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Boletim n.º 6 - Ano III - 1985

UM FORNO SUEVO-VISIGÓTICO EM EIXO

 

 

Na freguesia de Eixo, no dia 12 de Dezembro, quando se procedia a escavações de saibro para uma empresa da região, foi descoberto um forno cerâmico, que se admite ser da época suevo-visigótica, compreendida entre os séculos VI e VIII da nossa era. O antiquíssimo forno encontrou-se na Costa de Arribas (Ribeirinho), a mais de três metros de profundidade, num prédio pertencente ao Dr. João Rocha Machado. Presume-se que na zona haveria barro em grande quantidade, até porque, desde tempos imemoriais, um local daquela vila, não muito distante do precioso achado, se apelida de «Barreira». O forno situava-se, na época suevo-visigótica, à beira de água, precisamente na margem sul do braço de mar que se alongava até ao Marnel – o que tornaria fácil o transporte fluvial ou marítimo dos produtos fabricados.

No dia 18, deslocou-se ao local, para examinar o forno, o Dr. Carlos Brochado de Almeida, director das escavações arqueológicas da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, acompanhado pelo Dr. Artur Jorge Leite de Almeida, da mesma Universidade. Aí se verificou que «o forno parece ter uma planta rectangular com a boca orientada para a linha de água» e compõe-se «de uma câmara de aquecimento com quatro ou cinco arcos de volta inteira, rodeados de grossas paredes, possivelmente em pedra e que constituem a estrutura exterior» – segundo a opinião do Dr. Carlos Brochado de Almeida, que prossegue, dizendo: - «Os arcos são, ao que parece, feitos em tijolo tipo burro, rebocados por grossas camadas de barro, onde estão bem patentes os sinais da longa acção do fogo; sobre os arcos assenta a grelha».

O mesmo professor universitário pensa ser este «um exemplar de forno que, como tantos outros conhecidos e já estudados, cozia produtos destinados ao sector habitacional; tégula, imbrex e tijolos há-os no forno e nas imediações. Daí que não seja muito arriscado conjecturar que este forno cozeria produtos similares».

É de louvar a atitude do motorista da escavadora que teve o cuidado de não destruir o forno e de logo avisar o presidente da Junta de Freguesia, que por sua vez, se pôs em contacto com o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Aveiro. Espera-se, agora, que as respectivas entidades procurem acautelar o forno, que terá de ser acompanhado na sua completa escavação e na sua possível reconstituição, dada a fragilidade do material.

Supõe-se que outros fornos cerâmicos existam na área da freguesia de Eixo, de diversas épocas, dadas as características do solo e a tradição oleira da região. Que ao menos se preserve este, uma vez que outros, embora mais recentes, já foram lamentavelmente destruídos, não há ainda muitos anos.

Em deliberação posterior, o Executivo decidiu apoiar os trabalhos de escavação e salvaguarda do forno. O material exumado será entregue à Câmara Municipal para, com ele, se reconstituir o forno na Galeria-Museu, presentemente em organização.

 

 

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