Acesso à hierarquia superior.

Boletim n.º 12 - Ano VII - 1988


Artes de Pesca na Ria de Aveiro

Pelo Dr. Eduardo Lamy Laranjeira

 

Acedendo ao convite que lhe foi formulado pelos Serviços de Cultura da Câmara Municipal de Aveiro, o Dr. Eduardo Lamy Laranjeira, da cidade de Ovar, esteve em Aveiro, no dia 27 de Julho de 7988. No salão cultural, proferiu então a conferência que a seguir se publica integralmente e que foi um dos números do programa das Festas da Ria.

Nas lides literárias, com um estilo muito próprio, o Dr. Lamy Laranjeira é já autor de uma vasta obra dispersa por revistas e jornais e, sobretudo, de vários livros, como "Demografia Vareira", "A Religiosidade das nossas gentes – O Culto Mariano em Ovar" e "O Furadouro – o Povoado. O Homem e o Mar"

Sempre se revelou um apaixonado, senão mesmo um especialista, das artes e manhas da nossa Ria, das tradições, costumes e folclore do povo vareiro, e de outros temas da região. A convite das mais variadas personalidades ou associações, tem proferido palestras e conferências sobre os mesmos assuntos.

 

UMA EXPLICAÇÃO PRÉVIA

Quando em 5 deste mês, o Sr. Padre João Gaspar nos telefonou, a indagar duma possível disposição para proferirmos uma conferência, em Aveiro, no Salão Cultural da Câmara Municipal, e integrada na FESTA DA RIA, confessamos à puridade que o convite amigo e imprevisto provocou-nos um certo receio, além de grande surpresa. Balbuciámos uns tantos agradecimentos seguidos duma aceitação assustadiça, pois de momento não sabíamos qual o assunto a tratar sobre a RIA, e até porque, dentro em breve, iríamos para o Furadouro, longe pois dos livros e apontamentos. Porém, o Sr. Padre João Gaspar objectou-nos que escolhêssemos um dos nossos trabalhos, pois estava certo de que a escolha iria agradar.

Durante algum tempo, umas certas dúvidas inquietavam-nos o espírito sobre a matéria a desenvolver e de interesse para o auditório aveirense. Seriam os barcos da RIA? Tema sempre aliciante mas difícil de ser condensado numa dezena de folhas e de leitura a não ultrapassar a clássica meia morta.

Ocorreu-nos, então, "As Artes de Pesca na RIA DE AVEIRO", descritivo já por nós abordado no "Nosso Jornal" com belos desenhos de Bartolomeu Conde, artista exímio do lápis.

Acresce a circunstância da característica "RIA DE AVEIRO" ter merecido, de longa data e da nossa parte, um carinho especial e larga devoção. A nossa vivência com a LAGUNA iniciou-se nos tempos já "distanciados de vida académica, durante os períodos das apetecíveis "férias grandes". Por essas alturas, com várias amizades, passávamos cerca de uma semana, em cada ano, a bordo dum "andorinha", primeiramente, e mais tarde num elegante "vouga". Deste modo, a RIA, esteiros e caneiros foram por nós percorridos assim como as lindas e ingénuas romarias ribeirinhas que sempre contaram com a nossa presença, como acontecia com as festas à Sr.ª da Boa Viagem, no Torrão do Lameiro, ao simpático S. Paio da Torreira, com centenas de barcos moliceiros varados na margem, a S. Jacinto, e outras festanças ribeirinhas, hoje já quase perdidas na lembrança. Também, em dois anos intervalados, subimos o Vouga, até à confluência do Águeda, para de seguida seguirmos o curso deste até arribarmos na então vila de Águeda, junto à ponte, e aí estanciarmos durante uns dois ou três dias.

Desta vivência anual com a formosíssima RIA nasceu no nosso coração um afecto de grande beleza e um quase convencimento de que muito sabíamos sobre as coisas e os homens lagunares. Daí, quando ingressámos no antigo I.S.C.E.F., em Lisboa, em 1945, tivéssemos escolhido como trabalho de fôlego, da cadeira Geografia de Portugal, "A RIA DE AVEIRO", pois o nosso auto-convencimento segredava-nos que as dificuldades seriam de pouca monta. Como enganados estávamos... pois o nosso conhecimento da RIA não ia além duma pintura mal / 39 / esboçada à mesa do "Café Guedes" da Torreira. Valeu-nos, na altura, a G.E.P.B., com o artigo RIA de Aveiro, incluído em "AVEIRO", que, na sua parte final, apresenta uma extensa nota bibliográfica que nos serviu de base ao estudo.

Este trabalho escolar iniciou-se em Novembro e concluiu-se nas proximidades da Páscoa, data limite para entrega ao assistente da cadeira.

Durante a elaboração deste trabalho, lemos quase todos os livros constantes da bibliografia, felizmente presentes na excelente biblioteca do Instituto com cerca de 25 000 volumes. Os poucos livros ausentes foram lidos na Biblioteca Nacional, ao tempo nas vizinhanças do Chiado. Também será de justiça referir a indicação prestada pelo Prof. Pinto Barbosa, que nos aconselhou a consulta de "Os Moliceiros", de José de Castro e, ao tempo, em publicação pelo Instituto de Alta Cultura, e a leitura de "Aveiro e a sua Laguna", do coronel Nascimento Leitão. Aproveito o ensejo para referir o valioso arrimo encontrado nas "Origens da Ria de Aveiro" do saudoso Dr. Alberto Souto, considerado cientista.

Deste nosso trabalho académico não ficámos com nenhum exemplar. Entregámos os dois exigidos pelo regulamento – um original e uma cópia a químico – com fotografias, para melhor dispor o ânimo professoral e quebrar um pouco a aridez da nossa prosa. As folhas foram reunidas sob uma vistosa capa de percalina, desenhada por um colega artista, e presas a um laço de duas fitas de seda, branca e vermelha, cores da Escola.

Foi a partir deste modestíssimo trabalho escolar que começámos a sentir e a amar mais a RIA, e o observador convencido que éramos e um pouco presumido cedeu o lugar ao estudioso humilde perante o incomparável horizonte lagunar.

Contamos, pois, com o vosso beneplácito amigo para os dizeres singelos do nosso palestrar.

Sabemos que nada, mesmo nada, vamos acrescer à luxuriosa bibliografia sobre a RIA DE AVEIRO.

Aguardamos a vossa natural delicadeza para o descolorido e despretensiosíssimo de "AS ARTES DE PESCA NA RIA DE AVEIRO". Ouçam, pois com um pouco de atenção e bastante paciência este insípido trabalho...

O característico acidente geográfico, Ria de Aveiro, que vai de Ovar a Mira, numa extensão de cerca de 47 quilómetros, assemelha-se a uma imensa teia de aranha de contornos irregulares.

Multidões de esteiros, pauis, canaviais, praias, juncais, dédalos de canais grandes e pequenos, cavados pelo suor do homem ou pela acção das águas, cruzam-se e espalham-se pela superfície da laguna, num verdadeiro emaranhado de selva, que o menos precavido não se dá conta, mas que o íncola atreito a todo este enredado conhece como os seus cinco dedos da mão.

Em toda a Ria e ao longo do ano, exerce-se a actividade da pesca que, pelos variadíssimos instrumentos empregados, não sofre qualquer espécie de comparação por estes Portugais fora. Mas esta zona lagunar apresenta aqui ou mais além melhores lugares piscícolas que outros, fartamente conhecidos pelo finório do pescador de cana, rede ou de Qualquer outro aparelho.

O saboroso robalo, de escama prateada e luzente, vive, principalmente, nos pesqueiros de Duas Águas, Engade, Muranzel, Poço da Testada, Poço de Cavalos, Regão da Rija, Seca, Cale do Paço, Patinha Bicho, Lombinha e Lontra; a astuta e saltitante tainha encontra-se com frequência nos lugares de Duas Águas, Muranzel, Ramalho, Esteiros da Vidairada e Ponte da Barra; já a agulha, o feio cação, a choupa, o congro e o polvo escolheram como morada o Paredão e a Ponte da Barra, sítios em que a maré mais se faz sentir. No entanto, a enguia escorregosa e quase impossível de apanhar à mão tem o seu habitat em quase toda a Ria, com relevância na parte compreendida entre o Carregal e a Torreira e no mais ignoto caneiro.

Na apanha destas diferentes espécies, o pescador foi obrigado a armar-se de uma larga e heterogénea utensilagem, na intenção de iludir a / 40 / finura ou matreirice do peixe. Daqui nasceu uma arte de pesca bem característica, que se alterna consoante a espécie a apanhar. Pode, pois, afirmar-se que a cada espécie piscícola corresponde uma arte própria.

Deste modo, encontramos:

● Artes de pesca sedentárias – botirão, galricho, camboa e atensão;

● Os exóticos tresmalhos – salto, soalheira, branqueira, caçoeira e camaroeira;

● Os velhos arrastos, cuja longevidade se perde nas épocas anteriores à afonsina – mugeira, tarrafa, chinchorro, chincha, garateia e berbigoeira;

● Aparelhos de mão – fisga, linha, espinhei, sertela e bolsa.

O emprego destas artes não é permitido durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano, pois se o fosse, então adeus, pesca na Ria. Durante todo o ano, são permitidos os galrichos, saltos, soalheiras, branqueiras, camaroeiras, berbigoeiras, linhas, espinhéis, sertelas e bolsas. De 25 de Junho a 23 de Março, normalmente, há liberdade para a utilização de chinchorros, mugeiras e garateias.

Com respeito à fisga, a proibição é absoluta, nem nos dias santos é consentido o seu emprego. E se algum ladino sente o arrojo do seu emprego, somente de noite fechada, ao candeio, ou então de dia, mas de olho sempre avisado nos horizontes, pois a multa sempre pesa um pouco.

Actualmente, a Ria está a sofrer a invasão do pescador turista ou fim de semana que, de outras bandas, se apresenta com os mais modernizados aparelhos, e é pois curial que, daqui a uma carrada de anos, as artes de pesca "sui generis" da Ria estejam somente à guarda dos museus ou nem isso, impondo-se, pois, a sua descrição, arrolamento e recolha, como elementos etnográficos duma época e duma convivência humana.

Começaremos por uma descrição resumida dos variados aparelhos.

 

APARELHOS SEDENTÁRIOS:

Botirão – É um aparelho de pesca composto por dois sacos.

O mais pequeno encontra-se no interior do saco maior. O peixe entra por uma abertura comum aos dois sacos, e tem o nome de nasso, laço ou gasgote.

O botirão arma-se com o gasgote virado à corrente e distendido no leito da Ria, com o lado superior imerso e o rabeiro a flutuar sob o auxílio duma cauda ou bóia.

Mormente, este aparelho sedentário acusa um comprimento de cerca de 18 metros e uma boca de 2,5 a 3 metros.

Galricho – O conhecido galricho dos nossos ribeiros não é mais nem menos que um pequeno botirão.

Compõe-se de vários arcos circulares de verga e com um ou dois nassos cosidos interiormente. A abertura principal apresenta a forma de U invertido, de modo a assentar bem no leito das águas. O comprimento varia de aparelho a aparelho, mas raramente excede os dois metros, medindo a boca a quarta parte do comprimento.

O galricho arma-se no fundo dos leitos das águas, com a boca sempre a favor da corrente, ficando preso a pequenas estacas de madeira. No seu interior, o pescador previdente coloca pequenas iscas de peixe, berbigão ou cascas de ovos, como engodo.

O galricho emprega-se, principalmente, nos inúmeros esteiros e caneiros, que constituem o "hinterland" da Ria, com a finalidade de apanhar as pequenas espécies que sobem os riachos.

Camboa – É um aparelho de pesca sedentário formado por uma cortina de rede, de 2 a 5 metros de altura, aproximadamente.

A camboa arma-se com o auxílio de estacas nos leitos dos rios, de margem a margem, possuindo na parte central um pequeno botirão destinado a apanhar os peixes que sobem os cursos de água.

O botirão de camboa apresenta um comprimento de cerca de 8 metros e a boca um diâmetro que anda de 1,5 a 1,8 metros.

É utilizada, principalmente, pelos pescadores murtoseiros, nos esteiros de Estarreja, Salreu, Canelas e Rio Vouga, durante os meses de Fevereiro a Abril e quase sempre de noite.

Atensão – Aparelho de pesca constituído por redes rectangulares com as dimensões, na maioria das vezes, de 22x1,30 metros.

Esta arte de pesca é empregada nas zonas deixadas a descoberto pelas marés baixas.

As redes são colocadas e levantadas, unicamente, durante a baixa-mar. A parte inferior da rede fica enterrada. Na preia-mar as redes formam cortina, sendo levantadas pela acção das águas.

Este aparelho exige, em norma, uma companha de 4 a 5 pessoas que se distribuem por uma bateira e uma caçadeira.

A atensão é utilizada pelos pescadores da Murtosa, nos meses de Abril a Outubro, nos locais próximos da Barra, ao longo dos tratos das praias, ou em volta de cabeços, ou na saída dos esteiros.

 

TRESMALHOS:

Os pescadores empregam várias espécies de tresmalhos, consoante as espécies a pescar, a saber:

Salto – Este tresmalho também é conhecido pelo nome de parreira ou peixeira e compõe-se duma rede, que se dispõe em cerco, guarnecida por chumbeiras e cortiças.

O "salto", o mais exótico tresmalho, arma-se sob a forma duma espiral, nos primeiros vinte metros / 41 / de rede, dispondo-se a rede restante em curva suave.

A manta não é mais da que uma segunda rede de tresmalho, do espiral, e permanece, depois de armada, fora de água.

A parte da rede que constitui a espiral – caracol ou curral – é estacada por meio de varas distanciadas umas das outras cerca de três metros. Estas varas, por sua vez, fixam a tralha superior do arco e parte inferior da manta.

Este aparelho de pesca é o mais característico e belo das artes utilizadas na Ria de Aveiro e deve ser a única dos rios portugueses com forma tão original.

Presume-se que o "salto" tenha sido idealizado por um velho pescador de Esgueira, no século XVIII, que o utilizou com êxito na pesca da tainha saltona, e adoptado, quase de seguida, pelos pescadores da Murtosa, que ainda hoje lhe dão grande préstimo.

O "salto" é empregado em exclusivo na apanha da tainha em zonas de águas paradas e pouco profundas.

Para esta arte são necessários dois homens e uma bateira. Disposto o "salto" convenientemente, a bateira navega ao longo do cerco, ao passo que os pescadores batem ruidosamente com os remos na borda da embarcação, como fim de dirigirem a arisca tainha ao curral, onde se esmalha ou, na ânsia de liberdade, procura transpô-lo de "salto", ficando presa na manta, de escama a brilhar.

É nos meses de verão que este aparelho é utilizado na zona lagunar, compreendida entre a Torreira e o Carregal, e no período em que a tainha procura os insectos fora de água.

Solheira – Tresmalho destinado, como o próprio nome o indica, à pesca de solhas, linguados e rodovalhos.

A solheira é constituída por quatro redes ou

"rações" que são armadas por meio de estacaria, sendo cada vara colocada de ração a ração e ficando cada linha de solheira com cinco varas, no máximo. Tem uma linha de chumbeiras e de cortiças, que servem de flutuadores.

Este utensílio de pesca exige uma bateira e dois homens.

Branqueira – É um tresmalho constituído por cinco panos, tendo cada um deles a dimensão aproximada de 18,5 metros.

A branqueira apresenta uma forma rectangular, com uma altura de 1,5 metros.

A orla deste tresmalho está guarnecida com chumbeiras e flutuadores de cortiça.

A branqueira é armada com o auxílio duma embarcação de dois tripulantes que, normalmente, dispõem-na em linha recta ou curva. Nos extremos desta arte ligam-se cabeças ou boi as, como sinalização.

Os pescadores durante a faina da pesca batem durante algum tempo com os remos ou varas do barco nas bordas, provocando, assim, barulho para assustar o peixe e dirigi-lo para a branqueira.

Caçoeira – É uma arte de pesca empregada exclusivamente na apanha do cação.

A caçoeira compõe-se por quatro panos que ligados uns aos outros atingem um comprimento de cerca de 350 metros, guarnecidos com chumbeiras e cortiças.

É empregada nos sítios do Paredão e Ponte da Barra.

A sua manobra exige o emprego de um barco que prende uma das extremidades da caçoeira, enquanto a outra fica ligada a uma cabaça.

Camaroeira – A camaroeira é uma outra espécie de tresmalho de doze panos e guarnecidos com chumbeiras e cortiças, destinando-se, como o próprio nome o indica, à apanha do camarão. Os panos têm um comprimento de 31 metros.

Este aparelho trabalha de Fevereiro a Maio, geralmente de noite, e é armado fazendo-o boiar de modo a apanhar o camarão, que se desloca à superfície das águas.

 

ARRASTOS:

O arrasto é um aparelho de pesca constituído por uma rede cuja parte principal – a "bocada" – consta de um saco e os extremos –"calões"  – estão ligados a cabos chamados "calas".

/ 42 /

As partes da rede compreendidas entre a "bocada" e os "calões" têm o nome de "mangas".

Estas artes de pesca destinam-se a varrer o fundão das águas, sendo uma das tralhas lastrada com pequenos discos de barro cozido enquanto a outra tralha é guarnecida com rodelas de Cortiça, destinadas a suspender parte da rede.

Mugeira – Este arrasto tem uma manga com cerca de trinta e cinco metros de comprimento e um saco de seis metros.

Para se lançar a mugeira torna-se necessário uma campanha de seis homens e uma bateira – "mugiganga". A manobra é sempre feita na direcção da praia para facilitar a recolha da rede.

A mugeira emprega-se quase durante todo o ano, com excepção dos meses de Julho e Setembro.

Presentemente a mugeira quase não é utilizada devido ao seu elevado custo.

Tarrafa – A tarrafa é um arrasto que tem as mesmas dimensões que a mugeira mas com um peso menor e, por consequência, com maior facilidade de manobra.

O lançamento deste aparelho é realizado de maneira idêntica ao da mugeira.

Chinchorro – O chinchorro é um arrasto cuja manga tem um comprimento de cerca de trinta metros e um saco de quatro metros.

A malha deste aparelho é muito miúda e por isso o seu elevado preço.

Emprega-se o chinchorro durante todo o ano, exigindo a sua manobra cinco pescadores e uma bateira.

Utiliza-se, geralmente, na apanha da enguia, solha, linguado e robalo.

Chincha – É um aparelho de pesca relativamente pequeno. Compõe-se duma manga de quinze metros e de um saco que não vai além de dois metros de comprimento.

A chincha é empregada durante todo o ano e necessita duma companha de quatro homens e uma bateira.

O lançamento é feito na "mugiganga", sendo a rede recolhida na própria embarcação.

Garateia – A garateia é um arrasto que, normalmente, apresenta um comprimento de cerca de oitenta metros.

É, fundamentalmente, um aparelho de cerco, lastrado com chumbeiras e cortiças de modo que estas, independentemente da profundidade das águas. fiquem a flutuar.

É utilizada durante toda a época anual, exigindo o seu emprego seis homens e uma embarcação para a armar.

Berbigoeira – A berbigoeira é considerada um arrasto especial. Compõe-se dum ancinho de ferro, com um comprimento de 1,20 metros e uma enfiada de 30 a 40 dentes. Apresenta-se também munida com um semi-arco de ferro que tem preso um pano de rede com a dimensão de um metro.

Este aparelho de pesca trabalha, fazendo-se prender o ancinho à embarcação por meio de um cabo de madeira, para o arrastar pelos bancos de berbigão.

Trabalha, mormente, nos meses de R, de Setembro a Abril.

 

APARELHOS DE MÃO:

Fisga – A fisga é um aparelho constituído por uma haste de ferro com 0,25 metros e que termina numa enfiada de 25 a 35 dentes, todos dispostos a igual distância uns dos outros.

A haste de fero encontra-se encabada numa vara de metro e meio de comprimento.

Este aparelho de pesca é usado furtivamente em qualquer período do ano, principalmente na chamada "pesca ao candeio". A proibição do seu uso deve-se ao facto de ferir as várias espécies piscícolas sem as ter apanhado.

 

APARELHOS DE LINHA:

Linha – A linha tem em geral um ou dois anzóis e uma chumbeira.

A isca é constituída por peixe fresco ou / 43 / minhoca da terra húmida.

Lança-se a linha de bordo da embarcação ou das margens da Ria.

Espinhel – É um tipo de linha constituída por vários anzóis e um cabo que se mantém à superfície das águas ou no fundo.

Alguns espinhéis apresentam-se com cinquenta anzóis, ao passo que outros possuem para cima de cento e cinquenta.

O número de anzóis é variável de espinhei para espinhei, conforme o gosto do pescador.

Sertela – A sertela é vulgarmente conhecida por "minhoqueiro". Este tem uma enfiada de minhocas em linha, presa à extremidade duma vara.

Emprega-se a sertela nos inúmeros canais, caneiros e ribeiros na apanha da enguia.

Bolsa – A bolsa é um aparelho de pesca que se destina à apanha do caranguejo.

Compõe-se dum saco de rede cujo fundo se encontra iscado, preso a um cabo ou simples fio.

 

Chegámos ao final da exposição das tradicionais e típicas "Artes de Pesca da RIA de AVEIRO". É inegável que a palestra sairia imensamente enriquecida se houvesse a possibilidade das nossas palavras terem sido acompanhadas de meia dúzia de projecções destas artes de pesca, muito representativas do meio etnográfico da Laguna. Infelizmente a nossa ida para o Furadouro impediu a concretização deste desígnio e, por isso, a impossibilidade de mobilizarmos os elevados dotes artísticos dos Amigos Jeremias Bandarra e Bartolomeu Conde, nomes já com lugares firmados no mundo plástico aveirense.

Mas as coisas são o que são... e não há que remar contra as marés, quando o tempo não está de feição.

Agradecemos, pois, a Vossa bondade e espírito paciente em nos escutar sem aparente enfado. A todos, o nosso muito obrigado.

Tenho dito...


 

 

Página anterior

Índice Geral

Página seguinte

Págs. 38-43