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Boletim n.º 7 - Ano IV - 1986

 

FORNO CERÂMICO DE EIXO

 

Decorreram, no pretérito mês de Abril, escavações arqueológicas no forno cerâmico de Eixo. As escavações foram efectuadas por uma equipa do Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, composta pelo Dr. Carlos Alberto Brochado de Almeida, assistente convidado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Dr. Artur Jorge Leite Figueiredo de Almeida, licenciado em História (variante de Arqueologia) pela mesma Faculdade e pelos alunos da referida Faculdade António Joaquim da Cunha Leal, Rui Cavaleiro Cunha e Armandino Cunha. Os trabalhos arqueológicos foram possíveis graças ao patrocínio do IPPC (Instituto Português do Património Cultural), Serviços Culturais da Câmara Municipal de Aveiro e Junta de Freguesia de Eixo.

O forno tinha sido descoberto fortuitamente nos finais do ano passado e só graças ao interesse do operário da máquina que descobriu e ao presidente da Junta de Freguesia de Eixo, Sr. Gaspar Fernandes, foi possível salvaguardar tão importante documento do nosso património arqueológico. Importa salientar que pela primeira vez foram realizadas escavações arqueológicas segundo métodos científicos, na área do concelho de Aveiro, e que estas vieram confirmar o carácter e a importância da produção cerâmica na região aveirense.

Tipologicamente o forno em questão é semelhante a outros já conhecidos. Salientamos, a título exemplificativo, o forno da Quinta do Paço, freguesia da Facha, concelho de Ponte de Lima, escavado recentemente pela mesma equipa, e os estudados pelo Dr. Armando Coelho Ferreira da Silva na freguesia de Canelas, concelho de Vila Nova de Gaia, e em Santa Maria de Penaguião. O presente forno é formado por corredor, câmara de aquecimento e câmara de cozedura.

O corredor é o único sector da estrutura que apresenta, nas suas paredes laterais, pedra, o que se compreende dado ser «esta» zona onde era produzido o fogo. A parte superior era em abóbada feita à base de uma argamassa composta / 26 / por fragmentos de tégula, ímbrex e tijoleira.

A câmara de aquecimento é um quadrilátero com paredes laterais feitas com tijoleira revestida interiormente com argamassa de barro. Tal procedimento era necessário para impermeabilizar o interior da câmara, o mais possível, quanto a fugas de calor. Pela mesma razão se explica estar a câmara de aquecimento incrustada no terreno natural, o que obrigou a que, aquando da sua construção, se cavasse um alicerce suficientemente amplo e profundo para que a câmara de aquecimento ficasse embutida no solo por forma a proporcionar melhor isolamento térmico. O interior da câmara de aquecimento está dividido em arcos de volta inteira, feitos com tijolo burro e revestidos a argamassa, a fim de dar maior solidez ao conjunto. Com a mesma finalidade, o espaço inter-arcos está preenchido, de forma mais ou menos regular, por pequenas placas que se destinam não só a dar solidez aos arcos mas, e sobretudo, a sustentar a grelha.

A câmara da cozedura estava bastante violada. Torna-se difícil, dado o seu estado de conservação, supor a sua altura, bem como o tipo de paredes e cobertura que teria. Dela resta unicamente uma pequena parcela da grelha, sobre a qual era depositado o material a cozer. A grelha é formada por pequenas placas de barro e materiais reutilizados, como tégula e tijoleira, e revestida superiormente por barro semelhante àquele que reveste as paredes do restante conjunto (câmara de aquecimento e corredor). Como é norma deste tipo de grelhas, ela aparece perfurada, nos espaços inter-arcos, por pequenos buracos, mais ou menos circulares, por onde passava o calor vindo da câmara de aquecimento.

Tudo indica que o forno de Eixo se destinou ao fabrico de materiais de construção civil, isto é, materiais de cobertura de edifícios (tégula e ímbrex), de revestimento de pavimentos (tijoleira) e componentes de colunas. Os elementos recolhidos não permitem ajuizar se o forno alguma vez terá produzido cerâmica comum. É de crer que tal hipótese fosse viável, todavia não há elementos suficientes para. negar ou confirmar tal suposição. A matéria-prima utilizada no fabrico dos materiais seria, muito provavelmente, extraída dos terrenos circunvizinhos, pois estes apresentam, ainda hoje, alguns veios de argila de razoável qualidade.

Dos elementos obtidos, que serão, a breve trecho, alvo de relatório circunstanciado, é desde já possível afirmar tratar-se de um forno cujo período de utilização vai desde os finais da ocupação romana, até período indeterminado da época visigótica. É de realçar a sua localização junto a uma linha de água, que lhe proporcionava não só a água necessária à produção dos materiais, como a possibilidade de um escoamento dos produtos fabricados.

Artur Jorge de Almeida


 

 

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