► CASAS PARTICULARES
A Vila tem hoje 41 casas altas e muitas baixas. Parece que as casas
sobradadas só se começaram a usar na Vila no século XVII, porque as
antigas que existem são posteriores a esta época e se antes houve
algumas foram muito poucas, de que não temos notícia. A casa alta mais
antiga parece-nos ser a do nosso bisavô João Dias de Carvalho e hoje do
nosso primo Padre José Dias de Carvalho, na rua do Adro de Cima, do lado
do poente, e que faz quina à entrada do beco chamado «o Canto». Esta
casa tinha uma escada por fora, e na porta baixa que fica debaixo do
balcão da mesma escada se lê o seguinte «1682 IHS Annos». Quando se
demoliu a mesma escada (em 1867) que era de pedra de Outil apareceram
algumas pedras dos degraus, que pareciam ter servido em outra obra de
portais de edifício nobre ou igreja, e uma de altar. Que edifício seria?
Outra casa alta imediata a esta em idade é a que foi do
Reitor Diogo de Morais Cabral, que fica em frente do lado do norte da
igreja, que tem a era de 1695. Esta casa, em relação ao tempo em que foi
construída, pode dizer-se que foi feita com alguma grandeza, pois tinha
uma escada por fora muito espaçosa com degraus de pedra de Outil, tinha
duas janelas sacadas na dita frente, e outras – todas
com boa esquadria de Ançã e Outil. Esta casa foi deixada pelo dito
Reitor para residência dos Párocos desta freguesia.(1)
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Outra casa alta também antiga é a parte do sul da casa
que foi do Alferes João Luís Ferreira, na Balsa. Esta casa foi rebocada,
e por isso não mostra a sua antiguidade.
Outra casa também alta e antiga é a que foi de Manuel
Dias de Picota, no sítio desta ao poente, e que hoje é do nosso amigo
Dr. Manuel Gonçalves de Figueiredo. No forro dela se lê a era de 1769.
As mais casas altas são edificadas neste século e algumas
no fim do passado.
As casas baixas mais antigas que conhecemos, que hoje
estão quase todas em ruínas, são as seguintes: – as da Família dos
Craveiros, na rua de S. Sebastião do lado do campo, que pertencem hoje à
Ex.ma Snr.ª D. Cândida, sua última representante, e as casas
ao poente da cadeia que são hoje do nosso amigo Dr. José Pereira de
Carvalho. Daquele assento (que tinha muitas casas na frente ja rua e a
correr com o quintal que lhe fica ao norte) não resta hoje casa alguma e
o mesmo acontece com o segundo assento de casas que compreendiam o
espaço desde o poço do Sr. Ricardo Simões Ferreira até à rua em quadrado
que se estendia até ao sítio que hoje serve de portal ou entrada do
prédio. O último senhor destes assentos foi o Capitão
António José Freire de Liz Craveiro.(2)
As casas que foram do Escrivão Manuel José Soares e mulher D. Maria
Freire, da mesma família, têm uma arquitectura semelhante a estas e têm
um bom quintal, que do lado da rua fica de fronte da dita arruinada casa
dos Craveiros, pertence hoje ao dito sr. Ricardo Simões Ferreira.
A casa do Dr. António José Alves, chamado o Doutor do
Cabeço, no sítio do Cabeço da Laguela, hoje dos herdeiros do Padre
Sebastião Marques Morais, mostra a mesma arquitectura e antiguidade. A
casa que fica de fronte do canto do norte do adro da igreja, e que foi
de uma mulher chamada «a pita cega do Cruz» e ultimamente dos Ginas,
seus herdeiros, mostra ainda mais antiguidade, que todas as referidas.
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NOTAS:
(1)
– Se chegou a ser residência, seria por poucos anos, e não sabemos até
quando.
(2)
– Sabemos que pelo menos o terreno das casas deste segundo assento não
era dos antecessores do dito Capitão, mas sim de (?). Há memória desta
família do ano de 1711 no Livro da Fábrica desta igreja, fI. 2, da qual
foi depositário o Padre Sebastião Rodrigues Craveiro. Em 1746 foi juiz
da igreja o Dr. Manuel Liz Craveiro (Livro de registo da Câmara do dito
ano) e suspenso de procurador da Casa de Bragança (Cil. Livro, fI. 6).
Esta família tinha casa de bens nas Quintãs, onde residia ultimamente.
Cremos que era uma família antiga e rica, pois além dos bens das Quintãs
e de dois assentos desta Vila sabemos que a Quinta do Vale do Suão (hoje
do nosso amigo Sebastião de Carvalho e Lima) lhe pertenceu e bem assim a
Quinta da Sobreira (que se subdividiu pelos herdeiros do Capitão Filipe
Dias Brandão) perto da Azenha de Baixo, Quinta Velha – ambos estes
prédios eram nobres e tinham casas. A arquitectura e grandeza das casas
e quintais desta Vila indicam bem terem pertencido a pessoas poderosas
no seu tempo.
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