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Boletim n.º 12 - Ano VII - 1988

Biblioteca Municipal

 

No seguimento do contrato-programa entre a Câmara Municipal e o Instituto Português do Livro e da Leitura, assinado no dia 27 de Dezembro, espera-se que, a médio prazo, Aveiro disporá de uma biblioteca à altura da sua importância, capaz de satisfazer as mais prementes exigências socioculturais. Na verdade, as actuais instalações são exíguas em espaço e falhas em equipamento.

A nova Biblioteca Municipal passará para o prédio onde esteve, até há anos, a Escola do Magistério Primário Particular, na Rua de José Estêvão. O edifício irá ser beneficiado com as necessárias obras de ampliação, remodelação e adaptação, conservando todavia não apenas a sua traça exterior mas também algo do seu interior.

Aquele contrato-programa enquadra-se dentro de uma política de implementação de uma rede nacional de bibliotecas, cabendo ao Instituto Português do Livro e da Leitura a cooperação técnica e financeira e a com participação nos investimentos em cinquenta por cento. O investimento a realizar, na ordem dos cento e oitenta milhões de escudos, também contemplará a aquisição de equipamentos e de fundos bibliográficos.

O novo espaço será amplo e funcional e estará à altura das melhores bibliotecas nacionais; terá uma área disponível de cerca de duzentos e cinquenta metros quadrados e comportará a inclusão de mais dois pisos. Na biblioteca funcionará uma secção infantil, além de um sector para deficientes, de meios audiovisuais e de um pequeno auditório.

A assinatura do protocolo, que teve lugar no salão nobre dos Paços do Concelho, contou com a presença do Presidente do Instituto Português do Livro e da Leitura, do Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, da Directora dos Serviços de Leitura Pública do referido Instituto, do Delegado da Região Centro da Secretaria de Estado da Cultura e de diversos Vereadores do nosso Município, nomeadamente o do Pelouro da Cultura.

O Presidente do Instituto afirmou, na ocasião, ser imprescindível o empenhamento das autarquias para a concretização do projecto da rede nacional de leitura pública, cuja campanha de sensibilização na Zona Centro foi feita em Aveiro há pouco mais de um ano.

Usando da palavra, depois de historiar a definição das instalações projectadas, o Dr. José Girão Pereira manifestou a sua satisfação por se tratar de um importante investimento para a cidade pois – disse – «as obras do espírito são duradouras e o espírito prevalece sobre a matéria: não basta ser grande no aspecto económico, mas é necessário manter os verdadeiros valores do espírito».

Ao iniciar a breve sessão, falou o Vereador do Pelouro da Cultura, Prof. Celso dos Santos, / 45 / que disse o seguinte:

Como Vereador com o pelouro da cultura e tendo sido o principal responsável pelo encaminhamento do processo que hoje tem o seu epílogo com a assinatura do contrato-programa que vai viabilizar a melhoria da Biblioteca Municipal, alterando profundamente o seu funcionamento, permito-me usar da palavra.

E faço-o, em primeiro lugar para cumprimentar e saudar V.ª Ex.ª, senhor Presidente do I.P.L.L., para lhe agradecer a sua presença em Aveiro, o que muito nos honra, e, também, a atenção que se dignou dispensar à nossa proposta. Em segundo lugar para, fazendo um pouco de história da nossa Biblioteca, realçar a importância do protocolo que hoje vai ser assinado, no âmbito da leitura pública e que penso será um dos grandes acontecimentos culturais do concelho.

Aveiro tem a sua Biblioteca Pública Municipal (assim se lhe chamou) desde 1927. Foi inaugurada a 25 de Maio deste mesmo ano. O seu primeiro local foi a "sala do despacho", da Misericórdia de Aveiro, onde permaneceu até Maio de 1970. Embora não seja possível conhecer qual era o acervo bibliográfico à data da sua fundação, sabe-se que dez anos depois, em 1937, já acrescida com ofertas várias e aquisição por compra, o total das espécies era de 6297 volumes, além de diversos manuscritos da Alfândega, da Santa Casa da Misericórdia, da Câmara, e com alguns documentos datados desde o século XV.

Então o seu funcionamento verificava-se entre as 13 e as 17 e das 20 às 23 horas, havendo, portanto um período de leitura nocturna, sendo os seus utilizadores maioritariamente estudantes e operários. Para a leitura infantil e de carácter recreativo, a Câmara Municipal mantinha como complemento uma pequena biblioteca no pavilhão do Parque Infante D. Pedro, que funcionava durante a tarde.

Na altura existia um quadro encaixilhado de razoáveis dimensões em que se davam a conhecer ao leitor as "Secções do Catálogo" da Biblioteca. Os assuntos eram agrupados em subdivisões de cada uma daquelas Secções e já mostrava alguma intenção de ir ao encontro do utilizador, como se pode ver pelas seguintes Secções: "Aveiro e a sua Região" e "Últimas Aquisições", englobando a primeira as seguintes subdivisões: Estudos; História; Homens Célebres; Factos; Notícias; Descrições; Obras de Autores Aveirenses.

Até Maio de 1957 teve como Director, não a título profissional, o Ilustre Aveirense, Dr. Alberto Souto, que a organizou e geriu durante três décadas.

Hoje, igualmente instalada em lugar central (a uns 100 m do primeiro), encontra-se desde 1970 num 5.º piso de um edifício construído para tal e para outros fins, de tal modo ocupado por outros serviços que a biblioteca, exceptuando um pequeno gabinete destinado às operações de rotina e aos serviços de catalogação e dactilografia, está reduzida a sala única – a de leitura, com 28 lugares. Não tem recepção, balcão, vestiário, salas de catalogação, nem sequer para contacto com o utilizador.

O acervo bibliográfico é de 22979 volumes e a sua frequência média por ano de 75000 presenças.

 / 46 / A Câmara Municipal, atento às dificuldades do seu funcionamento, abriu em Janeiro findo novos instalações, noutro local, para permitir a leitura domiciliária. Iniciou o seu funcionamento com 2030 volumes e uma hemeroteca.

Embora em 1987 o número de utilizadores tenha atingido 77607 e sido feitas 28105 requisições, a Biblioteca tem funcionado sempre precariamente. A área diminuta, a falta de mobiliário e de equipamento moderno, a dificuldade em encontrar meios atractivos, a desmotivação, constituíram razões suficientes para que se apostasse numa nova instalação.

Aveiro, capital de um distrito considerado em múltiplos aspectos, dos mais importantes do País pela sua dimensão económica, histórica, cultural e artística não possuía, efectivamente, uma biblioteca pública capaz de satisfazer as fundamentais carências dos seus munícipes. A nossa biblioteca vem, como tantas outras, padecendo de insuficiências e inadaptação, devido principalmente à falta de espaço e de pessoal devidamente preparado. Pouco dinâmico, tem sido incapaz de despertar o interesse pela leitura, nomeadamente nas camadas mais jovens, pese embora o esforço feito por todos os funcionários actualmente ao seu serviço. Alguma coisa deveria ser feita. Tal vai acontecer.

Com o protocolo que hoje é firmado tudo vai alterar-se para melhor. Teremos, graças ao apoio de IPLL, uma biblioteca com os requisitos indispensáveis, nomeadamente na adequação das suas instalações, fundos bibliográficos diversificados e actualizados, empréstimo domiciliário, acesso fácil ao livro, meios audiovisuais, possibilidade de realizar um apoio concreto às bibliotecas rurais existentes no município.

A candidatura (então quase como um sonho) apresentada em 2 de Agosto passado transformou-se em realidade rapidamente. A prontidão, a gentileza, a clarividência dos técnicos do IPLL com quem estabeleci contacto de então para cá, primeiro com o Sr. Dr. Joaquim Portilheiro, depois com o mesmo e o Arq. Pedro Loff e mais tarde com o Dr.ª Teresa Calçado, permitiram que em quatro meses se concretizassem os meios necessários. Para eles os meus sinceros agradecimentos e maiores homenagens, bem como as minhas desculpas pela minha persistência. De igual modo deixo uma palavra aos técnicos desta Câmara que, num esforço magnânimo e já reconhecido pelo executivo, conseguiram elaborar os estudos necessários para a adaptação do edifício.

Estamos perante uma obra que se aproximará dos 750 mil contos, custos bastante elevados. Tal investimento só é possível com o apoio do IPLL e vem constituir para nós um desafio. Vamos vencê-lo trabalhando para darmos vida à biblioteca, fazendo dela um pólo irradiador de leitura ao concelho e zonas vizinhas. Vamos dinamizar as nossas bibliotecas rurais e de modo especial as salas de leitura existentes nos Centros Sociais que a Câmara vem construindo. Agora com base sólida, com um quadro de pessoal aumentado e melhor preparado, colocaremos em funcionamento uma biblioteca itinerante a percorrer a região.

Assim encontraremos os frutos deste investimento, contribuindo para o enriquecimento intelectual do povo aveirense. A riqueza de um povo não se avalia apenas pelas suas fábricas, o seu comércio, mas sim e também pela sua cultura. Esta funciona como um barómetro. Quanto mais elevada maior é o nível social do povo. Pela cultura se avalia o nível social e económico dum povo.

 

 

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