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Artigo anterior)
Por escritura de 24 de Novembro de
1789, lavrada na quinta de Santo António do Carregal, da cidade do
Porto e casa de morada de Custódio Ferreira Carneiro de Vasconcelos,
pelo notário proprietário bacharel António Pinto Ribeiro de Carvalho
Peixoto, o morgado Fernando José Camelo de Mirando Pinto Pereira da
Silva e sua mulher D. Maria Eufrázia Soares de Albergaria Pereira,
venderam ao Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco, morador na
Ferraria de Cima, da freguesia de Nossa Senhora da Vitória, da
cidade do Porto – a «quinta chamada das Ribas do Castelo, da Vila da
Feira, com as casas principais, capela, casas d'eira, casas da
coxeira, com águas de fonte, de rega, de merugem, entradas e saídas
e todas as suas pertenças, domínios e posse, direitos e acções que
lhes competem e vierem a competir por direito: a qual e de natureza
de prazo de vidas, de que e directo senhor a Serenissima Casa do
Infantado».
Conforme se vê do documento
comprovativo do pagamento da sisa, confrontava do norte com Flórido
José Soares e Manuel Pedro da Costa e caminho de permeio que vai
para a Lumieira e do sul com António Pinto e seu genro Custódio, do
lugar dos Matos, do nascente com a estrada que vai para Vinhais e
com José Ferreira Brandão, do poente com António Pinto dos Matos e
Domingos José da Silva, constando da mesma sisa que na venda da
capela se compreendiam «as suas competentes Imagens ornamento das
mesmas e os que houverem e pertencerem ao Santo Sacrifício da
Missa».
Na venda incluíram-se vários matos,
foros e pensões.
O Dr. Sebastião foi investido na
posse dos bens comprados e designadamente da quinta das Ribas do
Castelo, em 28 de Novembro de 1789, posse que lhe foi conferida pelo
tabelião João de Castro da Rocha Tavares Pereira Corte Real, senhor
de uma das casas de Fijô, na qual se manteve até ao seu falecimento
em Dezembro de 1818.
De tudo quanto expus vê-se que a
casa das Ribas esteve na mão da família do João Ferreira da Cruz –
desde 1707 a 1789 – 82 anos.
Penso que o Dr. Sebastião foi levado
a esta compra por residir, nesta vila, um seu irmão, Manuel Gomes da
Costa Pacheco, que aqui exerceu os cargos de escrivão e tabelião
durante dezenas de anos (tendo vivido, por arrendamento, na casa de
Fijô, a que pertencia a capela de S. Miguel) e por conhecer bem a
vila, pois já em 1775 e 1776 se associou a José Luís da Silva
Careta, na arrematação da obra de grande pavimentação da vila, que
teve lugar naqueles anos (Livro de contas e diário do Dr. Sebastião
da Costa Pacheco, que possuo no meu arquivo, referente a 8 de
Novembro de 1775 e 12 de Junho de 1776).
O Dr. Sebastião manteve um grande
pleito judicial contra o José Ferreira Brandão, já mencionado e sua
mulher, processo que, por morte desta, foi continuado contra o
viúvo, filha e genro, Maria Flora Cândida e seu marido, o advogado
desta vila, bacharel Apolinário José da Costa e os filhos – padre
Bernardo José Ferreira Brandão e D. Vitória Maria.
Assim, este foi mais um grande
pleito em que se viram envolvidos os donos da casa das Ribas, que
durou desde 1 de Junho de 1790, data em que foi apresentado, em
audiência por parte do Dr. Sebastião, o respectivo libelo de raiz,
até 17 de Março de 1798, data em que teve o seu termo.
Neste libelo de «causa de união dos
bens de prazo», o autor reivindicava para si a quinta do Bita, suas
pertenças e frutos desde a sua ocupação, por parte dos
/ 59 / réus, alegando a
nulidade do já aludido sub-emprazamento feito, ao réu Brandão, pelo
Fernando José Camelo, por escritura de 3 de Outubro de 1776.
Depois de uma agitada actuação
processual, o pleito foi decidido a favor dos réus e, deste modo,
ficou legalizada a divisão do prazo que abrangia a quinta das Ribas
e a do Bita, pelo que, a partir de então, passou a ser prédio
autónomo, totalmente distinto daquela quinta.
Assim se operou o desmembramento das
duas propriedades (embora se mantivesse o elo enfitêutico) com
prejuízo para a quinta das Ribas, que estava separada da do Bita
pela estrada que ainda hoje as divide, que vai para a freguesia de
Fornos.
O Dr. Sebastião revelou-se um bom
administrador, tendo aumentado a quinta das Ribas com a aquisição de
diversas leiras, arredondando-a em limites muito dilatados.
Nasceu na referida rua da Ferraria
de Cima, da cidade do Porto, em 17 de Janeiro de 1740.
Era filho de Luís Gomes da Costa e
de sua mulher D. Clara Luísa Pacheco.
Depois de comprar a casa das Ribas
aqui passou a viver com sua mulher D. Ana Joaquina Rita da Costa
Pacheco ou D. Ana Joaquina Rita Gomes da Costa, onde faleceram sem
descendência, ele em Dezembro de 1818 e ela em 1 de Abril de 1826,
com 83 anos.
Ambos estão sepultados no pavimento
da capela, um ao lado do outro, ela no centro, junto às escadas do
altar mor e ele do lado poente.
Existe, nesta casa, um quadro a
óleo, sem assinatura, que se reproduz em fotografia, que deve ser do
Dr. Sebastião e da autoria de João Glama (Stroberle), pelo que passa
a expor.
Convenço-me disto por, no verso da
moldura, ter a data de 1759, em algarismos inteiramente semelhantes
aos que ele usou no livro de contas, escrito pelo seu próprio punho,
a que já me referi.
Dele consta que, em 17 de Agosto de
1777, o Dr. Sebastião comprou um retrato àquele pintor: penso que se
trata do retrato a óleo em causa.
Acresce o facto de a pintura
contemplar um estudante, vestido de capa e batina e ter, como
cenário, os claustros da Universidade de Coimbra, circunstância que
impressiona sabendo-se que ele nasceu em 1740 e que, naquele ano de
1759, frequentava esta Universidade.
Na verdade do arquivo da sua
Biblioteca Geral consta que o Dr. Sebastião aí cursou a faculdade de
Leis, com matrícula em Instituto (1-X-1757), 1.º ano (1-X-1758), 2.º
ano (1-X-1759), 3.º ano (1-X-1760) e 4.º ano (1-X-1761).
A existência do quadro, nesta casa,
bem se compreende, porque sua sobrinha direita, D. Josefa Xavier
Ferreira Pacheco, era a posseira da casa, dado o seu direito de
habitação, quando, por seu falecimento, meu bisavô paterno entrou na
posse efectiva e real da quinta das Ribas, por força da compra que
fizera ao genro dela – José Eleutério Barbosa de Lima: do mesmo modo
ficaram, nesta casa, os diários do Dr. Sebastião e do irmão Manuel,
pai da D. Josefa.
O Dr. Sebastião Pacheco deixou
testamento cerrado datado de 26 de Março de 1816, aprovado na vila
da Feira em 13 de Maio seguinte, pelo tabelião Luís António Correia
de Sousa e Sá.
Neste testamento declarou que fizera
escritura para casamento com aquela sua mulher, em 17 de Setembro de
1778, no cartório do tabelião Vitorino Manuel Cordeiro, da cidade de
Lisboa, no qual foi estabelecido que, cada um, se levantaria com o
seu dote e com metade dos adquiridos.
Nomeou a mulher sua testamenteira e
instituiu-a herdeira de «todos nossos bens moveis, semoventes, pesas
douro e prata, diamantes e aljofres, dinheiro em ser e de devedores;
tudo na maneira que estamos possuindo pagas as dividas; e
usufrutária de todos os nossos bens de raiz, ainda que de prazos
sejam, direitos e açoens..,».
Dispôs, em seguida que, por
falecimento de sua mulher, seria seu herdeiro e testamenteiro, de
todos os bens de raiz, direitos e acções, com obrigação do pagamento
dos legados, seu segundo sobrinho Luís, filho daquela suo sobrinha
Josefa e de seu marido Torcato José Ferreira.
Carta genealógica da família de Dr.
Sebastião Gomes da Costa Pacheco.
Mais disse que «casa aquele seu
sobrinho não quizesse aceitar a herança passariam todos os bens de
raiz e a herança para sua irmã, segunda sobrinha do testador, de
nome Josefa, com os mesmos encargos e legados, acrescentando: «E da
mesma maneira não aceitando esta com os encargos e legados pasem
todos os meus bens de raiz, direito e acções, ao parente mais
proximo a quem tocam com os mesmos encargos e legados».
/ 61 /
Pedia, finalmente, que o enterrassem
«em uma das tres sepulturas que se fizeram na capela de Nossa
Senhora de Monserrate desta Quinta falecendo nela, sem aparato, nem
toque de sinos e só os sinais da Constituisam; e nem me fasam
oficios...».
Sua mulher, D. Ana, também deixou
testamento em que, além de bens de alma, fez determinados legados.
Do registo do seu óbito consta que
foi sepultada na «Capela da sua Quinta».
A transmissão da casa e quinta das
Ribas e demais bens de raiz, extinto o usufruto exercido pela D.
Ana, fez-se a favor de uma sua segunda sobrinha – D. Maria Teresa
Pacheco Ferreira (filha de sua referida sobrinha direita Josefa
Xavier Pacheco Ferreira) que casou com José Eleutério Barbosa de
Lima.
|
Daí resultou outra grande demanda em
que se viu envolvida a casa das Ribas, movida pela D. Josefa contra
aqueles seus genro e filha, arrogando-se ao direito dos bens de raiz
deixados pelo Dr. Sebastião, conseguindo obter a sua posse em 21 de
Fevereiro de 1826.
O José Eleutério e mulher reagiram e
foram investidos nessa posse por sentença de 21 de Setembro do mesmo
ano.
/ 62 /
O pleito terminou por uma escritura
de transacção feita no Porto, em 27 de Agosto de 1828, lavrada no
cartório do tabelião João de Sousa Melo Nunes.
|
Dr. Sebastião Gomes da Costa
Pacheco. Quadro a óleo que se presume ter sido pintado por João
Glama. |
Deste acordo resultou,
substancialmente, a D. Josefa ficar com o direito à habitação nas
«Casas da quinta das Ribas de Cima» para que nelas pudesse viver com
a condição, porém, da sua filha e genro poderem ir viver livremente,
para a mesma casa, em qualquer parte e estação do ano que lhes
conviesse, vivendo, assim, juntos na mesma casa.
A D. Maria Teresa e o marido ainda
se obrigaram a dar à D. Josefa o usufruto de um pedaço de terra na
mesma quinta chamada o «Campo da Pereira» que foi devidamente
confrontado, ou seja «o bocado de terra da eira para baixo até ao
fundo dividido por um caminho», como José Eleutério mandou dizer a
meu bisavô paterno, Joaquim Vaz de Oliveira Júnior, numa das cartas
(6 de Dezembro de 1840) que precederam a venda, daquele a este, da
casa e quinta das Ribas.
Na mencionada escritura de
transacção, ficou estipulado, finalmente, que a obrigação de
alimentos que o José Eleutério e mulher também se obrigaram a
prestar à D. Josefa, cessaria se ela suscitasse novas questões sobre
a mesma herança, tendo em atenção as despesas que eles teriam de
fazer com essas questões, tendo aquela prometido «não os incomodar
mais e de futuro em questões a semelhante respeito, sob pena a que
se sujeita de perder os referidos alimentos».
Ela veio a falecer, na casa das
Ribas onde vivia, em 27 de Julho de 1841, sendo enterrada, no mesmo
dia, no adro da Igreja desta vila.
Mais tarde foi trasladada para a
capela da casa das Ribas: jaz na sepultura que se segue, para
nascente (de lado da sacristia), da de sua tia, a D. Ana Joaquina
Gomes da Costa.
José Eleutério e mulher, em
conformidade com a mencionada escritura de transacção, tomaram posse
dos bens da herança do Dr. Sebastião Pacheco, entre os quais se
contava a quinta das Ribas, em 19 de Novembro de 1828.
A solicitação daqueles, D. Miguel,
como senhor e administrador da «(Casa e Estado do Infantado», em
carta de emprazamento de 22 de Dezembro de 1831, deu-lhes de
aforamento, em renovação de prazo, a quinta das Ribas e a do Bita.
Assim foi reconhecido que lhes cabia
o direito à renovação pedida, não obstante estas duas quintas já
estarem separadas, uma da outra, como já referi.
O prazo manteve-se uno com D. Maria
Teresa Pacheco Ferreira, como cabecel, por ser a herdeira do Dr.
Sebastião Gomes da Costa Pacheco e a possuidora «de maior monte».
O novo emprazamento foi concedido em
três vidas, em que os requerentes foram primeiro e segundo, podendo
o que sobrevivesse nomear o terceiro, com a obrigação dos
requerentes, como cabeceis, cobrarem toda a renda e entregá-la no
Almoxarifado, com as demais condições costumadas nos títulos de
emprazamento.
Do respectivo auto de medição e de
apegação, de 20 de Maio de 1831, além de outros itens, consta o da
quinta «chamada das Ribas, sita ao pe do castelo desta vila da
Feira» na qual se «achão umas boas casas sobradadas e terreas e uma
boa capela com seo pateo e a frente da entrada da parte de norte,
uma portada de pedra de escoadria lavrada, com seu cruzeiro em cima
com duas janelas, uma de cada lado...».
*
* *
Aquele irmão do Dr. Sebastião, de
nome Manuel Gomes da Costa Pacheco que, antes de ser tabelião, nesta
vila, fora capitão da marinha mercante casou, em 15 de Janeiro de
1783, com D. Teresa Rosa, filha de Francisco Lage e de D. Úrsula
Maria de Matos, havendo deste casamento, além de outros, as
seguintes filhas:
1) D. Luísa Ludovina Pacheco
Miséria, que casou, em 14 de Fevereiro de 1797, com Estêvão Garçia
d'Oliveira Miséria, proprietário de um dos ofícios de escrivão e de
tabelião na Vila da Feira, em sucessão de seu sogro.
2) D. Josefa Xavier Ferreira
Pacheco, que casou, em 21 de Junho de 1801, com Torcato José
Ferreira que, no Porto, foi secretário do 1.º Marquês de Palmela
(ver «José Eleutério» pelo Dr. Vaz Ferreira em «Ferro Velho.» –
Correio da Feira, número 2751 de 22 de Setembro de 1951 e «Um dos
meus Costados – D. Antónia Albina de Paiva e Sousa e os seus
ascendentes» – fls. 29, manuscrito de Francisco Moura Coutinho, que
consultei por gentileza de seu filho Felipe de Moura Coutinho).
D. Josefa, come já disse, faleceu na
casa das Ribas em 27 de Julho de 1841, estando sepultada na sua
capela.
De seu casamento com aquele Torcate
José Ferreira deixou uma filha – a já referida D. Maria Teresa
/ 64 / Pacheco Ferreira, que
faleceu em Tarrio, Vila Nova de Famalicão, em 1874.
Carta genealógica da família de José
Eleutério Barbosa de Lima.
Casou com José Eleutério Barbosa de
Lima, que nasceu no Porto em 26 de Junho de 1797, filho primogénito
de outro José Eleutério Barbosa de Lima e de sua mulher D. Ana
Norberta de Paiva e Sousa.
Como informa Francisco Moura
Coutinho (cit. ob., fls. 28) «Herdou de seu pai o ofício de escrivão
dos Órfãos da Vila da Feira, Ovar e Coutos anexos, que estava lotado
em 337$200 réis, o que perdeu em consequencia de reformas
judiciais».
Foi provido, por portaria de 17 de
Julho de 1832, na cadeira da língua inglesa na Academia do Comércio
e Marinha do Porto tendo, em 14 de Maio de 1838, alcançado carta de
lente proprietário e substituto gratuito da língua francesa, sendo
depois nomeado, por carta de 4 de Dezembro de 1839, professor
proprietário e vitalício das cadeiras de francês e inglês no liceu
de Coimbra, sendo transferido, a 3 de Maio de 1854, tendo 57 anos
para o liceu de Viana do Castelo.
Exerceu importantes comissões e
prestou valiosos serviços durante o cerco do Porto, como depois no
magistério, na composição gratuita de vários compêndios que ofereceu
à Imprensa da Universidade, entre eles o da «Crotamaltica
Poliglota», que o decreto de 4 de Julho de 1854 mandou adoptar para
uso das aulas e exames nos liceus.
Seu pai, de igual nome, era filho do
Dr. João da Costa Lima e de sua mulher D. Francisca Teresa Clara de
Lima, também conhecida por D. Francisca Teresa Clara Barbosa dos
Santos. Era cavaleiro professo da Ordem de Cristo, proprietário
quartado de escrivão dos órfãos da Vila da Feira, Ovar e Coutos
anexos e negociante matriculado pela Real Junta do Comércio e «um
dos principais da Praça do Porto», como diz uma provisão de D. Maria
I, passada em 25 de Agosto de 1807 (cit. obra de Francisco de Moura
Coutinho, fls. 23).
Casou em 11 de Abril de 1796, na
Igreja da Vitória do Porto, com D. Ana Norberta de Paiva e Sousa,
nascida na mesma freguesia em 6 de Junho de 1774, filha de José de
Paiva Ribeiro e de D. Maria Joaquina de Paiva e Sousa, falecida em
26 de Novembro de 1836.
Foi proprietário da Casa da Praça,
hoje pertencente ao Dr. Belchior Cardoso da Costa (meu citado estudo
«Quatro séculos de história...», pag. 133 e seguintes, Revista
«Aveiro e o seu Distrito», divulgado em separata).
*
* *
Por escritura de 16 de Abril de
1841, lavrada na cidade do Porto pelo tabelião João de Sousa Melo
Torres, José Eleutério Barbosa de Lima (filho) e sua mulher, então
moradores na cidade do Porto, venderam a meus bisavós paternos
Joaquim Vaz de Oliveira Júnior e a sua mulher D. Luísa Adelaide
Teixeira da Silva Canedo, da vila da Feira, além de outros bens, a
quinta «chamada das Ribas, sita no Castelo da Vila da Feira, com
suas casas principais, capela...».
Os compradores ficaram obrigados à
reserva que a D. Josefa, sogra e mãe dos vendedores, tinha do
direito de habitação na casa e do usufruto no campo da Pereira,
direitos que se mantiveram por pouco tempo, pois extinguiram-se em
27 de Julho seguinte, com o falecimento dela.
Assim terminou a posse exercida pela
família do Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco sobre a «casa e
quinta das Ribas», que decorreu de 24 de Novembro de 1799 até àquele
dia 27 de Julho de 1841.
Meu bisavô já tinha sido investido
na posse jurídica dos bens comprados, em 29 de Maio de 1841, dela
constando a «quinta que se compoe de casas sobradadas e terreas,
capela...».
Durante aquele período de tempo em
que a propriedade esteve na posse da família do Dr. Sebastião ela
recebeu grandes benfeitorias, sobretudo a quinta por mão do José
Eleutério; infelizmente também sofreu delapidações e destruições por
parte da D. Josefa.
No referido contrato de compra e
venda e até por expressa vontade do vendedor (como verifiquei pela
correspondência que trocou com o comprador), nada se declarou sobre
a sua natureza enfitêutica, se alodial ou não e do porque tendo-se
considerado que foi reguenga, tornou-se livre ou «Dizima a Deus»
pelo decreto de 13 de Agosto de 1832.
No inventário por óbito daquela
minha bisavó – D. Luísa Adelaide, porém, ao descrever-se a casa e a
quinta declararam-se «de natureza de prazo de vidas de que foi
senhoria directa a extincta casa do Infantado, como consta da carta
de emprazamento feita em vinte e dois de Dezembro de mil oitocentos
e trinta e um».
Posteriormente, em todos os
documentos, a casa e a quinta foram claramente descritas como
alodiais, como hoje são de facto e de direito.
/ 65 /
No referido inventário, a «Quinta
chamada das Ribas de Cima, sita na lugar do Castelo desta Vila da
Feira, que se compõe de Casas Nobres, Capela...», foi adjudicada ao
viúvo.
Meu bisavô, embora frequentasse
assiduamente a casa e a quinta, fazendo nelas grandes melhoramentos,
nunca chegou a habitá-la, falecendo na vila, na casa hoje
pertencente a D. Maria da Luz Albuquerque, na rua agora denominada
do Dr. Guilherme Moreira. Ele e sua mulher repousam no jazigo da
capela de Nossa Senhora de Monserrate.
Por morte do meu bisavô, a casa e a
quinta ficaram a pertencer ao meu avô paterno – Dr. Joaquim Vaz
de Oliveira e a sua mulher D. Libânia Amélia Vaz de Almeida
Teixeira (escritura de partilhas de 7 de Setembro de 1866).
É curioso referir a razão dada desta
adjudicação, na mencionada escritura, bem expressiva da preocupação
já então manifestada da manutenção da casa e da quinta na posse da
família e designadamente na linha varonil.
Declararam «todos os outorgantes que
esta Caza, Quinta e pertenças das Ribas vão encabeçadas no primeiro
outorgante (Dr. Joaquim Vaz) não só por sua natureza e qualidade
destas, mas também por que a comodidade e justeza das partilhas o
não admitiu no pagamento de outro quinhão e ainda muito
especialmente porque a conservação da quinta como cumpre não tanto
aos interesses do proprietário, mas muito respeitosamente à
religiosa consideração que todos devem e têm à veneranda memória de
seu pae e sogro que estimava muito esta propriedade, demanda grandes
despezas para que nenhum dos outorgantes esta habilitado».
O prédio foi descrito, na
Conservatória do Registo Predial da Comarca da Feira, sob o número
3649-L-B – fls. 180, conforme registo aí feito, por meu avô, em 20
de Janeiro de 1872.
Por morte do Dr. Joaquim Vaz, em 12
de Outubro de 1888, a casa e quinta das Ribas vieram a pertencer a
meu pai – Dr. Eduardo Vaz de Oliveira, falecido em 7 de
Agosto de 1920, de quem a herdei, com adjudicação por escritura de
partilhas lavrada, nesta vila, em 1 de Agosto de 1927, pelo notário
António de Figueiredo Ferreira.
Em trabalho ainda não impresso, faço
a história desenvolvida da casa e quinta das Ribas, da sua capela de
Nossa Senhora de Monserrate, do morgadio instituído pelo João
Ferreira da Cruz, bem como a das que as possuíram e das suas
respectivas famílias.
*
* *
Joaquim Vaz de Oliveira Júnior
que, como disse, comprou a casa e quinta das Ribas em 1841, nasceu
em 29 de Novembro de 1803 na freguesia de S. Lourenço do Douro,
concelho de Bemviver, da comarca de Sobre Tâmega.
Era filho de Joaquim Vaz de Oliveira
e de sua mulher D. Maria Felizarda.
Estudou preparatórios no Porto e
assentou praça no exército em Maio de 1823.
Em 1832 foi nomeado, interinamente,
regente e ajudante do cartório de escrivão dos Órfãos no Porto,
lugar que servia seu pai: tinha a seu cargo o expediente e
contabilidade das «Decisões e Novos Impostos» da freguesia de Santo
Ildefonso.
Em Maio de 1833 foi eleito alferes
da 1.ª Companhia do «Batalhão de Empregados Públicos» e em Junho
seguinte foi nomeado para o lugar de oficial partidor do Juízo de
Fora do Cível, da mesma cidade do Porto.
Foi um entusiasta pela causa da
Rainha, tendo-se batido pelos constitucionais no cerco do Porto,
designadamente no Carvalhido.
Em 16 de Maio de 1828 foi preso nas
cadeias da Relação do Porto, em resultado da sua actividade
política.
Por decreto de 23 de Junho de 1834,
D. Pedro, Duque de Bragança, como Regente do Reino de Portugal,
despachou-o, em termos muito elogiosos, escrivão do juízo de direito
da comarca da Feira: especificadamente foi referido que «se portou
dignamente assim no serviço ordinário, como nas ocasiões de fogo,
sendo efectivo em todo o tempo que o dito batalhão (dos empregados
públicos) ocupou o posto da linha de defesa do Carvalhido.
Veio para a Vila da Feira em Julho
de 1834, tendo, em Agosto seguinte, prestado juramento para o
exercício interino daquele cargo, enquanto o não servisse, como veio
a servir, como efectivo.
Em 28 de Maio de 1839 prestou fiança
como escrivão e tabelião nesta Vila da Feira.
/ 66 /
Em virtude da nomeação de um seu
cunhado para escrivão e tabelião desta comarca da Feira, o que
ocasionava incompatibilidade, em 1845 pediu a sua transferência,
parece que para Estarreja, de onde voltou, de novo, para a da Feira,
em face do decreto de 8 de Setembro do mesmo ano (esteve ausente
desde 22 de Fevereiro a 5 de Outubro de 1845) por força da
exoneração daquele seu cunhado.
Manteve-se, continuadamente, no
exercício destes cargos até à sua morte, em 22 de Agosto de 1866.
Como já informei, jaz na capela da casa das Ribas.
Fez parte do Conselho Municipal da
Feira em 1842, 1843-44, 1845-46, 1847, 1848, 1850-51, 1854-55,
1856-57, 1858-59.
Casou em 14 de Junho de 1837, nesta
Vila da Feira, com D. Luísa Adelaide Teixeira da Silva Canedo, aqui
nascida em 15 de Janeiro de 1810, filha de José da Silva Canedo e de
sua mulher D. Joana Emília Rosa Teixeira. D. Luísa Adelaide faleceu
em 5 de Fevereiro de 1850, estando também sepultada na capela da
casa das Ribas.
Para o estudo da família desta minha
bisavó, ver o trabalho do tenente-coronel Fernando de Castro da
Silva Canedo «Famílias Canedo e Teixeira Guimarães da Vila da
Feira», publicado no cit. Arq. do Dist. de Av. – vol. XVI – pág.
125.
Joaquim Vaz de Oliveira,
pai daquele Joaquim Vaz de Oliveira Júnior, nasceu e viveu na
freguesia da Boa Viagem de Massarelos.
Foi escrivão da 1.ª instância da
cidade do Porto, no distrito de Santo Ovídio.
Na relação a que se refere o decreto
de 24 de Dezembro de 1833, que pôs em prática, nas cidades de Lisboa
e Porto, o decreto de 16 de Março de 1832 e determinou a reforma da
justiça consta: «Escrivães já despachados para servirem d'ante os
juízes de Direito da Primeira Instância da Cidade do Porto. Distrito
de Santo Ovídio – Joaquim Vaz de Oliveira...» (fls. 91 da colecção
de todas as Leis, Alvarás, Decretos, etc. – Impressos na Régia –
Oficina Tipográfica de Lisboa – ano de 1833).
Já era titular do cartório de
escrivão do Juízo de Fora dos Órfãos, do Porto, em 5 de Maio de 1823
(Jerónimo Rossi Fidalgo ceramista» por Vasco Valente – pág. 27).
Faleceu na rua do Almada, da cidade
do Porto, em 5 de Novembro de 1852.
Daquele casamento houve vários
filhos.
Joaquim Vaz de Oliveira,
pai do anterior do mesmo nome, morou na freguesia da Boa Viagem de
Massarelos, onde nasceu em 26 de Fevereiro de 1741.
Foram seus pais, o capitão Francisco
Vaz de Oliveira e sua mulher D. Ana Ferreira.
Casou com D. Ana Felizarda, natural
da mesma freguesia.
Abandonou os estudos para a vida
eclesiástica para se casar, tendo-se ordenado depois de enviuvar.
Teve licença «de genere», para esse
efeito, em 1786.
Foi administrador do vínculo da
capela de S. Pedro e de S. Paulo, em Vila Nova de Gaia, instituído
pelo vigário Manuel Vaz com o encargo de 104 missas, os paramentos e
fábrica para aquela capela, vínculo que foi abolido por provisão
régia de 29 de Agosto de 1776, a pedido do Joaquim Vaz, em
conformidade com a lei novíssima de 3 de Agosto de 1770, por a renda
não atingir 100$000 réis anuais.
Rui Moreira de Sá e Guerra, no seu
estudo «As capelas ou vínculos instituidos no convento de S.
Francisco, na cidade do Porto (O Tripeiro – Série VI – Vol. VI –
pág. 45) dá-nos conhecimento do que passo a expor.
João Domingues e sua mulher Maria
Aires da Rua, legaram ao convento de S. Francisco dois almudes de
azeite para a lâmpada do Santíssimo Sacramento hipotecando, à
garantia do cumprimento da obrigação, uma morada de casas sobradas
em dois pisos, na rua da Reboleira, que eram pertença da capela de
S. Pedro e de S. Paulo da Igreja de Santa Marinha, de Vila Nova de
Gaia, à qual se pagavam 25$000 réis de foro.
Mais tarde, em 15 de Setembro de
1694, nas notas do tabelião de Vila Nova de Gaia, António Aires
Pimenta, – Fernão Vaz de Sá deu-as de emprazamento, como senhorio
directo, a João Gomes Moreira, ourives de ouro e a sua mulher Teresa
Moreira de Brito, moradores na mesma rua da Reboleira, ficando estes
obrigados a pagar o foro de vinte e cinco mil réis e a entregar os
dois almudes de azeite ao convento de S. Francisco, enquanto o
Fernão Vaz de Sá pagaria oito mil réis à capela de S. Pedro.
O comprador explicou que herdou
essas casas do tio, o referido reverendo Manuel Vaz, vigário que foi
/ 67 / da Igreja de Santa
Marinha, de Vila Nova de Gaia. Este emprazamento foi possível, por
Manuel Reis Campelo e mulher (que as emprazaram em 6 de Agosto de
1692) terem desistido do direito ao domínio útil com autorização do
senhorio, com o fundamento de viverem longe, em Viana do Castelo.
O autor deste estudo finaliza:
«Posteriormente, em 25-2-1786, Joaquim Vaz de Oliveira, viúvo,
morador em Massarelos, vendeu por oitocentos mil reis a pensão anual
de 25$000 com o direito dominical de dez – um que recebe dessas
casas a Isidoro de Carvalho dos Santos, cav. prof. na Ordem de
Cristo, morador no Porto. Tal pensão era pertença do vínculo que
instituiu o vigário Manuel Vaz, mas que foi abolido por os bens que
o garantem serem de valor insignificante e não renderem a quantia
estatuída pela lei Provisória de 3-8-1770».
Não sei quem era o padre Manuel Vaz:
possivelmente era tio, de geração já afastada, do Joaquim Vaz de
Oliveira.
Este, daquele seu casamento, teve
vários filhos.
Francisco Vaz de Oliveira,
capitão, pai deste Joaquim Vaz de Oliveira, nasceu na já mencionada
freguesia da Boa Viagem de Massarelos, em 22 de Novembro de 1703.
Foram seus pais Manuel Vaz de
Oliveira e sua mulher D. Feliciana dos Santos Oliveira.
Em 21 de Julho de 1732 casou com D.
Ana Teresa, ali nascida em 25 de Janeiro de 1712, filha de Francisco
Ferreira Afonseca e de sua mulher D. Teresa Gomes, neta paterna de
Luís da Fonseca Pereira e D. Maria de Meireles e materna de Manuel
Marques e de D. Domingos Gomes.
Do seu referido casamento teve dois
filhos.
Manuel Vaz de Oliveira,
pai do anterior, o capitão Francisco Vaz de Oliveira, nasceu na
freguesia de Nossa Senhora da Natividade, de Macieira de Cambra, em
25 de Março de 1667, filho de António Vaz de Aguiar e de sua mulher
D. Domingos Tavares, neto paterno de Gonçalo Fernandes e de D.
Bernardes Antunes, todos naturais daquela freguesia, onde moravam e
materno de João de Oliveira, natural de Oliveira de Azeméis e de D.
Maria Tavares, natural da dita freguesia de Macieira de Cambra, onde
ambos moravam.
Carta genealógica da família Vaz de
Oliveira.
Casou em 5 de Novembro de 1698, na
freguesia da Boa Viagem de Massarelos, do Porto, com D. Feliciana
dos Santos de Oliveira, filha de Amaro Duarte Caturro, então
falecido, e de sua mulher D. Antónia dos Santos, naturais da mesma
freguesia de Massarelos, onde ela morava, neta paterna de Francisco
Fernandes e de sua mulher D. Mónica Duarte e materna de Domingos
Alves Neto e de sua mulher D. Maria Antónia, aí moradores.
Manuel Vaz de Oliveira era homem de
negócio, no Porto e recebeu carta de Familiar do Santo Ofício em 14
de Agosto de 1703 (m. 57 n.º 1203).
Entendo que está bem averiguada, nos
termos expostos, a ascendência de Manuel Vaz de Oliveira e de sua
mulher D. Feliciana dos Santos Oliveira, por constar do processo
desta carta de Familiar.
Este comentário vem a propósito de
ter, na minha mão, uma árvore genealógica da minha família Vaz de
Oliveira, elaborada pelo ilustre linhagista D. Fernando Tavares e
Távora, em que aquela Domingas Tavares, mãe do Manuel Vaz de
Oliveira é dada como filha de Diogo Álvares Ferreira e de sua mulher
D. Joana Tavares, aquele filho de Álvaro Vaz Ferreira, cavaleiro
fidalgo e fidalgo de Cota de Armas em 27-8-1587 e neto paterno de
António Vaz de Brito Ferreira, descendente dos senhores do solar de
Ferreira, que também teve como filho Jorge Vaz Ferreira, senhor da
quinta de Rio Falcão, fidalgo de Cota de Armas em 18-3-1583.
Aquele Diogo Álvares Ferreira era
irmão do licenciado Gonçalo Ferreira Tavares.
É possível que a D. Maria Tavares
(que deve ser a mãe de Domingos Tavares) seja irmã da D. Joana
Tavares (que D. Fernando Távora julga ser a mãe) ou que estejam
ligados por outro parentesco de onde se prove que D. Domingos
pertencia à casa dos Ferreiras.
Para melhor conhecimento da história
da família Vaz de Oliveira, lembro que o cit. Arq. do Dist. de
Aveiro, no Vol. XXXI, pág. 205, arrola, como Familiar do Santo
Ofício, Geraldo Blenz, com a respectiva carta de 8 de Fevereiro de
1754 («O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Snto Ofício» – por
Dr. Jorge Hugo Pires de Lima).
No desenvolvimento da sua árvore
genealógica apura-se que ele também era natural de Massarelos,
freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem, filho de Geraldo Blenz e
de sua mulher D. Úrsula Maria Teresa Blenz e que esta, por sua vez,
era filha de Manuel Tavares de Oliveira, natural de Macieira de
Cambra e de sua mulher D. Teresa Rosário, natural de Massarelos
/ 69 / e aí moradores e primo
de Manuel Vaz de Oliveira, também Familiar do Santo Ofício, filho de
uma irmã do avô materno, ou seja do aludido Manuel Tavares de
Oliveira, de Macieira de Cambra.
Por todos os referidos elementos,
creio bem que este Manuel Vaz de Oliveira é o meu sexto avô.
Este, do seu casamento com a D.
Feliciana dos Santos de Oliveira, teve vários filhos.
* * *
Averiguada a ascendência do Joaquim
Vaz de Oliveira Júnior, passo a referir-me à sua descendência.
Do seu casamento com D. Luísa
Teixeira da Silva Canedo teve, além de outros filhos, o Dr.
Joaquim Vaz de Oliveira.
Nasceu, na já aludida «Casa da
Praça», na Praça do Dr. Gaspar Moreira, desta vila, hoje propriedade
do Dr. Belchior Cardoso da Costa, em 4 de Janeiro de 1838.
Formou-se na faculdade de Direito,
da Universidade de Coimbra em 1859, tendo exercido, com invulgar
brilho, durante toda a sua vida, a profissão de advogado na vila da
Feira, deixando impressos muitos dos seus notáveis escritos
juridicos.
Como político, foi chefe, neste
concelho da Feira, do partido constituinte, chefiado pelo
conselheiro José Dias Ferreira.
Foi presidente da Câmara Municipal
da Feira em 1868-1869, vice-presidente da mesma Câmara em 1876-1877
e administrador substituto do concelho da Feira, cargo para que foi
nomeado em 1861.
A sua actividade no município foi
notável.
Deu grande desenvolvimento à viação
do concelho com a construção das suas principais estradas, de grande
interesse público e promoveu a transferência do Tribunal Judicial e
de outras repartições públicas para o edifício do antigo convento de
S. João Evangelista, o que originou um grande conflito com o pároco
desta freguesia de S. Nicolau da Vila da Feira, o padre Manuel José
Gonçalves Aroso que, então, ocupava algumas das suas dependências.
Notabilizou-se, na administração
municipal, com as propostas que apresentou em 8 de Janeiro de 1876 e
na defesa do concelho e da comarca da Feira, designadamente nas
lutas sustentadas durante anos, das quais resultou terem sido
desanexadas deste concelho, para serem incorporadas no de Ovar, as
freguesias de Arada, Maceda e Cortegaça.
Espinho muito lhe deve pois, como
bem disse e com justiça, Álvaro Pereira, no seu livro «Espinho –
Monografia», a pág. 52: «O Doutor Joaquim Vaz de Oliveira, ilustre
Feirense e advogado de grande fama, Presidente e vice-Presidente da
Câmara da Vila da Feira, pôs todo o seu saber e deu o maior esforço
à causa de Espinho que nascia... Assim, Espinho deve-lhe o princípio
da sua urbanização, em que pôs todo o seu cuidado, numa perfeita
clarividência do futuro...».
Outros se referiram a ele,
exaltando-o.
Entre muitos, podemos citar o
artigo, a todos os títulos notável, do Dr. António Toscano Soares
Barbosa Júnior no «Comércio da Feira» – Ano 1.º, número 41 de 9 de
Outubro de 1902.
O Dr. Joaquim Vaz casou, em 17 de
Maio de 1862, no oratório da casa de Joaquim José Teixeira
Guimarães, a que adiante me referirei, com sua prima D. Libânia
Amélia d'Almeida Teixeira, filha daquele Joaquim José Teixeira
Guimarães, que foi secretário da Câmara Municipal da Feira e de sua
mulher D. Francisca Rosa de Almeida (da casa da Portela – de Paços
de Brandão).
D. Libânia Amélia nasceu na Vila da
Feira em 7 de Janeiro de 1842 e faleceu, na casa das Ribas, a 9 de
Fevereiro de 1907 (ver estudo sobre o casa da Portela – manuscrito
da autoria do Dr. Eduardo Pinho de Almeida e citado trabalho do
tenente-coronel Fernando Canedo).
O Dr. Joaquim Vaz, que foi o
primeiro da família a viver na casa das Ribas, aqui morreu a 12 de
Outubro de 1888, estando sepultado na capela da casa.
Do seu mencionado casamento, teve
vários filhos.
Eduardo Vaz de Oliveira,
filho do anterior e da sua mulher D. Libânia Amélia Vaz de Almeida
Teixeira.
Foi o primeiro, da família, que
nasceu na casa das Ribas, o que teve lugar a 17 de Julho, de 1867.
Formou-se na faculdade de Direito,
da Universidade de Coimbra, em 1890.
Durante toda a sua vida exerceu, com
muita distinção, a advocacia na vila da Feira, tendo deixado
impressos muitos dos seus valiosos trabalhos jurídicos.
/ 70 /
Fez parte do partido regenerador,
acompanhando o conselheiro João Franco quando este fundou o partido
regenerador-liberal, do qual foi chefe no concelho da Feira.
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Nossa Senhora
de Monserrate: de frente; de costas; de lado. |
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Abandonou a actividade política em
1908, aquando do regicídio e da queda do governo daquele estadista.
Foi vice-presidente da Câmara
Municipal da Feira, no exercício de 1893-97, tendo sido licenciado,
a seu pedido, em Outubro de 1896 e em 2 de Janeiro de 1908 tomou
posse de presidente da Comissão Administrativa da mesma Câmara,
cargo que deixou de exercer em Fevereiro seguinte.
Foi destacado jornalista, deixando
muitos escritos, alguns de polémica, dispersos por diversos jornais
e dirigiu o semanário local «Comércio da Feira», órgão do partido
regenerador-liberal no concelho da Feira, que iniciou a sua
publicação em 2 de Janeiro de 1902 e teve o seu termo em 13 de
Fevereiro de 1908.
Em 1902 fez parte do Conselho
Distrital d'Agricultura e, em sessão de 13 de Janeiro de 1910, do
Conselho dos Monumentos Nacionais, foi nomeado seu vogal
correspondente em «atenção aos seus merecimentos e zelo pelas obras
d'arte e antiguidades patrias».
Foi dedicado defensor dos direitos e
interesses do concelho e da comarca da Feira, cuja integridade
defendeu, salientando-se a sua acção, de um modo especial, a favor
da sua terra natal, em 1899, quando da emancipação municipal de
Espinho.
Faleceu, na casa das Ribas, em 7 de
Agosto de 1920.
A seu propósito muitos se
pronunciaram em termos muito elogiosos.
Casou, em 12 de Junho de 1897, com
D. Madalena de Castro de Sousa Ferreira (que em casada usou o nome
de Madalena de Sousa Vaz Borges de Castro) falecida, na mesma casa
das Ribas, em 21 de Fevereiro de 1900.
Era filha do Dr. Roberto Alves de
Sousa Ferreira, bacharel formado em Direito, pela Universidade de
Coimbra, que foi advogado, professor-catedrático da faculdade
Técnica da Universidade do Porto e de sua mulher D. Emília
Henriqueta Bandeira de Castro e Sousa Ferreira.
Daquele casamento do Dr. Eduardo Vaz
nasceu, na casa das Ribas, em 12 de Abril de 1899, o autor deste
estudo – Roberto Vaz de Oliveira.
Casou, em 12 de Março de 1923, com
D. Augusta (Maria Augusta pelo sacramento do crisma) Gaspar
Formosinho, nascida na Redinha, concelho de Pombal, em 13 de Abril
de 1897, filha de Sebastião Barbosa Formosinho e de sua mulher D.
Maria Estrela Gaspar Formosinho.
Daquele casamento há descendência.
Pelo exposto, a casa e quinta das
Ribas pertence à família Vaz de Oliveira, desde 16 de Abril de 1841.
*
* *
No livro das «Visitações à igreja de
S. Nicolau da freguesia da Feira, apenas encontrei a seguinte
referência à capela de Nossa Senhora de Monserrate:
– Visita de 24 de Junho de 1762 «na
capela de Monserrate admoesto que se doure por dentro o calix e por
cima a patena e tambem se ponhão alguns sanguíneos». Estas tão
breves observações mostram como ela estava bem cuidada.
*
* *
/ 71 / Hoje, a casa e quinta
das Ribas, que me foram adjudicadas na partilha dos bens deixados
por meu pai, como já disse, estão registadas na já mencionada
conservatória do registo predial, em meu nome, sob número 55154 a
fls. 5 do L-B-142, com inscrição no artigo 166 da matriz urbana e
1235 da rústica.
*
* *
Em 8 de Setembro de 1967, dia da
Natividade de Nossa Senhora, foi descerrada, na frente da casa das
Ribas, uma placa de pedra, comemorativa do centenário do nascimento
de meu pai – Dr. Eduardo Vaz – que aqui teve lugar em 17 de Julho de
1867, numa cerimónia muito particular, com a assistência da família,
do pároco da freguesia e vigário da Vara, padre Manuel Soares dos
Reis, que a benzeu, do padre Albano de Paiva Alferes, pároco da
freguesia de Souto e dos empregados da casa e da quinta.
A lápide, que ficou colocada entre a
segunda e a terceira janela a contar do nascente e estava coberta
com a bandeira da «Vila da Feira», foi descerrada, simultaneamente,
por um representante de cada uma das três gerações presentes.
De tudo se lavrou a competente acta,
que hoje faz parte do arquivo da casa.
3
Diversos
a
Património
O altar mor e suas imagens laterais
são da mesma época.
Pertencem ao estilo barroco-petrino,
com suas colunas salomónicas enlaçadas, em espiral, por folhagens,
parras, pássaros e anjinhos.
A imagem central de Nossa Senhora de
Monserrate é de época anterior.
O altar lateral é do século passado:
não tem interesse arquitectónico.
Conserva-se na capela por ter estado
no oratório da casa de meus trisavós e bisavós João e Joaquim
/ 72 / Teixeira Guimarães e
nele ter casado minha avó paterna – D. Libânia Amélia.
A capela está devidamente provida
com os necessários paramentos e alfaias precisas para o exercício do
culto que nela se faz.
O pé do cálice é de bronze e a copa
é de prata.
É de prever que o altar-mor tivesse
sido mandado fazer no Porto ou em Aveiro: era costume, em tempos, os
contratos para o seu fornecimento serem feitos por escritura
pública.
Na sacristia há uma imagem de Nossa
Senhora, com o Menino ao colo, ainda por restaurar, muito antiga.
|
|
|
Detalhes do
altar-mor: parte central e imagem de S. João Batista. |
|
|
É curioso notar a grande parecença,
que existe, entre o rosto da imagem de Nossa Senhora de Monserrate e
o da do Menino que ela segura no braço.
b
O pavimento e as suas sepulturas
Até 1951, o pavimento da capela
estava forrado com mosaicos, a branco e preto, que denotavam ter
muitos anos, embora não fossem antigos.
Naquele ano mandei levantá-los,
ficando a descoberto o velho lajeado, formado por pedras
aparelhadas, de forma rectangular, aparecendo as três sepulturas,
com suas pedras de cobertura, dos antigos donos desta casa, pela
seguinte ordem, a partir do poente para nascente:
Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco
† Dezembro 1818.
D. Ana Joaquina Rita da Costa
Pacheco, sua mulher † Abril 1826.
D. Josefa Xavier Ferreira Pacheco,
sua sobrinha † Julho 1841.
/ 73 /
c
Jazigo
|
Como já disse, o jazigo está
praticado na parede poente da capela, do lado direito do altar
principal (para quem o enfrenta).
Está vedado por uma grande pedra de
mármore branco, onde está inscrito o seguinte epitáfio, em letras
pretas: «À saudosa memoria de Luíza Adelaide Teixeira da Silva
Canedo que nasceu a 15 de Janeiro de 1810 e faleceu a 5 de Fevereiro
de 1850 consagra o amor conjugal em signal de eterna lembrança».
Esta pedra era a que cobria a
sepultura, no adro, em frente da igreja de S. Nicolau, desta vila,
onde fora originariamente sepultada, perto do cruzeiro aí existente.
Nele estão depositadas, além das
ossadas desta minha bisavó, as do meu bisavô e de outras pessoas de
família.
|
Detalhes do altar-mor: imagem de S. Francisco de Assis. |
d
Procissões
Como já disse, na capela de Nossa
Senhora da Encarnação, junto ao Castelo, durante muitos anos e de
tempos imemoriais, celebrava-se, em 25 de Março de cada ano, no
terreiro que lhe fica fronteiro, a festividade dedicada àquela Nossa
Senhora, também conhecida por Nossa Senhora de Março, com missa
solene a grande instrumental, sermão e luzida procissão, na qual se
incorporava a imagem daquela Nossa Senhora.
Em alguns anos esta ia até à capela
de Nossa Senhora de Monserrate, onde entrava pela porta principal.
Dando volta dentro dela, saía pela porta do nascente alcançando, de
novo, o pátio da casa, pelo arruamento conhecido pelo das
camélias que fica, também a nascente e ainda hoje existe,
regressando, depois, à capela do Castelo.
Referindo-se à que se realizou em 25
de Março de 1911, a «Gazeta Feirense», número 123 de 27 seguinte,
informou que apesar do mau tempo, chuva e vento, foi possível fazer
a procissão, aproveitando-se uma estiagem. «Aquela trégua ao mau
tempo permitiu ainda assim, que saísse a procissão, a qual deu volta
à capela particular da quinta das Ribas de Cima do Castelo,
propriedade do sr. Dr. Eduardo Vaz de Oliveira e recolheu, sem chuva
de maior monta, à velha capela erigida pela condessa da Feira».
Outra realizou-se em 25 de Março de
1942.
O jornal feirense «Tradição», no seu
número 506 de 21 deste mês e ano, anunciou o seu programa dizendo
que a festividade era organizado por uma comissão de devotos,
composta pelos moradores dos lugares do Castelo, Matos e Portela e
que compreendia uma procissão da capela do Castelo à capela da «casa
das Ribas» com incorporação de autoridades civis e religiosas e das
irmandades do SS. Sacramento e de Nossa Senhora do Rosário e
regresso, tudo entre cânticos religiosos, implorando a Deus, por
intermédio da Virgem Nossa Senhora da Encarnação, a paz e o sossego
para Portugal».
Nesta época decorria a segunda
guerra mundial.
O mesmo jornal disse, ainda, que a
procissão já se não fazia havia cerca de quarto de século.
Não havia memória de, em
reciprocidade, a imagem de Nossa Senhora de Monserrate, ir em
procissão até à capela do Castelo.
/ 74 /
Veio, porém, a efectuar-se em 13 de
Novembro de 1960.
A imagem de madeira de Nossa Senhora
de Monserrate que, devido ao seu grande peso, tinha sido apeada do
seu trono com dificuldade, foi levada processionalmente até à capela
de Nossa Senhora da Encarnação, acompanhada de todas as pessoas da
casa das Ribas.
Depois de ter entrado na capela do
Castelo, regressou à capela de Nossa Senhora de Monserrate, com o
mesmo cerimonial.
LUGAR DE FlJÔ
E
CAPELA DE S. MIGUEL
1
Descrição
A capela de S. Miguel, também
chamada do «Arcanjo de S. Miguel» ou de «S. Miguel Arcanjo», está
situada no lugar de Fijô, desta vila, marginal à rua dos Condes de
Fijô (lado direito para quem sobe).
Em Maio de 1949, quando esta rua foi
alargada, a capela foi recuada para o local onde hoje se encontra,
cerca de vinte e cinco metros para norte.
O Dr. Vaz Ferreira, no seu «Ferro
Velho» – «Fijô» (Correio da Feira, número 2936 de 7 de Maio de
1955), descreveu-a, bem como à casa a que estava ligada, nos
seguintes termos: «Do outro lado do desembocar da rua no largo, em
frente do solar, (o dos condes de Fijô) estava a outra capela ornada
de cantarias, mas afastando-se, como na continuação da rua, em
frente da qual o terreno se elevava. Junto à capela rica de
cantaria, mas recuados havia uns corpos reentrantes e salientes de
uma habitação. A seguir à capela e só recuado na largura do cunhal
um corpo com uma varanda. Reentrava, tendo outra varanda na parede
exposta ao norte. O corpo recuado tinha duas janelas de peitoril e
uma porta. Em frente desta e de uma das janelas um patim gradeado,
de onde descia uma escada de seis degraus abrindo em leque com suas
guardas de ferro.
A casa de Fijô e a capela de S. Miguel,
na sua antiga traça.
Por baixo da porta e sob o patim um
portão dava entrada para o quintal, vendo-se lá dentro, na outra
face da construção, os restos de um arco de boa cantaria.
A seguir a esse corpo reentrante
salientava-se outro tendo no rés do chão uma porta e uma janela ao
canto. Na fachada voltada ao nascente deste corpo avançado havia
três janelas à altura do andar. Tudo dava a impressão de ter sido
edificado em várias ocasiões, como se tivesse sido composto e
recomposto, mas mostrando que fora moradia solarenga».
Esta descrição completa-se com a
fotografia que se publica da capela e da casa contígua, na sua
antiga implantação e coma das mesmas edificações, depois de removida
a capela para o lugar onde hoje se encontra e da substituição do
velho solar por um novo prédio.
Como se vê pelas referidas
fotografias, a fachada da capela é bonita, trabalhada e bem
proporcionada. No vértice cimeiro do motivo triangular, com que
/ 75 / na época era de
costume ornar as capelas, há uma cruz de pedra ladeada por pilares
lavrados, também de pedra, abrindo-se, dentro do mesmo triângulo, um
óculo que proporciona a entrada da luz.
A porta frontal está ladeada por
duas janelas, cada uma delas sobreposta por ornato, também
triangular, motivo que também foi escolhido para encimar o mesmo
portal.
Ladeando este último triângulo
vêem-se dois nichos de cantaria lavrada, sem qualquer imagem.
O campanário de pedra, sem sino,
estava e está implantado no cimo do topo do corpo da casa, junto à
capela.
Na fachada sul tem duas janelas e
nenhuma para poente, o que se compreende por a parede interior,
desse lado, ser reservada ao altar.
No verão de 1972, a Câmara Municipal
da Feira mandou retirar, do seu interior, os degraus, que ainda
existiam, do altar, o púlpito e a pia de água benta, para adaptação
da capela a salas da Escola Comercial e Industrial que aí e na casa,
passou a funcionar em Outubro deste ano.
Capela de S. Miguel e a casa, como se
encontram hoje. Frente (nascente)
2
História
Esta capela é antiga.
Segundo no diz Manuel Soares de
Albergaria Pais de Melo, no seu livro «Soares de Albergaria
(Subsídios para a sua história»), a págs. 455, em 1666, Dionísio
Soares de Albergaria instituiu o morgadio de S. Miguel da vila da
Feira, com cabeça na quinta de Fijô, da mesma vila, acrescentando
que aquele «vinculou seus bens à mesma quinta de cuja capela fez
cabeça e chamou-se, desde então, ao mesmo vínculo – o morgadio de S.
Miguel da Vila da Feira».
Sendo assim, a fundação da capela
data de época anterior a 1666 e, possivelmente, quando a quinta
estava na posse do P.e António Soares de Albergaria,
irmão do instituidor do vínculo.
Já era falada entre as ermidas que
existiam em 1697, segundo referência feita pelo padre Francisco de
Santa Maria no "Ceo Aberto na Terra».
Mas, o que é certo é que não foi
numerada, no Episcopológio» de Manuel Pereira de Novais (concluído
em 1690), entre as ermidas da Vila da Feira.
Pode suceder que houvesse uma
omissão por parte deste autor, mas também se pode admitir que o
vínculo fosse encabeçado na quinta e que a capela aí fosse
construída posteriormente, o que não é verosímil.
Para um melhor juizo sobre a matéria
é necessário ver, cuidadosamente, o título constitutivo da
instituição do morgadio, que Francisco Soares de Albergaria Pereira,
no seu livro de lembranças disse que se achava na «Provedoria de
Aveiro» (cit. liv. de Paes de Melo, págs. 333).
/ 76 /
De 1697 para cá foi sempre
mencionada nos arrolamentos feitos pelos historiadores, já citados,
das capelas e ermidas erectas nesta vila, correspondentes a 1707 e
1758.
Foi propriedade da família Soares
de Albergaria – ramo que Felgueiras Gaio, no seu citado trabalho
(tomo XXVII, págs. 110), designa por de «Oliveira do Conde».
Para melhor elucidação, junta-se uma
carta genealógica deste ramo de tão nobre família e, assim, damos
melhor clareza e síntese à narração.
Convém, contudo, fazer algumas
anotações.
A história desta família está
intimamente ligada à de outras casas antigas desta vila, como:
a) algumas das da Praça Velha, já
por mim estudadas no meu trabalho «Quatro Séculos de História – A
Praça Velha», designadamente na árvore genealógica n.º 4 e
respectivo índice antroponímico (publicado na revista «Aveiro e o
seu Distrito, n.º 3 a 7 e em separata) ;
b) a das Ribas, além do castelo da
Feira, por intermédio de D. Maria Eufrásia Soares de Albergaria
(irmã de Francisco Soares de Albergaria Pereira) que comparticipou,
pelo casamento com Fernão Camelo de Miranda Pinto Pereira da Silva,
no morgadio instituído por João Ferreira da Cruz no testamento de 26
de Fevereiro de 1736, com obrigação imposta na já falada capela
desta casa, da invocação de Nossa Senhora de Monserrate e ainda por
intermédio de José Soares de Albergaria e seus filhos (ramo da «Qt.ª
do Paço em S. João de Ver – Felg. Gaio, cit. ob. tomo XXVII – pág.
114 – descendentes do Lopo Soares de Albergaria, filho de Pedro de
Santar Soares) que foram proprietários da mesma casa nos fins do
século XVII e princípios do XVIII;
c) a «Quinta de Pombos da Terra da
Feira», de que foi proprietário o licenciado Lopo Soares de
Albergaria, pai daquele José Soares de Albergaria;
d) as de Justas e da Velha, como
adiante será referido;
e) a de Fijô, hoje dos condes do
mesmo nome, como também adiante se verá.
A mesma casa e capela. Lado posterior
(poente).
Desta ilustre estirpe dos «Soares de
Albergaria», destacarei alguns dos seus membros, pelos laços que os
ligam à terra da Feira e nomeadamente à casa de Fijô que ora estudo.
Lopo Soares de Albergaria,
casado com Leonor de Meireles, era parente dos Condes da Feira, com
quem viveu no Castelo: foi senhor, como já o fora seu pai, Pedro de
Santar Soares, da quinta de Tarei, em Travanca (cit. trabalho «Praça
Velha» e «Ainda a Praça Velha – Vila da Feira», que publiquei na
mencionada revista «Aveiro e o seu Distrito», tomo XII).
Numa colectânea de manuscritos,
reunidos em volume, respeitante à genealogia da família «Soares
Barbosa», na posse do conselheiro Dr. Alberto Toscano, em cópia dum
trabalho feito por Frei Leão «geral da Religião de S. Bento,
cronista da Ordem», diz-se, a folhas 70, que este Lopo «tirou o
brasão com armas de Soares de Albergaria em 19 de Julho de 1549 por
carta passada em nome de EI Rei D. João o 3.º que
/ 78 / se acha registada na
Torre do Tombo no L.º 3.º dos Previlégios do mesmo Rei a fls. 221».
Sua filha, Madalena Soares de
Albergaria (a quem também chamam Margarida), casou com António
Aguiar de Vasconcelhos, o primeiro senhor desta casa de Fijô que
conheço «pessoa nobilissima» (como o chamam a fls. 71 v. da referida
colectânea), que viveu na segunda metade do século XVI.
Carta genealógica da família Soares de
Albergaria.
Deste casamento nasceram: Cristóvão
Soares de Albergaria; o padre Estêvão de Aguiar que curou, durante
muitos anos, a igreja de S. Nicolau, desta vila da Feira; licenciado
Manuel Soares; Diogo Soares de Albergaria (casado com Maria Coelho);
Maria Soares (casada com seu primo José Soares de Albergaria) e
Leonor de Aguiar Soares (casada com Pascoal Gramacho Pinto).
Paes e Melo e Felg. Gaio, nas suas
já citadas obras, não enumeram, como filhos do António de Aguiar,
aqueles padre Estêvão e licenciado Manuel Soares, que são referidos
como filhos herdeiros no inventário por óbito de seus pais: neste
inventário já não intervém o Cristóvão, o que me convence que,
então, já tivesse morrido.
Noto que Felg. Gaio dá como filha de
António Aguiar outra Leonor, como casada com Fernão Soares de
Albergaria, mas quando se refere a este diz que outros o dão como
casado com D. Isabel Nunes (cit. ob. T. XXVII – pág. 108 e 110).
Esta deve ser a versão verdadeira,
seguida por Paes e Melo (que lhe chama Isabel Nunes da Fonseca), na
sua cit. ob. pag. 95.
Felg. Gaio enganou-se quando dá
aquela Leonor como filha do António de Aguiar.
José Soares está mencionado por
Lourenço Huette (livro apontador de todas as cartas de compras das
propriedades que esta caza tem de todos os prazos que dela se tem
feito, donde constão as notas em que se achão – ano de 1774, a fls
423) quando diz: «Veio este prazo a esta caza, pelo casamento da
quarta avó de minha m.er D. Vitória de Lacerda. D. Filipa
de Matos, casada com Diogo Moreira de Vasc.os pelo dote
que lhes fez seus Pais, José Soares e sua mulher D. Maria Soares
moradores na sua q.ta de Fijô na vila da Feira pegado
à Ribeira de minha casa da dita vila, como consta do dito dote feito
por letra, e mão do mesmo duador José Soares, em 15 de Setembro
de 1618».
Esta ribeira era a que, pertencendo
à casa do Huete Bacelar, confinava directamente com a quinta de Fijô.
E acrescenta a fls. 431:
«Esta propriedade veio a esta caza
pelo casamento da quarta Avó de minha m.er D. Vitoria de
Lacerda, a qual se chamava D. Filipa de Matos, q quando cazou com
Diogo Moreira e Vas.os lho dutarão seus Pais dela, José
Soares e sua m.er D. Maria Soares da Quinta de Fijô
como dele consta q é um escrito feito pela mão e letra do dito
Dutador em 15 de Abril de 1608».
Por outro lado aquele Diogo Soares
de Albergaria é apontado como senhor da quinta de Fijô, por Paes de
Melo no seu citado livro a pag. 267 e por tantos outros autores e o
mesmo se deduz pelo que vamos expor quanto aos seus descendentes,
como senhores da mesma quinta.
Como conciliar estas duas versões?
A que faz seguir a casa pelo ramo de
Maria Soares e de seu marido José Soares de Matos (ou de
Albergaria), ou a que a faz derivar pela linha do Diogo Soares de
Albergaria?
É difícil dar uma resposta segura,
por carência de documentos suficientes, mas pode-se formar um juízo.
Encontrei, no vol. X do tombo do
convento de S. João Evangelista, que foi desta vila (fls. 66 a 74),
a carta de partilhas passada a favor daquele padre Estêvão de Aguiar
em 6 de Outubro de 1603 pelo licenciado João Álvares Moutinho, que
serviu de «Juiz louvado antre os filhos e erdeiros que ficaram de
António de Aguiar e de Madalena Soares sua mulher (que são os acima
indicados com excepção do Cristóvão) já defuntos moradores que foram
em Fijô de junto da vila da Feira para fazer antre eles partilhas e
determinar as duvidas que antre eles havia por o juiz dos orfãos e
ordinarios serem suspeitos».
Neste inventário ele exerceu o cargo
correspondente ao que hoje é designado por cabeça de casal por
«ficar na casa dos ditos defuntos por falecimento do dito António de
Aguiar que faleceo derradeiro».
Como o documento se destinava a
titular os direitos do padre nos bens herdados, nele apenas foram
descritos os que lhe foram adjudicados, entre os quais se contava o
património que tinha no Casal de Amorim.
Do estudo desta carta de partilhas
conclui-se que o José Soares foi beneficiado, pelos pais, com dote
avultado o que o levou, ao contrário do que fizeram os demais
herdeiros, a declarar que não queria ser herdeiro.
Para nos apercebermos do valor que,
para a época, devia representar aquele terço, basta dizer que os
bens
/ 79 / deixados pelo António
de Aguiar e mulher, incluindo os dos dotes por eles concedidos,
foram estimados, no aludido inventário, para efeito de partilhas, em
«um conto e duzentos e cincoenta mil e quinhentos e setenta e cinco
rs».
Como o José Soares foi senhor da
casa (com seu quintal) da «Praça Velha», que confinava,
imediatamente para norte, com os Paços do Concelho que, por certo,
pertenceu à casa de Fijô, com cujos terrenos confinava, é de admitir
que a houvesse por força do aludido dote.
E também pode ter sucedido que nele
se tivesse incluído a casa mãe de Fijô, embora os doadores tenham
reservado o usufruto que lhes permitiu viver lá até à morte do
último (António Aguiar), na companhia do filho – padre Estêvão.
É ainda de admitir que esta casa
nobre tivesse sido adjudicada ao licenciado Manuel Soares e que
deste passasse para a mão do cunhado José.
Seja como for, comparando a data
daquela carta de partilhas – 1603 – com as mencionadas declarações
feitas pelo Huete Bacelar, no tombo da sua casa, dando o José Soares
e sua mulher como da «Quinta de Fijô» em 15 de Abril de 1608 e como
«moradores na sua (o sublinhado é meu) q.ta de Fijô» em
15 de Setembro de 1608, sou levado a concluir que ela lhe
pertenceria neste ano.
Se o José Soares foi de facto, por
qualquer título legítimo proprietário do solar de Fijô, ele ou seus
filhos transmitiram-no ao Diogo ou a seus filhos, versão que julgo
aceitável para conciliar as duas teses.
A alienação não é de estranhar pois
aquele viveu com dificuldades, como resulta das execuções movidas a
seus filhos, para pagamento das dívidas por ele deixadas (meu citado
estudo sobre a «Praça Velha...».
Pela data atribuída aquela carta de
partilhas alcança-se ainda o conhecimento de que António Aguiar de
Vasconcelos e sua mulher foram senhores da Casa de Fijô, pelo menos,
em parte do último quartel do século XVI.
Isto está confirmado pelo já
mencionado livro do padre Jorge de S. Paulo – «Livro e memorial da
fazenda...» §
5.º, a fls 56, (Arq. Dist. Av.), Vol.
XVII, pág. 51, quando diz que entre
1581-1583, o «António de Aguiar e sua mulher Madalena Soares» –
«moradores em Fijô» fizeram venda de determinado prédio ao reitor do
convento da Feira – Bartolomeu da Conceição.
Do mesmo tombo do Convento (Livro
1.º, fls. 21), também consta que, em 1583, o António de Aguiar
vendeu aos padres deste convento «uma casa ou assente nesta v.ª da
Feira que comessa do campo que foi de Antº Raiz q partia pela
estrada que vai para o Castelo q esta a fonte do dito Castelo».
Diogo Soares de Albergaria, do seu
casamento com Maria Coelho, da vila de Ovar, teve, além de outros,
os seguintes filhos:
a) António Soares de Albergaria,
clérigo, que tendo sucedido na casa, por herança, a transmitiu a seu
irmão, que segue;
b) Cristóvão Soares de Albergaria,
que foi casado com Catarina de Pinho de Amorim, também de Ovar. Em
22 de Maio de 1707 morava na quinta, de Fijô, com «30 anos pouco,
mais ou menos», como consta do seu depoimento no processo para
autorização de venda, por parte de sua prima Angelina, filha de Luís
da Silva Aguiar, da quota que lhe pertencia na quinto das Ribas, ao
padre Simão Ferreira de Aguiar Franco, que teve lugar por escritura
de 24 de Março de 1707.
c) Dionísio Soares Albergaria,
chanceler da Relação do Porto que instituiu, em 1666, o morgadio de
S. Miguel, vinculando os seus bens à mesma quinta, de cuja capela
fez a cabeça e chamou, desde então, ao vínculo – «O Morgado de S.
Miguel da Vila da Feira», como já referi. (cit. livro de Paes de
Melo, pág. 268).
O mesmo autor dá como sucessor do
Cristóvão, na propriedade da casa, seu filho Manuel Soares de
Albergaria, casado com D. Maria Chamorro Guedes da Silva, de Aveiro,
que se distinguiu nas batalhas da guerra da Aclamação e nas da Liga
contra Filipe V, «com valor e bom procedimento» (como se diz a fls.
71 da referida colectânea de manuscritos reunidos sob o título –
Genealogia – Soares Barbosa), cavaleiro da Ordem de Cristo,
tenente-general da cavalaria, «Governador de Paraiba e Buarcos M.e
de Campo do Terso de Infant.º de Penamacor e ultimamente G.al
de Batalha que não chegou a exercitar») como diz F. Gaio, na cit.
obra, T. XXVII, pág. 111:
Paes de Melo, a pág. 269 da seu cit.
livro diz que ele «Foi senhor da Quinta de Fijô, no termo da Vila da
Feira, cabeça do Morgado de S. Miguel, dando-lhe como sucessor, na
«casa de seu pai e foi senhor da Quinta de Fijô e seu morgado», seu
filho Francisco Soares de Albergaria.
Penso que ha equívoco pelas razões
que passo a expor.
O mencionado Cristóvão Soares de
Albergaria Coelho, além do dito filho Manuel Soares de Albergaria
/ 80 / e de outros, teve, de
sua mulher D. Catarina de Pinho Amorim, uma filha D. Maria Coelho
Soares de Albergaria «que casou com seu Pr.º António Soares de
Albergaria Pereira morador na sua quinta de Fijô da vila da Fr.ª de
quem nasceo Dionísio Pereira Soares de Albergaria como seus irmãos,
como fica já dito e declarado fls. 52 e 53» (cit. colectânea de
manuscritos – («Genealogia Soares Barbosa» – fls. 71, n.º 80, § 15).
Paes e Melo diz que a D. Maria
Coelho, do seu casamento com o primo António Pereira Soares (filho
de Bernardo Soares Pereira) tivera Bernardo e Cristóvão Pereira
Soares, mas não menciona o Dionísio.
Felgueiras Gaio, embora siga as
mesmas pisadas no cit. T. XXVII – pag. 111, já no T. XXI, pag. 56
registara «D. Antónia Moreira do Amaral m.er de seu p.º
Dionisio p.ra Soares de Albergaria f.º de António Soares
de Albergaria e sua m.er M.ª Coelho C. g. Snrs. da Casa
de Fijô».
O Dionísio Pereira Soares de
Albergaria, que foi senhor da quinta de Fijô e da sua capela, foi
personagem de grande prestígio pela sua nobreza e posição social na
vila da Feira.
A primeira referência que dele tenho
colhi-a no tombo do convento dos Loios, desta vila, pela informação
nele dada de que «Dionísio Pereira Soares de Albergaria», em 1704
manteve demanda com o mesmo convento sobre «rendas decursas» (L.
6.º, fls. 99 e 257).
Consultando o tombo da «Casa e
Estado do Infantado» encontrei este Dionísio Pereira Soares como
possuidor, em 23 de Abril de 1708, de terras de Senhorinha Annes
«que são as de que fala o foral folhas tres na verba 9 dos estados
da Senhorinha Annes de Fijô de que são possuidores Dionísio Pereira
Soares e sua m.er D. Antónia do Amaral e Fernão Leitão de
Andrade e sua mulher Natalia Ferraz e Francisco Guedes de Queiroz e
sua mulher Maria Lobato, todos desta vila e Luiz Teixeira de
Magalhães de Vila Real...» fls. 146 a 156.
Esclareço que a quinta de Fijô
estava implantada em parte daquelas terras de «Senhorinha Annes».
Também em reconhecimento de prazo,
do mesmo tombo, aparece-nos o mesmo Dionísio Pereira Soares de
Albergaria como confrontante de terras vizinhas daquela quinta – em
9 e 11 de Julho de 1707.
No auto da posse conferida em 18 de
Maio de 1708 ao infante D. Francisco, do condado da Feira, por força
da doação de 10 de Fevereiro de 1700, que lhe foi feita por seu
irmão D. João V, figuram como presentes «Fernão Leitão de Andrade,
Francisco Guedes de Queiros, Dionísio Pereira Soares e o Doutor
António de Almeida Brandão, pessoas nobres e dos principaes da
governança desta vila da Feira».
No já mencionado «Livro memorial...»
de Jorge de São Paulo, consta = «(por letra do reitor Crispiniano
1724-1726) – Este campo possue hoje Bernardo Moreira de Vasconcelos
o qual campo fica por detrás das suas casas e parte com o rio e com
o campo de Dionísio Pereira, de que paga os direitos 10 alqueires de
trigo» (cit. Arq. Dist. Av. – Vol. XVI – pág. 211). Este campo fazia
parte da quinta de Fijô.
Huete Bacelar refere-o no mencionado
tombo da sua casa, a fls. 91: «Escritura de transação e amigavel
composição, entre Bernardo Moreira Cardoso de Vas.os e
seu cunhado, Dionísio Pereira Soares de Albergaria, da Quinta de
Fijô, todos da vila da Feira, de q foi t.am António Gomes
Leite, q a fez aos 4 de Novembro de 1716 an», que foi precedida pela
«escritura de transação entre Diogo Moreira de Vasconcelos e seu
genro, o dito Dionisio Pereira, feita em 26 de Abril de 1712, pelo
t.am Manuel dos Santos Barreto».
Em 1712 já tinha falecido a mulher
do Dionísio porque naquela escritura houve licença do juiz dos
órfãos por serem menores os filhos daquela – (cit. tombo de Huete
Bacelar – fls. 92).
Ver árvore genealógica n.º 1 do meu
trabalho sobre «A Praça Velha...».
Voltei a encontrar referência a este
Dionísio Pereira Soares de Albergaria no instrumento de justificação
de nobreza de 1733 – requerido por João Lopes Lamas Silva Varela
Sotto Maior «...morador na sua quinta do Paço do par da Feira –
termo desta vila da Feira», do qual consta «Item – que é neto
legítimo de João Lopes Soares e de sua mulher Dona Isabel Pinto
Henriques Penanoias senhores que forão da sobre dita Quinta de Paço
do par da Feira desta dita vila aparentadas na Casa de Soares de
Albergaria da Quinta de Fijô de Dionisio Pereira Soares de
Albergaria».
Na petição da justificação da sua
ascendência nobre, iniciada no Porto, com inquirição de testemunhas,
em 20 de Julho de 1807, a requerimento de Romão José da Silva
Falcão, de Paço de S. João de Ver, de onde proveio aquele
instrumento de justificação e onde consta a «Carta de Brazão de
Armas de Nobreza e Fidalguia concedida àquele Romão, em 30 de Agosto
de 1793», foi alegado ser aparentado nas «Cazas de Soares Albergaria
da quinta de Fuijo por sanguinidade cuja caza era de Dionísio
Pereira Soares de Albergaria». (Livro do registo da Câmara Municipal
da Feira. Registo, de Junho de 1832, da sentença civil
/ 81 / de justificação de
testemunhas do justificante Romão José da Silva Falcão, de Paço, de
S. João de Ver, fls. 122 a 128).
Novas referências encontro a
Dionísio Pereira, interessantes e concludentes.
a) V (que presumo ser o padre
Augusto de Oliveira Pinto), em artigo publicado no jornal «Povo
Feirense» número 32 de 3 de Dezembro de 1938, sobre a capela de
Santa Maria de Campos, em referência às ermidas mencionadas na «Corografia
Portuguesa» de Carvalho da Costa (1707) diz que, num exemplar dela,
estava escrito à margem do texto uma anotação, datada de 6 de Junho
de 1742, que dizia «E... outro de S. Sebastião, capela de Dionisio
Pereira, homem principal...» Apenas há a notar o equívoco na
invocação da capela que era de S. Miguel e não de S. Sebastião;
b) no já mencionado livro de
Visitações à Igreja de S. Nicolau da Feira, na de 15 de Outubro de
1741, diz-se: «E que na Capp.ª de Dionisio Pereira emq.to
não estiver revocada toda a parede em que se firma o altar até sima
se não selebre missa sob pena de excomunhão»;
c) no livro já referido do padre
Jorge de S. Paulo «Livro e memorial...» a fls. 280, afirma-se:
«Sendo Mordomo o R.do P.e Ant.º Per.ª f.º de
Dionisio Pereira Albergaria e tendo este procuração de seu f.º não
fez festa ao glorioso Martir S. Sebastião neste ano de 1749 entendo
que tudo foi por teimas.»;
d) ainda no mencionado livro das
Visitações, na de 24 de Junho de 1762, exarou-se «E fique suspensa a
Capela das Casas que forão de Dionísio Pr.ª enquanto se não
repararem as janelas que estão abertas o que fica ao arbitrio do
Rev.do Pároco».
Da dita colectânea de manuscritos –
Genealogia – Soares Barbosa, fls. 52 v. e 53, consta, ainda, em
referência aos troncos de Soares de Albergaria:
«em a vila da Fr.ª na qt.ª de Fijô a
casa de Dionisio Pr.ª Soares de Albergaria de q nasceo José Pr.ª
Soares de Albergaria Sr. e morgado da casa de seu Pai não teve
susesão q estando comprometido p.ª cazar em o Douro na Casa de
Seblanos morreo de uma Malina. Ficou um Irmão Clérigo António Pr.ª
Soares de Albergaria e uma Irmã D. Bernarda pr.ª Soares de
Albergaria q casou em sima do Douro na q.ta de perseguida
com M.el de Gouveia de que não ouverão filhos. Ficou esta
Sr.ª viuva e Sr.ª do Morgado de seu Pai da Casa de Fijô na vila da
Fr.ª e por contrato que fes com seu Parente Franc.º Soares de
Albergaria de Midões asisstente na sua qt.ª da Rede de Sima do Douro
lhe passou o dito Morgado de Fijô e desta casa adiante se dirá».
Em seguida, fls. 53 e 53 v., diz «A
casa dos Albergarias em Oliveira do Conde na Beira que pessue
Francisco Soares de Albergaria Pr.ª Fidalgo da Casa Rial Mestre de
Campo de Auxiliares na comarca da Goarda Filho de Manuel Soares de
Albergaria Fidalgo da Casa Real tambem mestre de Campo na mesma
comarca e de sua m.er D. Maria Tomasia de Siqueira e
Queiroz, da quinta da Rede (o realçado é meu) em Vilamarim...
neto o dito Francisco Soares de Albergaria Pr.ª de Francisco Soares
de Albergaria, natural da cidade de Abr.º Fildalgo da Casa Real e
Mestre de Campo de Auxiliares e de sua m.er D. Ângela
Pr.ª de Miranda natural de Midões».
No já aludido tombo da «Casa e
Estado do Infantado», fala-se de um título que diz respeito ao que «possue
no chão do canastro José Pereira Soares de Albergaria, morador na
sua (o grifado é meu) quinta de Fijô», cujo registo, no mesmo
tombo, tem a data de 8 de Abril de 1754.
Neste tombo, regista-se, também em
1754, um censo de M.el de Gouveia e sua mulher D.
Bernarda Angelina Pereira Soares de Albergaria, cunhado e irmã que
ficaram de José Pereira Soares de Albergaria.
Assim este deve ter falecido neste
ano de 1754.
Muito claro se apresenta o vigário
P.e José de São Pedro Quintela nas suas respostas ao
questionário para o «Dicionário Geografico», de 1758, quando diz
quanto às capelas da vila: «– A segunda é do Arcanjo S. Miguel sita
no lugar de Fijô e é vínculo com obrigação de algumas missas que
hoje pertence a Manuel de Gouveia (o grifado é meu), desta
freguesia.
Em face do exposto, ha que verificar
a que Francisco se refere o texto que transcrevi da «Colectanea dos
manuscritos», se ao Francisco Soares de Albergaria, casado com
Ângela Pereira Franco Miranda, se ao seu neto Francisco Soares de
Albergaria Pereira.
À primeira vista parece que se trata
do primeiro, pois diz-se que o contrato de transmissão foi feito a
favor de Francisco Soares de Albergaria e não do Francisco Soares de
Albergaria Pereira.
O primeiro, de facto, casou com uma
senhora de Midões (do concelho de Taboa), ao passo que o segundo
nasceu em Oliveira do Conde e faleceu em Mesão Frio, o que não
exclui que também tivesse vivido em Midões, em propriedade herdada
de seu referido avô.
/ 82 /
Mas, por outro lado, temos que
considerar que se se tratasse do primeiro ele devia ter para cima de
83 anos quando a D. Bernarda Pereira Soares de Albergaria fez o
contrato de transmissão do Morgadio de Fijô, pois o Francisco Soares
de Albergaria deve ter nascido por 1675 e a D. Bernarda ainda estava
casada e senhora da quinta de Fijô em 1758.
Acresce que apenas o Francisco
Soares Albergaria Pereira podia ser assistente «na sua qt.ª da Rede
de Sima do Douro», pois ela veio à família pelo casamento de seu pai
Manuel Soares de Albergaria Pereira com sua mãe D. Maria Tomásia de
Sequeira Guedes de Queirós: quinta de Santiago da Rede, freguesia de
Vila Marim.
Daqui convenço-me que a transmissão
feita pela D. Bernardina foi a favor do Francisco Soares de
Albergaria Pereira e não de seu avô.
Paes de Melo, no seu citado livro
«Soares de Albergaria» diz a pág. 455 que a mais antiga notícia que
conseguiu obter da quinta de Fijô remonta a António de Aguiar
Vasconcelos casado com D. Madalena Soares de Albergaria que, por sua
vez, a legaram ao filho, o clérigo António Soares de Albergaria, que
a transmitiu ao irmão Cristóvão.
Acrescenta que deste passou para seu
filho, o tenente-general Manuel Soares de Albergaria, a quem atribui
a autoria do documento que transcreve na 3.ª parte (penso que há
engano porque o documento é do livro de lembranças de Francisco
Soares de Albergaria Pereira, como diz Paes de Melo no seu citado
livro a pag. 272 e 333).
Naquele livro de lembranças o
Albergaria Pereira disse (pag. 333 do mencionado livro de Paes de
Melo) que tinha, em seu poder, a instituição do Morgadio feito pelo
Dionísio Soares de Albergaria em 1666, a qual se achava na
Provedoria de Aveiro e acrescenta: «Como o Instituidor não teve a
devertensia de descrever os Bems q vinculava e só dis q vincula
todos os seus Bens, q dos seus titulos constarão, os susesores
venderão m..tos, e embargarão os titulos, aos
Compradores, q creio será couza impussível, opuderemse revendicar. E
os que existem, e de q Eu entrei de pose por morte de meu Tio o Sr.º
Antº Pr.ª Soares de Albergaria...».
Penso que daqui se pode tirar mais
um argumento para a minha tese.
Se o Francisco Soares de Albergaria
Pereira só entrou na posse dos bens do vínculo por morte do tio
António Pr.ª Soares de Albergaria é porque não os herdou do pai,
antes os recebeu de alguém, com o compasso de espera na mão daquele
tio, o que convence que este ficou usufrutuário desses bens quando a
D. Bernarda os transmitiu àquele Francisco.
Isto é, a D. Bernarda deve ter
transmitido o domínio ao Francisco e a posse (o
usufruto) ao padre António: pela morte deste extinguiu-se o usufruto
e o Francisco entrou na propriedade plena reunindo, na sua mão, o
domínio que já tinha com a posse que alcançou pelo falecimento
daquele clérigo.
E isto não admira porque aquele
António Pereira Soares de Albergaria, clérigo (que era primo e não
tio do Francisco) era irmão de D. Bernarda e assim ela quis que o
vínculo se mantivesse no seu ramo, por mão do padre António,
enquanto vivo, passando, depois do seu falecimento, para o outro
ramo da família – o do Francisco Albergaria Pereira.
Pelo exposto, entendo que não foram
senhores da quinta de Fijô e, deste modo, não encabeçaram o vínculo,
os seguintes descendentes do Cristóvão Soares de Albergaria Coelho,
ao contrário do que nos diz Paes e Melo na sua citada obra:
1) O já referido Manuel Soares de
Albergaria, casado com D. Maria Chamorro;
2) Francisco Soares de Albergaria,
que deve ter nascido em 1675, pois o irmão que lhe sucedeu em idade
nasceu em 10 de Fevereiro de 1676. Casou em Midões com D. Ângela
Pereira de Miranda e foi Mestre de Campo de Auxiliares da Comarca da
Guarda, fidalgo cavaleiro da Casa Real e cavaleiro professo da Ordem
de Cristo;
3) Seu filho Manuel Soares de
Albergaria Pereira, que nasceu em Midões a 3 de Abril de 1699, foi,
também, Mestre de Campo de Auxiliares da Comarca da Guarda, fidalgo
cavaleiro da Casa Real e cavaleiro professo da Ordem de Cristo.
Casou, na quinta de Santiago da Rede, freguesia de Vila Marim, com
D. Maria Tomásia de Sequeira Guedes de Queirós.
O Francisco Soares de Albergaria
Pereira, filho deste Manuel Soares de Albergaria Pereira e de D.
Maria Tomásia de Sequeira Guedes de Queirós (nascida em 1711)
nasceu, segundo informa Paes de Melo, em Oliveira do Conde, em 11 de
Junho de 1745, tendo casado, pela segunda vez, em 27-7-1761 com D.
Maria Casimira Inácia Pequeno Chaves Lemos Roxas e Menezes.
Foi este Francisco que recebeu a
casa de Fijô e o morgadio de S. Miguel, da mão de D. Bernarda de
Albergaria.
/ 83 /
Comparando todas estas referências,
convenço-me de que este Soares de Albergaria nasceu antes de 1745.
Foi fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, Familiar do
Santo Ofício, Mestre de Campo de Auxiliares da Comarca da Guarda por
carta de 18 de Outubro de 1865 e, segundo Paes de Melo «Senhor do
Morgado de S. Miguel na Vila da Feira, de que era cabeça a Quinta de
Fijô, no mesmo termo e a que muito se refere o Livro de lembranças
deste Francisco Soares de Albergaria».
Assim, segundo a exposição feita,
concluo quanto à quinta de Fijô – que:
a) pertenceu a António Aguiar de
Vasconcelos e a sua mulher, sucedendo-lhe seu filho – o clérigo
António Soares de Albergaria que, naturalmente, já com seu morgadio,
instituído por seu irmão Dionísio Soares de Albergaria, a transmitiu
a seu outro irmão;
b) Cristóvão Soares de Albergaria
Coelho, de quem passou para sua filha D. Maria Coelho, casada com
António Pereira Soares ou António Soares de Albergaria, ou
directamente para o filho destes Dionísio Pereira Soares de
Albergaria, que tudo transmitiu a seu filho José Pereira Soares de
Albergaria;
c) deste passou para sua irmã D.
Bernarda Pereira Soares de Albergaria e seu marido António Gouveia,
tendo ela, no estado de viuvez, transferido a quinta, capela e
vínculo para o seu parente Francisco Soares de Albergaria Pereira
que foi casado com D. Maria Casimira Inácia Pequena Chaves de
Miranda e, com toda a probabilidade com usufruto a favor de seu
irmão P.e António Pereira Soares de Albergaria;
d) Manuel Soares de Albergaria, seu
filho Francisco Soares de Albergaria e o filho deste, outro Manuel
Soares de Albergaria Pereira, nunca chegaram a ser senhores daquela
quinta, sua capela e morgadio;
e) Dionísio Pereira Soares de
Albergaria, viveu de um período anterior a 1704 até outro
correspondente ao intervalo entre os anos de 1749 e 1754, ano este
em que seu filho José Pereira Soares de Albergaria já lhe havia
sucedido na casa;
f) Manuel de Gouveia, marido da D.
Bernarda Pereira, era dono da quinta de Fijô e sua capela e senhor
do vínculo em 1758 e, naturalmente, já em 1754, data em que
provavelmente faleceu o José Pereira Soares de Albergaria.
A confirmar a minha tese ainda
encontro no «Foral» concedido à «Vila da Feira e Terra de Santa
Maria», em 1514, a referência feita às faladas terras de «Senhorinha
Annes, classificadas de herdades foreiras e assim, foreiras e não
reguengas (fls. 2, 2 v. e 3).
Faziam parte do «chão do carvalho de
fyjo» que englobava quatro leiras – «E sam mais quatro leiras a
cortinha da porta, a saber, uma de Jam de Fyjo outra de senhorinha e
outra de Lopo Afonso e outra de Jam da Ramada. E um chão de Jam
dentes que traz Joan do Outeiro» (fls. 1 v. e 2).
Várias quintas de Fijô estão
implantadas naquelas que foram de «Senhorinha Anes»: entre elas
conta-se a que ora estudo, onde está implantada a capela de S.
Miguel e a que se segue, neste trabalho, também denominada de Fijô,
onde se levantou a capela de S. Bento e S. José.
Por isso, várias referências
encontramos a elas, no tombo da «Casa e Estado do Infantado» que, no
tocante àquela de Fijô, com sua capela de S. Miguel, identifica
claramente os seus proprietários através do reconhecimento que
prestaram das respectivas obrigações enfitêuticas, o que tem
especial interesse para este trabalho.
Assim acontece com o censo que fez o
Manuel de Gouveia e sua mulher D. Bernarda Angelina Pereira Soares
de Albergaria «cunhado e irmã que ficaram de José Pereira Soares de
Albergaria e na posse de parte dos bens que dele ficaram, por se
acharem de posse de parte das terras que foram de Senhorinha Annes
que possuia o dito José Pereira Soares». – Em 20 ... de 1754 (fls.
150).
E ainda se alcança o mesmo
conhecimento sobre a identidade dos proprietários da mesma quinta de
Fijô, através das confrontações de outras obrigações enfitêuticas
constantes do mesmo tombo.
a) Quinta de Rolães, no sítio da
Quinta de que trata o foral a fls. 2 v. «Item – a dita Quinta, umas
portas fronhas em frente de umas portas por traz da quinta de José
de Freitas ... = parte do nascente com a ribeira de Diogo Moreira de
Vasconcelos e pumar de Dionisio Pereira Soares... » (título de
reconhecimento de foro de 9 de Julho de 1707 – fls. 178 a 182).
Este Diogo era o marido de D. Josefa
Violante de Vasconcelos;
b) Quinta de Rolães (outra parte) de
que fala o foral a fls. 3 v. ... no lugar de Rolães, sítio da
Quinta... da qual era confrontante aquele Dionísio Pereira Soares,
pela parte do sul (este título de aforamento tem a data de 11 de
Julho de 1707 – fls. 184 a 187);
c) Chão de Canastro, que possui José
Pereira Soares de Albergaria «morador na sua quinta de Fijô» – 8 de
Abril de 1754 (fls. 394 a 397).
/ 84 /
d) Campo da Ribeira de D. Josefa
Violante de Vasconcelos: «um campo que fica dentro da quinta da
reconhecente Dona Josefa Violante de Vasconcelos (campo por cima do
rio) para a parte do poente junto da quinta de José Pereira
Soares de Albergaria (título de reconhecimento de foro feito a
30 de Outubro de 1754 – fls. 162 a 165).
Este campo, que do norte confinava
com a quinta do Fontoura pertencia, assim, à casa da Praça,
propriedade que foi da D. Josefa casada com o já aludido Diogo
Moreira de Vasconcelos e mais tarde de sua filha D. Vitória de
Lacerda (meu estudo «Praça Velha...» pág. 11 e seguintes).
*
* *
Aquele Francisco Soares de
Albergaria Pereira, que faleceu em 1804, deixou a quinta de Fijô,
sua capela e morgadio ao seguinte filho, que houve de sua mulher – a
referida D. Maria Casimira.
Manuel Soares de Albergaria
Pereira, fidalgo da Casa
Real, que nasceu a 29 de Agosto de 1769 e casou, em segundas
núpcias, com D. Antónia de Jesus de Oliveira e Homem.
Faleceu em 6 de Agosto de 1848
deixando, entre outros filhos: José Soares de Albergaria, que
foi casado com D. Ana Casimira da Costa e Brito Mesquita e D. Ana
Rita Soares de Albergaria Pereira que, pelo seu casamento com
Miguel Borges Tavares de Azevedo e Castro, foi a 1.ª Viscondessa de
Oliveira do Conde.
Houve demanda entre estes dois
irmãos sobre os bens de seus pais do que resultou: «sendo levados
pelos advogados a uma conciliação de partilha eles não partilharam
senão a administração do morgadio (de N.ª Sr.ª dos Remédios).
Mas tanto bastou para que esta se
transformasse em posse de bens e por isso vemos, logo pouco depois,
a Viscondessa de Oliveira do Conde vender a estranhos a tradicional
Quinta de Fijô...» (cit. livro de Paes de Melo – pag. 337).
Tudo consta da escritura de
transacção de 5 de Maio de 1848, lavrada pelo notário do Carregal do
Sal, José de Melo Coelho Cabral, entre aquele José Soares de
Albergaria e sua mulher D. Ana Casimira da Costa, por um lado e D.
Ana Soares de Albergaria Pereira e seu marido Miguel Borges Tavares
de Azevedo e Castro, por outro lado, da qual também consta o relato
da pendência que os opôs.
Por força desta escritura «Dona Ana
Soares ficava desde já na posse e administração do vínculo de
Oliveira do Conde que instituiu Pedro Soares de Albergaria...
ficando assim o Rio Mondego a servir de divisão por quanto estas que
são sitas na margem esquerda e pertencem a tal vínculo ficarão na
posse e administração do outorgante o Ilustríssimo José Soares e
mais ficará a mesma Excelentíssima Dona Ana Soares na Administração
do outro vínculo existente na Vila da Feira ou vizinhanças para
poder desde já entrar na posse de seus bens ou havê-los de qualquer
terceiro que acaso os possam estar possuindo por qualquer título...»
(cit. ob. de Paes de Melo – fls. 414).
António Lambert Pereira da Silva –
em «Nobres Casas de Portugal» vol. 2.º pág. 258 diz também que
aquela D. Ana Rito, por acordo de partilhas, ficou com a Quinta de
Fijô na Vila da Feira mas, por equívoco, diz que a vendeu aos
ascendentes dos actuais Condes de Fijô.
Da matriz provisória desta vila de
1854, actualizada até 1859, que existe na Biblioteca Municipal,
consta sob n.º 334 – como pertença de D. Rosa Pinto da Mota e
marido:
1) Uma morada de casas com lojas,
1.º andar e capela sitas em Fiiô;
2) Uma quinta de lavradio com
árvores de vinho junto à dita casa.
Dada a proximidade desta data com a
de 1848, em que foi feita a escritura de transacção de que resultou
a quinta de Fijô ficar a pertencer a D. Ana Soares de Albergaria
Pereira e marido, penso que foi àqueles que estes venderam a
propriedade.
A quinta de Fijô, mais tarde, em
data que me não foi possível determinar, foi adjudicada a D. Rosa
Angélica da Mota por lhe ter sido encabeçada em pagamento da sua
meação no inventário a que se procedeu por falecimento de seu
primeiro marido – João Ferreira da Silva.
Em Julho de 1883, pertencia a esta
D. Rosa Angélica e a seu segundo marido António da Costa Moreira
pois estava descrito em nome dele na Conservatória do Registo
Predial desta comarca da Feira, sob número 13817 a fls. 75 v. do
livro B-41, com a designação de Quinta de Fijô, composta por casas
sobradadas, com suas lojas, capela, quintais, eira, campos
lavradios, tudo unido, sito no lugar de Fijô, a confinar do nascente
com a levada dos moinhos do bacharel António de Castro Pereira Corte
Real (mais tarde visconde e conde de Fijô) e com a quinta do Dr.
Francisco de Castro Matoso da Silva Corte Real, do sul com a estrada
por onde
/ 85 / era murada e do norte
com o campo do Montinho do dito Corte Real e com Domitila Augusta de
Freitas.
Aqueles, por escritura de 2 de Junho
de 1883, venderam o prédio ao Dr. Francisco Xavier Correia de Sá
Noronha e Moura que foi, nesta Vila, presidente da Câmara,
administrador do concelho e provedor da Santa Casa da Misericórdia,
tendo falecido, na sua casa de Souto Redondo, de S. João de Ver, a
15 de Fevereiro de 1909: foi casado com D. Maria José de Carvalho
Assis e Mouro.
Era filho de Francisco Xavier
Correia de Sá e Moura, cavaleiro fidalgo da Casa Real e bacharel
formado na Faculdade de Cânones pela Universidade de Coimbra e de
sua mulher D. Maria Amália Máxima Pereira de Andrade, natural da
Vila da Feira.
Aquela D. Maria José, por escritura
de 28 de Setembro de 1936, lavrada por José Soares de Amorim,
ajudante do notário – Dr. Domingos Simões Trincão e no impedimento
deste, doou aquele prédio a sua filha D. Elvira de Assis Correia de
Sá Pereira de Carvalho e Moura da Mota, viúva (que fora casada com o
conservador do registo civil desta vila – Dr. Rufino Ferreira da
Mota) e a D. Angélica de Assis Moura da Rocha (ou D. Angélica Assis
Correia de Sá Pereira de Carvalho e Moura) e marido Joaquim Gil
Mendes da Rocha, então farmacêutico em Espinho, por conta das suas
legítimas, com reserva do usufruto para a doadora.
Todo o prédio foi então descrito
(verba 14) como formado por casas térreas e de sobrado com uma
capela, terreno a ressaio, lavradio junto, com água, árvores e mais
pertenças tudo unido e formando um só prédio, chamado Quinta de Fijô,
sito no lugar de Fijô, da Vila da Feira, a confinar de nascente com
o rio e herdeiros de António Bernardo Coimbra, do poente e sul com a
estrada e do norte com o Dr. Domingos Caetano de Sousa, descrito na
conservatória sob o já referido número 13817 e inscrito na matriz
urbana sob o art. 653 e na matriz rústica sob o artigo 1168.
A parte doada a D. Angélica
compreendeu a metade pelo lado poente e o da D. Elvira a outra
metade pelo lado nascente, na qual ficou a casa com sua capela.
Aqueles Joaquim Gil Mendes da Rocha
e mulher venderam a sua metade no prédio ao Dr. José de Castro
Falcão Soares de Albergaria (então Visconde de Fijô), por escritura
lavrada, em 20 de Janeiro de 1944, pelo notário da Secretaria
Notarial da Feira, Dr. Domingos Simões Trincão e a D. Elvira vendeu
a sua metade ao mesmo, por escritura de 5 de Junho de 1944, lavrada
na mesma Secretaria, por mim, como notário.
Assim o Dr. José de Castro reuniu,
na sua mão, toda esta propriedade de Fijô que, depois do
desmembramento, recebeu na referida Conservatória, os números 63651
a fls. 129 do L.-B-163 e e número 63837 a fls. 23 v. do L. B-l64.
A casa e a capela foram demolidas em
1949 para alargamento da estrada que da praça do Doutor Oliveira
Salazar seguia para o Montinho e daí para Espinho, pela rua dos
Condes de Fijô e avenida do Dr. Henrique da Veiga Macedo.
A casa foi feita de novo, em feição
sensivelmente igual à que apresenta hoje: as obras de reconstrução
concluíram-se em 1955.
Depois de fazerem recuar a capela,
reconstruindo-a tal qual se encontrava anteriormente e de fazerem,
junto dela, a nova casa, tudo venderam à sociedade «Borges,
limitada», de Ovar.
Por escritura de 28 de Abril de
1969, esta doou à Câmara Municipal uma pequena parte da propriedade
para alargamento do mercado municipal.
Finalmente, por escritura de 30 de
Dezembro de 1971, vendeu todo o restante prédio, incluindo a casa e
capela, aos «Serviços Municipalizados de Água e Electricidade da
Câmara Municipal da Feira» que, por sua vez, o alugaram a esta para
aí se instalar, como está instalada, a Escola Comercial e
Industrial.
Nesta transmissão descreveu-se o
prédio como formado de «casa de habitação de rés do chão e andar,
com capela anexa, terreno lavradio e de logradouro juntos, com a
área de nove mil metros quadrados aproximadamente, denominado
«Quinta do Moura» e mais actualmente por «Prédio dos Borges da Rabor»,
sito no lugar de Fijô, da freguesia e vila da Feira, o qual
confronta actualmente pelo norte com o doutor Domingos Caetano de
Sousa, pelo sul com a rua dos condes de Fijô, pelo nascente com Nuno
Brandão Andrade e Silva e terrenos do Mercado Municipal e de poente
com a rua recentemente construída, descrita na Conservatória do
Registo Predial sob o n.º 63 837 a fls 23 v. do livro B-164 e na
matriz rústica no artigo 1375 não estando ainda inscrita na urbana,
por não estar concluida a sua construção».
A Câmara Municipal, antes de
instalar no prédio aquela Escola, mandou proceder a obras no
interior
/ 86 / da capela e da casa,
que se estenderam, embora em pequena monta, à sua fachada nascente.
Por tudo que narrei, pode-se
concluir que esta quinta de Fijô pertenceu à família Soares de
Albergaria desde ano indeterminado da segunda metade do século XVII
até meados do século XIX.
3
Diversos
a
Jubileu do ano santo
Em conformidade com a pastoral de
Bispado do Porto de 4 de Junho de 1751 (segundo o breve do Papa
Bento XIV) o vigário desta freguesia de S. Nicolau, P. José do
Nascimento, nomeou «para a visitação das Igrejas que serão de
visitar para alcançar o jubileo (do ano santo) nesta freguesia em
pr.º lugar esta freguesia Matriz e a seg.ª a Igr. da Misericordia –
A 3.ª – A Capela de S. Miguel Archanjo sita em Fijô – e 4.ª a Capela
de Nossa Senhora de Campos (Iiv. cit. das Visitações à Igreja de S.
Nicolau da Feira, fls. 28).
b
Extinção do vínculo
Não sei quando se extinguiu o
vínculo instituído na capela de S. Miguel por Dionísio Soares de
Albergaria.
Não devia ter sido por força da já
referida lei de 3 de Agosto de 1770 que aboliu os morgados
insignificantes (de rendimento anual até cem mil reis, nesta
região). Assim deduzo pelos termos usados na falada escritura de
transacção de 5 de Maio de 1848 em que claramente se fala do
«vínculo existente na Vila da Feira», a não ser que tal designação
tivesse, apenas, um significade honorífico e tradicional.
Pode ter sido atingido pela lei de
30 de Julho de 1860 que aboliu os morgados ou capelas que «não
tivessem de rendimento anual líquido 400$000 reis e daí para cima».
Se resistiu aos efeitos desta lei,
foi extinto por lei de 19 de Maio de 1863 que aboliu todos os
morgados e capelas, com excepção do apanágio do Príncipe Real,
sucessor à Coroa (bens da Casa de Bragança).
c
Recordações da casa, capela e quinta de Fijô, no fim de século XVIII
Na casa de Fijô viveu, por aluguer,
pelo menos desde Maio de 1798 a Janeiro de 1802 – Manuel Gomes da
Costa Pacheco, que foi tabelião nesta vila, irmão do Dr. Sebastião
Gomes da Costa Pacheco, dono que foi da casa das Ribas.
Deixou escrito um livro de contas e
diário que corresponde àquele período.
Dele consegui averiguar, quanto à
descrição da casa, que além da sala de jantar, cozinha e quartos
havia, entre estas, uma chamada da capela que além da sua serventia
normal tinha uma outra por um alçapão, depois de se passar pela loja
do carvão e quarto do sabão» (23 Dezembro 1800) e que na propriedade
existia uma eira.
Regista também, com referência a
1798, um facto curioso de onde se pode concluir que D. João VI
passou, ou esteve para passar, então por esta vila.
14 Julho de 1798
«Aqui se fez hum destroso nesta
Quinta com a abertura do caminho para passar S A R o Príncipe Nosso
Senhor e o mesmo de resto ouvi por outras m.tas partes.
19 Julho 1798
«Hoje se completou o destroso da
Quinta e conheci claramente o dollo e malicia... mas sem remedio de
sorte que os inimigos de Franc. Soares (o dono da quinta de Fijô)
satisfizerão o seu gosto e a sua colera contra o d.º Snr...».
Refere-se a várias visitas feitas à
casa, onde comia e chegou a pernoitar, pelo seu proprietário
Marechal de Campo Francisco Soares de Albergaria em 25 de Agosto de
1798, 29 de Agosto e 21 de Novembro de 1800, 8 de Julho de 1801
(desta vez «com sua f.ª a snr.ª D. Rita e seus 2 filhos, escudeiro e
o médico de Grijó e lacaios, o que prova que bem vivia «à lei da
nobreza»).
Do mesmo livro se mostra a
continuidade que havia em se rezar missa na capela, 1798 a 1800 e
nele se faz referência à imagem de S. Miguel.
Quanto ao pagamento da renda –
referia-se ora a «casa e campo», ora a «casas e quinta»: em cada mês
de 1798 e 1799 correspondeu a 3655 reis subindo, no ano seguinte,
para 4860. Em 1801 variou de 4860 a 4960 réis.
/ 87 /
A casa e a capela dos Condes de Fijô,
antes das obras de transformação.
Conhecido este pequeno rendimento
(aliás reportado ao fim do século XIX e princípios do XX) e levando
em consideração a delapidação do património do morgadio referido por
Paes e Melo, como atrás anotei, não é de excluir a probabilidade de
o vínculo se ter extinguido pela lei de 1770, incluindo-se nos que
foram capitulados de insignificantes (quanto à nossa região –
rendimento anual inferior a duzentos mil reis).
Neste caso, as referências ao
morgadio posteriores a esta data foram meramente honoríficas.
Assim, quando a casa e quinta saíram
da mão da família Soares de Albergaria, no meado do século passado,
já o morgadio devia estar extinto.
LUGAR DE FlJÔ
F
CAPELA DE S. BENTO E S. JOSÉ
1
Descrição
Esteve construída no lugar de Fijô,
pegada à casa dos Condes do mesmo nome, para norte, sobre um
terreiro pertencente à mesma casa.
Apenas se conhece a estrutura que
recebeu na reconstrução de 1848, com algumas alterações
introduzidas, posteriormente, na casa: pela fotografia que se
publica vê-se que a sua arquitectura era modesta.
A casa dos Condes de Fijô, na
actualidade.
Não tinha ornatos apreciáveis e
estava encimada por um triângulo de pedra, tendo no seu vértice
superior uma cruz; nos laterais tinha, no da direita, uma pirâmide
e, no da esquerda, o campanário, tudo de cantaria.
No centro do triângulo havia uma
abertura em pedra, para iluminar o interior: na linha das janelas da
casa tinha outra janela com cercadura de granito, sem interesse
especial, em sistema conhecido por «guilhotina», que se sobrepunha à
porta de entrada, com portal de pedra.
Do outro lado, para norte, havia uma
pequena sacristia muito mais baixa do que a capela, que destoava do
conjunto. Desenvolvia-se sobre a rua dos Condes de Fijô.
A capela e a sacristia foram
demolidas em 1949 para alargamento desta rua.
2
História
A primeira notícia que tenho desta
capela consta das mencionadas resposta dadas pelo vigário Quintela,
para o «Dicionário Geografico de Portugal» de 1758, quando indica as
que existiam nesta freguesia de S. Nicolau: «A terceira é de S.
Bento, sita no mesmo lugar que dizem ser vínculo de Manuel Pereira
Falcão».
Como já disse V publicou, no
jornal «Povo Feirense», diversos artigos sob a epígrafe de «Santa
Maria de Campos».
/ 88 /
No de 3 de Dezembro de 1938, enumera
as ermidas da paróquia da Feira, segundo o descritivo de Carvalho da
Costa na «Corografia Portuguesa», editada em 1707 e informa que viu,
num exemplar desta obra, uma anotação datada de Junho de 1742 com o
acréscimo de outras ermidas.
Nem naquele trabalho de 1707, nem
nesta anotação de 1742, há qualquer referência à ermida ou capela de
S. Bento.
Assim, é legítimo concluir que ela
foi construída entre 1742 e 1758 pelo referido Manuel de Castro
Falcão que ainda vivia em 1762 (livro das Visitações).
Deste livro das «Visitações à Igreja
de S. Nicolau da Feira» consta, quanto à sua reedificação: «Dom
Jerónimo José da Costa Rebelo por mercê de Deus e da Santa Sé
apostólica, Bispo, Par do Reino e do Conselho de Sua Magestade
Fidelíssima a Rainha, que Deos Guarde, etc. Fasemos saber que
António de Castro Correia Corte Real, da freguesia de S. Nicolau da
Vila da Feira deste bispado. Nos representou que pertendendo
reedificar uma propriedade casas da sua Quinta de Fijô da dita
freguesia reedificando também a Capela Pública que se achava unida à
antiga propriedade da invocação de S. Bento e S. José, erecta e
patrimoniada por Manuel Pereira Castro Falcão e como a mesma se acha
reedificada: nos suplicava lhe concedessemos para poder celebrar o
Santo Sacrifício da Missa, e atendendo nos que a mesma se acha como
Património julgado por sentença segundo consta dos respectivos
autos, que contem o termo competente de sujeição à nossa Jurisdição
Ordinaria e de Resalva à Autoridade e Direitos Parochiais, e que foi
visitada e benzida por comunicação Nossa lhe concedemos licença para
na mesma se poder celebrar o Santo Sacrifício da Missa;
observando-se sempre os ritos da Igreja Catholica Apostolica Romana,
sendo esta licença previamente apresentada ao Reverendo Paroco da
respectiva freguezia para a rezistar no livro da Igreja e a todo o
tempo constar – 23 de Setembro de 1848... Nada mais se continha em a
dita Portaria que aqui fielmente copiei da própria que tornei a
entregar ao próprio domno António de Castro Corveira Corte Real da
Quinta de Fijô desta vila da Feira aos doze dias do mez de Outubro
de mil oitocentos e quarenta e oito anos para a todo o tempo constar
(fls. 30 e 30 v.)».
Consultando o respectivo processo,
no arquivo da Câmara Eclesiástica do Porto, verifiquei que aquele
António de Castro Corveira Corte Real, que se dizia da freguesia de
S. Nicolau da Feira, em data que deve corresponder ao princípio de
1847, disse, em requerimento dirigido ao bispo do Porto, que
«pretendendo reedificar uma propriedade de casas na sua Quinta de
/ 89 / Fijô, na dita
freguesia, e desejando também reedificar a Capela Pública que se
achava unida à antiga propriedade da invocação de S. Bento e S. José
– erecta e patrimoniada por Manuel Pereira de Castro Falcão»,
pedia que se concedesse a necessária licença para a dita
reedificação – «em razão da nova propriedade ter recuado na frente e
o supt.e desejar que a nova capela faceie com a propriedade e fique
como tenciona com maior grandeza e explendor».
O Bispo do Porto mandou ao Vigário
da Vara para informar, em 8 de Fevereiro de 1847.
Outro aspecto da casa dos Condes de Fijô,
com o seu brasão.
O parecer deste (Joaquim António
Pereira de Sousa), datado de = Residência de S. Martinho de Arada 15
de Fevereiro de 1847, foi favorável: «É verdade a existência da
capela de que se trata, a qual o Supp.e seus passados tem
conservado, fazendo nela celebrar o Santo Sacrifício da Missa em
todos os dias de preceito para elle e sua familia ouvir e também
para muito povo que ahi concorre».
Confirma que a casa recuou e que
assim se devia reedificar a capela para a faciar e para a
comunicação desta com aquela.
Contudo nota: «Não posso informar V.
Ex.ª se esta capela é ou não patrimoniada».
O Bispo atendeu em 8 de Abril de
1847.
Foi autorizada a bênção por portaria
de 23 (deve ser 13) de Setembro de 1848 por o vigário da Vara
entender que ela estava «decente» e ter «Paramentos e utencilios
necessários para a celebração do St.º Sacrificio da Missa».
Carta genealógica dos Condes de Fijô.
(pág. 90)
Em cumprimento daquela portaria, foi
visitada, pelo Vigário da Vara do terceiro distrito da comarca
eclesiástica da Feira, Joaquim António Pereira de Sousa Cavaleiro,
da Ordem de Christo – em 22 de Setembro de 1848, a «nova Capella
publica que faz parte da fronteira de Cazas de António de Castro
Corveira Corte Real da Vila da Feira, e da invocação de São Bento e
S. José e como a achava muito decente e provida de todos os
Paramentos e mais utensílios necessarios para a Celebração do Santo
Sacrificio da Missa a benzia pela autorização que por Sua Ex.ª R.ma
o Sr. Bispo desta Diocese lhe foi dada em Portaria de 13 do
corrente...»
Do referido livro das Visitações
consta as que tiveram lugar, respectivamente, em 24 de Junho de 1762
e em Outubro de 1799. «Na capela de Manuel de Castro Falcão se
reformará o frontal e se caiará por dentro a mesma Capella» (1762).
«A Capella de S. Bento que e de
Francisco Joaquim do lugar de Fijô, necessita de ser forrada;
portanto ordeno que no termo de seis meses seja forrada» (1799).
De todo o exposto e com base nas
informações colhidas podemos concluir que:
a) a capela deve ter sido erecta
pelo senhor da
/ 91 / quinta de Fijô, Manuel
Pereira de Castro Falcão, entre 1742 e 1758;
b) tomou a natureza de «Capella
Publica» e nela foi instituída, por aquele, um vínculo «erecta e
patrimoniada por Manuel Pereira Castro Falcão» o que confirma a
suposição lançada pelo Vigário Quintela «que dizem ser vínculo de
Manuel Pereira Falcão»;
c) em 1799 pertencia a seu genro o
Sargento-Mor Francisco Joaquim da Rocha Tavares Pereira Corte Real,
casado com sua filha Violante Luísa Pereira de Castro Guedes Pinto e
em 1847 ao neto deste Francisco Joaquim, o capitão-mor António de
Castro Corveira Corte Real;
d) foi reedificada no ano de 1848,
junto à casa da residência, também então reedificada, no local da
antiga, embora mais recuada.
Quanto ao Manuel Pereira de Castro,
em ligação com a quinta de Fijô, algo posso informar.
No citado tombo da «Casa e Estado do
Infantado» encontram-se, entre outras, as seguintes referências aos
proprietários desta quinta de Fijô.
a) títulos e auto de reconhecimento,
respectivamente de 18 de Setembro e 19 de Outubro de 1753, do que
possuiam no Chão do Carvalho, Manuel Pereira de Castro e sua
mulher, de Fijô (fls. 406 a 409 e 409 a 410);
b) título de reconhecimento de 4 de
Abril de 1754 que fizeram Manuel Pereira de Castro e sua mulher
D. Leonor de Queirós, moradores na sua quinta de Fijô, desta
vila (fls. 380 a 383);
c) reconhecimento de 26 de Abril de
1754 que fizeram «Manuel Pereira de Castro e sua mulher D. Leonor
de Queirós, do lugar de Fijô – no casal das Eiras chamado
Clérigo, no assento que algum dia foram casas sobradadas junto ao
caminho deste mesmo lugar de Fijô e um chão pela parte do sul que
tudo foi de João Soares Pereira e Sousa Gomes» (fls. 221 e 222). Há
que averiguar se este João Soares Pereira e Sousa Gomes era parente
do Manuel Pereira de Castro;
d) reconhecimento em 26 de Abril de
1754 por parte de Manuel Pereira de Castro e mulher de Fijô
em terras que pertenceram ao Casal do Clérigo (fls. 223 a 231).
|
Neste título diz-se «esta medicação
se acha conforme a antiga por se achar toda a dita terra mista com a
quinta dos possuidores dele Manuel Pereira de Castro e sua mulher. É
o que foi de... Sousa e depois de João Soares Pereira e José Gomes
como consta da medição antiga...»;
e) reconhecimento de 25 de Outubro
de 1754 da obrigação imposta no «chão chamado das Guimbras» – a
confinar do norte com terras de Fernando de Matos Mascarenhas e
Manuel Pereira de Castro (fls. 192 a 195);
f) reconhecimento que, em 3 de
Dezembro de 1754, fizeram Manuel Pereira de Castro e sua mulher
D. Leonor Pereira, moradores em Fijô, desta vila, pelo que
possuem das «terras de senhorinha Annes» (fls. 151);
|
Pedra tumular, na igreja da freguesia de
S. Nicolau da Vila da Feira, junto ao altar do Sagrado Coração
de Jesus. |
g) título de reconhecimento de 30 de
Janeiro de 1755, do campo chamado de Gavinhas, pertencente ao casal
de Gavinhas de António José Saraiva Castelo Branco, a confrontar do
sul com Manuel Pereira de Castro, de Fijô (fls. 376 a 379).
No fim do século XVIII e princípios
do XIX, a capela estava aberta ao culto como se verifica, pelo
baptizado aí feito, em 23 de Setembro de 1798, de João, filho do
capitão-mor João de Castro, daquela visitação de 1899 e da
referência que encontrei no livro de contas e diário de Manuel da
Costa Pacheco, onde são referidas missas que lá se rezaram ainda nos
primeiros anos daquele século XIX.
Reedificada em 1848, continuou
aberta ao culto.
Em data que não posso determinar foi
profanada e destinada a diversas utilidades até que, em 1949, foi
demolida, para alargamento da rua dos Condes de Fijô.
Segundo me informaram, ao cavar o
leito para esse alargamento, encontraram-se ossadas em área que
devia corresponder ao local da antiga capela, demolida em 1848, o
que leva a crer que, no seu pavimento, se fizeram enterramentos.
Como tenho feito, quanto às capelas
particulares, passo a referir-me à família que a possuiu a partir do
já mencionado Manuel Pereira de Castra Falcão, conforme árvore
genealógica que publico.
Este Manuel Pereira de Castro
Falcão, senhor da casa de Fijô e morgado de Sernadelo, de
Penaguião, foi casado com D. Leonor Queirós Monteiro e Azevedo, de
onde proveio como filha única, D. Violante Luísa Pereira de Castro
Guedes Pinto, ou como diz Felg. Gaio, D. Violante Luísa Pereira de
Castro de Queirós e Azevedo, que sucedeu a seu pai e casou com
Francisco Joaquim da Rocha Tavares Pereira Corte Real,
/ 92 / cavaleiro professo da
Ordem de Cristo, sargento-mor de Ovar, juiz dos direitos reais, que
foi de propriedade, no condado da Feira e almoxarife de S. Alteza.
Sucedeu-lhe seu filho João de
Castro da Rocha Tavares Pereira Corte Real, que nasceu a 13 de
Março de 1755 e casou com D. Antónia Luísa Angelina Sargento de
Matos de Castro Corte Real, de Bedoído.
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Brasão concedido por D. João VI,
ainda como príncipe regente, a João de Castro da Rocha Tavares
Pereira Corte Real, por carta de 2 de Abril de 1813. |
Foi sargento-mor de Ovar de 1785 a
1797 e, depois, capitão-mor na Vila da Feira e juiz dos direitos
reais, que foi de propriedade, almoxarife do Condado da Feira, na
Vila da Feira.
Era tabelião na Feira em 1789.
Está enterrado na Igreja de S.
Nicolau desta vila, em campa armoriada, junto ao altar do Sagrado
Coração de Jesus.
A pedra tumular referenciada por
«Casa de Fijô» está encimada por um escudo de armas esquartelado com
coroa de nobreza (7 pérolas), com a data de MDCCClV. No primeiro
quartel tem as armas dos Rochas [em campo de prata uma aspa vermelha
firme carregada de cinco vieiras (conchas) de ouro]; no segundo, as
dos Castros (em campo de prata seis arruelas de azul, postas em duas
palas); no terceiro as dos Pintos (em campo de prata cinco
crescentes de lua vermelhos com as pontas para cima, postas em
sautor); no quarto as dos Tavares (em campo de ouro cinco estrelas
vermelhas de seis pontas postas em sautor).
Aquela data deve corresponder à
feitura da pedra, porquanto ao João de Castro, que a mandou fazer,
foi concedido em 2 de Abril de 1813, por D. João VI, como príncipe
regente, brasão de armas, com escudo esquartelado, tendo no primeiro
quadrante as armas dos Rochas, no segundo as dos Tavares, no
terceiro as dos Pereiras (em campo vermelho uma cruz de prata
florida e vazia do campo) e no quarto a dos Castros. Elmo de prata
aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das armas.
Timbre dos Rochas que é a aspa das armas com uma das vieiras no
centro e por diferença uma brica de prata com uma arruela vermelha.
Está registada a fls. 271 v. do L.º
7.º do livro de registo de «Brasões de Armas de Nobresa e Fidalguia
do Reino e seus Domínios» (Arquivo Heráldico Genealógico do Visconde
de Sanches de Baena, pags. 282
/ 93 / n.º 1120 e «Casa solar
da Oliveirinha», por Francisco de Moura Coutinho, in Arq. Dist. Av.
– Vol. X, pags. 243 a 259).
Publica-se uma reprodução das armas
que acompanham aquela carta.
João de Castro e sua mulher, tiveram
como filhos:
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a) João, que nasceu a 11 de Maio de
1798, baptizado solenemente na capela da casa de Fijô a 23 de
Setembro seguinte.
Consta do respectivo registo de
baptismo que: «foram padrinhos o Príncipe Nosso Senhor Dom João e a
Princesa Dona Carlota Joaquina que, por aviso de sua Magestade,
tocaram por seus procuradores José de Queiroz Botelho de Almeida e
Vasconcelos, corregedor desta comarca que tocou pelo Príncipe e pela
Princesa, António de Sousa Veloso de Azevedo abade de Espargo
testemunhas o Doutor Estanislau de Sousa e Joaquim Francisco».
Faleceu em Bedoído – Estarreja – de
onde veio a enterrar, nesta vila, a 29 de Outubro do mesmo ano de
1798, no adro defronte da igreja matriz, em campa que foi armoriada
com as armas concedidas a seu pai pela aludida carta de 2 de Abril
de 1813, o que se reproduz em fotografia.
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Pedra tumular junto ao cruzeiro, no
adro que está defronte da igreja da freguesia de S. Nicolau da
Vila da Feira. |
b) Francisco Joaquim de Castro
Pereira Corte-Real que, de sua mulher D. Maria Augusta de Meireles
da Silveira, da casa da Oliveirinha, teve, como filhos, o
conselheiro José Luciano de Castro, casado com D. Maria Emília
Seabra, Francisco de Castro Matoso de Sousa Corte-Real, casado com
D. Maria José Huete Bacelar (filha do marechal de campo José da
Silva Pereira, desta vila) e Dr. Augusto Maria de Castro, casado com
D. Isabel Maria de Sousa Sampaio, pai do escritor, dramaturgo,
jornalista e publicista, Dr. Augusto de Castro Sampaio Corte-Real,
que foi escritor e director do «Diário de Notícias».
c) António de Castro Corveira
Pereira Corte-Real casado com D. Emília de Jesus Lobo Caldas, da
casa da Porta, em Tagilde, Guimarães, que deu continuidade à casa,
como senhor da casa e quinta de Fijô: nasceu em 4 de Agosto de 1800.
Era fidalgo cavaleiro da Casa Real,
fidalgo de Cota d'Armas, comendador da Ordem de Cristo e foi
administrador do concelho da Feira, presidente, vice-presidente e
vogal da sua Câmara Municipal e fez parte do seu Conselho Municipal.
D. João VI, em 15 de Abril de 1825, concedeu-lhe carta de brasão,
que está registada no L.º 8.º do já falado registo de Brasões.
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O brasão que dela consta é formado
por um escudo esquartelado, tendo no primeiro quartel as armas dos
Corte- Reais (em campo vermelho seis costas de prata firmadas no
escudo postas em duas palas: chefe de prata carregado de uma cruz de
S. Jorge, de vermelho, no segundo as dos Tavares, no terceiro as dos
Pereiras e no quarto as dos Castros. Elmo de prata aberto guarnecido
de ouro. Paquife dos metais e cores das armas. Timbre dos
Corte-Reais, que é uma cruz de vermelho posta sobre o Elmo e por
diferença uma brica de azul com farpão de oiro.
Aquele brasão que acompanha a carta,
que se reproduz em fotografia, tem o timbre dos Rochas e não o dos
Corte-Reais.
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Brasão concedido por D. João VI a
António de Castro Corveira Corte Real, por carta de 15 de Abril
de 1825. |
Faleceu em 8 de Outubro de 1872 e
está enterrado no cemitério desta freguesia de S. Nicolau da Vila da
Feira, em campa coberta por pedra ornada com este brasão, com timbre
dos Rochas, o que também se reproduz em fotografia.
António de Castro, daquele seu
casamento, teve como filho e sucessor na casa, o Dr. António de
Castro
/ 94 / Pereira Corte-Real,
nascido em Janeiro de 1846, bacharel formado em Direito pela
Universidade de Coimbra, que foi casado com D. Brísida Varela Falcão
Pinto Guedes Sotto Maior Corte Real, filha herdeira de José António
da Silva Varela Falcão Sotto Maior, senhor da casa de Paçô, de S.
João de Vêr deste concelho da Feira e de sua mulher D. Ana Carolina
Pinto Guedes, da casa do Paraíso, da cidade do Porto.
Foi deputado (1881, 1884, 1885 e
1895), presidente da Câmara Municipal da Feira (1882 até 1886), juiz
substituto (1881 a 1904) e chefe do partido regenerador neste
concelho.
Foi o primeiro Visconde de Fijô
(carta régia de 31 de Dezembro de 1902), título que lhe foi
concedido em duas vidas e, em seguida, foi agraciado com o título de
Conde, numa só vida (carta régia de 28 de Outubro de 1903).
Faleceu em 19 de Maio de 1905. Está
sepultado na campa de seu pai.
D. Carlos I, em 15 de Março de 1897,
concedeu-lhe carta de brasão por se ter verificado «a sua
descendência das ilustres famílias Corte-Real, Tavares, Pereira e
Castros, fidalgos d'antiga linhagem, cota d'armas e de solar
conhecido, parentesco comprovado por documentos autênticos,
arquivados no cartório de nobreza».
É formado por um escudo esquartelado
tendo no primeiro quartel as armas dos Corte-Reais, no segundo as
dos Tavares, no terceiro as dos Pereiras, e no quarto as dos
Castros. Elmo de prata aberto, guarnecido d'ouro e forrado de
vermelho. Paquife dos metais e cores das armas. Timbre o dos
Corte-Reais, que é um laço armado de prata, enfiada nela uma
bandeira deste metal farpada de duas pontas carregadas duma cruz
como a das armas. E por diferença uma brica d'azul com um farpão
d'ouro.
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Pedra tumular que, no cemitério da
Vila da Feira, cobre a campa de António de Castro Corveira Corte
Real e do Dr. António de Castro Pereira Corte Real. |
A ascendência de nobreza atribuída
ao Dr. António de Castro corresponde à que foi reconhecida nas já
citadas cartas de brasão de 2 de Abril de 1813 e de 15 de Abril de
1825.
Desta forma verifica-se que os
senhores da casa de Fijô descendem dos Condes da Feira e dos
morgados de Castelões, Argoncilhe, Pigeiros e Roge.
O alvará de fidalgo cavaleiro a
favor do Dr. António de Castro foi mandado passar por despacho de
/ 95 / 20 de Dezembro de 1897
e recebeu a assinatura real em 20 de Janeiro de 1898.
Sucedeu-lhe, na casa de Fijô, o
filho, daquele seu casamento, Dr. José de Castro Falcão Pinto
Guedes Corte Real, nascido em 20 de Abril de 1877, bacharel
formado em Direito pela Universidade de Coimbra, que casou em 12 de
Janeiro de 1903 com D. Maria da Assunção Soares de Albergaria
Tavares, da casa do Buraco, do Couto de Cucujães e da casa de
Refojos (Vale de Cambra).
Foi o segundo Visconde e Conde de
Fijô.
Grande defensor dos interesses e da
integridade do concelho e da comarca da Feira, como já o fora seu
pai, foi conselheiro municipal em diversas gerências.
Era fidalgo cavaleiro da Casa Real.
Faleceu em 25 de Outubro de 1945.
Sucedeu-lhe, na mesma casa, o filho
– Dr. José de Castro Falcão Soares de Albergaria Corte-Real,
nascido em 10 de Outubro de 1903, licenciado em Direito pela
Universidade de Coimbra.
Casou com D. Leopoldina de Lima de
Castro Corte Real. Contam-se entre os beneméritos da Vila da Feira.
Foi o terceiro a usar o título de
Conde de Fijô e era cavaleiro do Santo Sepulcro e sócio honorário da
«Casa da Vila da Feira e Terra de Santa Maria», sendo distinguido
com a comenda de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
Faleceu em 21 de Maio de 1972.
Daquele seu casamento, teve os
seguintes filhos: a) José Luciano de Castro Teixeira de Lima Soares
de Albergaria Corte-ReaI (Visconde de Fijô), solteiro;
b) Dr. Aníbal de Lima Soares de
Albergaria Tavares de Castro Corte-Real, casado com D. Maria Teresa
Fernandes da Costa Alemão Teixeira, ela descendente da Casa da
Portela, de Paços de Brandão, deste concelho: com geração;
c) António de Castro Lima Pereira
Tavares Corte-Real, casado com D. Maria José Amado de Matos
Mascarenhas de Mancelos e Seiça de Moncada: com geração;
d) D. Maria José Soares de
Albergaria Corte Real, casada com o engenheiro agrónomo Francisco
José Manso Lemos de Mendonça: com geração.
Estudada a descendência de Francisco
Joaquim da Rocha Tavares Pereira Corte-Real (pai do João de Castro)
passo, agora, à sua ascendência.
Era filho de Salvador da Rocha
Tavares e Pereira Corte-Real, casado com D. Ana Maria de Sousa
Vareira e Ávila (na carta de brasão concedida ao João de Castro em 2
de Abril de 1813 diz-se Vieira em vez de Vareira, o que é um
evidente lapso), filha do desembargador Dionísio de Ávila.
Foi morgado de Castelões, S.
Martinho de Argoncilhe, Ovar e morgado e padroeiro da igreja de
Pigeiros, Senhor da quinta e Honra deste nome, do concelho da Feira,
sendo ela descendente dos senhores do Gafanhão.
Quanto a ele diz Diogo Barbosa
Machado na sua «Biblioteca Lusitana», tomo 3.º, pág. 670: «Instruido
na lingua latina aprendeu Filosofia no Colégio do Porto dos Padres
Jesuitas, donde passou à Universidade de Coimbra e estudou
Jurisprudência, Pontificia de cuja aplicação divertia a
administração da sua Casa que herdara por morte de seu Pai...
Teve grande notícia de Filosofia,
Moral, História sagrada e profana como também de genealogia." Compoz
Genealogia da Nobreza da Comarca da Feira e Província de Entre Douro
e Minho onde se trata historicamente os principios dele e dos
Infanções em particular».
Faleceu em 5 de Dezembro de 1748,
sendo sepultado, bem como sua mulher, na igreja de Pigeiros.
Levou o brazão de armas da casa da
Quinta de Pigeiros, já usado por seu pai, para a sua casa da Praça,
de Ovar (Santa Maria de Pigeiros da Terra da Feira, pelo padre
Domingos A. Moreira, pag. 52): da sua leitura vê-se que era formado
por um escudo esquartelado tendo no primeiro quadrante as armas dos
Rochas, no segundo as dos Tavares, no terceiro as dos Pintos e no
quarto das dos Pereiras (J. F. Teixeira de Pinho – Memórias e data
para a história da vila de Ovar, págs. 296 e Dr. Zagalo dos Santos –
Ovar na literatura e na arte, págs. 148 e 149).
O pai de Salvador da Rocha, de nome
Manuel Tavares da Rocha Pereira, que foi casado com D. Maria de
Matos Soares da Fonseca, também foi morgado e padroeiro da igreja
referida de Pigeiros, onde está sepultado na capelão-mor, do mesmo
modo que seu pai Francisco Tavares da Rocha Pereira Corte-Real, que
além daquele morgadio e padroado foi também morgado de Roge e vivia
no Porto em 1659.
|
Este foi casado com D. Maria Lobato
Godinho, filha de Manuel Godinho Homem e de sua mulher Vitória Pinto
Lobato, herdeira do morgadio de S. Martinho de Argoncilhe e da
quinta de S. Francisco «ao pé da Misericórdia da Vila da Feira», a
que adiante me referirei.
Felg. Gaia, no T. quarto dos
Costados número 47 a pág. 87, refere-se a «Franc.co Guedes, sr. da
Casa de
/ 96 / Fijô por sua m.er – D.
M.ª Lobato Pinto sr.ª da Casa de Fijô.
Faz uma chamada a tt.º de Pintos §
248 mas neste § não encontrei referência a qualquer daqueles
senhores da casa de Fijô.
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Brasão aposto na casa dos Condes de
Fijô.
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Francisco Tavares, por sua vez, era
filho de Manuel Tavares da Rocha, que também usava os apelidos de
Pereira Pinto Corte-Real, senhor e administrador dos morgadios de
Castelões e Pigeiros e de sua mulher Maria da Cunha.
*
* *
Na frente da casa de Fijô, sobre a
varanda, existe um brasão com escudo esquartelado, tendo no primeiro
quadrante as armas dos Rochas, no segundo as dos Tavares, no
terceiro as dos Castros e no quarto as dos Pereiras e por timbre as
dos Rochas.
Na face sul da casa encontra-se,
sobre uma varanda, uma coroa de conde com o timbre dos Corte-Reais:
antes das últimas obras, feitas na casa, este emblema situava-se
entre duas janelas com varandas.
Publicam-se as respectivas
fotografias.
*
* *
Na matriz provisória de 1854 a casa
e quinta estão inscritas a favor de António de Castro Corveira Corte
Real = «335 – 1 morada de casas com capela, lojas e 1.º andar sitas
em Fijô.
2) Uma quinta que se compõe de
lavradio e mato, ramadas, árvores de vinho e fruta junto à dita
casa».
A quinta de Fijô foi descrita na
Conservatória da comarca, pelo Dr. António de Castro Pereira Corte
Real, em 25 de Julho de 1883, com o número 13816, a fls. 75 do L. B
– 41:
«Prédio formado por a Quinta de Fijô,
da freguesia desta Vila da Feira, composta de casas sobradadas com
sua capela e terreno em frente, casas térreas, campos lavradios,
matos, moinhos, jardim, pomares, águas de rega do rio e de minas e
mais pertenças e servidões
/ 97 / activas, a confinar do
norte com a estrada, do nascente com o rio, com D. Inez de Castro
Corte Real, com Bernardino Maciel Ferraz de Lima e com a estrada do
Castelo, do sul com esta estrada e com Luciana Lucinda Pinto
Brandão, do poente com D. Brísida Benedita Augusta de Magalhães, da
casa do Buraco e com Francisco Maria de Sousa Brandão».
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Coroa encimada pelo timbre dos
Corte-Reais, aposta na fachada sul casa dos Condes de Fijô. |
A inscrição do prédio a favor do Dr.
António de Castro foi feita por, na escritura de partilha dos bens
de seu pai comendador António de Castro Corveira Corte-Real, lavrada
em 22 de Dezembro de 1872, pelo notário que foi desta vila Francisco
Pereira Pinto de Lemos (mais tarde Conde das Devesas), lhe terem
sido adjudicados todos os bens imobiliários que ao de cujus
pertencia e possuía no concelho da Feira.
Pelo falecimento deste Dr. António
de Castro e por forçada respectiva escritura de partilhas de 3 de
Fevereiro de 1967, lavrada nesta Vila da Feira, a quinta de Fijô foi
adjudicada ao filho – Dr. José de Castro Falcão Pinto Guedes
Corte-Real.
Por sua vez, por falecimento deste,
por força da escritura de partilhas de 10 de Dezembro de 1948 e da
escritura de 28 de Dezembro de 1951, o prédio, com seus acréscimos,
foi adjudicado ao filho Dr. José de Castro Soares de Albergaria
Corte Real.
Hoje, por morte deste, o prédio está
em compropriedade hereditária entre seus filhos.
Desde a primeira inscrição a favor
do Dr. António de Castro, até hoje, a quinta de Fijô beneficiou-se
de muito acréscimo territorial.
*
* *
A partir do alargamento da rua dos
Condes de Fijô, que levou à demolição da capela de S. Bento, o
prédio foi sujeito a uma profunda reforma e alteração da sua
estrutura, com manifesto benefício, como se pode ver pelo confronto
das fotografias que se publicam.
Anteriormente, a casa também sofreu
reforma, na sua fachada principal, no tempo do 2.º Conde de Fijô
(Dr. José de Castro Falcão Pinto Guedes Corte-Real).
LUGAR DA IGREJA
G
ERMIDA DO ESPÍRITO SANTO
Existiu no local onde está
construída a capela mor da nossa Igreja Matriz e devia ser muito
antiga.
Quando se fundou o mosteiro do
Espírito Santo, nesta vila, houve dúvida entre o seu fundador D.
Diogo Forjaz Pereira, quarto conde da Feira e os padres, reitor e
deputados da casa do Porto (da congregação de S. João Evangelista)
«a quem o capítulo tinha cometido todos os negócios tocantes à
execução do novo convento», sobre o local onde se devia construir o
mosteiro.
Aquele queria que fosse onde então
existia a ermida do Espírito Santo «por ficar mais perto do castelo
(onde ele vivia) e com mais cómodo de a sua gente vir a ele e por
outras muitas conveniências»: por sua vez, os padres desejavam que
ela se implantasse no sítio da velha igreja de S. Nicolau, no lugar
hoje designado pelo da Misericórdia, onde veio a ser instalada a
capela de S. Francisco – «por ter largos passais para a cerca e ser
sítio largo fora da vila, e mais acomodado para os fregueses
continuarem os ofícios divinos e que com menos fábrica se podia
principiar».
|
Vingou o critério do conde pois «no
capítulo geral que se celebrou no ano de 1559 mandaram os padres
capitulares se começasse o mosteiro no sítio onde estava a ermida do
Espírito Santo por ser vontade do conde a quem por fundador e
particular amigo tínhamos obrigação de condescender com sua
vontade», o que tudo se encontra na cit. ob. do P.e Jorge de S.
Paulo – fI. 16 (cit. Arq. Dist. Aveiro – Vol. XXVI – pág. 196 e
197).
Do mesmo livro, lê-se a fls. 266 do
mesmo Arq. e Vol. – «Des o ano de 1549 que D. Diogo 4.º conde da
Feira pediu à religião lhe concedesse fazer um convento de seus
religiosos nesta vila, até os anos de 1560 em que se lançou a
primeira pedra da igreja...», o que é bem elucidativo.
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Pedra de calcário, lavrada, que se
guarda no Museu Municipal da Feira. |
A propósito do lançamento desta
pedra diz o mesmo autor e naquele livro – a fls. 16 (cit. Arq. Vol.
XXVI – pág. 197) «§ 4.º Havendo já sítio bastante para se dar
princípio à igreja determinou o conde que fosse o dia de S. João
ante porta latina o primeiro em que se lançasse a primeira pedra, e
estando presente o padre Gonçalo da Cruz reitor do Porto; o conde D.
Diogo, e a condessa D. Ana de Meneses (que era da casa dos Silvas
regedores da relação) em o ano de 1560, sexta feira, dia de S. João
ante porta latina, lançaram a primeira pedra da «capela mor»
/ 98 / (emendada para
«igreja») com toda a solenidade possível assistindo toda a gente
nobre desta vila: e dali por diante se foi continuando toda a obra
da igreja e a mais que está feita no convento».
Do exposte, conclui-se que a ermida
existia (já muito antiga) em 1559 e que deve ter sido demolida nesse
ano ou em 1560, data em que se lançou a primeira pedra da nova
igreja.
O Dr. Vaz Ferreira lançou num livro
«para tomar notas avulsas sobre os objectos destinados ao Museu
Municipal da Feira e existentes na Biblioteca Municipal», com início
em 10 de Maio de 1943, a seguinte lembrança: «No dia 31 de Janeiro
de 1944 o Presidente da Câmara Municipal... acompanhou à Biblioteca
o arquitecto Rodrigues Lima, trazendo uma pedra de calcário branco
lavrada proveniente da demolição da extrema nascente da parede sul
do tribunal (antigo convento). Talvez seja um resto da ermida do
Espírito Santo que existia no local onde em 1560 se começou a
edificação da igreja e do convento.
Suposição difícil de provar.
Publica-se a fotografia dessa pedra.
E nada mais sei da tão velha ermida
que foi coeva da antiga de S. Nicolau da Feira, ambas vencidas e
demolidas a favor da nova igreja da freguesia de S. Nicolau da Vila
da Feira. |