Não há dúvida de que a exploração de
minério no concelho remonta, pelo menos, aos séculos I e II da nossa
era e foi feita nas imediações do Braçal, pelos romanos e talvez até
por outros povos, segundo provas irrefutáveis ali encontradas.
Data de 6 de Agosto de 1836 o alvará
de concessão a José Bernardo Michellis para a exploração da antiga
mina do Braçal, já conhecida, portanto, e da área correspondente ao
respectivo campo. Em 1840, escassos quatro anos depois, a referida
concessão era transferida para o alemão Diedrick Mathias Fewerheerd,
que a explorou durante o período de dez anos.
Mais duas minas foram descobertas,
sem dúvida também exploradas em épocas recuadas: em 1850 a Mina da
Malhada, distante da do Braçal cerca de 1.5 km, e em 1856, a do
Coval da Mó.
Os trabalhos de limpeza destas
minas, de chumbo argentífero, trouxeram à luz do dia uma trança de
chicote de coiro, um balde de madeira, um pedaço de candeia de
barro, bem como outros pedaços de madeira já transformada em lenhite
no lento rodar dos séculos. Bastante concreta era a ilação colhida
de tais achados, pois o chicote teria servido possivelmente para
açoitar escravos, o balde para remover escombros ou minérios, a
candeia de barro para iluminar a escuridão da galeria. Tais objectos
foram devidamente assinalados no Relatório elaborado por Carlos
Ribeiro em 1853, a propósito dessas minas.
A concessão definitiva, em vigor
durante toda a vida do alemão Mathias Fewerheerd, foi lavrada em 2
de Maio de 1868, até que por decreto de 12 de Março de 1877 foi
aprovada a transmissão da propriedade das referidas minas para uma
Sociedade denominada Administração das Minas do Braçal, pertencente
à viúva e herdeiros desse concessionário.
De realçar, nesta altura, a questão
surgida no ano de 1862 com a população da área circunvizinha que, a
pretexto dos trabalhos da lavra, fundição, etc., causarem a moléstia
da vinha, assaltaram as minas e provocaram graves prejuízos. Verdade
é que o próprio rio que ali passa – o Rio Bom, que desce do Arestal
– tem, a partir de determinada altura a designação de Rio Mau dada
pelos antigos. Era ele que recebia os detritos venenosos
provenientes da lavagem de minérios e ao lançar as suas águas
conspurcadas no Vouga provocava verdadeiras matanças de peixe,
impedindo até o desenvolvimento da vegetação das suas margens.
Devido aos prejuízos causados pela
invasão da população, o Governo indemnizou a Companhia e
concedeu-lhe o direito de «construção de um caminho de ferro, pelo
sistema americano, para comunicação das minas do Braçal, Malhada e
Coval da Mó com o Vouga, dali distante alguns quilómetros»,
dando-lhe ainda «a subvenção de 3000 reis por cada metro corrente
(25-VI-1864) e fixando-se a concessão em 3600 metros quadrados.»
Minas do Braçal
Embora pouco laboriosos os serviços
de exploração foram continuando até ao ano de 1882, ano em que na
cidade do Porto se organizou a Companhia Mineira e Metalúrgica do
Braçal, cujo ritmo de trabalho foi sensivelmente o mesmo dos anos
anteriores. Anos depois – 1898 – formou-se uma companhia belga que,
dispondo de capitais e de espírito de iniciativa, se propôs relançar
a actividade dessas explorações e criar uma grande empresa.
Em 1912 e nos anos seguintes
extraíram-se centenas de toneladas de galenite e a sua população
operária atingiu a cifra de 350. A partir daí a produção foi
baixando e, em 1926 e nos anos seguintes, era nula. A companhia
acabou em 1933, passando para a posse de particulares até meados de
1942, em cujo período se aproveitou a galena das escombreiras da
Malhada e a riqueza florestal das suas matas.
Em Junho de 1942 constitui-se a
Companhia Industrial e Agrícola do Braçal, que inicia imediatamente
o aproveitamento das escombreiras, baseada em resultados
/ 21 / falseados da
amostragem apresentada pelo técnico encarregado dos estudos, pelo
que o fracasso não se fez esperar logo após a conclusão da lavaria.
Perante os resultados pouco
favoráveis, o seu director técnico – engenheiro João Vidal –
elaborou um relatório da situação onde se preconizavam medidas
urgentes para salvar a empresa, orientando a exploração noutro
sentido – medidas eficazes que levaram de imediato à limpeza da
galeria de esgoto da mina do Braçal, inundada desde 1860, o mesmo
acontecendo às outras, empreendendo-se então os trabalhos de
exploração em pleno.
É nesta altura, ao fazer-se o
reconhecimento de uma galeria na Malhada, que regressam à luz do
dia, depois de soterradas durante séculos, duas lucernas romanas,
uma delas intacta, a provar insofismavelmente a presença daquele
civilizado povo no local, e a prova cabal da exploração de minérios
pelas gentes de antanho.
O poço mestre da mina do Braçal tem
uma profundidade de 130 m., o do Coval da Mó 180 m., e o da Malhada
400 m., havendo ali ainda um outro, o poço dos Mouros, com 125 m.,
existindo galerias com a extensão de 2 kms.
Decorre uma exploração de Junho de
1942 a Dezembro de 1958, e no período da sua maior pujança, isto é,
de 1949 a 1955, empregavam-se ali cerca de 740 operários. Em 1944 a
exploração rendeu 223743 kgs de minério; em 1950, 1 138 623 kgs.; em
1955, 2 071 383 kgs., que transformados depois em lingotes de
chumbo, corresponderam, respectivamente, a 106 370, 590 644 e 899
885 kgs.
Nos últimos três anos, devido a
redução do pessoal, houve uma quebra substancial da produção, pelo
que a exploração que atingiu 1 274587 kgs. de minério rendeu, em
lingote, 662 564 kgs.
A partir de 1959, devido à acentuada
baixa da cotação do chumbo nos mercados internacionais, resolveu a
empresa paralisar por completo a sua exploração mineira, sendo
lançados no desemprego mais de duas centenas de operários. O
concelho, industrialmente pouco desenvolvido, não teve capacidade de
resposta para o emprego dessa mão-de-obra. A emigração para a França
e Alemanha foi a solução de momento e começa a processar-se um
autêntico êxodo.
Em 1972 a Companhia Industrial e
Agrícola do Braçal vendeu todo o mecanismo da parte industrial pela
quantia de 240 contos, e desfaz-se, em 1974, de todo o seu
imobiliário que passa à Companhia Portuguesa de Celulose, com sede
em Lisboa, que apenas se tem dedicado exclusivamente à exploração da
sua riqueza florestal.
Não foi, porém, somente no Braçal e
suas imediações que se procedeu à exploração de minérios. Também em
Talhadas existem as chamadas minas do Vale do Vouga, nos locais
denominados Pisão e Vale do Bicho.
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A descoberta das primeiras situa-se
por volta dos anos 1880-1890, por um acaso fortuito. Algumas pedras
de contexto estranho foram encontradas que, examinadas pelo padre
mestre da freguesia, Manuel Nogueira da Silva, algo entendido na
matéria, aconselhou a trazê-las ao Braçal, onde lhe disseram
tratar-se de galena.
Depois da legalização da concessão e
de constituída uma sociedade sem capital, lançaram-se os
pesquisadores na abertura de um poço e galeria no seguimento do
filão.
Minas do Braçal – pormenor das
instalações
É claro que os exploradores,
seguindo embora as regras que lhes eram ministradas, efectuaram o
seu trabalho no meio das maiores dificuldades e sempre por processos
rudimentares, estabelecendo um sistema de ventilação por meio de
chaminés.
Em 1900, o filão à vista era
razoável. Contudo, dadas as dificuldades técnicas e sem meios de
comunicação, a mina foi transaccionada, passando à posse dos
senhores Benjamim e Isaac Camossa, de Águeda, e pouco tempo depois
ao banqueiro Pinto da Fonseca, do Porto.
Em 1910, por associação com uma
companhia francesa, modificou-se a orientação técnica do
aproveitamento, utilizando processos mais modernos. Construiu-se uma
central eléctrica hidráulica para fornecimento de energia às
lavarias, bombas de esgoto e iluminação.
Antes da modernização das
instalações, o transporte dos minérios era feito em carros de bois,
por difíceis caminhos, até Pessegueiro do Vouga e ali carregado nas
barcaças que o conduziam até Águeda, seguindo depois para Leixões e
embarcado para o estrangeiro.
A companhia abriu uma estrada ao
longo do Alfusqueiro até A-dos-Ferreiros e reparou a existente até
Mourisca do Vouga, onde, junto do caminho-de-ferro, construiu um
armazém para guarda dos minérios até ao momento da sua expedição.
Entretanto e por essa altura novos
filões são descobertos: desta vez é a calcopirite (sulfureto duplo
de cobre e ferro), próximo das primeiras minas, no sítio do Vale do
Bicho, verificando-se já em 1915 e nos anos seguintes a extracção de
grandes quantidades.
Em 1924, na noite de 27 para 28 de
Junho, a população das imediações de Águeda, alegando que as águas
provenientes da lavagem dos minérios esterilizavam os seus campos e
matavam o peixe do rio, invadiu e incendiou as instalações, e levou
consigo muitos objectos de valor. Em 1926 a companhia iniciava nova
fase de desenvolvimento, introduzindo na exploração dos minérios o
sistema da flutuação, único em Portugal, tendo conseguido produções
apreciáveis com o trabalho de cerca de 500 operários.
Em 1931 a cotação do cobre baixou
rapidamente – a do chumbo já se tinha dado anteriormente – o que
levou praticamente à sua paralisação. Há cerca de dez anos o Fomento
Mineiro com o acordo da companhia iniciou trabalhos de limpeza em
algumas galerias e aprofundação do poço mestre.
Sever do Vouga, 1 de Junho de 1976.
FONTES:
– Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira
– Testemunhos orais fidedignos. |