Aveiro é uma cidadezinha
linda, cantante, arejada, que desabrocha como uma fresca flor aquática,
como um enorme nenúfar branco, de entre as águas que por todos os lados
a cingem, a atravessam em canais, a banham, a reflectem, a espelham, lhe
erguem um hino claro, tremente, entusiástico, apaixonado. É a Flor das
Águas, a Flor do Mar - e a água é a alma suprema, activa, da paisagem.
Cercam-na vastas campinas verdes, cortadas de canais minúsculos, por
onde deslizam esbeltos saveiros; salinas que relampejam ao sol como
cristais rútilos; moinhos que gesticulam e batem asas sobre o vasto
polder, todo ensopado de água; rebanhos de vacas que pastam nos frescos
lameiros; águas onde palpitam, em maravilhosos jorros de luz, todos os
reflexos, todas as imagens, ora ondeantes como sombras, ora flamejantes
como brasas, e, segundo a hora e a altura do sol, umas vezes cor de
turquesa, outras cor de safira, outras cor de nácar, outras cor de coral
– e tudo isto dando-lhe um aspecto de leveza, de frescura, de graça, de
intimidade repousante e doce.
DOMINGOS GUIMARÃES
(em «Almanaque
d'a Liberdade para 1913», págs. 69-70).
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