INDÚSTRIA EXTRACTIVA DO
DISTRITO DE AVEIRO
SUA IMPORTÂNCIA NO CONTEXTO
NACIONAL
Por
José Carlos Balacó Moreira
(*)
► INTRODUÇÃO
A indústria extractiva engloba recursos minerais
provenientes das minas, extraídos das pedreiras, e as águas minerais e
de mesa.
No distrito de Aveiro, que integra a Província da Beira
Litoral, com a extensão de cerca de 80 kms e uma largura média de 40 kms,
a que corresponde mais precisamente uma superfície de 2.760 km2,
repartida por 19 concelhos, ocorrem matérias-primas, dos três tipos de
origens mencionadas.
No que respeita a minas, embora estejam concedidas
diversas minas e coutos mineiros, conforme consta do quadro I, em anexo,
apenas se encontram em actividade as minas de carvão do Pejão (Castelo
de Paiva) e as minas de caulino do Outeiro (Ovar) e Devesa e Quinta do
Covo n.º 1 (Oliveira de Azeméis).
Ainda que paralisados por razões de ordem vária, como se
disse, existem também jazigos de volfrâmio e estanho na zona de Arouca,
nas margens dos rios Paiva e Paivô; chumbo, zinco e prata, que foram
explorados nas minas de Terramonte, em Castelo de Paiva; manganés, na
região de Anadia; caulino na Vila da Feira; chumbo (galena), na Branca,
Albergaria-a-Velha, além de antimónio, cobre e arsénio.
No que se refere a pedreiras, muito embora a actividade
tenha sofrido uma redução substancial nos últimos anos, exploram-se
ainda areia refractária, areia comum, argila refractária, granito,
quartzito, saibro e argila comum para fabrico de barro vermelho.
Em relação às águas minerais e de mesa, o distrito dispõe
de quatro nascentes de águas minerais, respectivamente na Curia
(sulfatada); no Luso (hipossalina, radioactiva); nas Caldas de S. Jorge
(sulfúrea sádica) e no Vale da Mó (bicarbonatada sódica). As águas de
mesa são apenas exploradas no Cruzeiro.
Em anexo, figuram quadros estatísticos, com os dados mais
recentes de que foi possível dispor, relativos às produções globais do
distrito das diversas substâncias; especificam-se também, as produções
das diversas substâncias em cada concelho e, finalmente, a produção de
águas minerais e de mesa, inscrições termais e tratamentos (aplicações).
Em todos estes quadros se estabelecem as percentagens, quer de volumes,
quer de valores, das produções distritais, em relação à globalidade do
país, evidenciando assim o peso do distrito no contexto nacional.
Finalmente, uma relação da bibliografia disponível
respeitante ao distrito permitirá aos mais interessados pormenorizar ou
aprofundar os seus conhecimentos referentes a este importante sector em
análise.
1 – BREVE REFERÊNCIA A GEOLOGIA GERAL
O distrito de Aveiro, geologicamente, inclui formações
que vão desde o Pré-Câmbrico (isto é, desde há cerca de 600 milhões de
anos), até ao Quaternário, que engloba as formações actuais. A sua
distribuição é a que sinteticamente a seguir se expõe e que está patente
no esboço geológico que adiante se insere.
Limitada pela orla marítima e pela linha que une
sensivelmente Espinho à Mealhada, dispõe-se uma faixa de formações de
idade quaternária. O extremo sul desta engloba também formações de
Cretácico e do Jurássico.
A faixa central, limitada a oeste pela faixa anterior e,
a nascente, pelo grande alinhamento que desde o limite norte do distrito
passa nas proximidades de S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis e
Albergaria-a-Velha, inflectindo nas zonas de Águeda e Anadia e
prolongando-se até ao contorno sul do distrito, corresponde a formações
cujas idades se situam no Pré-Câmbrico, Permo-Carbónico, Jurássico,
Cretácico e Pliocénico.
A área mais oriental, situada entre a anterior e o limite do distrito a
poente, compreende afloramentos do Pré-Câmbrico, Permo-Carbónico e
rochas eruptivas hercínicas.
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A descrição do pormenor das formações geológicas, a que
acabamos de nos referir, pode ser obtida na vasta bibliografia que
adiante se indica, pelo que nos dispensamos de considerações
complementares em relação a este assunto.
► 2 – ACTIVIDADE MINEIRA
2.1 – INDÚSTRIA EXTRACTIVA
Como antes se referiu, das diversas concessões existentes
na área do distrito, englobando várias substâncias, apenas as
explorações de carvão e de caulino se encontram em actividade.
2.1.1 – Carvão
Esta substância vem sendo explorada no Couto Mineiro do
Pejão, pela Empresa Carbonífera do Douro. A mina situa-se nas freguesias
de Raiva, Pedorido e Paraíso, do concelho de Castelo de Paiva, sendo
ainda hoje a mais importante mina de carvão do continente.
O carvão explorado é do tipo antracite, mas infelizmente
de qualidade abaixo do desejável, dado o elevado teor em cinzas.
Estão sendo desenvolvidos estudos conducentes a uma
melhor definição do jazigo, visando o aumento das reservas.
Com efeito, trata-se da única mina de antracite em
actividade no país, pelo que, conforme se pode verificar nos quadros II
e III, a sua produção coincide com a nacional.
2.1.2 – Caulino
No distrito de Aveiro, existem várias ocorrências de
caulino, considerado em geral de boa qualidade e cujas reservas são
bastante elevadas.
Actualmente, só existem três explorações em actividade: a
mina do Outeiro, situada na freguesia de S. Vicente da Pereira Juzã,
Ovar, explorada por VIALPO-Artigos de Utilidade e Comércio Geral, Ld.ª,
no concelho de Oliveira de Azeméis; a mina da Devesa, situada na
freguesia de Macieira de Sarnes, explorada por Coelho e Filho, Ld.ª; e a
mina da Quinta do Covo n.º 1, localizada na freguesia de Vila Chã de S.
Roque, que tem como explorador a SOMICAL-Sociedade Mineira de Caulinos,
Ldª.
De acordo com o quadro III verifica-se que o peso da
produção destas três minas, em termos nacionais, representou 16% e 23%
(1981) e 18% e 26% (1982), respectivamente no que se refere a volumes
extraídos e valor correspondente.
2.2 – INDÚSTRIA TRANSFORMADORA
Directamente ligada à indústria extractiva do sector
mineiro, existe na freguesia da Branca, do concelho de
Albergaria-a-Velha, no local das antigas minas do Palhal, hoje
paralisadas, uma unidade transformadora – Minas e Metalurgia, SARL –
dedicada à produção de peças de metal duro à base de tungsténio,
destinadas a trabalhos de corte, desgaste e perfuração, particularmente
utilizadas na indústria mineira.
A produção tem-se revelado promissora, destinando-se quer
ao abastecimento do mercado interno, quer à exportação.
► 3 – ACTIVIDADE DAS PEDREIRAS
3.1 – INDÚSTRIA EXTRACTIVA
O distrito de Aveiro desempenha um papel assinalável no
contexto nacional, no âmbito das substâncias minerais não-metálicas
(Vide quadros II e III).
Muito embora o número de explorações em actividade tenha
decrescido nos últimos anos, é ainda apreciável a sua importância. Das
substâncias extraídas, salientam-se:
3.1.1 – Areia comum
Em geral utilizada em construção civil e obras públicas,
vem sendo extraída, quer em areeiros situados em diversos locais, nos
concelhos de Águeda, Ovar e Vagos, quer no leito do rio Vouga, nos
concelhos de Albergaria-a-Velha e Sever do Vouga, quer ainda na orla
marítima, actualmente restringidos à área de S. Jacinto, no concelho de
Aveiro.
A exploração faz-se em geral com pás carregadoras.
Esta actividade representou respectivamente 17% e 16%
(1981) e 17% e 14% do cômputo nacional no que se refere a tonelagens
extraídas e valores correspondentes.
3.1.2 – Areia refractária
As explorações desta matéria-prima situam-se no concelho
de Águeda, na zona de Aguieira.
Trata-se de um tipo de areia que, não sendo de qualidade
excepcional, satisfaz perfeitamente a indústria de moldagem de fundição
que abastece desde Braga, Famalicão, Trofa, Gondomar e Porto, além de
várias unidades no distrito de Aveiro.
Em Ovar, a areia das dunas abastece uma unidade de
produção de garrafaria, no distrito do Porto.
A exploração desenvolve-se com o auxílio de pás carregadoras.
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Dado que a exploração é reduzida o seu peso no âmbito
nacional não é significativo.
3.1.3. – Argila comum
Em geral designada por barro vermelho, abastece o
invulgar número de unidades de cerâmica de construção pesada, isto é, de
telha e tijolo, além de, em parte, a indústria de pavimentos e grés.
As explorações, em termos de volume, têm maior expressão
nos concelhos de Oliveira do Bairro, Mealhada, Anadia e Ílhavo, sendo
também representativas nos concelhos de Vagos, Águeda e Aveiro.
A matéria-prima visa o abastecimento das numerosas
unidades existentes no distrito.
A extracção processa-se com pás carregadoras.
Comparativamente ao contexto nacional, em 1981
representou 16% da tonelagem extraída, a que corresponderam 11 % em
valor, enquanto que em 1982 ambos os parâmetros se quedaram pelos 13%.
3.1.4 – Argila refractária
As explorações de argila refractária, situam-se no limite
que separa os concelhos de Águeda e Anadia, respectivamente, nas
freguesias de Aguada de Cima e Avelãs de Caminho, na área das Almas da
Areosa.
Este tipo de argila constitui uma das substâncias que
entram na composição das pastas cerâmicas para a produção de porcelana,
faiança, grés e refractários.
Esta matéria-prima abastece unidades cerâmicas situadas
desde Barcelos até sul de Lisboa.
Na exploração utilizam-se quer martelos pneumáticos, quer
escavadoras do tipo rectro.
Em termos nacionais a extracção correspondeu em 1981 a
43% da tonelagem extraída, o que em valor representou 19%; em 1982
aqueles índices foram de, respectivamente, 51 e 16%.
3.1.5 – Granito
O granito, cujos produtos se destinam à construção civil
e obras públicas, é explorado nos concelhos de Vila da Feira, Vale de
Cambra, Arouca, Oliveira de Azeméis, Sever do Vouga e Castelo de Paiva.
São fabricados diversos tipos de produtos, tais como a
alvenaria, a brita, o perpianho, o rachão e o rústico.
A exploração faz-se com o auxílio de explosivos.
A alvenaria e o rachão são, conforme as dimensões, os
materiais obtidos após o abate da frente da exploração com os
explosivos, dispostos de forma adequada para esse efeito, e resultam
igualmente como subprodutos da preparação do perpianho e o rústico em
que se utilizam apenas ferramentas manuais.
O produto mais representativo é a brita, para cuja
obtenção, com excepção do concelho de Arouca em apreciável número de
pedreiras dos concelhos mencionados, existem instalações de britagem,
algumas delas de elevada capacidade e bastante modernas.
Os produtos destinam-se apenas a abastecer as indústrias
do distrito.
A tonelagem extraída em 1981 correspondeu a 12% do que se
produziu no país, e 6% em valores, enquanto que, em 1982, se verificou
um acréscimo significativo, respectivamente, para 21 % e 14%.
3.1.6 – Quartzito
Esta matéria-prima é explorada no limite dos concelhos de
Albergaria-a-Velha e Águeda, respectivamente nas freguesias de Valmaior
e Macinhata do Vouga, especialmente no lugar de Mouquim.
O quartzito é empregue em construção civil e obras
públicas, particularmente sob a forma de brita e rachão, apesar de o seu
emprego na construção de estradas apresentar alguns problemas em virtude
de fraca aderência do alcatrão à brita, em virtude da formação de uma
película argilosa sobre este produto, que só em parte é removida por
lavagem.
A exploração é feita utilizando explosivos, sendo o
material obtido sujeito a operações de britagem em importantes
instalações existentes nas diversas pedreiras. Os produtos apenas dão
satisfação às necessidades do distrito.
A sua incidência, em termos nacionais, foi de 96% no que
se refere a tonelagem e 93% em valor, em 1981, tendo-se mantido
sensivelmente o mesmo peso em 1982, respectivamente, 95% e 94%.
3.1.7 – Saibro
Utilizado exclusivamente na construção de estradas, o
saibro é explorado nos concelhos de Estarreja, Aveiro, Águeda e, em
quantidades reduzidas, em Vagos e Vila da Feira, abastecendo áreas
vizinhas dos concelhos referidos.
A exploração é feita com recurso de pás carregadoras.
Em relação à produção global do país, em 1981
correspondeu a 15% da tonelagem e 10% do valor; em 1982 qualquer dos
dois parâmetros considerados subiu para 25%.
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