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Uma embarcação
motorizada é condição essencial para os caçadores se
transportarem velozmente aos locais da Ria onde se encontra a
caça. |
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Quanto mais analisamos as condições
naturais de Aveiro e da sua maravilhosa região, mais nos convencemos
de que isso constitui um dos maiores potenciais turísticos do País.
Do ponto de vista cinegético reúne tudo quanto se possa imaginar de
melhor para o exercício do salutar desporto da caça, em especial das
espécies aquáticas.
Um dia de caça na Ria de Aveiro é um
dia inesquecível. A paisagem singular e grandiosa, o espectáculo da
imensa laguna, a abundância de caça e a deliciosa liberdade do ar
livre, são um conjunto de predicados difíceis de se encontrar em
qualquer outro ponto da Europa, até porque durante a época venatória
a Ria adquire as suas melhores condições climáticas, principalmente com o desaparecimento dos ventos
predominantes.
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Na esteira da
lancha fica a ilha de Monte Farinha, onde a caça é muito
abundante. |
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Diz um nosso amigo, apaixonado da
Ria e devoto de Santo Huberto, que pode ali passar-se um dia sem se
ter uma peça de caça a tiro, mas basta assistir-se ao espectáculo da
movimentação dos grandes bandos de lavancos, negras e alfanados,
para dar esse dia por bem empregado. Concordamos com esta opinião
porque toda a região lacustre, onde em plena época de caça poucos
tiros se ouvem, parece, pela riqueza da sua fauna, uma imensa
reserva de caça.
A par de variadíssimas espécies de
patos bravos, são numerosas as garças e garçotes, os maçaricos
reais, as aves de rapina, galinholas e narcejas, galispos,
tarambolas, galeirões e
/ 32 / vêem-se também abetardas e cegonhas.
Nos milheirais ribeirinhos é abundante a codorniz.
O «sossego» de tiros a que aludimos
deve-se ao facto de ser pouco acessível o exercício da caça sobre a
água ou nas numerosas ilhotas. Em terra firma isso já não se
observa, e aí acorrem os caçadores, mas sem as possibilidades
daqueles que possam movimentar-se através dos grandes lençóis
lacustres e dos esteiros, até aos recônditos da região lagunar.
FONTE DE ECONOMIA
A caça sobre a água, à procura dos
grandes bandos, ou de espera, a coberto da vegetação marginal ou
insular, requer embarcação apropriada, veloz, e outros requisitos
que não são comuns. Pode dizer-se, portanto, que esse desporto,
assim praticado, é quase, ainda, um privilégio de poucos, embora um
desejo de muitos, quer caçadores nacionais quer estrangeiros.
Sabemos de um grupo de turistas
escandinavos que o ano passado visitaram a Ria na época de caça, por
acaso, para tomar conhecimento com toda a sua beleza. As
excepcionais condições cinegéticas que então se lhes depararam,
deixaram-nos absolutamente surpreendidos e comentaram, com razão,
que isso significava uma riqueza desperdiçada.
A caça lacustre pode ser, de facto,
uma fonte de economia e uma atracção de visitantes à região de
Aveiro, e para dar o pontapé de saída basta apenas que um
empresário, ou o próprio órgão local de turismo, lhes facultem os
meios, mediante retribuição apropriada, para usufruírem o prazer da
cinegética na incomensurável beleza da Ria. O filão encontra-se
à vista, está descoberto, mas o que importa é saber explorá-lo com
inteligência.
Com simplicidade de projecto e de
materiais deveria instalar-se, numa das numerosas ilhotas da Ria, um
abrigo de caçadores, com uma dezena de quartos, sala de refeições,
bar, uma ponte-cais e uma pequena flotilha de embarcações
motorizadas; não faltaria um grupo de guias de caça facilmente
recrutados entre o povo ribeirinho, homens que conhecem a laguna e
os seus tentáculos como os dedos das suas mãos.
Caçadores nacionais e estrangeiros
que anseiam por caçar na Ria, mas aí não dispõem de barco motorizado
próprio, não conhecem os locais de caça nem sabem de quem lhes possa
servir de guia, encontrariam, assim, solucionado o seu problema, e
até de uma forma mais económica e prática do que a de adquirir um
barco, andar com ele a reboque do automóvel ou deixá-lo em qualquer
ponto da laguna e ter de pagar a quem o guarde e cuide dele.
Em numerosas regiões do mundo, nem
todas com as mesmas condições da singular e formosa região
aveirense, este sistema de apoio aos caçadores encontra-se em
prática há muitíssimos anos, com o melhor resultado, sob todos os
aspectos, mas especialmente o turístico.
Quantas vezes, nas nossas digressões
pela Ria, ao desembarcar numa dessas ilhotas perdidas, cheias de
pitoresco, onde se aspira gulosamente o ar salino e iodado, e onde o
sol é mais radioso, temos sonhado o que seria ali o abrigo de um
ligeiro tecto e uma paisagística varanda em que se pudesse saborear
uma frugal refeição. Quanta beleza perdida e quanta comodidade e
economia desaproveitadas!
RESERVA DE BELEZA NATURAL
A Ria, a exemplo de uma sugestão que
há tempo demos, na Imprensa diária, para a Ribeira Lima, devia ser
considerada como «reserva de beleza natural», não se permitindo,
assim, que a sua paisagem fosse conspurcada, que em nada se
alterasse a natureza nem fossem desvirtuados os seus valores
etnográficos. Tudo quanto a mão do homem aí criasse não poderia
desafeiçoar, em nenhum pormenor, o «clima» dessa maravilhosa e vasta
zona lacustre. Só assim o seu potencial turístico seria
vantajosamente explorado, e então a caça representaria para todas as
localidades ribeirinhas, mas especialmente para a cidade de Aveiro,
um dos seus grandes factores económicos.
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Neste ponto do Rio
Novo do Príncipe vê-se um barco, transportado a reboque do
automóvel, para um dia de caça na Ria de Aveiro. |
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O turismo, matéria impalpável, um
todo feito de pequenos nadas, tem encontrado dificuldades em se
fazer acreditar como sólido factor de economia. As suas razões
dispersas, só em países muito evolucionados, do ponto de vista
turístico, são habilmente exploradas. Nós, Portugueses, estamos
ainda encarando o turismo unicamente sob o seu aspecto climático, e
daí o nosso apetrechamento ter-se realizado apenas nas estâncias
balneares da beira-mar, sobretudo nas meridionais. Por algum lado,
aliás, se tinha de começar, mas é tempo de observarmos que outros
motivos existem para fomentar turismo, e Portugal é deles
milionário.
Aveiro e a sua região podem
considerar-se, sem sombra de dúvida, um somatório de raros
requisitos para o exercício do turismo, e a cinegética, insistimos,
é entre eles um dos mais importantes, até porque um desenvolvido
programa de caça poderia colmatar, turisticamente, a grande brecha
provocada pela «época morta», comum, de resto, a quase todas as
regiões do País, onde o turismo vive apenas durante o verão.
O tempo se encarregará de nos dar
razão no assunto aqui exposto, mas preferível seria, releve-se-nos a
liberdade da imagem, que os homens se antecipassem ao tempo e
tomassem como lema o conhecido axioma: «não deixes para amanhã o que
possas fazer hoje». |