a Associação de Amizade Portugal-França, ambas ali representadas, pondo em destaque o desejo de que «as nossas cidades – pessoas - tenham a criatividade suficiente para levar por diante o que foi feito até hoje, e assim tudo fazerem para dignificar este tipo de relações».

Leandro Gasparrini, adjunto do Presidente da Com una de Forli, salientou o sentimento espontâneo que se criou quando em Fevereiro passado, e pela primeira vez, delegações de Aveiro e daquela cidade italiana se juntaram em Bourges, manifestando-se de acordo com a afirmação do Dr. Girão Pereira, quando este referira que «fazemos hoje a primeira etapa para um longo caminho em comum», deixando o convite «para que os amigos de Aveiro visitem Forli num novo encontro Aveiro-Bourges-Forli».

Jacques Raimbault, «Maire» de Bourges, mostrou-se sensibilizado pelo acolhimento que foi dispensado a toda a comitiva francesa, reforçando-se também o papel desempenhado pelos diversos agentes que possibilitaram este estreitamento de relações, salientando que «a Europa livre tem muito a ver com este relacionamento onde as culturas se intercalam pelo intercâmbio das nações». Concluiu depois com o desejo de que nos próximos anos as duas cidades e os dois países se aproximem ainda mais na multiplicação destes contactos.

No programa desta ratificação do acordo de irmanação, refere-se ainda a inauguração da Rua de Bourges em Aveiro e a plantação de três árvores na Baixa de Santo António, numa réplica do que foi a plantação no «bosque da fraternidade» em Fevereiro passado, na cidade francesa. Regista-se também a assinatura de um protocolo de intenções entre o Lions Clube de Santa Joana e o Lions Clube de Bourges e as visitas ao Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro e à Universidade de Aveiro.

Ao fim da tarde, as comitivas francesa e italiana foram recebidas na sede da Associação Comercial de Aveiro onde, depois das palavras do presidente daquela Associação, António Gregório Videira, foi feita a entrega de lembranças aos visitantes.

 

AVEIRO - CIUDAD RODRIGO

O Município Aveirense esteve representado na I Exposição de Ciudad Rodrigo (Espanha), inaugurada no dia 12 de Agosto e que se prolongou até ao dia 20 do mesmo mês. A Câmara de Aveiro montou um «stand», no qual se demonstraram as potencialidades turísticas e culturais, e o desenvolvimento económico, industrial e comercial da nossa região. Houve passagem de vídeos, ofertas de lembranças aos visitantes e informações sobre vários aspectos.

Esta iniciativa integrou-se nos contactos anuais com Ciudad Rodrigo, cidade com a qual Aveiro mantém relações de amizade, sobretudo depois da assinatura do protocolo de irmanação, ocorrida há anos.

O último dia da Exposição foi dedicado a Portugal, estando também representados os Municípios de Almeida, Gouveia, Guarda e Sabugal. Para esta comemoração deslocou-se uma delegação aveirense, constituída pelo Presidente da Assembleia Municipal, pelo Presidente da Edilidade e por dois Vereadores.

O dia de Ciudad Rodrigo é normalmente comemorado entre nós durante a Feira de Março ou nas Festas do Município.

 

AVEIRO - NEWARK

No dia 26 de Maio, nos Paços do Concelho, foi recebida uma delegação da cidade americana / 45 / de Newark, presidida pelo «mayor» daquela cidade, Sharpe James. Esta visita testemunhou a vontade das duas cidades – Aveiro e Newark – em estreitar laços de amizade de forma a que, no futuro, se venha a proceder à assinatura de um protocolo de geminação.

A região de Newark é das zonas dos Estados Unidos onde há mais emigrantes portugueses e, entre estes, uma grande colónia de naturais da Murtosa e seus filhos; aí se comemora anualmente o «Dia de Portugal» que chega a reunir trezentas mil pessoas, que assim se juntam aos portugueses ai radicados.

Esta foi a primeira vez que Aveiro recebeu um «mayor» dos Estados Unidos – o que não se deve estranhar, pois, conforme disse o Dr. José Girão Pereira, em Portugal não é muito habitual o encontro entre Edilidades nacionais e Câmaras americanas. «Temos mantido encontros habituais com Câmaras da Europa, da África e do Oriente, onde realizámos uma irmanação com a cidade japonesa de Cita; começa agora entre nós uma nova tradição neste campo que são estas relações com uma Câmara da América» – salientou o Presidente do Município Aveirense nas palavras iniciais da recepção oficial ao responsável de Newark. E acrescentou: – «É com grande agrado que vejo começar hoje e aqui a história das nossas relações, que marcam um passo no diálogo entre os povos, pois é a primeira vez, não só em Aveiro mas também em Portugal, que se estreitam laços de amizade e de cooperação com cidades americanas».

O «mayor» Sharpe James, na sua alocução, manifestou o desejo de que tais laços sejam fortes, dada a importância da comunidade portuguesa radicada na sua cidade. «É com agrado disse - que vejo estreitarem-se os laços de amizade entre as nossas cidades, pois em Newark há uma comunidade de perto de sessenta mil portugueses e dez mil brasileiros. A comunidade portuguesa desempenha um importante papel no desenvolvimento económico da região; os portugueses decidiram abrir um banco português em Newark, e para isso são necessários pelo menos três milhões de dólares, e o banco foi aberto com um capital de nove milhões. Este facto é bastante significativo e por isso queremos estreitar os laços de cooperação».

No final da sessão solene, os dois responsáveis municipais trocaram entre si as medalhas das respectivas cidades.

 

AVEIRO - INHAMBANE

As cidades de Aveiro e Inhambane, no dia 30 de Maio, assinaram a ratificação do protocolo de geminação; foi o culminar de um processo principiado em 15 de Dezembro de 1988, na altura em que autarcas aveirenses se deslocaram àquela cidade moçambicana. Com este gesto, pretende-se um intercâmbio cultural e económico, sem esquecer que as duas cidades são realidades diferentes.

A delegação moçambicana, composta por Luís Gabriel Muthisse, Assessor do Governador da Província e Procurador Provincial do Tribunal Popular de Inhambane, e Vitorino Macuvel, Presidente do Conselho Executivo da cidade de Inhambane, estabeleceu contactos não apenas com as autoridades locais mas também com diversos sectores de actividade com o objectivo de captar agentes económicos e encontrar plataformas de apoio aveirense para as deficiências na sua região. De facto, como foi amplamente referido, a cidade de Inhambane dispõe de condições para o investimento em alguns sectores como o da indústria pesqueira, o dos citrinos, o do algodão e o do café.

Das várias dificuldades sentidas na cidade de Inhambane, destaca-se, à semelhança da realidade nacional moçambicana, a falta de formação de técnicos. «Moçambique é um país em crescimento, tem problemas de vária ordem e não possui técnicos nacionais para cobrir as necessidades do país; por isso, estamos empenhados na sua formação, nomeadamente através do apoio técnico estrangeiro» – disse na ocasião da assinatura do protocolo Luís Gabriel Muthisse.

Vitorino Macuvel fez questão em salientar que «os portugueses sempre foram amigos; aliás disse – nós lutámos durante dez anos contra o regime colonial português e não contra os portugueses; hoje temos uma visão diferente de Portugal; se antes o conhecíamos apenas pelos livros, agora levamos uma nova e boa imagem deste país para Inhambane».

O Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, em breves palavras, recordou que este protocolo de geminação se insere num programa global de «viragem à Europa dentro do espírito de integração europeia e de aproximação às relações com os países africanos de língua oficial portuguesa». Debruçando-se sobre os constantes actos que precederam este protocolo, o Dr. Girão Pereira afirmou que «estamos perante três realidades, uma virada para a América em função dos emigrantes lá residentes, a segunda virada para as relações ligadas à Europa e inserida nos acordos de adesão e no âmbito político do Estado europeu e a terceira referente às relações com os países africanos de expressão portuguesa». E, referindo-se às suas especificidades, acentuou que «das três realidades, como cidadão, a que mais me toca e a que me é mais querida, tendo de ser apoiada e correspondida, é a respeitante à colaboração com os países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP'S); para além dos traumas e dos factos políticos de anteriores décadas, há uma / 46 / realidade histórica e cultural pelo facto de nesses países se falar português; há uma história comum; é preciso não ficarmos marcados pelo que aconteceu e que os nossos povos não tenham o trauma de falar português, porque a língua é um dos seus elementos de independência».

 

AVEIRO - ARCACHON

Aveiro e Arcachon (França) são agora cidades irmãs, tendo assinado, quer lá, quer agora cá, no dia 28 de Outubro, o seu protocolo de amizade fraterna, após um tempo de três anos em contactos de aproximação.

«Vai fazer três anos que a nossa cidade e Aveiro se conhecem. Foi um tempo de noivado e ao noivado sucede o casamento. Hoje, realiza-se, em Aveiro, o casamento de duas cidades». Estas palavras foram ditas por Pierre Lataillade, «Maire» de Arcachon, que, ao definir o espírito desta geminação, acrescentou: – «A Europa não é feita para tornar todos os homens iguais, mas para que todos os homens se conheçam e aceitem; que façam as coisas em conjunto, porque só assim se pode construir o futuro».

Por sua vez, o Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Dr. José Girão Pereira, afirmou: – "Creio que estão criadas todas as condições para que esta geminação não fique só no papel e no contrato que vamos assinar, mas que inicie um longo intercâmbio de vitalidade, não apenas de relações humanas, mas também técnicas, científicas e económicas». Acrescentou: – «É preciso que os homens se entendam; e não é o Estado nem as instituições que vão fazer a universalização 1 dos valores; somos nós, cidadãos, a quem compete fazer uma Europa de pequenas comunidades, da cultura europeia, a Europa das geminações».

Aveiro soube receber a cidade-irmã. E foram muitos os gestos de amizade: Associação Comercial de Aveiro, Lions Clube de St.ª Joana, Grupo Etnográfico e Cénico das Barrocas, Grupo Folclórico do Baixo-Vouga (Eixo) – todos assinaram protocolos de amizade, irmanando-se com colectividades congéneres daquela cidade francesa.

Queremos referir a participação digna e piedosa do Coral Arcana na Eucaristia da Sé, no domingo, dia 29, onde o Vigário Geral da Diocese, em nome do Bispo de Aveiro, saudou a embaixada francesa de Arcachon. Uma palavra de realce também é justa para o bom espectáculo na noite anterior, no Teatro Aveirense.

«Um desafio conjunto para a construção de duas cidades, mais humanas e mais próximas» – oxalá sejam realidade concreta estas palavras do Presidente do Município Aveirense.

 

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