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Boletim n.º 1 - Ano I - 1983

AVEIRO

AGUARELA

Campos de Aveiro.

Manchas verdes de arroz,

E a vela dum barco moliceiro

Que um pirata ali pôs.

 

A servir de moldura,

O velho mar cansado;

E um céu alto e a ter fundura

Na quilha reluzente de um arado.

 

Miguel Torga

 

 

Aveiro, 24 de Maio de 1958 – Gosto desta terra. Não por se parecer com outras lá de fora, com que se não parece, aliás, mas por ser a realidade portuguesa que é – uma originalíssima expressão urbana, ao mesmo tempo firme e movediça dentro do corpo da pátria, cais de embarque e terreiro de discussão, doce e salgada no sabor, e perpetuamente arejada por uma fresca brisa de maresia e revolta. Entra-se nela, e respira-se doutra maneira. O peito oprimido enche-se dum oxigénio imprevisto e generoso, ainda nativo, e já com todo o iodo tónico de largo. O iodo tónico da liberdade...

Miguel Torga

 

 

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