VIII –
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Casa dos
Pilotos. |
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O porto exterior foi um meio e não
um fim. É certo que a abertura da barra favoreceu a
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indústria da pesca na ria e incrementou a indústria salineira, mas
o objectivo principal era e é o porto interior, o seu complemento
lógico. Através deste é que se fará o crescimento económico da
região.
O porto interior, ainda por
completar, abrange as seguintes zonas de exploração e expansão:
a) O porto bacalhoeiro, situado na
Gafanha, concelho de Ílhavo, está equipado com pequenas
pontes-cais, uma báscula, instalações de secagem, armazéns,
escritórios e instalações de frio. A rua do cais foi pavimentada a
cubos de granito e toda a zona do porto devidamente electrificada.
Está projectada uma bacia de hibernação que se prolonga até à E.
N. 109-7.
b) O porto de pesca costeira e de
arrasto, localizado nas Pirâmides, junto da cidade, concelho de
Aveiro, dispõe de uma lota coberta, cais de descarga de peixe,
armazéns públicos e particulares, instalações frigoríficas, água
canalizada, luz eléctrica, estendal de redes, caldeiras de
encasque, instalações para o pessoal da Capitania, da Guarda
Fiscal e da Junta Autónoma e, nas proximidades, um edifício
destinado às instalações sociais – «Casa dos Pescadores»,
festivamente inaugurada no dia 17 de Novembro do corrente ano, com
a assistência dos Srs. Ministros da Marinha e das Corporações e
Previdência Social.
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Vista aérea do
porto bacalhoeiro. Foto cedida pelo jornal "Correio do Vouga". |
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Muito antes de construída a lota e
o cais acostável, eram as Pirâmides o local livremente escolhido
pelos mestres das traineiras para venda do peixe. Às vezes eram
tantas as embarcações que estas estendiam-se ao longo do cais do
canal central até ao Rossio! Com a mareta, as traineiras
arrombavam o muro do cais que a Junta acabava por mandar reparar.
Ninguém, oficialmente, lhes marcou sítio. As traineiras afluíram
ali espontaneamente para transaccionarem o pescado junto do
aglomerado urbano. Por isso não percebemos por que se condena
agora a situação do porto de pesca costeira, argumentando-se que
está distante da barra. E quando as traineiras, livremente, vinham
às Pirâmides?
Ora, às traineiras e aos arrastões
que pescam nas imediações da costa de Aveiro fica-lhes mais perto
entrar no nosso porto do que ir a Matosinhos ou à Figueira. Ou não
será assim?
A lota foi inaugurada em 1959 e só
passados seis anos é que descobriram que ficava longe da barra!
De 1960 a 1964, a média do
rendimento da pesca costeira foi da ordem dos 25.600 contos; em
1965 baixou para 16.670, e foi então que se verificou que a lota
estava nos confins do mundo!
É certo que a camionagem resolve
tudo, mesmo que a lota ficasse no Forte; mas temos sérias dúvidas
sobre se o transporte por terra será mais económico do que o
transporte fluvial. Há ainda que contar com o transporte do
pessoal da Capitania, da Guarda-Fiscal e da Junta.
O que acontece, por vezes, é num
dia haver muita abundância de peixe e, no dia imediato, o mercado
estar saturado e não haver compradores para o peixe que aflui à
lota. O reduzido número de fábricas de conserva em Aveiro, apenas
três, também concorre para esta situação. Outras vezes, a sardinha
desvia-se para o Norte ou para o Sul e deixa de aparecer na costa
de Aveiro sem dizer quando regressará...
Compreendemos até certo ponto, que
os mestres das traineiras que não são de Aveiro prefiram as suas
terras onde têm casa e família; mas não aceitamos o argumento da
distância. O que há, e todos sabem, é uma propaganda surda contra
o porto.
c) O porto industrial, situado na
Mó do Meio, concelho de Ílhavo, quase defronte de S. Jacinto,
possui reservatórios metálicos para petróleo da «Sacor», um
terminal para a exportação de vinho a granel e um armazém
particular, destinado à exportação de aguarrás.
Prevê-se que o porto industrial
tome grande desenvolvimento no futuro.
d) O porto comercial, localizado
na margem esquerda da Cale da Vila, concelho de Aveiro, na antiga
estrada Aveiro-Barra, um pouco antes da velha ponte de madeira da
Gafanha, demolida em 1961, compreende um cais acostável, em vias
de acabamento, com a extensão, por enquanto, de 240 metros, com
fundos de – 8,00 m e terraplenos, que abrangerão uma área de cerca
de 12900 m2. O cais disporá de cabeços de amarração,
escadas metálicas, argolas, arganéus e uma galeria no sentido
longitudinal, destinada à instalação de cabos eléctricos e de
condutas de abastecimento dos navios atracados.
As diferentes secções do porto não
interferem entre si. Duas ficam no concelho de Ilhavo e duas no
concelho de Aveiro.
Há ainda a considerar mais de uma
centena de pequenos portos ao longo dos 50 Km
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comprimento por 9 na máxima largura da Ria onde se faz um tráfego
de certa importância. Estes portos compreendem: cais rudimentares,
ancoradouros, ribeiras, malhadas, motas e folsas. O valor anual
deste comércio foi avaliado, em 1934, em mais de 31.000 contos; a
tonelagem, segundo o inquérito levado a efeito naquele ano pelo
Sr. Eng.º Coutinho de Lima, então Director do porto, não era
inferior a 950.000 T.
O transporte das mercadorias, na
laguna, é feito por meio de barcos de vários tipos.
Na capitania do porto estavam
registados, em 1965: 600 moliceiros; 120 saleiros; 1 500 bateiras
e 1199 caçadeiras.
Nas mercadorias transportadas
figuram o sal, o junco, a bajunça, o moliço, o torrão, materiais
de construção, adubos, produtos industriais e hortícolas. Além das
mercadorias mencionadas há a acrescentar o transporte de
passageiros (820.000 em 1957) e de animais vivos (6.000).
As variadas embarcações, desde o
moliceiro à caçadeira, a mais pequena embarcação que sulca as
águas da Ria, mantêm ligadas entre si as diversas povoações
confinantes com as margens da laguna, desde Ovar a Mira, e servem
assim uma população computada em 176.557 indivíduos.
Esta população ribeirinha está
repartida por sete concelhos marginais como consta do seguinte
quadro:
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POPULAÇÃO E ÁREAS DOS CONCELHOS
CONFINANTES COM A RIA NOS ANOS DE 1930 E 1960 |
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Concelhos |
Área (Km2) |
População em 1930 |
População em 1960 |
Aveiro
Estarreja
Ílhavo
Mira
Murtosa
Ovar
Vagos
|
208
125
68
122
54
161
172 |
31.300
22.100
16.300
9.600
13.100
29.300
13.900 |
46.544
24.998
24.734
13.171
12.152
35.106
19.852 |
910 |
135.600 |
176.557 |
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Além das funções especiais
assinaladas para as diversas secções do porto, há ainda a
mencionar as condições naturais da laguna que podem dar amplo
refúgio e seguro abrigo à navegação.
Com uma área vastíssima, uma vez
que existam fundos convenientes, a Ria pode receber milhares de
navios.
Por isso, largas são as
perspectivas que se abrem ao porto de Aveiro.
IX –
Porto bacalhoeiro
– A partir de 1951, como já referimos, a barra oferecia franco
acesso à / 19 /
laguna, de modo que os maiores navios bacalhoeiros, mesmo
atestados de peixe, passaram a entrar livremente. Em virtude desta
melhoria, a pesca longínqua desenvolveu-se e as empresas armadoras
aumentaram o número de unidades. Em 1936, o número de bacalhoeiros
registados no nosso porto era de 15, com 4.915 toneladas; em 1951,
o total de barcos passou para 21 com uma tonelagem bruta de
12.281,15 e líquida de 7.802,00. O bacalhau pescado em 1932
atingiu o peso de 1.420 T e o valor de 2.860 contos; em 1951 subiu
para 14.805 T com o valor monetário de 59.221 contos; no ano
findo, a tonelagem atingiu 26 356 com o valor de 105.424.000$00. A
realidade do porto de Aveiro aqui fica expressa nestes números
como desmentido formal às críticas negativas.
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Lota com
traineiras. Foto cedida pelo jornal "Litoral". |
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O movimento expansivo da pesca
longínqua é notável. Os dados estatísticos confirmam esta
ascensão.
Nos últimos dez anos. os índices
comparativos vão indicados no seguinte quadro:
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MAPA COMPARATIVO DA TONELAGEM DE
BACALHAU PESCADO E SEU VALOR MONETÁRIO |
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Anos |
Tonelagem |
Valor do bacalhau |
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965 |
23.944
23.890
19.833
17.191
21.557
22.157
23.066
25.961
22.060
26.356 |
95.777.000$00
95.560.000$00
79.332.000$00
68.707.000$00
86.228.000$00
88.628.000$00
92.264.000$00
103.844.000$00
88.240.000$00
105.424.000$00 |
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O valor monetário do bacalhau foi
calculado na base de 4$00 por Kg., importância cobrada pela
Alfândega para efeitos de despacho.
Em 1966 estavam registados na
Capitania do porto de Aveiro 33 navios de pesca do bacalhau,
número que, presentemente, coloca Aveiro como 1.º porto de pesca
longínqua do País.
O número de navios bacalhoeiros
registados na Capitania do porto de Aveiro de 1961 a 1966, foi o
seguinte:
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Anos |
Número de navios de
bacalhau |
1961
1962
1963
1964
1965
1966 |
27
26
27
25
26
33 |
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Além destes navios há dois barcos
que utilizam Aveiro como porto de armamento, embora tenham registo
em Lisboa.
A indústria bacalhoeira, cuja
importância cresce de ano para ano, é a principal fonte de riqueza
da região. Valorizar esta riqueza é fazer política de realidades.
As unidades bacalhoeiras passaram
a ser construídas de ferro e as acomodações para os tripulantes
têm experimentado sensíveis progressos.
No quadro seguinte inserimos a
relação nominal dos navios, em 1966, e as respectivas empresas.
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20 /
RELAÇÃO NOMINAL DOS NAVIOS
BACALHOEIROS REGISTADOS EM AVEIRO E DAS RESPECTIVAS EMPRESAS, EM
1966
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NAVIOS
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EMPRESAS |
Arrastão Santa Joana
»
Santa Princesa
»
Santa Isabel
»
Santa Cristina
»
Santo André
»
São Gonçalinho
» Alfusqueiro
»
Santa Mafalda (a)
»
Maria Teixeira Vilarinho
Navio-motor Cap. José Vilarinho
Lugre-motor Adélia Maria
Navio-motor Cap. João Vilarinho
»
Conceição Vilarinho
Arrastão Cidade de Aveiro
»
João Ferreira
Navio-motor Rio Antuã
Lugre-motor Luísa Ribau
Navio-motor Novos Mares
»
São Jorge
»
Inácio Cunha (b)
» Avé
Maria
Arrastão António Pascoal
Navio-motor Rainha Santa
Lugre D. Dinis (c)
Navio-motor Vaz
Lugre-motor Brites (d)
Navio-motor Coimbra
» S. Jacinto
» Ilhavense
» Celeste Maria
» Vila do Conde
Lugre-motor Santa Maria Manuela
Arrastão Aguas Santas |
Empresa de Pesca de Aveiro
»
» »
» »
»
» »
» »
»
» »
» »
»
» »
» »
»
» »
» »
»
» »
» »
»
» »
» »
»
José Maria Vilarinho, Ldª
»
» »
»
»
»
» »
»
»
»
João Maria Vilarinho, Sucrs
»
» »
»
»
»
» »
»
»
Indústria Aveirense de Pesca, Ldª
Soc.
Gafanhense, Ldª
» » »
Testa & Cunhas, Ldª
»
» »
»
»
» »
»
Empresa de Pesca Lavadores, Ldª
Pascoal & Filhos, Ldª
»
» »
»
»
» »
»
Brites Vaz & Irmão, Ldª
» » » »
»
Empresa de Pesca S. Jacinto, Sucrs.
»
» »
» »
»
Parceria Martins Esperança, Ldª
» »
»
»
Tavares, Mascarenhas, Neves & Vaz,
Ldª
Empresa José Ribau
Armadores de Pesca do Bacalhau
Reunidos (Vicomar) |
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a) Afundou-se em 1966, à entrada
da barra do Tejo.
b) Incendiou-se nos mares da Terra
Nova, em Agosto de 1966.
c) Afundou-se nos mares da Terra
Nova, em Agosto de 1966.
d) Afundou-se em 1966.
NOTA – Estão em construção dois
arrastões bacalhoeiros em substituição do «Santa Mafalda» da
Empresa de Pesca de Aveiro, e do «Lutador» da Empresa de Pesca
Lavadores, L.da, que naufragou em 1965.