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N.º 20

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1975 

Comendador Luís Bernardo de Almeida

Por Augusto Carlos Aguiar

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Natural do lugar de Paredes, da freguesia de Macieira de Cambra, abalou de tenra idade para além Atlântico na companhia de sua mãe, D. Josefa, e de seu primo António de Almeida Pinho, fixando-se em terras de Vera Cruz.

Dada a sua adolescência, não devia imaginar projectos nem ter em mente ir abanar a árvore das patacas e regressar com a sacola recheada para aferrolhar. Não! Longe da terra natal, procurou vincar uma posição digna e altiva, para ser útil ao seu semelhante, pois através de misérias que notou, por sentimento, procurou atenuá-las na sua terra. Assim, com vontade férrea lançou-se na vida em colaboração com seu primo Almeida Pinho, montando uma indústria de serralharia e de fundição, no que foi bem sucedido a ponto de ambos receberem do governo Brasileiro, como mérito, a Ordem da Comenda, galardão somente concedido a pessoas que incrementam o desenvolvimento daquele país.

Comendador Luís Bernardo de Almeida.

Para desenvolvimento da sua indústria efectuou várias digressões por alguns continentes, conhecendo e talvez se apaixonando, na Áustria, por Dona Ana Horbat de Almeida, com quem casou em primeiras núpcias.

Demonstrando não ser egoísta, associou na firma que fundou na Rua dos Arcos – Rio de Janeiro – seus sobrinhos Aníbal Soares Abrantes e Delfim de Almeida Pinho, hoje proprietários e gerentes daquele estabelecimento fabril que funciona com a designação de «Fábrica Progresso».

Também estes últimos, naturais de Macieira de Cambra, sempre deram provas de carinho pela sua terra, pois nunca regatearam franco auxílio a todas as iniciativas de melhoramentos locais. A eles se deve a construção do jardim desta vila, que hoje ostentamos em pleno coração, com orgulho e como sala de visitas.

Depois de Luiz Bernardo estar longos anos no Rio de Janeiro, visitou a terra amada que lhe serviu de berço e verificou, com mágoa, que a escola onde aprendeu as primeiras letras não tinha condições higiénicas e pedagógicas.

Daí, o início da sua fantástica obra de benemerência que daria jus a uma estátua em Macieira de Cambra como testemunho do apreço que seria devido à sua memória e que serviria para perpetuar o seu nome.

Descrever a sua extensa obra filantrópica e profilática é difícil, mas, dentro do possível, vamos citar alguns melhoramentos de mais realce. Assim: / 18 /

1 – Mandou construir a escola de Macieira de Cambra, que no ano de 1913 ofereceu ao Estado. Este edifício tem amplas instalações, residência para um professor, cantina, recintos para recreio, balneários e era dotado de água corrente. Era considerado um dos melhores do país, naquela época.

2 – Mandou ampliar o cemitério de Macieira de Cambra, sendo esse melhoramento efectuado numa altura em que o mesmo já não tinha espaço para albergar os mortos e a Junta de Freguesia não podia arcar com a despesa da necessária ampliação.

3 – Mandou construir a estrada que liga a vila de Macieira de Cambra ao lugar da Pena – Algeriz, tornando mais fácil o acesso ao concelho de Arouca e Castelo de Paiva.

4 – Mandou construir um troço de estrada que vai da ponte da Gandra a S. João da Madeira.

5 – Mandou construir uma rua na sede do concelho.

6 – Dotou a escola primária de Vale de Cambra, com carteiras escolares.

7 – Financiou, por empréstimo à Junta Autónoma das Estradas, sem juros, a abertura e empedramento de 25 quilómetros de estrada, entre Cepelos e o Rio Teixeira, que nos ligou ao distrito de Viseu.

8 – Subsidiou a Banda de Música de Macieira de Cambra, desde 1919, sem cujo auxílio muitas centenas de pessoas não teriam cultivado esta arte.

9 – Fundou, quando todo o concelho estava privado de meios de comunicação, a, Empresa de Transportes Progresso (transportes colectivos) proporcionando o desenvolvimento da terra sob o aspecto industrial, comercial e turístico.

10 – Forneceu, durante largos anos e gratuitamente, medicamentos aos pobres mais necessitados da freguesia, poupando-os a doenças graves que não teriam possibilidades de enfrentar por falta de recursos.

11 – Durante alguns anos estabeleceu mensalidades em dinheiro para muitos pobres da freguesia, minorando a esta classe de desprotegidos da sorte situações angustiosas.

12 – Mandou construir dezenas de edifícios por todo o concelho, de que resultou o embelezamento da terra, impedindo o desemprego de muitos trabalhadores quando a crise de trabalho se apresentava com sintomas graves. E com isso lucrou também o comércio que vendia materiais de construção, ferragens e drogas.

13 – Fez o primitivo abastecimento de água à sede do concelho (não ao domicílio) mas através de um fontanário que mandou instalar na feira do gado, hoje conhecida pela feira de fruta.

14 – De igual modo, mandou construir um fontanário em Macieira de Cambra, o qual, embora actualmente não sirva para satisfazer as necessidades do povo, por falta de água, não deixou de atender durante largos anos às mais imperiosas necessidades dos seus habitantes.

15 – Procurou em tempos, com a criação de uma escola nocturna para menores e adultos, no lugar de Macieira-a-Velha, atenuar o elevado grau de analfabetismo que entre nós existia.

16 – Gratuitamente fornecia material didáctico e batas aos alunos da escola que mandou construir. E, para, melhor analisar a que ponto chegavam os seus dotes de benemerência, mandou tirar, pela admiração que lhe mereciam as belezas da sua terra, alguns milhares de postais ilustrados que distribuiu gratuitamente pelos estabelecimentos para serem vendidos a um centavo, revertendo o produto a favor dos indigentes

Para completar a sua gigantesca obra, legou por disposição testamentária a sua fortuna de milhares de contos para a fundação do «Asilo Luiz Bernardo de Almeida», que hoje funciona na Cruz de S. Domingos, sob a competente orientação do Dr. António Henriques de Almeida.

É de lamentar que no decorrer do segundo matrimónio, vergado ao peso dos anos, cansado, sofrendo física e mentalmente, não tivesse forças para reagir a pressões que lhe eram impostas pela esposa e seus servidores, uns como conselheiros e outros como lacaios. Daí a amputação que sofreu o Asilo nos bens legados com a perda das Quintas do Cadaval, da Mamoa, de Cancêlo, etc., que reverteriam a seu favor e lhe permitiam prestar melhor assistência.

 

páginas 17 e 18

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