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Natural do lugar de Paredes, da
freguesia de Macieira de Cambra, abalou de tenra idade para além
Atlântico na companhia de sua mãe, D. Josefa, e de seu primo António
de Almeida Pinho, fixando-se em terras de Vera Cruz.
Dada a sua adolescência, não devia
imaginar projectos nem ter em mente ir abanar a árvore das patacas e
regressar com a sacola recheada para aferrolhar. Não! Longe da terra
natal, procurou vincar uma posição digna e altiva, para ser útil ao
seu semelhante, pois através de misérias que notou, por sentimento,
procurou atenuá-las na sua terra. Assim, com vontade férrea
lançou-se na vida em colaboração com seu primo Almeida Pinho,
montando uma indústria de serralharia e de fundição, no que foi bem
sucedido a ponto de ambos receberem do governo Brasileiro, como
mérito, a Ordem da Comenda, galardão somente concedido a pessoas que
incrementam o desenvolvimento daquele país.
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Comendador Luís Bernardo de Almeida. |
Para desenvolvimento da sua
indústria efectuou várias digressões por alguns continentes,
conhecendo e talvez se apaixonando, na Áustria, por Dona Ana Horbat
de Almeida, com quem casou em primeiras núpcias.
Demonstrando não ser egoísta,
associou na firma que fundou na Rua dos Arcos – Rio de Janeiro –
seus sobrinhos Aníbal Soares Abrantes e Delfim de Almeida Pinho,
hoje proprietários e gerentes daquele estabelecimento fabril que
funciona com a designação de «Fábrica Progresso».
Também estes últimos, naturais de
Macieira de Cambra, sempre deram provas de carinho pela sua terra,
pois nunca regatearam franco auxílio a todas as iniciativas de
melhoramentos locais. A eles se deve a construção do jardim desta
vila, que hoje ostentamos em pleno coração, com orgulho e como sala
de visitas.
Depois de Luiz Bernardo estar longos
anos no Rio de Janeiro, visitou a terra amada que lhe serviu de
berço e verificou, com mágoa, que a escola onde aprendeu as
primeiras letras não tinha condições higiénicas e pedagógicas.
Daí, o início da sua fantástica obra
de benemerência que daria jus a uma estátua em Macieira de Cambra
como testemunho do apreço que seria devido à sua memória e que
serviria para perpetuar o seu nome.
Descrever a sua extensa obra
filantrópica e profilática é difícil, mas, dentro do possível, vamos
citar alguns melhoramentos de mais realce. Assim:
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1 – Mandou construir a escola de
Macieira de Cambra, que no ano de 1913 ofereceu ao Estado. Este
edifício tem amplas instalações, residência para um professor,
cantina, recintos para recreio, balneários e era dotado de água
corrente. Era considerado um dos melhores do país, naquela época.
2 – Mandou ampliar o cemitério de
Macieira de Cambra, sendo esse melhoramento efectuado numa
altura em que o mesmo já não tinha espaço para albergar os mortos e
a Junta de Freguesia não podia arcar com a despesa da necessária
ampliação.
3 – Mandou construir a estrada
que liga a vila de Macieira de Cambra ao lugar da Pena – Algeriz,
tornando mais fácil o acesso ao concelho de Arouca e Castelo de
Paiva.
4 – Mandou construir um troço de
estrada que vai da ponte da Gandra a S. João da Madeira.
5 – Mandou construir uma rua na
sede do concelho.
6 – Dotou a escola primária de
Vale de Cambra, com carteiras escolares.
7 – Financiou, por empréstimo à
Junta Autónoma das Estradas, sem juros, a abertura e empedramento
de 25 quilómetros de estrada, entre Cepelos e o Rio Teixeira,
que nos ligou ao distrito de Viseu.
8 – Subsidiou a Banda de Música
de Macieira de Cambra, desde 1919, sem cujo auxílio muitas
centenas de pessoas não teriam cultivado esta arte.
9 – Fundou, quando todo o concelho
estava privado de meios de comunicação, a, Empresa de Transportes
Progresso (transportes colectivos) proporcionando o
desenvolvimento da terra sob o aspecto industrial, comercial e
turístico.
10 – Forneceu, durante largos anos e
gratuitamente, medicamentos aos pobres mais necessitados da
freguesia, poupando-os a doenças graves que não teriam
possibilidades de enfrentar por falta de recursos.
11 – Durante alguns anos estabeleceu
mensalidades em dinheiro para muitos pobres da freguesia,
minorando a esta classe de desprotegidos da sorte situações
angustiosas.
12 – Mandou construir dezenas de
edifícios por todo o concelho, de que resultou o embelezamento
da terra, impedindo o desemprego de muitos trabalhadores quando a
crise de trabalho se apresentava com sintomas graves. E com isso
lucrou também o comércio que vendia materiais de construção,
ferragens e drogas.
13 – Fez o primitivo
abastecimento de água à sede do concelho (não ao domicílio) mas
através de um fontanário que mandou instalar na feira do gado, hoje
conhecida pela feira de fruta.
14 – De igual modo, mandou
construir um fontanário em Macieira de Cambra, o qual, embora
actualmente não sirva para satisfazer as necessidades do povo, por
falta de água, não deixou de atender durante largos anos às mais
imperiosas necessidades dos seus habitantes.
15 – Procurou em tempos, com a
criação de uma escola nocturna para menores e adultos, no lugar
de Macieira-a-Velha, atenuar o elevado grau de analfabetismo que
entre nós existia.
16 – Gratuitamente fornecia
material didáctico e batas aos alunos da escola que mandou
construir. E, para, melhor analisar a que ponto chegavam os seus
dotes de benemerência, mandou tirar, pela admiração que lhe mereciam
as belezas da sua terra, alguns milhares de postais ilustrados que
distribuiu gratuitamente pelos estabelecimentos para serem vendidos
a um centavo, revertendo o produto a favor dos indigentes
Para completar a sua gigantesca
obra, legou por disposição testamentária a sua fortuna de milhares
de contos para a fundação do «Asilo Luiz Bernardo de Almeida»,
que hoje funciona na Cruz de S. Domingos, sob a competente
orientação do Dr. António Henriques de Almeida.
É de lamentar que no decorrer do
segundo matrimónio, vergado ao peso dos anos, cansado, sofrendo
física e mentalmente, não tivesse forças para reagir a pressões que
lhe eram impostas pela esposa e seus servidores, uns como
conselheiros e outros como lacaios. Daí a amputação que sofreu o
Asilo nos bens legados com a perda das Quintas do Cadaval, da Mamoa,
de Cancêlo, etc., que reverteriam a seu favor e lhe permitiam
prestar melhor assistência. |