«CONSERVATÓRIO REGIONAL
DE AVEIRO
– CALOUSTE GULBENKIAN»
Bodas de Prata
Já tinha aflorado ao nosso pensamento a ideia de lembrar
que esta Escola Artística existe desde há 25 anos.
Seria um modo de prestar a minha homenagem a todos os que
ajudaram a criar esta obra e aos que lhe têm prestado a sua colaboração
e vivido as horas boas e más – por que ela tem passado.
Os nascimentos ocorrem geralmente com momentos
perspectivantes em recônditos compartimentos das maternidades. Ao
contrário, o do «Conservatório de Aveiro» deu-se à luz do dia em sessão
soleníssima realizada no Ginásio do Liceu Nacional de Aveiro, presidida
por um Membro do Governo – o Dr. Baltasar Rebelo de Sousa – e com
prestimosa colaboração musical da «Academia de Música de Vila da Feira»,
em Outubro de 1960.
Vai senão quando, vejo memorada a efeméride no número 4
do Boletim Municipal de Aveiro e isso acicatou mais (se possível) o meu
acrisolado desejo de assinalar o evento, o que desejo fazer neste
descolorido esforço.
Pretendeu-se sempre que esta Escola fosse cheia de vida,
animosa e prestante, ao serviço da juventude aveirense, do distrito e do
País. Cheia de vida! Um ser vivo portanto, com etapas comparáveis
àquelas por que passa uma criança, desde que nasce até se tornar em
adulto. Assim, há a considerar, antes do nascimento, a gestação.
Gestação
– Durou pouco mais de um ano, desde Agosto de 1959, a nomeação de júris
formados por professores do Conservatório de Música de Lisboa para irem
examinar alunos de várias Escolas, entre as quais figurava a de Vila da
Feira.
Era Director do Conservatório de Lisboa o Senhor Dr. Ivo
Cruz. Apesar de não o conhecer pessoalmente, escrevi-lhe a perguntar
quais os requisitos necessários para termos também uma Escola deste
género em Aveiro. Como um dos professores integrado no júri, que viria
em breve à Vila da Feira, era a Senhora D.ª Fernanda Melo, ele
encarregou-a de vir a Aveiro esclarecer-me e comunicou-me o facto. No
dia aprazado veio esta Senhora Professora e, mostrando-se entusiasmada
com a ideia, informou-me devidamente e falou-me da Senhora D.ª Gilberta
Xavier de Paiva, directora da «Academia» de Vila da Feira em termos tão
encomiásticos que eu logo formulei o propósito de a visitar, o que
realmente aconteceu. Assim teve boas raízes a árvore das nossas relações
que vieram a traduzir-se numa magnífica e valiosa colaboração desta
Senhora na elaboração dos Estatutos da nova Escola e, até mais tarde,
durante o 1.º ano, na sua direcção.
Entretanto organizara-se em Aveiro uma Comissão da qual
faziam parte o Governador Civil, Dr. Jaime Ferreira da Silva, o
Presidente da Junta Distrital, Dr. António Rodrigues, o Presidente da
Câmara de Aveiro, Dr. Alberto Souto, além de várias outras
individualidades ligadas aos problemas da Educação.
Em Coimbra foi apresentado o problema ao Professor de
Direito, Doutor António Férrer Correia, Administrador da Fundação C.
Gulbenkian, que resolveu de imediato apadrinhar a ideia, interessando-se
pela mesma.
Deste modo, o entusiasmo foi crescendo e as diligências
foram-se somando, quer junto da Fundação C. Gulbenkian, quer junto do
ministério da Educação Nacional, ouvindo-se em todos os sectores
palavras de encorajamento a que foram correspondendo actos de ajudas
práticas, sem as quais nada se poderia fazer.
Criaram-se duas Instituições com o mesmo nome:
«Conservatório Regional de Aveiro».
a) Uma Sociedade Cultural de carácter particular
com sede em Aveiro e dois objectivos fundamentais:
– Criar uma Escola aonde se ministrasse o ensino das
disciplinas que fazem parte do plano oficial dos Cursos Gerais e
Superiores do Conservatório Nacional;
– Promover, fomentar ou patrocinar a divulgação artística
no distrito de Aveiro através de concertos, audições escolares e
palestras
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versando assuntos literários, artes plásticas, história da música, etc.
b) Uma Escola que realizasse as actividades atrás
mencionadas.
Constituída e legalizada a Sociedade Cultural, esta
requereu ao Ministério da Educação Nacional a necessária autorização
para instalar o previsto estabelecimento de ensino com a mesma
designação de «Conservatório Regional de Aveiro». «A pretensão foi
convenientemente apreciada e, depois de tudo visto e estudado, o
requerimento foi 'deferido' passando-se o Alvará N.º 1613, de 15 de
Novembro de 1960, que permitia a abertura da Escola requerida, ao mesmo
tempo que se autorizava que ela funcionasse no edifício do Liceu
Nacional de Aveiro, sem prejuízo para os serviços liceais e enquanto não
dispusesse de instalações próprias».
A benemérita Fundação Calouste Gulbenkian adquirira, para
serviço do Conservatório, 10 pianos, alguns violinos, flautas e outros
instrumentos, e ofereceu ainda valioso subsídio em dinheiro que se somou
aos subsídios concedidos pela Junta Distrital e Câmara Municipal de
Aveiro.
Salvaguardada a legalização da Escola, estavam reunidas
as condições necessárias para o início desta nova «vida» em Aveiro.
Nascimento
– Foi assim que no dia 8 de Outubro de 1960 se realizou o felicíssimo
nascimento desta Escola, em tarde cultural que a prestigiosa Revista
«Labor», de carácter pedagógico classificou justamente de memorável.
– Este acontecimento decorreu com a presença e sob a
presidência de S. Ex.ª o Subsecretário de Estado da Educação Nacional,
Dr. Baltasar Rebelo de Sousa, assistindo também S. Ex.ª Rev.ma
o Bispo de Aveiro, D. Domingos da Apresentação Fernandes, o Governador
Civil de Aveiro, autoridades e muitas outras pessoas entre as quais os
já contratados professores da nova Escola e os respectivos alunos.
Usaram da palavra o autor desta notícia que fez as
saudações apropriadas ao Governo, à Fundação Gulbenkian, autoridades e
demais entidades presentes, e ainda a Senhora Directora da Academia da
Música de Santa Maria, de Vila da Feira, Senhora D.ª Gilberta Gouveia
Xavier de Paiva, que proferiu a Oração de circunstância sobre o valor
educativo e humano da cultura musical.
Seguiu-se uma sessão cultural com execução de vários
números musicais e de bailado, inteiramente a cargo de alunos da
Academia de Vila da Feira e que foi demonstração exuberante da elevada
categoria do ensino ministrado naquela Academia. A assistência apreciou
devidamente todas as exibições com as quais ficou decididamente
encantada.
Visto que a mesma Senhora Dona Gilberta Paiva seria a
Directora desta Escola nascente, isso era bom augúrio para quem tão bem
nascia.
Baptizado
– Todavia, uma sombra pairava no espírito dos promotores desta festa de
inauguração e nascimento: a ausência do Presidente da Fundação
Gulbenkian e de sua esposa, os dois grandes auxiliares do Conservatório.
Isto era devido à ausência de Suas Excelências no estrangeiro, cumprindo
compromissos assumidos que eram desconhecidos em Aveiro na altura do
planeamento.
Resultou daqui a necessidade da realização de uma «Tarde
Cultural» de gratidão e homenagem à Fundação Gulbenkian, que teve lugar
em 27 de Junho de 1961. Foi presidida pelo Governador Civil, Dr. Jaime
Ferreira da Silva, que se encontrava ladeado pelos senhores Doutor
Azeredo Perdigão, sua esposa, Presidente da Junta Distrital, Dr. António
Rodrigues, Presidente da Câmara de Aveiro, ao tempo Engenheiro Henrique
Mascarenhas, Directora do Conservatório, D.ª Gilberta Paiva, Presidente
da Assembleia Geral do Conservatório, Dr. Álvaro Sampaio, Presidente do
Conselho Administrativo do Conservatório e Comandante da Legião
Portuguesa, Coronel Diamantino Amaral.
Usaram da palavra a Directora do Conservatório e o
Presidente do Conselho Administrativo que teve a feliz inspiração de
chamar a esta «Tarde Cultural» a «Festa do Baptizado» da jovem escola e
anunciou a decisão de o Conservatório e nomear a Fundação seu «Sócio
Protector». O encerramento desta primeira parte coube ao Governador
Civil que exaltou a obra da Fundação e felicitou o Conservatório pelos
serviços já prestados.
Seguidamente, os alunos do Conservatório, orientados
pelos seus professores, executaram os bem seleccionados números de
música e bailado que constavam do programa previsto, a todos agradando e
entusiasmando.
Do que foi a vida do Conservatório, dos seus sócios,
professores, alunos, empregados de Secretaria e auxiliares, tudo consta
de relatórios anuais primorosamente elaborados e elegantemente escritos
pelo que durante vários anos exerceu as funções de Secretário do
Conselho Administrativo, Monsenhor Aníbal de Oliveira Marques Ramos.
Esses relatórios granjearam muito prestígio perante o Governo, a
Fundação, as Autoridades e a própria Sociedade Aveirense e bastantes
benefícios se colheram desse facto. Todavia, assinalaremos aqui, por
capítulos, os factos julgados mais relevantes, principalmente durante os
primeiros tempos de vida.
Conselho Geral
– Durante largos anos (talvez 12) exerceu as funções de Presidente o
prestigioso
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Dr. Álvaro da Silva Sampaio, nome bem assinalado nos fastos aveirenses e
bem merecedor da nossa homenagem; mais recentemente, o cargo têm vindo a
ser exercido pelo Dr. João Rodrigues Gamboa, professor na Escola do
Ciclo Preparatório de Aveiro.
Conselho Administrativo
– Foram seus presidentes:
De Out. de 1960 a Julho de 1969 – Orlando de Oliveira;
De Out. de 1969 a Dezembro de 1974 – Pedro Grangeon R.
Lopes;
De Dez. de 1974 a Julho de 1975 (nunca exerceu). – Dr.
Costa e Melo;
De Julho a Dezembro de 1975 – Eng. Adolfo da Cunha
Amaral;
De Dez. de 1975 a Dezembro de 1976 – Afonso Henrique
Pereira;
De Dez. de 1976 a Dezembro de 1980 (?) – Dr. Ilídio
Duarte Rodrigues;
De Jan. de 1983 para cá – Dr. Rogério Leitão.
Director Artístico e Pedagógico
– Foram seus orientadores:
De Out. de 1960 a Julho de 1961 – D.ª Gilberta Xavier de
Paiva;
De Out. de 1961 a Julho de 1971 – D.ª M.ª Leonor Teixeira
Pulido Almeida;
De Out. de 1971 a Julho de 1975 – Jorge M. Carneiro;
De Out. de 1975 a Julho de 1976 – Afonso Henrique
Pereira;
De Out. de 1976 a Julho de 1978 – D.ª M.ª Leonor T.P.
Almeida;
De Out. de 1978 até agora – Fernando Jorge Ferreira M. de
Azevedo.
Alunos notáveis
– Ao abordarmos este tema, começaremos por duas palavras: uma de
regozijo por a boa estrela do Conservatório nos ter proporcionado o
pleno aproveitamento de alguns alunos altamente dotados; outra de
desgosto por sabermos que alguns deles, nos «curricula» apresentados por
eles próprios, nas suas actividades artísticas, se esqueceram
lamentavelmente da Escola de Aveiro que carinhosamente os atendeu e
desveladamente ajudou quando e enquanto dela precisaram. Desses alunos,
os que mais se distinguiram foram:
1 – Maria Teresa Gouveia Xavier de Paiva – piano;
2 – Mário Mateus – canto;
3 – Adelino Ferreira Martins – clarinete;
4 – Armando Dias da Silva Vidal – piano;
5 – Manuel Teixeira Ferreira – violino;
6 – P.e Arménio Alves da Costa J.or
– composição e Hist.ª da Música;
7 – P.e M.el da Rocha Creoulo –
canto;
8 – M.ª Isabel Vieira do Casal – piano;
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9 – Fernando Morais Sarmento – solfejo;
10 – Flávio dos Santos – solfejo;
11 – José das Neves Limas – solfejo;
12 – Severino dos Anjos Vieira – solfejo;
13 – P.e Valdemar Alves da Costa – solfejo;
14 – António José Simões Vieira – solfejo;
15 – João Vieira Grave – solfejo;
16 – M.ª Adelaide Gonçalves C. Borges – solfejo;
17 – M.el Domingos Novo – solfejo;
18 – José Martins Júnior – canto;
19 – Fernando Artur Rainho – clarinete;
20 – M.ª Paula da Silva Paulo – piano;
21 – Rui Alberto S. Branco Lopes – solfejo;
22 – Inês Maria Tavares A. Henriques – solfejo;
23 – Armanda Moreira de Figueiredo – canto de concerto;
24 – M.ª de Lourdes Ferreira Simões Vieira – piano;
25 – Fausto José de Carvalho – solfejo;
26 – M.ª Isabel Caldeira de Sousa – solfejo;
27 – Marília Mano – educação musical;
28 – M.ª Luísa Viterbo – acústica e Hist.ª da Música;
29 – Viriato Marques – educação musical.
Esta quase trintena de alunos apurados entre os muitos
que frequentaram o Conservatório até 1974, mostra claramente o muito
interesse da população aveirense e a alta qualidade do ensino
ministrado. Todos tiraram classificação de 17, 18 e 19 valores perante
júris formados e presididos por professores do Conservatório Nacional de
Lisboa e alguns deles são hoje figuras gradas no panorama musical
português.
A observação destes factos leva-nos a concluir que... se
mais escolas houvesse... melhor seria a cultura musical. Valeu a pena!
Cursos de línguas estrangeiras
– Nos seus propósitos de difusor de cultura, o Conservatório fez
contratos com os Institutos francês, inglês, alemão e italiano para
ensino das respectivas línguas nas suas instalações, o que aconteceu ao
longo de vários anos. Foram muitos os alunos que fizeram as suas
aprendizagens nestes cursos e realizaram as respectivas provas de
apuramento.
Era consolador visitar o Conservatório a qualquer hora do
dia e assistir à movimentação de verdadeiro formigueiro humano à cata do
saber.
Cursos pré-primários
– Instalados desde 1964, na Casa da Rua dos Combatentes, têm funcionado
ininterruptamente estes cursos com encantadores e minúsculos alunos que
muito têm contribuído para difundir com simpatia a acção e o nome do
Conservatório pela cidade de Aveiro e sua região.
Sócios do Conservatório
– Em número superior a uma centena, muito têm contribuído, com as suas
quotas monetárias e com a sua presença nas actividades, para estímulo
dos dirigentes, dos professores e dos alunos no prosseguimento dos seus
trabalhos.
Pessoal administrativo e auxiliar
– No princípio, por questão de economia, recorreu-se a pessoal do Liceu
que, com pequenas gratificações, ia prestando a sua valiosa colaboração.
É justo destacar no entanto o Senhor Manuel Maurício, ao tempo Chefe de
Secretaria do Liceu que durante alguns anos, quer ainda no Liceu, quer
no edifício da Rua dos Combatentes, sempre ajudou quase
desinteressadamente com toda a sua serena proficiência e eficiência a
ter em ordem toda a vida administrativa da Instituição.
Há que destacar ainda o espírito de servir com abnegação
com que todos os empregados têm prestado os seus serviços, quer nas
horas boas como principalmente nas horas desagradáveis que têm batido à
porta da Escola com certa frequência. Este registo será o reconhecimento
da gratidão que a todos é devida.
Professores
– Dinamizados desde a primeira hora pela batuta firme da Senhora Dona
Gilberta Paiva, todos souberam implantar na Escola as normas de serviço
sério e digno que sempre adejou sobre o Conservatório. Os alunos e
Aveiro em geral muito lhes estão devendo e é de inteira justiça o
reconhecimento deste facto.
Dirigentes
– Para ocupar os 3 lugares do Conselho Geral como também as 5 vagas de
Conselho Administrativo, todos sem qualquer remuneração, passaram pelas
respectivas cadeiras muitas pessoas das mais ilustres que Aveiro contou
e conta nas camadas mais elevadas da sua população.
Nos Relatórios, regularmente publicados, até 1980, podem
ler-se os seus nomes que assim foram registados e constarão para serem
lidos pelos olhos dos que um dia se interessarem pela história completa
o Conservatório Regional de Aveiro. Não é nosso propósito fazê-lo agora
mas tão somente nos anima com este trabalho o tocar o sino grande do
nosso contentamento por o mesmo Conservatório estar a fazer os seus 25
anos de idade.
Instalações
– Como já se disse, graças a munificência do Ministério da Educação
Nacional, o Conservatório viveu instalado em algumas salas do Liceu
Nacional de Aveiro durante dois anos lectivos: 1960-61 e 1961-62.
Entretanto inaugurou-se o novo Palácio da Justiça de
Aveiro e nele se instalaram os correspondentes serviços, entre os quais
a Conservatória do Registo
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Civil, até então acomodada em edifício
particular sito na Rua dos Combatentes da Grande Guerra, N.º 2.
Poucas e deficientes eram as condições desse edifício
para instalação de uma escola. Mas não havia por onde escolher e houve
que arrostar com os inconvenientes que, mesmo assim, sempre eram menores
do que a permanência no Liceu.
Por isso foi com alegria que lá nos instalámos e por lá
permanecemos desde Outubro de 1962 até 1970, isto é, durante 8 anos.
Até que em 1970 passámos para as magníficas comodidades
de um novo e bonito edifício mandado construir pela benemérita Fundação
Calouste Gulbenkian.
Vale a pena relatar e merecem ser contados para a
posteridade os pormenores que antecederam esta maravilhosa hora de 1970.
Em 17 de Junho de 1964 abriu nos salões do Museu de
Aveiro uma Exposição de Pintura organizada pela Fundação Calouste
Gulbenkian, com obras da mesma Fundação. Como era previsível,
deslocou-se a Aveiro o Senhor Doutor José de Azeredo Perdigão, ilustre
Presidente daquela Instituição, e então preparou-se uma recepção rio
Conservatório, planeando-se tudo de acordo com o Presidente da Câmara,
que então era o Senhor Engenheiro Henrique Mascarenhas.
Formulado no Museu o convite para o Doutor Perdigão
visitar o Conservatório, S. Ex.8 benevolamente o aceitou, realizando-se
essa visita logo que terminou a abertura da Exposição.
Visitado o Conservatório, reunimo-nos numa das salas e
tivemos o privilégio de viver uma hora alta quando assistimos ao diálogo
travado entre os Presidentes da Fundação e da Câmara:
– Senhor Presidente da Câmara, já se lembrou que a
Fundação, o Estado e a Câmara poderiam construir um edifício para
instalar em Aveiro uma Escola de Artes na qual caberia o Conservatório?
– Não, Senhor Presidente da Fundação Gulbenkian, nunca
pensámos nisso, mas uma palavra de Vossa Excelência é uma ordem e a
Câmara vai debruçar-se sobre o assunto e colaborar quanto puder.
Sem perda de um momento, tudo se preparou e logo no dia
25 de Junho, passada portanto apenas uma semana, fomos a Lisboa, à
Fundação, o Presidente da Câmara, o Senhor Carlos Aleluia, prestigioso
aveirense e prestantíssimo membro do Conselho Administrativo do
Conservatório desde a primeira hora; mais o signatário desta notícia.
Levámos plantas de vários locais citadinos aonde se
poderia localizar o previsto edifício. Coube a escolha à Fundação que
veio a dar preferência ao local onde hoje se encontra.
Logo em reunião de 29 de Junho, o Conselho Plenário da
Fundação Gulbenkian atribuiu uma verba de 5000 contos para o efeito e
mais tarde, em 9 de Março de 1965, o mesmo Conselho Plenário elevava
aquela verba para 6500 contos, sendo 1200 para o terreno, 4800 para a
construção e mais 500 para imprevistos.
Mas já em 9 de Fevereiro de 1965 o Conservatório fizera
reunir em Sessão Extraordinária o seu Conselho Administrativo para tomar
conhecimento do ofício N.º 788 da Fundação Gulbenkian, datado de 2 de
Fevereiro, a comunicar a resolução de adquirir o terreno, fazendo-se a
escritura dessa aquisição em 31 de Outubro de 1966.
Diligenciara-se entretanto junto do Arquitecto José
Carlos Loureiro, do Porto, para pensar na elaboração do projecto, tendo
ele encarregado da respectiva elaboração a sua adjunta, Arquitecta
Noémia Coutinho, natural de Vale de Cambra e antiga aluna do Liceu de
Aveiro. Estas diligências permitiram a maior rapidez dos acontecimentos
e foi assim que se fez mais uma viagem a Lisboa para entregar na
Fundação o volumoso projecto no dia 12 de Outubro de 1966. Quer dizer:
quando a Fundação fez a escritura para aquisição do terreno já tinha na
sua mão o projecto do edifício. A mesma Fundação aprovou o projecto nos
princípios de 1967, realizou o necessário concurso e em 22 de Novembro
desse mesmo ano iniciaram-se as obras da construção que decorreram
normalmente.
Deste modo foi possível inaugurar o novo edifício em 30
de Março de 1971 com a presença honrosíssima do Chefe de Estado,
Almirante Américo Tomaz, do Ministro da Educação Nacional, Professor
Veiga Simão, e do Presidente da Fundação Gulbenkian, Doutor Azeredo
Perdigão, todos acompanhados de suas esposas, e ainda do Senhor Bispo de
Aveiro.
Os momentos altos vividos nesse dia em Aveiro estão
devida e relevantemente registados no anuário do Conservatório, do ano
de 1970/71, pelo que nos dispensamos de mais pormenores. No entanto
realcemos devidamente a harmonização e sincronização de todos os actos
praticados para que se conseguisse uma tão grande realização em tão
curto lapso de tempo.
Mais ainda: às palavras pronunciadas no diálogo referido entre os
Presidentes da Fundação e da Câmara de Aveiro sucederam-se os actos com
benemerência. Fez-se a construção apenas à custa a Fundação, sem
participação nem do Estado nem da Câmara; os 5 mil contos inicialmente
previstos foram largamente ultrapassados, gastando-se 16 340 contos, sem
contar os auxílios anteriormente prestados com a compra de instrumentos.
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Nos dias de hoje, o edifício e o seu recheio terá um
valor de cerca de 200 mil contos.
Tudo isto, lembre-se mais uma vez, foi e é devido à
Fundação Calouste Gulbenkian que colocou tudo, em regime de comodato, à
disposição do Conservatório.
Nova Vida
– «Nova Casa, vida nova». Porque se tinham passado 10 anos após o
nascimento do Conservatório, havia normas velhas a rectificar e normas
novas a implantar, uma das quais a de assinalar de forma indelével a
gratidão para com a Fundação C. Gulbenkian. Estas foram razões mais que
suficientes para se pensar na remodelação dos Estatutos desta nova
Escola aveirense.
Assim se elaboraram novas "bases para a organização do
Conservatório Regional de Aveiro nas suas novas instalações».
Elaboradas estas Bases, delas foi dado conhecimento aos
Ex.mos Presidentes da Junta Distrital e da Câmara Municipal
de Aveiro, que as aprovaram incondicionalmente e até «com aplauso», na
palavra do Senhor Presidente da Câmara. Apensas estas informações, foi o
processo enviado ao Ex.mo Presidente da Fundação Calouste
Gulbenkian que sobre ele fez recair um longo e detalhado despacho, de
que se transcreve o número I do seu articulado:
"O Conservatório Regional de Aveiro é um estabelecimento
de ensino prestigiado e prestigioso, juridicamente organizado.
Por consequência, o facto de passar a dispor de novas
instalações não deverá, só por si, determinar uma alteração da sua
personalidade e profundas modificações na sua estrutura, a principiar
pelo nome, que deverá continuar a ser o mesmo – "Conservatório Regional
de Aveiro", com um único aditamento – Calouste Gulbenkian".»
Este honroso e desvanecedor despacho, de Julho de 1969,
continua a explanar-se com diversas considerações, para depois em seu
artigo VIII, continuar:
«O comodato é, como se diz no N.º 2, em princípio, um
regime experimental.
O destino definitivo do edifício e seus equipamentos é,
de momento, incerto e imprevisível: tanto pode ser a sua integração no
património da Sociedade Regional de Aveiro como no património do Estado
ou da Câmara Municipal de Aveiro; tudo depende de variadas
circunstâncias. Porém, o destino que a Fundação vier a dar-lhe será, sem
dúvida, o que se revele melhor para a realização dos seus fins, pois
outras não são as intenções e as preocupações da Fundação».
Faz agora 25 anos que foi criado o Conservatório e
concordemos que foi uma magnífica prenda que a cidade recebeu. É de
desejar que também a cidade rejubile e demonstre estar à altura do
acontecimento e promova actividades condizentes.
Têm prosseguido ininterruptamente as actividades deste
Estabelecimento de Ensino Artístico e devemos assinalar, pelo seu valor
e a retumbância que têm encontrado, a publicação do jornal escolar «Allegro»
e a acção notável dos «Serões Musicais» das sextas-feiras.
Uma obra desta envergadura não é nem pode ser de uma só
pessoa; é de muitas e todos merecem uma palavra de apreço.
Mas, como disse o Poeta... "O homem sonhou, Deus quis, a
obra nasceu».
Orlando de Oliveira
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Nota da Redacção
– Há tanto tempo prometida, ainda nitidamente não se vislumbra a
oficialização deste estabelecimento particular de ensino artístico.
Com o minucioso artigo que publicamos, subscrito por um
dos seus principais pioneiros, a Redacção do Boletim Municipal formula
um voto: que em Outubro próximo o Conservatório Regional de Aveiro seja
uma escola pública de ensino artístico.
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