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N.º 2

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1966 

 

Albergaria-a-Velha e o seu Concelho

 

Pelo Dr. Flausino Fernandes Correia

Médico e Presidente da
Câmara Municipal do concelho de Albergaria-a-Velha

 

Albergaria dos pobres e passageiros da Rainha D. Teresa...

Assim começa a inscrição da lápide actualmente existente nos Paços do Concelho de Albergaria-a-Velha, mandada colocar no Hospital por Acórdão da Relação de Lisboa, de 27 de Maio de 1629. Este acórdão identifica, definitivamente, o Couto de Osselôa (hoje Assilhó), instituído por D. Teresa a Gonçalo Eriz em 1155, com a obrigação de tratar dos pobres e passageiros.

A Carta do Couto de Osselôa é considerado o primeiro documento em que Portugal figura com o título de reino e «constitui a certidão de nascimento e de batismo de Albergaria-a-Velha, como afirma o saudoso Dr. António de Pinho, erudito autor da melhor monografia existente sobre esta Vila e o seu concelho.

Albergaria nasceu, assim, sob o signo da Caridade. O seu brasão, aprovado em 27 de Março de 1961, com as suas oito rosas de oiro e a cruz das armas de D. Teresa, bem simboliza a nobreza e a generosidade com que eram recebidos os passageiros e os doentes.

O seu concelho foi criado em 1834 e era constituído por três freguesias. Hoje é constituído por oito freguesias.

Situado onde a Serra acaba e a Planície começa, o concelho de Albergaria mantém, por isso, um lugar de passagem obrigatória da Serra para o Mar. Nele se cruzam as estradas de Viseu a Aveiro e do Porto a Lisboa. E é servido pelo caminho-de-ferro do Vale do Vouga, de Viseu a Espinho.

Por isso, dificilmente se encontra Vila com melhores vias de acesso e com mais facilidades de deslocação dentro do Distrito e da Beira-Litoral.

À sua privilegiada situação se deve uma modelar indústria hoteleira que aqui atrai inúmeros forasteiros durante todo o ano.

A dois passos de todas as praias do Distrito, é fácil aos habitantes de Albergaria frequentar a praia e dormir em casa. A quem preferir o panorama serrano, facilmente se desloca ao Arestal, às Talhadas, ao Caramulo, ao Buçaco.

A meia distância entre Porto e Coimbra, a deslocação a qualquer destas cidades faz-se em 50 minutos.

   
 

Lápide actualmente existente nos Paços do Concelho de Albergaria-a-Velha.

 

Esta invejável situação permite que, em dias de mercado, aqui se dirijam comerciantes de várias procedências e que a praça de Albergaria, aos sábados, seja das mais concorridas do Distrito.

A principal fonte de receita deste concelho é, ainda, a exploração agrícola, sobretudo da área florestal, que é considerável.

Mais de dois terços da superfície do concelho estão cobertos de pinheiros e eucaliptos. É considerado o concelho do país mais rico em eucaliptos.

O seu desenvolvimento industrial é notável, sobretudo no ramo metalúrgico, de celulose e de papel.

Este concelho não é rico em monumentos históricos, como aliás acontece em grande parte das terras da Beira-Litoral: sem granito, o material de construção dos seus monumentos não resiste ao tempo. É, no entanto, digna de visita a Igreja da Vila, construída em fins do século XVII, com a sua notável obra de talha.

O monte da Senhora do Socorro, a norte da sede do concelho, a antiga Pedra de Águia a / 30 / que se refere a Carta do Couto, é local de peregrinação de terras próximas e afastadas, como não há outro por esta região. Dali se desfruta um panorama deslumbrante, para a Serra e para o Mar.

O concelho de Albergaria, situado no centro do Distrito de Aveiro, banhado pela água do Caima e do Vouga, é região rica de paisagens e de fácil acesso. As poéticas margens do Vouga, desde a Foz do Rio Mau à Pateira de Frossos e campos de Angeja, são locais dos mais pitorescos, pela variedade de paisagem, conforme as estações do ano.

Pela sua situação e pelos atractivos naturais de que é dotado, o concelho de Albergaria deverá ocupar, de futuro, um lugar de destaque na Beira-Litoral. Oxalá que os seus habitantes e os Poderes Públicos saibam aproveitar-se destes predicados para promover o progresso desta Região, que nem sempre terá sido convenientemente lembrada.

 

páginas 29 e 30

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