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Na freguesia de Eixo, no dia 12 de Dezembro, quando
se procedia a escavações de saibro para uma empresa da região, foi
descoberto um forno cerâmico, que se admite ser da época
suevo-visigótica, compreendida entre os séculos VI e VIII da nossa
era. O antiquíssimo forno encontrou-se na Costa de Arribas
(Ribeirinho), a mais de três metros de profundidade, num prédio
pertencente ao Dr. João Rocha Machado. Presume-se que na zona
haveria barro em grande quantidade, até porque, desde tempos
imemoriais, um local daquela vila, não muito distante do precioso
achado, se apelida de «Barreira». O forno situava-se, na época
suevo-visigótica, à beira de água, precisamente na margem sul do
braço de mar que se alongava até ao Marnel – o que tornaria fácil o
transporte fluvial ou marítimo dos produtos fabricados.
No dia 18, deslocou-se ao local, para examinar o
forno, o Dr. Carlos Brochado de Almeida, director das escavações
arqueológicas da Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
acompanhado pelo Dr. Artur Jorge Leite de Almeida, da mesma
Universidade. Aí se verificou que «o forno parece ter uma planta
rectangular com a boca orientada para a linha de água» e compõe-se
«de uma câmara de aquecimento com quatro ou cinco arcos de volta
inteira, rodeados de grossas paredes, possivelmente em pedra e que
constituem a estrutura exterior» – segundo a opinião do Dr. Carlos
Brochado de Almeida, que prossegue, dizendo: - «Os arcos são, ao que
parece, feitos em tijolo tipo burro, rebocados por grossas camadas
de barro, onde estão bem patentes os sinais da longa acção do fogo;
sobre os arcos assenta a grelha».
O mesmo professor universitário pensa ser este «um
exemplar de forno que, como tantos outros conhecidos e já estudados,
cozia produtos destinados ao sector habitacional; tégula, imbrex e
tijolos há-os no forno e nas imediações. Daí que não seja muito
arriscado conjecturar que este forno cozeria produtos similares».
É de louvar a atitude do motorista da escavadora que
teve o cuidado de não destruir o forno e de logo avisar o presidente
da Junta de Freguesia, que por sua vez, se pôs em contacto com o
Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Aveiro. Espera-se, agora,
que as respectivas entidades procurem acautelar o forno, que terá de
ser acompanhado na sua completa escavação e na sua possível
reconstituição, dada a fragilidade do material.
Supõe-se que outros fornos cerâmicos existam na área
da freguesia de Eixo, de diversas épocas, dadas as características
do solo e a tradição oleira da região. Que ao menos se preserve
este, uma vez que outros, embora mais recentes, já foram
lamentavelmente destruídos, não há ainda muitos anos.
Em deliberação posterior, o Executivo decidiu apoiar
os trabalhos de escavação e salvaguarda do forno. O material exumado
será entregue à Câmara Municipal para, com ele, se reconstituir o
forno na Galeria-Museu, presentemente em organização. |