AVEIRO
AGUARELA
Campos de Aveiro.
Manchas verdes de arroz,
E a vela dum barco moliceiro
Que um pirata ali pôs.
A servir de moldura,
O velho mar cansado;
E um céu alto e a ter fundura
Na quilha reluzente de um arado.
Miguel Torga
Aveiro, 24 de Maio de 1958 – Gosto desta terra. Não por
se parecer com outras lá de fora, com que se não parece, aliás, mas por
ser a realidade portuguesa que é – uma originalíssima expressão urbana,
ao mesmo tempo firme e movediça dentro do corpo da pátria, cais de
embarque e terreiro de discussão, doce e salgada no sabor, e
perpetuamente arejada por uma fresca brisa de maresia e revolta.
Entra-se nela, e respira-se doutra maneira. O peito oprimido enche-se
dum oxigénio imprevisto e generoso, ainda nativo, e já com todo o iodo
tónico de largo. O iodo tónico da liberdade...
Miguel Torga
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