FORNO CERÂMICO DE EIXO
Decorreram, no pretérito mês de Abril, escavações
arqueológicas no forno cerâmico de Eixo. As escavações foram efectuadas
por uma equipa do Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, composta pelo Dr. Carlos Alberto Brochado de
Almeida, assistente convidado da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, Dr. Artur Jorge Leite Figueiredo de Almeida, licenciado em
História (variante de Arqueologia) pela mesma Faculdade e pelos alunos
da referida Faculdade António Joaquim da Cunha Leal, Rui Cavaleiro Cunha
e Armandino Cunha. Os trabalhos arqueológicos foram possíveis graças ao
patrocínio do IPPC (Instituto Português do Património Cultural),
Serviços Culturais da Câmara Municipal de Aveiro e Junta de Freguesia de
Eixo.
O forno tinha sido descoberto fortuitamente nos finais do
ano passado e só graças ao interesse do operário da máquina que
descobriu e ao presidente da Junta de Freguesia de Eixo, Sr. Gaspar
Fernandes, foi possível salvaguardar tão importante documento do nosso
património arqueológico. Importa salientar que pela primeira vez foram
realizadas escavações arqueológicas segundo métodos científicos, na área
do concelho de Aveiro, e que estas vieram confirmar o carácter e a
importância da produção cerâmica na região aveirense.
Tipologicamente o forno em questão é semelhante a outros
já conhecidos. Salientamos, a título exemplificativo, o forno da Quinta
do Paço, freguesia da Facha, concelho de Ponte de Lima, escavado
recentemente pela mesma equipa, e os estudados pelo Dr. Armando Coelho
Ferreira da Silva na freguesia de Canelas, concelho de Vila Nova de
Gaia, e em Santa Maria de Penaguião. O presente forno é formado por
corredor, câmara de aquecimento e câmara de cozedura.
O corredor é o único sector da estrutura que apresenta,
nas suas paredes laterais, pedra, o que se compreende dado ser «esta»
zona onde era produzido o fogo. A parte superior era em abóbada feita à
base de uma argamassa composta
/ 26 /
por fragmentos de tégula, ímbrex e tijoleira.
A câmara de aquecimento é um quadrilátero com paredes
laterais feitas com tijoleira revestida interiormente com argamassa de
barro. Tal procedimento era necessário para impermeabilizar o interior
da câmara, o mais possível, quanto a fugas de calor. Pela mesma razão se
explica estar a câmara de aquecimento incrustada no terreno natural, o
que obrigou a que, aquando da sua construção, se cavasse um alicerce
suficientemente amplo e profundo para que a câmara de aquecimento
ficasse embutida no solo por forma a proporcionar melhor isolamento
térmico. O interior da câmara de aquecimento está dividido em arcos de
volta inteira, feitos com tijolo burro e revestidos a argamassa, a fim
de dar maior solidez ao conjunto. Com a mesma finalidade, o espaço
inter-arcos está preenchido, de forma mais ou menos regular, por
pequenas placas que se destinam não só a dar solidez aos arcos mas, e
sobretudo, a sustentar a grelha.
A câmara da cozedura estava bastante violada. Torna-se
difícil, dado o seu estado de conservação, supor a sua altura, bem como
o tipo de paredes e cobertura que teria. Dela resta unicamente uma
pequena parcela da grelha, sobre a qual era depositado o material a
cozer. A grelha é formada por pequenas placas de barro e materiais
reutilizados, como tégula e tijoleira, e revestida superiormente por
barro semelhante àquele que reveste as paredes do restante conjunto
(câmara de aquecimento e corredor). Como é norma deste tipo de grelhas,
ela aparece perfurada, nos espaços inter-arcos, por pequenos buracos,
mais ou menos circulares, por onde passava o calor vindo da câmara de
aquecimento.
Tudo indica que o forno de Eixo se destinou ao fabrico de
materiais de construção civil, isto é, materiais de cobertura de
edifícios (tégula e ímbrex), de revestimento de pavimentos (tijoleira) e
componentes de colunas. Os elementos recolhidos não permitem ajuizar se
o forno alguma vez terá produzido cerâmica comum. É de crer que tal
hipótese fosse viável, todavia não há elementos suficientes para. negar
ou confirmar tal suposição. A matéria-prima utilizada no fabrico dos
materiais seria, muito provavelmente, extraída dos terrenos
circunvizinhos, pois estes apresentam, ainda hoje, alguns veios de
argila de razoável qualidade.
Dos elementos obtidos, que serão, a breve trecho, alvo de
relatório circunstanciado, é desde já possível afirmar tratar-se de um
forno cujo período de utilização vai desde os finais da ocupação romana,
até período indeterminado da época visigótica. É de realçar a sua
localização junto a uma linha de água, que lhe proporcionava não só a
água necessária à produção dos materiais, como a possibilidade de um
escoamento dos produtos fabricados.
Artur Jorge de Almeida
|