Biblioteca Municipal
No seguimento do contrato-programa entre a Câmara
Municipal e o Instituto Português do Livro e da Leitura, assinado no dia
27 de Dezembro, espera-se que, a médio prazo, Aveiro disporá de uma
biblioteca à altura da sua importância, capaz de satisfazer as mais
prementes exigências socioculturais. Na verdade, as actuais instalações
são exíguas em espaço e falhas em equipamento.
A nova Biblioteca Municipal passará para o prédio onde
esteve, até há anos, a Escola do Magistério Primário Particular, na Rua
de José Estêvão. O edifício irá ser beneficiado com as necessárias obras
de ampliação, remodelação e adaptação, conservando todavia não apenas a
sua traça exterior mas também algo do seu interior.
Aquele contrato-programa enquadra-se dentro de uma
política de implementação de uma rede nacional de bibliotecas, cabendo
ao Instituto Português do Livro e da Leitura a cooperação técnica e
financeira e a com participação nos investimentos em cinquenta por
cento. O investimento a realizar, na ordem dos cento e oitenta milhões
de escudos, também contemplará a aquisição de equipamentos e de fundos
bibliográficos.
O novo espaço será amplo e funcional e estará à altura
das melhores bibliotecas nacionais; terá uma área disponível de cerca de
duzentos e cinquenta metros quadrados e comportará a inclusão de mais
dois pisos. Na biblioteca funcionará uma secção infantil, além de um
sector para deficientes, de meios audiovisuais e de um pequeno
auditório.
A assinatura do protocolo, que teve lugar no salão nobre
dos Paços do Concelho, contou com a presença do Presidente do Instituto
Português do Livro e da Leitura, do Presidente da Câmara Municipal de
Aveiro, da Directora dos Serviços de Leitura Pública do referido
Instituto, do Delegado da Região Centro da Secretaria de Estado da
Cultura e de diversos Vereadores do nosso Município, nomeadamente o do
Pelouro da Cultura.
O Presidente do Instituto afirmou, na ocasião, ser
imprescindível o empenhamento das autarquias para a concretização do
projecto da rede nacional de leitura pública, cuja campanha de
sensibilização na Zona Centro foi feita em Aveiro há pouco mais de um
ano.
Usando da palavra, depois de historiar a definição das
instalações projectadas, o Dr. José Girão Pereira manifestou a sua
satisfação por se tratar de um importante investimento para a cidade
pois – disse – «as obras do espírito são duradouras e o espírito
prevalece sobre a matéria: não basta ser grande no aspecto económico,
mas é necessário manter os verdadeiros valores do espírito».
Ao iniciar a breve sessão, falou o Vereador do Pelouro da
Cultura, Prof. Celso dos Santos,
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que disse o seguinte:
Como Vereador com o pelouro da cultura e tendo sido o
principal responsável pelo encaminhamento do processo que hoje tem o seu
epílogo com a assinatura do contrato-programa que vai viabilizar a
melhoria da Biblioteca Municipal, alterando profundamente o seu
funcionamento, permito-me usar da palavra.
E faço-o, em primeiro lugar para cumprimentar e saudar
V.ª Ex.ª, senhor Presidente do I.P.L.L., para lhe agradecer a sua
presença em Aveiro, o que muito nos honra, e, também, a atenção que se
dignou dispensar à nossa proposta. Em segundo lugar para, fazendo um
pouco de história da nossa Biblioteca, realçar a importância do
protocolo que hoje vai ser assinado, no âmbito da leitura pública e que
penso será um dos grandes acontecimentos culturais do concelho.
Aveiro tem a sua Biblioteca Pública Municipal (assim se
lhe chamou) desde 1927. Foi inaugurada a 25 de Maio deste mesmo ano. O
seu primeiro local foi a "sala do despacho", da Misericórdia de Aveiro,
onde permaneceu até Maio de 1970. Embora não seja possível conhecer qual
era o acervo bibliográfico à data da sua fundação, sabe-se que dez anos
depois, em 1937, já acrescida com ofertas várias e aquisição por compra,
o total das espécies era de 6297 volumes, além de diversos manuscritos
da Alfândega, da Santa Casa da Misericórdia, da Câmara, e com alguns
documentos datados desde o século XV.
Então o seu funcionamento verificava-se entre as 13 e as
17 e das 20 às 23 horas, havendo, portanto um período de leitura
nocturna, sendo os seus utilizadores maioritariamente estudantes e
operários. Para a leitura infantil e de carácter recreativo, a Câmara
Municipal mantinha como complemento uma pequena biblioteca no pavilhão
do Parque Infante D. Pedro, que funcionava durante a tarde.
Na altura existia um quadro encaixilhado de razoáveis
dimensões em que se davam a conhecer ao leitor as "Secções do Catálogo"
da Biblioteca. Os assuntos eram agrupados em subdivisões de cada uma
daquelas Secções e já mostrava alguma intenção de ir ao encontro do
utilizador, como se pode ver pelas seguintes Secções: "Aveiro e a sua
Região" e "Últimas Aquisições", englobando a primeira as seguintes
subdivisões: Estudos; História; Homens Célebres; Factos; Notícias;
Descrições; Obras de Autores Aveirenses.
Até Maio de 1957 teve como Director, não a título
profissional, o Ilustre Aveirense, Dr. Alberto Souto, que a organizou e
geriu durante três décadas.
Hoje, igualmente instalada em lugar central (a uns 100 m
do primeiro), encontra-se desde 1970 num 5.º piso de um edifício
construído para tal e para outros fins, de tal modo ocupado por outros
serviços que a biblioteca, exceptuando um pequeno gabinete destinado às
operações de rotina e aos serviços de catalogação e dactilografia, está
reduzida a sala única – a de leitura, com 28 lugares. Não tem recepção,
balcão, vestiário, salas de catalogação, nem sequer para contacto com o
utilizador.
O acervo bibliográfico é de 22979 volumes e a sua
frequência média por ano de 75000 presenças.
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A Câmara Municipal, atento às dificuldades do seu funcionamento, abriu
em Janeiro findo novos instalações, noutro local, para permitir a
leitura domiciliária. Iniciou o seu funcionamento com 2030 volumes e uma
hemeroteca.
Embora em 1987 o número de utilizadores tenha atingido
77607 e sido feitas 28105 requisições, a Biblioteca tem funcionado
sempre precariamente. A área diminuta, a falta de mobiliário e de
equipamento moderno, a dificuldade em encontrar meios atractivos, a
desmotivação, constituíram razões suficientes para que se apostasse numa
nova instalação.
Aveiro, capital de um distrito considerado em múltiplos
aspectos, dos mais importantes do País pela sua dimensão económica,
histórica, cultural e artística não possuía, efectivamente, uma
biblioteca pública capaz de satisfazer as fundamentais carências dos
seus munícipes. A nossa biblioteca vem, como tantas outras, padecendo de
insuficiências e inadaptação, devido principalmente à falta de espaço e
de pessoal devidamente preparado. Pouco dinâmico, tem sido incapaz de
despertar o interesse pela leitura, nomeadamente nas camadas mais
jovens, pese embora o esforço feito por todos os funcionários
actualmente ao seu serviço. Alguma coisa deveria ser feita. Tal vai
acontecer.
Com o protocolo que hoje é firmado tudo vai alterar-se
para melhor. Teremos, graças ao apoio de IPLL, uma biblioteca com os
requisitos indispensáveis, nomeadamente na adequação das suas
instalações, fundos bibliográficos diversificados e actualizados,
empréstimo domiciliário, acesso fácil ao livro, meios audiovisuais,
possibilidade de realizar um apoio concreto às bibliotecas rurais
existentes no município.
A candidatura (então quase como um sonho) apresentada em
2 de Agosto passado transformou-se em realidade rapidamente. A
prontidão, a gentileza, a clarividência dos técnicos do IPLL com quem
estabeleci contacto de então para cá, primeiro com o Sr. Dr. Joaquim
Portilheiro, depois com o mesmo e o Arq. Pedro Loff e mais tarde com o
Dr.ª Teresa Calçado, permitiram que em quatro meses se concretizassem os
meios necessários. Para eles os meus sinceros agradecimentos e maiores
homenagens, bem como as minhas desculpas pela minha persistência. De
igual modo deixo uma palavra aos técnicos desta Câmara que, num esforço
magnânimo e já reconhecido pelo executivo, conseguiram elaborar os
estudos necessários para a adaptação do edifício.
Estamos perante uma obra que se aproximará dos 750 mil
contos, custos bastante elevados. Tal investimento só é possível com o
apoio do IPLL e vem constituir para nós um desafio. Vamos vencê-lo
trabalhando para darmos vida à biblioteca, fazendo dela um pólo
irradiador de leitura ao concelho e zonas vizinhas. Vamos dinamizar as
nossas bibliotecas rurais e de modo especial as salas de leitura
existentes nos Centros Sociais que a Câmara vem construindo. Agora com
base sólida, com um quadro de pessoal aumentado e melhor preparado,
colocaremos em funcionamento uma biblioteca itinerante a percorrer a
região.
Assim encontraremos os frutos deste investimento,
contribuindo para o enriquecimento intelectual do povo aveirense. A
riqueza de um povo não se avalia apenas pelas suas fábricas, o seu
comércio, mas sim e também pela sua cultura. Esta funciona como um
barómetro. Quanto mais elevada maior é o nível social do povo. Pela
cultura se avalia o nível social e económico dum povo.
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