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Boletim n.º 5 - Ano III - 1985

INDÚSTRIA EXTRACTIVA DO

DISTRITO DE AVEIRO

SUA IMPORTÂNCIA NO CONTEXTO NACIONAL

Por

José Carlos Balacó Moreira (*)

 

►   INTRODUÇÃO

A indústria extractiva engloba recursos minerais provenientes das minas, extraídos das pedreiras, e as águas minerais e de mesa.

No distrito de Aveiro, que integra a Província da Beira Litoral, com a extensão de cerca de 80 kms e uma largura média de 40 kms, a que corresponde mais precisamente uma superfície de 2.760 km2, repartida por 19 concelhos, ocorrem matérias-primas, dos três tipos de origens mencionadas.

No que respeita a minas, embora estejam concedidas diversas minas e coutos mineiros, conforme consta do quadro I, em anexo, apenas se encontram em actividade as minas de carvão do Pejão (Castelo de Paiva) e as minas de caulino do Outeiro (Ovar) e Devesa e Quinta do Covo n.º 1 (Oliveira de Azeméis).

Ainda que paralisados por razões de ordem vária, como se disse, existem também jazigos de volfrâmio e estanho na zona de Arouca, nas margens dos rios Paiva e Paivô; chumbo, zinco e prata, que foram explorados nas minas de Terramonte, em Castelo de Paiva; manganés, na região de Anadia; caulino na Vila da Feira; chumbo (galena), na Branca, Albergaria-a-Velha, além de antimónio, cobre e arsénio.

No que se refere a pedreiras, muito embora a actividade tenha sofrido uma redução substancial nos últimos anos, exploram-se ainda areia refractária, areia comum, argila refractária, granito, quartzito, saibro e argila comum para fabrico de barro vermelho.

Em relação às águas minerais e de mesa, o distrito dispõe de quatro nascentes de águas minerais, respectivamente na Curia (sulfatada); no Luso (hipossalina, radioactiva); nas Caldas de S. Jorge (sulfúrea sádica) e no Vale da Mó (bicarbonatada sódica). As águas de mesa são apenas exploradas no Cruzeiro.

Em anexo, figuram quadros estatísticos, com os dados mais recentes de que foi possível dispor, relativos às produções globais do distrito das diversas substâncias; especificam-se também, as produções das diversas substâncias em cada concelho e, finalmente, a produção de águas minerais e de mesa, inscrições termais e tratamentos (aplicações). Em todos estes quadros se estabelecem as percentagens, quer de volumes, quer de valores, das produções distritais, em relação à globalidade do país, evidenciando assim o peso do distrito no contexto nacional.

Finalmente, uma relação da bibliografia disponível respeitante ao distrito permitirá aos mais interessados pormenorizar ou aprofundar os seus conhecimentos referentes a este importante sector em análise.

 

1 – BREVE REFERÊNCIA A GEOLOGIA GERAL

O distrito de Aveiro, geologicamente, inclui formações que vão desde o Pré-Câmbrico (isto é, desde há cerca de 600 milhões de anos), até ao Quaternário, que engloba as formações actuais. A sua distribuição é a que sinteticamente a seguir se expõe e que está patente no esboço geológico que adiante se insere.

Limitada pela orla marítima e pela linha que une sensivelmente Espinho à Mealhada, dispõe-se uma faixa de formações de idade quaternária. O extremo sul desta engloba também formações de Cretácico e do Jurássico.

A faixa central, limitada a oeste pela faixa anterior e, a nascente, pelo grande alinhamento que desde o limite norte do distrito passa nas proximidades de S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Albergaria-a-Velha, inflectindo nas zonas de Águeda e Anadia e prolongando-se até ao contorno sul do distrito, corresponde a formações cujas idades se situam no Pré-Câmbrico, Permo-Carbónico, Jurássico, Cretácico e Pliocénico.

A área mais oriental, situada entre a anterior e o limite do distrito a poente, compreende afloramentos do Pré-Câmbrico, Permo-Carbónico e rochas eruptivas hercínicas. / 34 /

A descrição do pormenor das formações geológicas, a que acabamos de nos referir, pode ser obtida na vasta bibliografia que adiante se indica, pelo que nos dispensamos de considerações complementares em relação a este assunto.

 

►  2 – ACTIVIDADE MINEIRA

2.1 – INDÚSTRIA EXTRACTIVA

Como antes se referiu, das diversas concessões existentes na área do distrito, englobando várias substâncias, apenas as explorações de carvão e de caulino se encontram em actividade.

2.1.1 – Carvão

Esta substância vem sendo explorada no Couto Mineiro do Pejão, pela Empresa Carbonífera do Douro. A mina situa-se nas freguesias de Raiva, Pedorido e Paraíso, do concelho de Castelo de Paiva, sendo ainda hoje a mais importante mina de carvão do continente.

O carvão explorado é do tipo antracite, mas infelizmente de qualidade abaixo do desejável, dado o elevado teor em cinzas.

Estão sendo desenvolvidos estudos conducentes a uma melhor definição do jazigo, visando o aumento das reservas.

Com efeito, trata-se da única mina de antracite em actividade no país, pelo que, conforme se pode verificar nos quadros II e III, a sua produção coincide com a nacional.

 

2.1.2 – Caulino

No distrito de Aveiro, existem várias ocorrências de caulino, considerado em geral de boa qualidade e cujas reservas são bastante elevadas.

Actualmente, só existem três explorações em actividade: a mina do Outeiro, situada na freguesia de S. Vicente da Pereira Juzã, Ovar, explorada por VIALPO-Artigos de Utilidade e Comércio Geral, Ld.ª, no concelho de Oliveira de Azeméis; a mina da Devesa, situada na freguesia de Macieira de Sarnes, explorada por Coelho e Filho, Ld.ª; e a mina da Quinta do Covo n.º 1, localizada na freguesia de Vila Chã de S. Roque, que tem como explorador a SOMICAL-Sociedade Mineira de Caulinos, Ldª.

De acordo com o quadro III verifica-se que o peso da produção destas três minas, em termos nacionais, representou 16% e 23% (1981) e 18% e 26% (1982), respectivamente no que se refere a volumes extraídos e valor correspondente.

 

2.2 – INDÚSTRIA TRANSFORMADORA

Directamente ligada à indústria extractiva do sector mineiro, existe na freguesia da Branca, do concelho de Albergaria-a-Velha, no local das antigas minas do Palhal, hoje paralisadas, uma unidade transformadora – Minas e Metalurgia, SARL – dedicada à produção de peças de metal duro à base de tungsténio, destinadas a trabalhos de corte, desgaste e perfuração, particularmente utilizadas na indústria mineira.

A produção tem-se revelado promissora, destinando-se quer ao abastecimento do mercado interno, quer à exportação.

 

►  3 – ACTIVIDADE DAS PEDREIRAS

3.1 – INDÚSTRIA EXTRACTIVA

O distrito de Aveiro desempenha um papel assinalável no contexto nacional, no âmbito das substâncias minerais não-metálicas (Vide quadros II e III).

Muito embora o número de explorações em actividade tenha decrescido nos últimos anos, é ainda apreciável a sua importância. Das substâncias extraídas, salientam-se:

 

3.1.1 – Areia comum

Em geral utilizada em construção civil e obras públicas, vem sendo extraída, quer em areeiros situados em diversos locais, nos concelhos de Águeda, Ovar e Vagos, quer no leito do rio Vouga, nos concelhos de Albergaria-a-Velha e Sever do Vouga, quer ainda na orla marítima, actualmente restringidos à área de S. Jacinto, no concelho de Aveiro.

A exploração faz-se em geral com pás carregadoras.

Esta actividade representou respectivamente 17% e 16% (1981) e 17% e 14% do cômputo nacional no que se refere a tonelagens extraídas e valores correspondentes.

 

3.1.2 – Areia refractária

As explorações desta matéria-prima situam-se no concelho de Águeda, na zona de Aguieira.

Trata-se de um tipo de areia que, não sendo de qualidade excepcional, satisfaz perfeitamente a indústria de moldagem de fundição que abastece desde Braga, Famalicão, Trofa, Gondomar e Porto, além de várias unidades no distrito de Aveiro.

Em Ovar, a areia das dunas abastece uma unidade de produção de garrafaria, no distrito do Porto.

A exploração desenvolve-se com o auxílio de pás carregadoras. / 35 /

Dado que a exploração é reduzida o seu peso no âmbito nacional não é significativo.

 

3.1.3. – Argila comum

Em geral designada por barro vermelho, abastece o invulgar número de unidades de cerâmica de construção pesada, isto é, de telha e tijolo, além de, em parte, a indústria de pavimentos e grés.

As explorações, em termos de volume, têm maior expressão nos concelhos de Oliveira do Bairro, Mealhada, Anadia e Ílhavo, sendo também representativas nos concelhos de Vagos, Águeda e Aveiro.

A matéria-prima visa o abastecimento das numerosas unidades existentes no distrito.

A extracção processa-se com pás carregadoras.

Comparativamente ao contexto nacional, em 1981 representou 16% da tonelagem extraída, a que corresponderam 11 % em valor, enquanto que em 1982 ambos os parâmetros se quedaram pelos 13%.

 

3.1.4 – Argila refractária

As explorações de argila refractária, situam-se no limite que separa os concelhos de Águeda e Anadia, respectivamente, nas freguesias de Aguada de Cima e Avelãs de Caminho, na área das Almas da Areosa.

Este tipo de argila constitui uma das substâncias que entram na composição das pastas cerâmicas para a produção de porcelana, faiança, grés e refractários.

Esta matéria-prima abastece unidades cerâmicas situadas desde Barcelos até sul de Lisboa.

Na exploração utilizam-se quer martelos pneumáticos, quer escavadoras do tipo rectro.

Em termos nacionais a extracção correspondeu em 1981 a 43% da tonelagem extraída, o que em valor representou 19%; em 1982 aqueles índices foram de, respectivamente, 51 e 16%.

 

3.1.5 – Granito

O granito, cujos produtos se destinam à construção civil e obras públicas, é explorado nos concelhos de Vila da Feira, Vale de Cambra, Arouca, Oliveira de Azeméis, Sever do Vouga e Castelo de Paiva.

São fabricados diversos tipos de produtos, tais como a alvenaria, a brita, o perpianho, o rachão e o rústico.

A exploração faz-se com o auxílio de explosivos.

A alvenaria e o rachão são, conforme as dimensões, os materiais obtidos após o abate da frente da exploração com os explosivos, dispostos de forma adequada para esse efeito, e resultam igualmente como subprodutos da preparação do perpianho e o rústico em que se utilizam apenas ferramentas manuais.

O produto mais representativo é a brita, para cuja obtenção, com excepção do concelho de Arouca em apreciável número de pedreiras dos concelhos mencionados, existem instalações de britagem, algumas delas de elevada capacidade e bastante modernas.

Os produtos destinam-se apenas a abastecer as indústrias do distrito.

A tonelagem extraída em 1981 correspondeu a 12% do que se produziu no país, e 6% em valores, enquanto que, em 1982, se verificou um acréscimo significativo, respectivamente, para 21 % e 14%.

 

3.1.6 – Quartzito

Esta matéria-prima é explorada no limite dos concelhos de Albergaria-a-Velha e Águeda, respectivamente nas freguesias de Valmaior e Macinhata do Vouga, especialmente no lugar de Mouquim.

O quartzito é empregue em construção civil e obras públicas, particularmente sob a forma de brita e rachão, apesar de o seu emprego na construção de estradas apresentar alguns problemas em virtude de fraca aderência do alcatrão à brita, em virtude da formação de uma película argilosa sobre este produto, que só em parte é removida por lavagem.

A exploração é feita utilizando explosivos, sendo o material obtido sujeito a operações de britagem em importantes instalações existentes nas diversas pedreiras. Os produtos apenas dão satisfação às necessidades do distrito.

A sua incidência, em termos nacionais, foi de 96% no que se refere a tonelagem e 93% em valor, em 1981, tendo-se mantido sensivelmente o mesmo peso em 1982, respectivamente, 95% e 94%.

3.1.7 – Saibro

Utilizado exclusivamente na construção de estradas, o saibro é explorado nos concelhos de Estarreja, Aveiro, Águeda e, em quantidades reduzidas, em Vagos e Vila da Feira, abastecendo áreas vizinhas dos concelhos referidos.

A exploração é feita com recurso de pás carregadoras.

Em relação à produção global do país, em 1981 correspondeu a 15% da tonelagem e 10% do valor; em 1982 qualquer dos dois parâmetros considerados subiu para 25%.

 

 

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