Pelourinho da Vila de Arouca
(reconstituição)
SUA ORIGEM
O actual
concelho de Arouca resultou da anexação ao velho Couto de Arouca
do concelho de Vila Meã do Burgo, constituído por um enclave
dentro da freguesia do Salvador, a quem a Rainha Santa Mafalda deu
carta de Foral em Maio de 1229, tendo os seus habitantes, em 18 de
Fevereiro de 1817, exposto a Sua Majestade a pobreza do mesmo, que
por Provisão de 15 de Dezembro do mesmo ano era anexado ao Couto
de Arouca; do antigo concelho de Fermedo, da Terra de Santa Maria,
extinto e anexado a Arouca por Decreto de 24 de Outubro de 1855;
do antigo concelho de Alvarenga, extinto e anexado a Arouca por
Decreto de 26 de Outubro de 1836 e da freguesia de Covelo de Paivó,
do concelho de S. Pedro do Sul, anexada pela Lei n.º 653 de 16 de
Fevereiro de 1917.
AROUCA - Alto da Serra da Freita
- Uma adua de gado
O concelho de
Arouca tem 20 freguesias: Nossa Senhora da Assunção de Albergaria
das Cabras, outrora a melhor Albergaria da Serra, S. Pedro, com a
Igreja do Mosteiro de Santa Maria, da Ordem de S. Bernardo, por
matriz, que Clemente XII, em 8 de Março de 1737, autorizou mudar
para a Capela de S. Bartolomeu, ficando este seu orago, e por
Decreto de 31 de Dezembro de 1845, publicado em 6 de Janeiro,
desdobrada em freguesias de S. Bartolomeu e de Santo Estêvão de
Moldes, do Salvador, de S. Mamede de Cabreiros, de Santa Eulália
de Mérida, de S. Miguel de Urrô, do Salvador de Várzea e da sua
anexa Santa Eulália de Chave, de Santa Marinha de Tropeço, de
Nossa Senhora da Conceição de Roças; de Santa Cruz de Alvarenga,
de S. Miguel de Canelas, de S. Barnabé de Janarde e de S. Martinho
da Espiunca (que no século XVI pertencia às terras de Paiva); de
Santa Cristina de Mançores, de Santo André de Escariz, de Nossa
Senhora da Expectação de Fermedo e de S. Pedro de Covelo de Paivó.
A freguesia de Salvador de Várzea era Comenda da Ordem de Cristo e
a de Nossa Senhora da Conceição de Roças, Comenda da Ordem de
Malta.
MONUMENTOS NACIONAIS
Por Decreto de
16 de Junho de 1910 foram considerados Monumentos Nacionais:
Mosteiro de Arouca e túmulo da Rainha Santa Mafalda, Memorial de
Santo António, junto da Vila do Burgo, Pelourinho de Arouca
(fragmentos), pelourinho de Cabeçais, e Pelourinho de
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Trancoso; pelo Decreto n.º 37077, o Calvário de Arouca, pelo
Decreto n.º 38491, a Igreja de S. Miguel de Urrô com a sua Torre
Sineira e pelo Decreto n.º 42255 foi considerado imóvel de
interesse público a Capela da Santa Casa da Misericórdia.
O Monumento
Nacional mais antigo é o Memorial de Santo António, junto da Vila
do Burgo, também chamado Arco da Rainha Santa, por a lenda o ligar
à vinda da Rainha Santa Mafalda, depois de morta, de Rio Tinto
para o seu Mosteiro, lenda representada pictoricamente no coro do
Mosteiro, em 1725, quando ele é do século XII; deve ser um
monumento tumular de qualquer «tenente» de Arouca, possivelmente
Mónio Rodrigues, ou de sua mãe Toda Viegas.
COUTO DE AROUCA
O velho Couto
de Arouca foi uma das seis paróquias da diocese de Lamego,
presente no concílio de Lugo, realizado entre os anos 572 e 582,
com o nome de Atavoca, Auroca e Auraca, que deu Arauqua, Arauca e
Arouca; a tradição relata uma questão havida entre o Bispo de
Lamego e os filhos do Senhor de Moldes, por causa desses
territórios, que em 716, por composição, foram entregues à Igreja,
para neles se fundar um Mosteiro, dúplice, da invocação de S.
Cosme e S. Damião; este Mosteiro deixou de ser dúplice por a sua
padroeira, Toda Viegas, ter feito doação dele à «abadessa Elvira
João e a todas as suas irmãs e às que para o futuro fossem», a 7
das calendas de Janeiro era 1192 (26 de Dezembro de 1153), na
Ordem de S. Bento, mas D. Paio, Bispo de Lamego, em 1224,
autorizou D. Mafalda a mudar para a Ordem de S. Bernardo, que era
mais austera, mudança aprovada por Bula de Honório 111 de 6 de
Junho de 1224 e confirmada por Inocêncio IV por Bula de 8 de
Agosto de 1246.
Em 7 de
Setembro de 951 os Senhores da Anégia, Dom Ansur e Dona Ejeuva,
coutaram a este Mosteiro um largo território, passando a ter por
padroeiros S. Pedro, S. Paulo, S. Cosme e S. Damião. Couto
alargado por doações de D. Afonso Henriques em Abril de 1132 e
Janeiro de 1143, tendo D. Afonso III, em 20 de Outubro de 1257,
estabelecido definitivamente o Couto. Todos os Mosteiros da Ordem
Cisterciense foram dedicados à Virgem, o de Arouca tomou por
padroeira Nossa Senhora da Assunção.
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AROUCA - Rainha Santa Mafalda
RAINHA SANTA MAFALDA
A Rainha Santa
Mafalda recolheu ao seu Mosteiro, que lhe tinha sido deixado por seu
pai, em 1217 e faleceu, em Arouca, em 1 de Maio de 1256 e
beatificada por Pio VI em 27 de Julho de 1792; os direitos do seu
Mosteiro foram confirmados por todos os reis às abadessas e D.
Manuel, em 8 de Julho de 1515, isentou o Couto de Arouca das
correições que os Corregedores eram obrigados a fazer.
O corpo da Rainha
Santa Mafalda esteve num túmulo de madeira e passados anos, mudado
para um de pedra, ainda existente, no qual as freiras mandaram
pintar a Cruz de Avis e as palavras de consagração; aberto o túmulo
em 1616 pelas freiras, estas disseram que «acharam o corpo da Santa
Rainha como pessoa que estava dormindo, o rosto composto e as mais
partes do corpo inteiras, ainda que a carne se via um tanto
mirrada»; novamente aberto por mandado do Bispo de Lamego, Dom
Martim Afonso de Mexia, em 1617 e em 7 de Agosto transferido para o
corpo da Igreja, ficando assim até 1645, ano em que foi elevado e
colocado em altar fixo, para se poder rezar missa, mas como em 1704
a Igreja se arruinou, em 30 de Maio, foi o seu corpo trasladado para
o lado direito do coro, junto das grades que o separa da Igreja e em
20 de Outubro de 1718 solenemente mudado para o seu altar; novamente
aberto em 1749, dele foram tiradas relíquias autenticadas pelo
Provisor de Lamego, Dr. José de Basto e Cunha.
Em 16 de Junho de
1793, os restos mortais da Rainha Santa Mafalda foram trasladados,
novamente, para uma urna de ébano e prata, que custou 3359$385 réis,
estando presentes o Bispo de Lamego, Cónegos, Câmara de Lamego e os
Dons Abades dos Mosteiros da Ordem, tropa do Porto e o Corregedor
Almada, para manter a ordem, a quem as freiras deram uma bengala com
castão de ouro, iniciando-se assim uma semana de festas, que
importaram em 28795$435 réis.
MOSTEIRO
O actual Mosteiro
é formado por quatro corpos, sendo o seu interior dividido em duas
partes pelo antigo refeitório, que liga a ala nascente com a ala
poente, formando a do norte o claustro e a do sul o Pátio, onde se
faziam as festas dos abadessados; a sua ala poente é a mais antiga,
datada de 1692, tendo-se a ala norte, em cujo topo estava a igreja,
arruinada em 1704, mas novamente projectada pelo arquitecto maltês
Carlos Gimac.
Este Mosteiro foi
vítima de quatro incêndios: o primeiro em 12... (?), ainda em vida
de Santa Mafalda, o segundo em 1550, que deram motivo a dois quadros
existentes no coro de 1720, o terceiro pelas 22 horas de 22 de
Fevereiro de 1725, que destruiu a ala sul e o último pelas 23 horas
de 19 de Outubro de 1935, destruindo parte das alas sul e nascente.
Anexo ao Mosteiro
foi organizado o Museu de Arte Sacra com as peças, quadros, imagens,
livros e paramentos que lhe pertenciam; entre os quadros
encontram-se alguns primitivos, os de Diogo Teixeira e os dos
continuadores dos pintores de Viseu; entre as imagens a de S. Pedro,
da escola do mestre João Afonso, que é considerada a mais harmoniosa
e característica escultura do século XV que existe em Portugal; a
sua colecção de livros de coro mereceu a Solange Corbin a
apreciação: «c'est l’ensemble
le plus riche de livres anciens que nous connessions au Portugal»
e entre outros livros acha-se um exemplar do Breviário Bracarense, o
primeiro livro impresso em latim em Portugal, em Braga a 12 de
Dezembro de 1494 e o VoI. IV da Vita Christi, impresso em 1495.
As estátuas do
coro constituem o melhor grupo barroco e feitas em 1725 pelo
escultor Jacinto Vieira, de Braga.
FORAIS
O concelho de
Arouca teve Foral Novo dado por D. Manuel em 20 de Dezembro de 1513;
o concelho de Alvarenga teve Foral Novo dado por D. Manuel em / 8 /
2 de Maio de 1514 e a freguesia de Espiunca favoreceu do Foral Novo
de Paiva dado por D. Manuel em 1 de Dezembro de 1513; o concelho de
Fermedo teve Foral Velho dado por D. Afonso III em 1275 e Foral Novo
dado por D. Manuel em 27 de Setembro de 1514, sendo primitivamente
honra dos Duques de Aveirom passado depois para os Condes da Feira e
destes, por troca, para os Peixotos, do Porto.
Calvário de Arouca
«TENENTES»
Do Território de
Arouca foram tenentes ou governadores: em 1060, Garcia Moniz; em
1080, Egas Ermiges; em 1085, Gavino Froilas; em 1093, Martim Moniz,
antigo governador de Coimbra, após a morte do seu sogro D. Sisnando;
em 1097, Egas Gosendes; em 1104, Mem Moniz e em 1112 seu irmão Egas
Moniz, o Aio; em 1105, D. Gontina Eriz e em 1115, Mónio Rodrigues,
todos da geração dos Gascos.
Do Território
Alvarenga foram tenentes; na primeira metade do século X, Froila
Absalónis, na segunda metade do século XI, Gavino Froilas, na
primeira metade do século XII, Egas Moniz, o Aio, e na segunda
metade seu filho, Moço Viegas, que deu origem à família Alvarenga.
O concelho de
Arouca, a quem foi dado o nome de Beira-Minho, tem vários vales e
sobre o de Arouca, Alexandre Herculano escreveu: /.../ «Ermida
de Santa Marinha sobre uma eminência em frente. Torneia-se o monte e
começa a descida para o Vale de Arouca. A encosta e o vale igualam
em beleza a Sintra e excedem-na na vastidão; a estrada segue por uma
légua debaixo de árvores cerradas ou de pequenos campos criados de
árvores e videiras e ouvindo-se a espaços o cair das levadas que
atravessam o caminho ou o ladeiam», que o tornam essencialmente
agrícola, necessitando que os montes se tornem essencialmente
florestais.»
As serras que
envolvem Arouca, Montemuro e Freita, já mereceram a atenção de Abel
Botelho e Ramalho Ortigão. |