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Boletim n.º 3 - Ano II - 1984


► FÁBRICAS E INDÚSTRIAS

 

Em Eixo há fábrica de telha e tijolo, de há muitos anos. Do testamento de Jorge da Silva, morador que foi no lugar da Granja de Cima e escudeiro da Princesa Santa Joana, freira do Convento de Jesus, de Aveiro, feito no ano de 1555,(1) se vê que este ficou devendo a quantia de 1:540 rs. a João Forneiro, de Eixo, de serviços e de um milheiro de telha que lhe vendeu, donde se prova que já no dito ano se fabricava telha nesta Vila.(2) Que no ano de 1722 havia forno de telha nesta Vila consta do Livro do Tombo último desta igreja de Santo Isidoro, pg. 32. A telha e o tijolo da fábrica actual são muito estimados, porque o barro que é lavrado no mesmo sítio do forno é dos mais finos deste género; e tanto que daqui foi telha para a obra da Relação do Porto.

Na primeira Exposição do Porto de 18... tiveram a telha, o tijolo e o barro desta fábrica uma menção honrosa, que nos foi dirigida pelo Juiz respectivo.

No sítio do Rego, no alto do prédio de Manuel Marques Vieira a correr ou perto do caminho que vai para a Silha-Sardinha, aparecem a pouca profundidade vestígios de um pequeno forno de telha ou louça, e uma pequena cova de se tirar barro no dito caminho.

A indústria mais importante desta Vila tem sido a das caldeiras.

O pessoal desta indústria compõe-se de proprietários capitalistas, artistas e criados caixeiros para andarem pelas feiras; ainda que muitas vezes a mesma pessoa acumula os dois primeiros mesteres, e alguns (poucos) os três ditos. Esta indústria consiste no seguinte: – Os proprietários das lojas de caldeiras compram e mandam vir do Porto pastas de cobre e latão amarelo e fazem ou mandam fazer nas suas lojas caldeiras, tachas, alambiques, panelas, sertãs, escumadeiras, fogareiros, esquentadores / 44 / de cama e outros objectos, que se costumam fazer desta matéria, os quais os ditos criados vão vender às feiras e pelas portas em quase todo o Reino. Daqui resultou dizer-se em toda a parte «que Eixo é a terra dos caldeireiros»; porém tal asserção não só não é exacta porque todo o dito pessoal desta indústria forma uma grande minoria da terra, porque as lojas de caldeiras nunca passaram de seis a oito, ocupando cada uma um ou dois artistas e, quando muito, três criados; e nem esta indústria pode ser considerada vil e tanto que os donos destas lojas sempre ocuparam os primeiros empregos da terra.(3)

Esta indústria, até certa época, pode dizer-se que foi um monopólio de Eixo, e então se fizeram boas casas com ela;(4) mas, depois que se estabeleceram em outras terras do Reino lojas de caldeiras e se começaram a usar as obras de folha de Flandres e ferro fundido, tem decaído muito; no entanto, ainda hoje se pode considerar o melhor da terra.

Tem a Vila três lojas de ferreiros e um serralheiro.

Outro negócio importante é o dos bois. No mês de Agosto vão alguns capitalistas e outros com dinheiro emprestado comprar bezerros a Trás-os-Montes, que vêm vender de ordinário nas feiras do Distrito e distribuir pelos lavradores destas e outras terras. Este negócio já foi exercido em mais larga escala do que hoje.

Também foi importante o negócio de cavalgaduras, cavalos, éguas e mulinhas de seis meses. Este comércio consistia em comprar para revender logo, e está hoje quase abandonado, não havendo quem trate dele exclusivamente. Os contratadores não corriam só as feiras do Distrito mas até outras muito distantes, como as de S. João de Évora, Lisboa, Golegã, Coimbra, Neves, Viseu, Calvos, Vila Nova de Famalicão e Penafiel.

Uma indústria que deste há trinta anos tem progredido pela sua maior expansão e aperfeiçoamento é a padaria de trigo. Esta indústria é exercida por mulheres, que podemos reduzir a duas classes, a saber, as que cozem diariamente, que são em número de dez ou doze, e as que só cozem para certas feiras e festividades.

Aquelas vendem algum pão nesta Vila; uma grande parte em Aveiro e nos Lugares de Cacia e Sarrazola, Oliveirinha e Costa, Mamodeiro, Requeixo e Travassô; e cozem diariamente vinte alqueires de trigo reduzidos a farinha. As padeiras que cozem só para feiras e festas são em muito maior número.

Esta indústria é muito defraudada pelos moleiros e, quando as padeiras compreenderem melhor os seus interesses e se puderem emancipar destes, devem tirar bons lucros. É sabido que um alqueire de trigo rende cinco quartas de farinha ou vinte maquias. As padeiras têm recebido algumas vezes dos moleiros de cada alqueire de trigo nove maquias de farinha! E ficam muito satisfeitas quando recebem doze maquias! Hoje que os proprietários desta terra se empenham para se libertarem dos moleiros, não devem as padeiras (pelo menos as que cozem diariamente) deixar de seguir os exemplos daqueles, no que tirarão um lucro certo.(5) Os proprietários de atafonas têm o lucro de uma quinta parte – o que moer por sua conta 400 alqueires de milho terá 500 de farinha. É esta uma inovação que, se se generalizar, dará grande aumento a esta terra, onde se consome anualmente uma grande porção de milho.

 

►  A FEIRA DE EIXO

Esta feira fica num arrabalde da Vila, no sítio chamado a «Serra de Eixo», e tem lugar no dia 3 de cada mês. O princípio desta feira foi o seguinte:

Pouco depois de 1850, propôs a Câmara desta Vila que se mudasse a feira da Oliveirinha para o dito local desta Vila; subindo esta proposta ao Conselho do Distrito, a maioria deste votou contra a proposta. Então o Bacharel Venâncio Dias de Carvalho Figueiredo, desta Vila, e um dos conselheiros do Distrito, fez uma emenda ao projecto ou proposta da Câmara para que se criasse a feira actual; e sendo esta aprovada, se começou no dia 3 de Outubro de 1855. Como o tempo não era próprio para edificações improvisaram-se umas barracas para as lojas defronte das casas, mas separadas da feira do gado, que se determinou ser o grande largo que fica do lado da Oliveirinha. A experiência tem mostrado que esta separação foi um erro e tanto que os lojistas, que em princípio concorreram, têm abandonado a feira, não só porque as barracas se acham em mau estado, mas porque esta separação influi nos seus interesses. No ano seguinte, fez-se uma plantação de sobreiros e outros arbustos neste local, que foi mal sucedida, pegando muito poucos. É para lamentar / 45 / que se tenha deitado a um completo desprezo e que não se tenham reparado os erros que teve nos seus princípios, porque o seu local é o mais usado para um grande mercado, e tal que não seria fácil encontrar segundo como este. O sítio, onde actualmente é a feira do gado, é um grande largo em forma quase circular, cujo terreno enxuto e firmíssimo não é susceptível de ter lama no inverno nem poeira no verão. Este local muito superior ao da Vila, que domina, tem vistas muito pitorescas para esta, para o campo e para muitos lugares e serras, que se avistam à distância de muitas léguas até à serra do Caramulo. É neste espaço largo que deve ser toda a feira, tanto de gado de todas as espécies, como de lojas e cereais, etc.; e por mais que ela se aumente, não seria fácil ocupar todo este espaço. A experiência tem mostrado a conveniência de se fazerem as feiras com boa distribuição, arrumando os diferentes expostos à venda, cada um no seu sítio; mas de maneira que todos formem um só corpo. É pois urgente fazer-se o abarracamento com frentes para o sul e a correr com as propriedades que ficam ao norte deste largo e arborizando-se este e fazendo-se a distribuição dos mais objectos de maneira que fique franca e livre a estrada de Eixo à Oliveirinha, que deve ficar no meio da feira.

Esta feira dura há treze anos; a que é mais concorrida é a de gado vacum e suíno; de cavalar quase não há transacções; vendem-se cereais e hortaliças, e tem poucas tendas.

Quando se fizerem as obras, que tanto são precisas nesta feira, deve ela aumentar-se muito, não só porque o seu local é excelente, mas também porque fica central a muitas povoações.

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NOTAS:

(1) – Vê-se a consciência e honradez desta personagem que mandou pagar esta e outras quantias pequenas! Hoje não há disto!

(2) – Não sabemos se este João Forneiro seria proprietário ou fabricante de telha no mesmo sítio onde hoje é o forno que nos pertence; o que sabemos com certeza (por termos os respectivos Títulos de compras) é que o nosso bisavô Dr. Eusébio Custódio das Neves conjuntou várias leiras de terra ao prédio do forno actual, com que lhe deu a extensão que tem; e já numas das leiras conjuntas havia outro forno.

(3) – Já no ano de 1749 os caldeireiros ocupavam os lugares de Vereadores e Juízes da Vila, como se vê dos livros de registo da Câmara de Eixo; e tinham tanta influência que se vê do livro de 1746 que na Câmara havia 12 medidas de cobre grandes e pequenas de líquidos e secos – alqueires e ai mudes, etc. (cit. Livro fI. 54).

(4) – Sirva de exemplo a casa de José Dias de Carvalho, do Casal, que deixou por sua morte 60 contos de réis em moeda, além dos bens de raiz!

(5) – Há na Vila cinco atafonas, todas feitas neste ano de 1868 e estão muitas mais em projecto. Já antes se tinham usado, mas tão imperfeitas, que foram todas abandonadas. As que se usam actualmente satisfazem muito bem e esperamos que se venham a aperfeiçoar muito mais. Não devemos perder de vista um novo invento de moinhos.

 

 

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