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N.º 2

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1966 

 

O Porto de Aveiro e a sua influência no crescimento económico da região

Pelo Dr. Álvaro Sampaio

Professor do Liceu Nacional de Aveiro,
antigo Presidente da Câmara Municipal de Aveiro

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VIII

   
 

Casa dos Pilotos.

 

O porto exterior foi um meio e não um fim. É certo que a abertura da barra favoreceu a / 17 / indústria da pesca na ria e incrementou a indústria salineira, mas o objectivo principal era e é o porto interior, o seu complemento lógico. Através deste é que se fará o crescimento económico da região.

O porto interior, ainda por completar, abrange as seguintes zonas de exploração e expansão:

a) O porto bacalhoeiro, situado na Gafanha, concelho de Ílhavo, está equipado com pequenas pontes-cais, uma báscula, instalações de secagem, armazéns, escritórios e instalações de frio. A rua do cais foi pavimentada a cubos de granito e toda a zona do porto devidamente electrificada. Está projectada uma bacia de hibernação que se prolonga até à E. N. 109-7.

b) O porto de pesca costeira e de arrasto, localizado nas Pirâmides, junto da cidade, concelho de Aveiro, dispõe de uma lota coberta, cais de descarga de peixe, armazéns públicos e particulares, instalações frigoríficas, água canalizada, luz eléctrica, estendal de redes, caldeiras de encasque, instalações para o pessoal da Capitania, da Guarda Fiscal e da Junta Autónoma e, nas proximidades, um edifício destinado às instalações sociais – «Casa dos Pescadores», festivamente inaugurada no dia 17 de Novembro do corrente ano, com a assistência dos Srs. Ministros da Marinha e das Corporações e Previdência Social.

 

 
 

Vista aérea do porto bacalhoeiro. Foto cedida pelo jornal "Correio do Vouga".

 

Muito antes de construída a lota e o cais acostável, eram as Pirâmides o local livremente escolhido pelos mestres das traineiras para venda do peixe. Às vezes eram tantas as embarcações que estas estendiam-se ao longo do cais do canal central até ao Rossio! Com a mareta, as traineiras arrombavam o muro do cais que a Junta acabava por mandar reparar. Ninguém, oficialmente, lhes marcou sítio. As traineiras afluíram ali espontaneamente para transaccionarem o pescado junto do aglomerado urbano. Por isso não percebemos por que se condena agora a situação do porto de pesca costeira, argumentando-se que está distante da barra. E quando as traineiras, livremente, vinham às Pirâmides?

Ora, às traineiras e aos arrastões que pescam nas imediações da costa de Aveiro fica-lhes mais perto entrar no nosso porto do que ir a Matosinhos ou à Figueira. Ou não será assim?

A lota foi inaugurada em 1959 e só passados seis anos é que descobriram que ficava longe da barra!

De 1960 a 1964, a média do rendimento da pesca costeira foi da ordem dos 25.600 contos; em 1965 baixou para 16.670, e foi então que se verificou que a lota estava nos confins do mundo!

É certo que a camionagem resolve tudo, mesmo que a lota ficasse no Forte; mas temos sérias dúvidas sobre se o transporte por terra será mais económico do que o transporte fluvial. Há ainda que contar com o transporte do pessoal da Capitania, da Guarda-Fiscal e da Junta.

O que acontece, por vezes, é num dia haver muita abundância de peixe e, no dia imediato, o mercado estar saturado e não haver compradores para o peixe que aflui à lota. O reduzido número de fábricas de conserva em Aveiro, apenas três, também concorre para esta situação. Outras vezes, a sardinha desvia-se para o Norte ou para o Sul e deixa de aparecer na costa de Aveiro sem dizer quando regressará...

Compreendemos até certo ponto, que os mestres das traineiras que não são de Aveiro prefiram as suas terras onde têm casa e família; mas não aceitamos o argumento da distância. O que há, e todos sabem, é uma propaganda surda contra o porto.

c) O porto industrial, situado na Mó do Meio, concelho de Ílhavo, quase defronte de S. Jacinto, possui reservatórios metálicos para petróleo da «Sacor», um terminal para a exportação de vinho a granel e um armazém particular, destinado à exportação de aguarrás.

Prevê-se que o porto industrial tome grande desenvolvimento no futuro.

d) O porto comercial, localizado na margem esquerda da Cale da Vila, concelho de Aveiro, na antiga estrada Aveiro-Barra, um pouco antes da velha ponte de madeira da Gafanha, demolida em 1961, compreende um cais acostável, em vias de acabamento, com a extensão, por enquanto, de 240 metros, com fundos de – 8,00 m e terraplenos, que abrangerão uma área de cerca de 12900 m2. O cais disporá de cabeços de amarração, escadas metálicas, argolas, arganéus e uma galeria no sentido longitudinal, destinada à instalação de cabos eléctricos e de condutas de abastecimento dos navios atracados.

As diferentes secções do porto não interferem entre si. Duas ficam no concelho de Ilhavo e duas no concelho de Aveiro.

Há ainda a considerar mais de uma centena de pequenos portos ao longo dos 50 Km / 18 / de comprimento por 9 na máxima largura da Ria onde se faz um tráfego de certa importância. Estes portos compreendem: cais rudimentares, ancoradouros, ribeiras, malhadas, motas e folsas. O valor anual deste comércio foi avaliado, em 1934, em mais de 31.000 contos; a tonelagem, segundo o inquérito levado a efeito naquele ano pelo Sr. Eng.º Coutinho de Lima, então Director do porto, não era inferior a 950.000 T.

O transporte das mercadorias, na laguna, é feito por meio de barcos de vários tipos.

Na capitania do porto estavam registados, em 1965: 600 moliceiros; 120 saleiros; 1 500 bateiras e 1199 caçadeiras.

Nas mercadorias transportadas figuram o sal, o junco, a bajunça, o moliço, o torrão, materiais de construção, adubos, produtos industriais e hortícolas. Além das mercadorias mencionadas há a acrescentar o transporte de passageiros (820.000 em 1957) e de animais vivos (6.000).

As variadas embarcações, desde o moliceiro à caçadeira, a mais pequena embarcação que sulca as águas da Ria, mantêm ligadas entre si as diversas povoações confinantes com as margens da laguna, desde Ovar a Mira, e servem assim uma população computada em 176.557 indivíduos.

Esta população ribeirinha está repartida por sete concelhos marginais como consta do seguinte quadro:

 

POPULAÇÃO E ÁREAS DOS CONCELHOS CONFINANTES COM A RIA NOS ANOS DE 1930 E 1960

 
 
Concelhos Área (Km2) População em 1930 População em 1960

Aveiro

Estarreja

Ílhavo

Mira

Murtosa

Ovar

Vagos

 

208

125

68

122

54

161

172

31.300

22.100

16.300

9.600

13.100

29.300

13.900

46.544

24.998

24.734

13.171

12.152

35.106

19.852

910

135.600

176.557

 

 

Além das funções especiais assinaladas para as diversas secções do porto, há ainda a mencionar as condições naturais da laguna que podem dar amplo refúgio e seguro abrigo à navegação.

Com uma área vastíssima, uma vez que existam fundos convenientes, a Ria pode receber milhares de navios.

Por isso, largas são as perspectivas que se abrem ao porto de Aveiro.

 

 

IX

Porto bacalhoeiro – A partir de 1951, como já referimos, a barra oferecia franco acesso à / 19 / laguna, de modo que os maiores navios bacalhoeiros, mesmo atestados de peixe, passaram a entrar livremente. Em virtude desta melhoria, a pesca longínqua desenvolveu-se e as empresas armadoras aumentaram o número de unidades. Em 1936, o número de bacalhoeiros registados no nosso porto era de 15, com 4.915 toneladas; em 1951, o total de barcos passou para 21 com uma tonelagem bruta de 12.281,15 e líquida de 7.802,00. O bacalhau pescado em 1932 atingiu o peso de 1.420 T e o valor de 2.860 contos; em 1951 subiu para 14.805 T com o valor monetário de 59.221 contos; no ano findo, a tonelagem atingiu 26 356 com o valor de 105.424.000$00. A realidade do porto de Aveiro aqui fica expressa nestes números como desmentido formal às críticas negativas.

 

 

 
 

Lota com traineiras. Foto cedida pelo jornal "Litoral".

 

 

O movimento expansivo da pesca longínqua é notável. Os dados estatísticos confirmam esta ascensão.

Nos últimos dez anos. os índices comparativos vão indicados no seguinte quadro:

 

MAPA COMPARATIVO DA TONELAGEM DE BACALHAU PESCADO E SEU VALOR MONETÁRIO

 
 

Anos

Tonelagem

Valor do bacalhau

1956

1957

1958

1959

1960

1961

1962

1963

1964

1965

23.944

23.890

19.833

17.191

21.557

22.157

23.066

 25.961

22.060

26.356

95.777.000$00

95.560.000$00

79.332.000$00

68.707.000$00

86.228.000$00

88.628.000$00

92.264.000$00

103.844.000$00

88.240.000$00

105.424.000$00

 

O valor monetário do bacalhau foi calculado na base de 4$00 por Kg., importância cobrada pela Alfândega para efeitos de despacho.

Em 1966 estavam registados na Capitania do porto de Aveiro 33 navios de pesca do bacalhau, número que, presentemente, coloca Aveiro como 1.º porto de pesca longínqua do País.

O número de navios bacalhoeiros registados na Capitania do porto de Aveiro de 1961 a 1966, foi o seguinte:

 
Anos Número de navios de bacalhau

1961

1962

1963

1964

1965

1966

27

26

27

25

26

33

 

Além destes navios há dois barcos que utilizam Aveiro como porto de armamento, embora tenham registo em Lisboa.

A indústria bacalhoeira, cuja importância cresce de ano para ano, é a principal fonte de riqueza da região. Valorizar esta riqueza é fazer política de realidades.

As unidades bacalhoeiras passaram a ser construídas de ferro e as acomodações para os tripulantes têm experimentado sensíveis progressos.

No quadro seguinte inserimos a relação nominal dos navios, em 1966, e as respectivas empresas. 

/ 20 /

RELAÇÃO NOMINAL DOS NAVIOS BACALHOEIROS REGISTADOS EM AVEIRO E DAS RESPECTIVAS EMPRESAS, EM 1966

 

NAVIOS

                  EMPRESAS

Arrastão Santa Joana

    »          Santa Princesa

    »          Santa Isabel

    »          Santa Cristina

    »          Santo André

    »          São Gonçalinho

    »          Alfusqueiro

    »          Santa Mafalda (a)

    »          Maria Teixeira Vilarinho

Navio-motor Cap. José Vilarinho

Lugre-motor Adélia Maria

Navio-motor Cap. João Vilarinho

           »         Conceição Vilarinho

Arrastão Cidade de Aveiro

           »          João Ferreira

Navio-motor Rio Antuã

Lugre-motor Luísa Ribau

Navio-motor Novos Mares

            »          São Jorge

            »          Inácio Cunha (b)

            »          Avé Maria

Arrastão António Pascoal

Navio-motor Rainha Santa

Lugre D. Dinis (c)

Navio-motor Vaz

Lugre-motor Brites (d)

Navio-motor Coimbra

            »        S. Jacinto

            »        Ilhavense

            »        Celeste Maria

            »        Vila do Conde

Lugre-motor Santa Maria Manuela

Arrastão Aguas Santas

Empresa de Pesca de Aveiro

»          »          »          »          »

»          »          »          »          »

»          »          »          »          »

»          »          »          »          »

»          »          »          »          »

»          »          »          »          »

»          »          »          »          »

»          José Maria Vilarinho, Ldª

»          »          »          »           »

»          »          »          »           »

»          João Maria Vilarinho, Sucrs

»          »          »          »            »

»          »          »          »            »

Indústria Aveirense de Pesca, Ldª

Soc. Gafanhense, Ldª

    »          »               »

Testa & Cunhas, Ldª

     »     »       »          »

     »     »       »          »

Empresa de Pesca Lavadores, Ldª

Pascoal & Filhos, Ldª

    »          »       »      »

    »          »       »      »

Brites Vaz & Irmão, Ldª

         »    »  »     »        »

Empresa de Pesca S. Jacinto, Sucrs.

»          »         »    »       »          »

Parceria Martins Esperança, Ldª

           »          »          »               »

Tavares, Mascarenhas, Neves & Vaz, Ldª

Empresa José Ribau

Armadores de Pesca do Bacalhau Reunidos (Vicomar)

 

                 

a) Afundou-se em 1966, à entrada da barra do Tejo.

b) Incendiou-se nos mares da Terra Nova, em Agosto de 1966.

c) Afundou-se nos mares da Terra Nova, em Agosto de 1966.

d) Afundou-se em 1966.
 

NOTA – Estão em construção dois arrastões bacalhoeiros em substituição do «Santa Mafalda» da Empresa de Pesca de Aveiro, e do «Lutador» da Empresa de Pesca Lavadores, L.da, que naufragou em 1965.

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páginas 5 a 27

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