Dr. José Pereira Tavares
Um
Homem que Aveiro não esquece
No dia 14 de Março
do corrente ano de 1983, faleceu em Aveiro o Dr. José Pereira Tavares,
personalidade distinta, conhecida e admirada não só pelos aveirenses mas
ainda por pessoas de variadíssimos quadrantes e de muitas outras
regiões. Contava a provecta idade de 96 anos, pois nascera em 30 de
Janeiro de 1887, na freguesia do Pinheiro da Bemposta (Oliveira de
Azeméis).
Em 1901, ficou
aprovado no exame de Instrução Primária, feito no Liceu de Aveiro, e
logo se matriculou no mesmo estabelecimento escolar para prosseguir os
estudos. Em 1915, obteve o diploma do curso do Magistério Secundário do
I Grupo (Português e Latim) e, no ano seguinte, iniciou a carreira
docente no Liceu de Viseu, onde esteve até Outubro. Depois, começou a
exercer a sua actividade no Liceu de Aveiro, tornando-se efectivo em
Outubro de 1917.
De Janeiro a Março
de 1926, desempenhou interinamente o cargo de reitor, sendo nomeado
reitor efectivo em Julho. Todavia em 1931 a seu pedido, foi exonerado,
tendo-se reconhecido «que prestou serviços muito relevantes em benefício
do Ensino Secundário, pelos quais se consignam justos louvores». Em
1940, novamente foi nomeado reitor efectivo do Liceu de Aveiro
terminando as suas funções em 30 de Janeiro de 1957, por ter atingido o
limite de idade, que então era aos 70 anos. Na altura, o Governo
agraciou-o com a comenda da Instrução Pública.
O Dr. José Pereira
Tavares organizou o primeiro Grupo Cénico do Liceu; de 1922 a 1925
dirigiu também o Museu de Aveiro; em 1926, com o Dr. Álvaro da Silva
Sampaio, fundou a revista do Ensino Liceal «Labor»; foi um dos
dinamizadores dos Congressos do Ensino Liceal de Aveiro (1927), de Viseu
(1928), de Braga (1929), de Évora (1930) e de Coimbra (1931); promoveu
celebrações centenárias de grandes vultos da nossa literatura, como Eça
de Queirós, Gomes Leal e Guerra Junqueiro; em 1935, com o Dr. Francisco
Ferreira Neves e o Dr. António Gomes da Rocha Madahil, deu início à
publicação da revista «Arquivo do Distrito de Aveiro»; em 1951, promoveu
as celebrações do primeiro centenário do Liceu de Aveiro. Por sua
proposta, este estabelecimento de ensino passou a designar-se por Liceu
de José Estêvão, dando assim forma a uma antiga aspiração do Conselho
Escolar e da Cidade.
Em 30 de Dezembro de
1959, foi recompensado pela Câmara Municipal com a Medalha de Prata da
Cidade, como reconhecimento pelos serviços prestados a Aveiro,
especialmente com a revista «Arquivo do Distrito de Aveiro».
Grande estudioso da
língua portuguesa, estimado professor de sucessivas gerações, homem de
extraordinário saber, de profunda cultura e de fino trato, assim o
definiu certa vez o Dr. António Simões Capão, seu antigo aluno: –
«Português de lei que se aquilata por um labor intenso na defesa da
língua portuguesa ao longo de toda a sua vida, durante a qual produziu
um considerável número de obras, activo impulsionador e colaborador de
congressos do Ensino Liceal...» (1)
Mais do que um nome,
o Dr. José Pereira Tavares – no dizer de Eduardo Cerqueira – «era o
Homem que dava e se dava e se projectava, nas múltiplas facetas
pessoais, nos outros... o Homem que teve a preocupação, constante e
efectiva, de modelar homens dignos, de coluna vertical, conscientes e
insubservientes, sem estilos ostensivos... o Homem de ideias que nunca
impôs, mas que sabia comunicar e de que, no essencial, nunca abdicou».
(2)
Aveiro não o
esquecerá. E assim, logo após a sua morte, por proposta do Vereador do
Pelouro Cultural, a Edilidade Aveirense deliberou unanimemente atribuir
o seu nome a uma das ruas da cidade.
J. G.
_________________________________________
(1) – Semanário
“CORREIO DO VOUGA”, n.º 2 337, 18-3-1977.
(2) – Idem, n.º 2
632, 8-4-1983.
|