EM LOUVOR DE...
Quem canta o seu mal espanta, já lá diz a sabedoria do
rifonário. E a escrever se canta, e a contar se encanta – nos
encantam –, como o fazem estes aedos e cronistas da cidade
anfíbia de Gravito. Louvor, por isso, aos seus cantos e
narrações plenos de força e juventude, tão sem medida é o nosso
encanto, este júbilo de sabermos o amor de estar à escrita.
Encantam-nos, estes jovens. Sobretudo porque pegar num tema que
mais tenderia ao pernóstico e ao sisudo, ou às esquírolas do bem
comportadinho, talhar essa pedra em bruto, afeiçoá-Ia e moldá-Ia
do modo terso e arejado como o fazem, surpreende-nos e leva-nos
a pensar já em estatuários da palavra a haver. Vaticínio
arriscado? Seguramente, pensamos que não.
Encantam-nos também porque, afinal, não existem temas graves e
de punhos engomados; e esta é uma lição que nós, professores,
podemos colher naqueles a quem por vezes tentamos inculcar o
jogo do sério. Eles no-Ia servem na bandeja intacta da sua
pureza ou da sua irreverência. A feira cabisbaixa de que nos
fala o O'Neill não abriu as suas tendas, para consolo e ventura
dos leitores que somos.
A terminar, apetece ainda outro louvor. Hoje, que a Escola é
apedrejada como adúltera pelos desconcertos do nosso tempo, sabe
bem que uma escola - neste caso, a Secundária de José Estêvão -
reincida no vezo de revelar escritores para um amanhã que é já
quase hoje. O seu patrono, se fosse vivo, não deixaria
certamente de concitar, à boa maneira romana das representações
teatrais, um plaudite, cives!
Aveiro, Dezembro de 1987.
Idalécio Cação
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