Acesso à hierarquia superior.

N.º 8

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1969 

A Companhia Portuguesa de Celulose

1 - Considerações gerais

As instalações fabris da Companhia Portuguesa de Celulose ocupam uma superfície de terreno de forma triangular, com uma área de cerca de 400 000 m2, no lugar da Marinha Baixa, em Cacia, limitada pelo Rio Vouga, pela estrada nacional Aveiro-Porto e pela linha férrea Lisboa-Porto.


Vista Exterior - lado Sul

A proximidade do Rio Vouga, que fornece a água necessária para o fabrico, e a da via-férrea e da estrada nacional, que permitem um fácil aprovisionamento de matérias-primas e o escoamento dos produtos fabricados, tornam previlegiada a localização das instalações fabris.

Entrou em laboração no 2.º semestre de 1953, tendo, então, uma capacidade de produção de 114 t/dia de pasta de madeira, 100 t/dia de papel e 50 t/dia de cartão canelado. Essas capacidades de produção são hoje de, respectivamente, 500 t/dia de pasta, 150 t/dia de papel e 80 t/dia de cartão canelado.

Faz-se notar que as capacidades de produção de cartão canelado se referem a períodos de 14 horas úteis de trabalho.

Parte da pasta produzida é branqueada, tendo as / 30 / capacidades de branqueio, no período referido, passado de 100 para 350 t/dia.

Fabrica ainda, a Companhia Portuguesa de Celulose, sacos de papel e fita gomada, sendo a produção de, respectivamente, 12 t e 1 t em cada período de 8 horas.

Para além dos aumentos de produção acabados de referir, também a qualidade dos produtos fabricados atingiu tal nível, que não há dificuldade em exportar todas as pastas e papéis produzidos que não são absorvidos em consumo interno ou pelo mercado nacional.

 

2 - Fabrico

Todas as matérias-primas naturais utilizadas no fabrico de papel têm a característica comum de serem constituídas por fibras celulósicas, ligadas umas às outras por uma substância termoplástica, a lignina, que confere ao vegetal a sua rigidez.

Os diversos tratamentos papeleiros têm por fim:

– dissociar os aglomerados celulósicos ligados pela lignina, individualizando as fibras.

– aumentar a superfície das fibras assim libertadas e promover a sua associação de tal modo que formem uma folha.

A primeira finalidade atinge-se através dos processos de fabricação de pasta, e a segunda nas fábricas de papel.

 

2.1 - Fabrico de pasta

A dissociação dos aglomerados de fibra pode conseguir-se por meios meramente mecânicos, dando lugar à formação da chamada pasta mecânica, utilizada no fabrico de cartões e papéis que não exigem elevada resistência (papel de jornal, por exemplo); por meios em que a energia mecânica entra numa percentagem muito baixa, e em que se recorre quase exclusivamente à energia química, produzindo-se as chamadas pastas químicas; e, finalmente, por meios que utilizam tanto a energia mecânica como a química, em quantidades apreciáveis, de que resultam pastas designadas por semi-químicas.


Fornos de Cal e Centrifugação

Presentemente, em Cacia, fabricam-se exclusivamente pastas químicas pelo processo ao sulfato que produz pastas de grande resistência, as pastas «kraft» (em alemão, kraft significa força).

O fabrico de pasta envolve uma série de operações que, resumidamente, podem esquematizar-se do modo seguinte:

1) Preparação da madeira

2) Cozimento

3) Lavagem e depuração

4) Branqueamento

5) Tiragem da pasta

 

Subsidiariamente há ainda a considerar:

6) Preparação e recuperação da lexívia

7) Aproveitamento dos produtos resinosos

 

A madeira de eucalipto ou de pinho, que é recebida em toros de 1 a 2 m de comprimento e com diâmetro entre 6 e 30 cm, é levada a uma estação de descasque donde, já limpa, segue para os destroçadores. As aparas produzidas são divididas e classificadas por um crivo oscilante. Aquelas que têm dimensões apropriadas seguem para o fabrico; as demasiado grandes voltam aos destroçadores.


Fabrico de caixas

Para além da madeira em toros, utilizam-se também desperdícios de serração, que são reduzidos a aparas numa instalação própria, idêntica à já referida.

Assim preparada, a madeira é então cozida. O cozimento constitui a principal operação de fabrico e o seu fundamento químico assenta na acção sobre a madeira, de uma solução, onde predomina a soda cáustica e o sulfato de sódio (Iixívia branca).

O cozimento é feito em duas linhas de fabrico, sendo uma constituída por 4 digestores descontínuos de 85 m3 cada, e a outra, mais recente, por um digestor contínuo com lavagem incorporada, para uma capacidade nominal de 300 t/dia.

O cozimento, sob pressão, leva cerca de 4 horas e o aquecimento por meio de vapor é feito por via indirecta.

Após a cozedura, o conteúdo dos digestores é descarregado para tanques de maior volume, passando as aparas de uma pressão da ordem dos 8 kg/cm2 para a pressão atmosférica, o que provoca o seu desfibramento.

O vapor libertado nas descargas vai a um condensador de superfície, sendo o seu calor aproveitado para aquecer água. Também a terebentina da madeira, arrastada por esse vapor, é recuperada por condensação.

Dos tanques de descompressão a pasta é bombada para um sistema de lavadores, passando no seu trajecto / 31 / por crivos especiais que retiram os nós da madeira e as aparas não cozidas.

A classificação final da pasta é feita em crivos e depuradores centrífugos.

A lexívia separada na operação de lavagem, que é feita em circuito fechado e contra-corrente, é enviada a um conjunto de evaporadores, onde a sua concentração é elevada até cerca de 50% de sólidos, sendo depois queimada em caldeiras especiais (caldeiras de recuperação) a que voltaremos a referir-nos.

Para certos casos, é necessário submeter a pasta a um branqueio tendente a destruir as impurezas que acompanham a celulose, dando-lhe uma cor castanha.

Existem em Cacia duas instalações de branqueio de pastas, utilizando na primeira, a mais antiga, cloro, soda cáustica e hipoclorito de cálcio, e na segunda, cloro, soda cáustica e dióxido de cloro, e ainda hipoclorito de cálcio em alguns casos.

A introdução de dióxido de cloro como agente de branqueio permite fabricar pastas com muito elevado grau de brancura, mantendo as suas características de resistência a bom nível.

Quer a pasta branca, quer a pasta crua (assim é designada a pasta não branqueada) podem ser enviadas em suspensão para a instalação de fabrico de papel, ou secas, cortadas em folhas e enfardadas.

As pastas cruas não enviadas para a fábrica de papel são prensadas até ficarem com 95% de humidade, cortadas em folhas e enfardadas, e enviadas depois para um local de recolha, sendo todas estas operações altamente automatizadas.

As pastas branqueadas, antes de sofrerem as operações referidas para as pastas cruas, são novamente depuradas e submetidas, após a prensagem, a um processo de aquecimento, que permite tirá-Ias apenas com cerca de 10% de humidade.

Quando nos referimos à operação da lavagem de pasta, escrevemos que a lixívia separada era concentrada e queimada em caldeiras de recuperação. A esta lixívia dá-se o nome de lixívia negra e não é senão a lixívia branca utilizada no cozimento, depois de ter dissolvido os elementos não celulósicos da madeira. A matéria orgânica dissolvida é utilizada como combustível nas caldeiras de recuperação, produzindo quantidade muito apreciável de vapor, e as substâncias inorgânicas, que fundem, caem no fundo da fornalha e escorrem para um tanque, onde são diluídas.

Antes de se proceder à queima da lixívia negra, adiciona-se-Ihe sulfato de sódio em pó (daí o nome do processo – processo ao sulfato –), para assim compensar as perdas em sulfureto de sódio que sempre se verificam.


Máquinas de Papel

/ 32 / A solução de cinzas fundidas, a que se dá o nome de lixívia verde, é essencialmente constituída por carbonato de sódio e sulfureto de Sódio.

A composição da lixívia verde é ainda diferente da da lixívia branca utilizada no fabrico, em cuja composição, como dissemos, entra fundamentalmente a soda cáustica e o sulfureto de sódio. Torna-se necessário, portanto, transformar o carbonato de sódio da lixívia verde em soda cáustica, o que se consegue pela adição de cal apagada.

Para produzir cal necessária existem em Cacia duas instalações de caustificação, constituídas por fornos de cal rotativos, extintores de cal, clarificadores, lavadores, tanques de armazenamento, etc.

Quando se faz a adição de cal apagada à lixívia verde, forma-se soda cáustica, como dissemos, e precipita carbonato de cálcio. Estas lamas de carbonato de cálcio são recuperadas e, após lavagem, introduzidas no forno de cal juntamente com algum calcáreo britado, destinado a compensar perdas que sempre se verificam, sendo aí novamente transformadas em óxido de cálcio.

A água da lavagem das lamas do carbonato de cálcio é utilizada na diluição das cinzas fundidas das caldeiras de recuperação.

Para além da recuperação acabada de referir, faz-se ainda um aproveitamento de produtos resinosos. A espuma da lixívia negra é essencialmente um sabão de resina. Tratada pelo ácido sulfúrico, dá origem a uma mistura de ácidos resínicos e ácidos gordos, o «tall-oil», utilizável em certas indústrias, como por exemplo as de vernizes, plásticos, etc.

 

2.2 - Fabrico de papel

A fábrica de papel de Cacia, que produz principalmente papéis para cartão canelado, sacos e saquetas e ainda outros papéis de embalagem, compreende 4 sectores diferenciados, a saber:

 

a) Preparação de pastas

b) Máquina de papel

c) Acabamento

d) Armazém

 

A pasta, quando recebida em fardos, tem de ser desfibrada para se transformar numa suspensão em que as fibras estejam, tanto quanto possível, individualizadas.

Esta operação é levada a efeito em dois desfibradores, cuja capacidade pode ir até cerca de 10 t/hora.

Uma vez desfibrada, a pasta é tratada em aparelhos designados por despastilhadores, destinados a completar o processo de desfibração, e daí vai aos refinadores, que tendem a aumentar a superfície das fibras, transformando cada fibra num feixe de fibrilas que, / 33 / absorvendo água, aumentam de volume, tornando-se flexíveis e gelatinizando-se parcialmente. Também os refinadores são utilizados para cortar as fibras, quando estas são demasiadamente longas.

A pasta assim tratada é depois depurada em crivos rotativos e em depuradores centrífugos, seguindo daí para a máquina de papel, após a adição de quantidade considerável de água, que é retirada durante o processo de fabrico de papel.

Essa suspensão muito diluída entra numa caixa em que se mantém uma altura de líquido variável com a velocidade que se pratica e que tem uma saída inferior de abertura regulável, que permite que se deposite sobre uma tela metálica sem-fim e a toda a sua largura, um caudal constante.

Essa tela sem-fim, de malha aberta, que na máquina de Cacia tem uma largura de cerca de 4,70 m e um comprimento de 30 m, é mantida em movimento por um cilindro aspirante e apoiada sobre rolos cobertos de borracha e caixas aspirantes.

A água, por gravidade e pela aspiração provocada pelos rolos, caixas aspirantes e pelo referido cilindro aspirante, vai-se escoando à medida que a tela se vai deslocando.

Atingido o extremo da tela metálica, a folha de papel já formada, embora ainda com uma elevada percentagem de água, é depositada sucessivamente sobre três feltros de lã, passada através de três prensas e posta depois em contacto com 41 cilindros secadores de 1,5 cm de diâmetro, aquecidos com vapor.

Passa finalmente através de uma calandra e é enrolada em volta de um veio metálico.

A máquina de papel de Cacia, embora montada há já 15 anos, é ainda a máquina de maior capacidade de produção existente no nosso país, podendo produzir papel com uma largura de 4,40 cm, à velocidade de 440 m/min.

Uma vez fabricado, o papel segue para a secção de acabamento, onde é cortado em bobines com as medidas desejadas que, embaladas ou não, seguem para armazém. Daí, ou é expedido em bobines ou segue para uma das duas cortadoras existentes, para ser cortado em folhas e enresmado ou enfardado.

 

2.3 - Fabrico de cartão canelado

O cartão canelado, material básico para o fabrico de caixas para embalagem, é fabricado em Cacia numa máquina com 2,20 m de largura, capaz de atingir uma velocidade de 200 m/min.

Uma vez formada, a prancha vai a um conjunto de cinco máquinas ranhuradoras – vincadoras – impressoras, de características e possibilidades diferentes, sendo possível imprimir a três cores.

Dessas cinco máquinas, a mais aperfeiçoada / 34 / permite a colagem da patilha das caixas e é capaz de uma produção de 18000 caixas/hora.

A fixação da patilha nas caixas não fabricadas nesta máquina é feita por agrafagem.

 

3 - Produção de vapor e energia

O vapor, produzido a uma pressão de 63 kg/cm3 e a 4250 C, é gerado, como já referimos, por duas caldeiras de recuperação, que são capazes de uma vaporização de 75 t/h, e por duas caldeiras a «fuel-oil», que podem produzir 70 t/h. Uma terceira caldeira para 100 t/h será montada brevemente.

O consumo anual de fuel-oil anda pelas 55000 toneladas.

A energia eléctrica é gerada por dois grupos turbo-gerados, com uma potência de 13125 kW, um de condensação com duas extracções e outro de contrapressão. Um terceiro grupo de 22 700 kW, já adquirido, será montado dentro de pouco tempo.

 

4 - Água

A água para o fabrico é bombada do rio Vouga, consumindo-se cerca de 1000 I/s na plena produção da Fábrica.

 

5 - Alguns dados com interesse

Para se avaliar do grau de importância desta unidade fabril no distrito e na própria Economia Nacional, anotamos alguns números que nos parecem elucidativos:

Pessoal que presta serviço na Empresa

– cerca de 1 500 trabalhadores

Ordenados e salários

– cerca de 60000 contos/ano (inclui cerca de 9000 contos de encargos sociais)

Encargos com a política social da Empresa

– cerca de 4300 contos/ano

Imposto de Comércio e indústria

(Câmara de Aveiro)

– cerca de 4000 contos/ano

Pasta exportada pelo porto de Aveiro no primeiro semestre de 1969

– cerca de 32 000 toneladas

N.º de refeições (almoços e jantares) servidos na Cantina da Empresa em 1968

– cerca de 273 000

 

 

páginas 29 a 34

Menu de opções

Página anterior

Página seguinte