Encara-se no texto a Agricultura
do distrito estritamente sob o ponto de vista da sua actividade
produtiva. Procura-se perspectivar a importância que os prados
temporários, em rotação com culturas anuais, deverão assumir para o
aproveitamento mais eficaz das potencialidades do meio regional para
a produção forrageira e exploração de bovinos e manutenção ou
aumento da capacidade produtiva do solo.
(1)
O presente estudo não é um manual
abreviado de divulgação de praticultura (por muito prestimosa que
seja esta tarefa) e o seu escopo abrange a delimitação e
caracterização de problemas levantados com a introdução na Região de
Aveiro de sistemas de produção agrícola com base na cultura de
prados temporários (o «ley-farming» dos povos
anglo-saxónicos). Enumera, por outro lado, as complexas
consequências, daí resultantes, sobre a actividade e funcionamento
das explorações agrícolas.
Para a sua realização fez-se apelo
constante ao trato e estudo directo dos problemas, e
consequentemente aos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos,
passando em revista e analisando os sistemas de produção agrícola
correntemente usados, havendo também necessidade de pôr em questão e
examinar conceitos técnicos generalizados. Se bem que se procurasse
banir do texto um tecnicismo descabido, houve sempre, e acima de
tudo, a preocupação de rigor, mesmo que forçadamente tenhamos
recorrido (talvez demasiado!) a análises de teor qualitativo; em
alguns casos, porém, a fundamentação numérica está subjacente à
matéria apresentada ou foi relegada para referenciação em notas.
A revolução forrageira, com base na
praticultura, parece-nos constituir uma premente necessidade da
Agricultura regional. Explanamos as razões por que assim pensamos,
mais por um exame atento das linhas da força da evolução da
Agricultura regional do que por minuciosos estudos económicos, visto
que os existentes são quase omissos neste particular. A utilização
dos prados sob a forma de pastagem (em modalidades de aproveitamento
da erva em que esta técnica seja preponderante) permitirá valorizar,
quer extensos plainos na Região, quer terrenos ondulados cuja
topografia dificulte as mobilizações frequentes do solo e as
operações mecânicas.
As dificuldades a vencer para a
reconversão da Agricultura são quase intransponíveis. Os dois
factores que sobremodo interessa valorizar na Região, O Trabalho,
através do agricultor e empresário agrícolas, e a Terra, como
património sócio-económico herdado, são afectados por
condicionalismos que os limitam na sua eficácia.
Após a II Guerra Mundial a migração
acelerada de mão-de-obra agrícola para outros sectores e para o
estrangeiro tem conduzido não só ao desmantelamento da Sociedade
Rural tradicional, como ao envelhecimento da população activa
agrícola. (2)
Ao contrário, a terra tem
constituído, no mesmo período, um capital relativamente imóvel,
«fixado ainda dentro dos quadros institucionais da Agricultura
tradicional.
Para suporte das transformações
produtivas que se antevêem para a Região, é obviamente indispensável
um grande reforço da experimentação regional, pois está fora de
dúvida constituir a Agricultura uma actividade eminentemente
experimental.
Do ponto de vista climático e de
solos (com excepção dos solos não evoluídos do litoral), o
território delimitado no distrito de Aveiro (que, podemos, por
convenção designar, embora impropriamente, por região de Aveiro)
manifesta, ao mesmo tempo, influências atlânticas e mediterrânicas,
atenuando-se as primeiras progressivamente do Norte para Sul e
acentuando-se as segundas.
/ 50 /
O distrito é, a seguir aos do Minho
e Douro Litoral, aquele que evidencia no continente influências
atlânticas mais profundas, bem patentes no elevado nível das quedas
pluviométricas anuais (e também, em parte, no regime das chuvas, não
obstante a sua estacionalidade bem marcada), nos altos valores da
humidade relativa do ar (no semestre húmido, sobretudo), no
andamento das temperaturas próprio de um clima temperado-marítimo
(com extremas pouco contrastantes) e noutros elementos de clima.
Pelo que respeita às chuvas (aliás
com flutuações anuais apreciáveis) verifica-se, pelos postos
meteorológicos do distrito, que a sua queda anual média vai
de aproximadamente, 800 até cerca de 2000 mm., aumentando do Sul
para Norte e do litoral para o interior até à linha de alturas
formada pela serra da Freita, maciço da Gralheira e serras do
Caramulo e Bussaco, barreira geográfica à penetração dos ventos
marítimos constituindo uma zona de condensação.
Pelas suas condições fisiográficas,
o noroeste, no qual se integra o distrito de Aveiro, é uma região,
de um modo geral, favorável à produção de prados e forragens de
qualidade, com vocação leiteira, contrastando, neste aspecto com os
distritos do Sul.
Apesar de tudo, a rega impõe-se pelo
menos no período estival para compensar o deficit hídrico,
nomeadamente, dos prados.
De um modo geral, a exploração de
bovinos é uma actividade artesanal, não especializada, inserida nas
unidades de produção tradicionais: assim, por exemplo, o número
médio de vacas de leite por estábulo é inferior a dois. No aspecto
global avulta a sua grande importância económica. Com efeito, o
distrito detém o primado no continente quer na dimensão do efectivo
leiteiro com vacas de raça holando-portuguesa, quer na produção de
leite e importância da respectiva indústria transformadora sendo
ainda de muito relevo a produção de carne de bovino (com base na
raça holando-portuguesa e raças autóctones, mirandesa, o seu tronco
marinhão, e arouquesa) e a recria de novilhas leiteiras, o que
atesta existirem potencialidades ecológicas regionais para a
exploração destes herbívoros.
Segundo o Inquérito às
Explorações Agrícolas do Continente, 1968 (I. N. E) – Dados
provisórios (Estimativa a 5 %) – o distrito apresentava, numa
superfície de 279 970 ha., caracterizada por extremo polimorfismo
geológico e geográfico, um conjunto de 69320 explorações com
terra com a superfície total de 116 889 ha.
Deste total a superfície com área
florestal era de 63 612 ha correspondente a 38 980 explorações
agrícolas. A área com utilização agrícola e subsidiária
repartia-se do seguinte modo:
|
|
áreas |
N.º de explorações agrícolas
correspondente às áreas indicadas |
Terras aráveis ... ...
... ... ... ...
...
... ... ... |
47 341 ha |
67 580 |
Terras ocupadas por culturas
permanentes
(*)
... |
7 998 ha |
14 580 |
Terras ocupadas por pastagens
permanentes
... |
1 336 ha |
6 120 |
Terras com superfícies florestais
subsidiárias da agrícola
... ...
... ... ... ...
... ... ... ...
... |
29 541 ha |
30 300 |
|
|
Como se verifica, sob o ponto de
vista agrícola avulta a enorme importância dos sistemas
aráveis intensivos de utilização da terra que, praticamente
dominam a actividade produtiva regional, com mais de 80 % da área de
utilização agrícola ocupada com culturas arvenses anuais, que, quase
em exclusivo, ocupam as terras aráveis. Por vezes a vinha é um apoio
económico saliente; a sua área, porém, é ligeiramente inferior a 20
% do conjunto das terras aráveis.
Contrastando com o que se referiu,
ressalta dos números a muito modesta contribuição da praticultura à
actividade agrícola regional.
(3)
Nos sistemas de produção
tradicionais são discerníveis diversas modalidades mais
representativas, encaradas sob o ponto de vista da utilização do
solo e que, esquematicamente, se podem referir:
(4)
Ao Norte do Águeda e do curso inferior do Vouga
Sistemas intensivos
em que a cultura sachada chave é o milho-grão (ou, melhor, os
milhos, visto que vários tipos de milho existem, em regra, em
cada exploração) associada ao feijão (de que existem várias formas
culturais) e, por vezes, à abóbora ocupando o solo no período
primaveril-estival.
No ciclo anual os milhos
alternam nas diversas courelas, ora com os ferrejos (mistura de
cereais para forragem – aveia, aveão, centeio a que se junta, por
vezes, o azevém – com composição ditada pelas características do
solo e as conveniências do agricultor), ora com o azevém anual, nas
terras de várzea, de enxugo mais tardio, e, em regra, com rega de
Verão mais fácil e abundante.
Parte das várzeas com azevém são
submetidas à rega de «lima» no período frio do Inverno o que eleva
muito a produção de erva.
No concelho da Murtosa e freguesia
de Veiros do concelho de Estarreja têm importância local pequenas
/ 51 / nas courelas de prados
(os «pousios», como são designados), para a alimentação de bovinos,
sobretudo vacas de leite turinas.
As «ramadas» de vinha, à excepção do
concelho da Murtosa, estão implantadas nas extremas das courelas,
delimitando-as, assumindo economicamente importância significativa
na área incluída na Região demarcada dos vinhos verdes.
A batata cultiva-se em pequenas
parcelas, sobretudo, para auto-consumo. Em courelas bem drenadas o
centeio e a aveia para grão, são também cultivados limitadamente,
seguindo-se-Ihes o milho-grão nos regos.
Ao Sul do Águeda e do curso superior do Vouga
O polimorfismo cultural é mais
evidente nesta área. A Gafanha, no litoral dos concelhos de Ílhavo e
Vagos, com solos de areia que são explorados recorrendo-se, em
parte, à sub-irrigação, sobressai pelos sistemas muito intensivos
de exploração: uma cultura sachada (a batata ou o milho
associado ao feijão) ou duas culturas sachadas sucessivas e mesmo,
mais raramente, três culturas (batata, sobretudo, seguida de couve
lombarda, de milho ou de chicória para café) alternam com a ferrã
(mistura de cereais forraginosos em que, por vezes, figura a
cevada). Limitadamente pratica-se também a cultura de cevada ou
trigo para grão, seguidos de uma cultura sachada, seja milho, seja
batata. Quer na Gafanha, quer na zona interior de solos de areia que
lhe é contígua a tremocilha alterna com outra cultura, em regra, o
milho; nesta última zona a serradela adquire importância como
cultura intercalar outono-invernal antes do milho ou de outra
sachada.
Nuclearmente assentes no concelho de
Aveiro, e estendendo-se para áreas limítrofes de outros concelhos,
duas culturas, a batata (alternando com a ferrã) e o trigo assumem
importância económica, além da sucessão anual milho com feijão X
ferrã (a ferrã nas sucessões indicadas é substituída, às vezes, por
nabal). A vinha em «ramada» continua a delimitar muitos campos de
cultura nesta área de transição para a Bairrada.
|
Nos concelhos de Anadia e Mealhada é
claramente predominante a cultura da vinha em forma «baixo» da
região bairradina e, acessoriamente, nos campos a sucessão anual já
referida com base no milho.
No concelho de Águeda a vinha em
forma «baixa» tem também relevo económico e os sistemas de produção
estabelecem a transição da Bairrada para os concelhos do Norte do
distrito.
Finalmente os de Oliveira do Bairro
apresentam afinidades com os de Aveiro e os de Anadia e Mealhada e,
quer a cultura da vinha em forma «baixa», quer a cultura arvense
intensiva têm importância: além da sucessão anual com base no milho,
pratica-se largamente a cultura da batata de sequeiro, como
intercalar dentro das vinhas.
|
Pormenor de um
arrelvado natural no qual se nota o vigoroso crescimento da
Leguminosa de valor forrageiro, Lotus uliginosus (Vagos,
1973) |
Na Região, nomeadamente na
vastíssima área de terrenos «altos» e de várzea (com enxugo
suficiente) em que a utilização da terra se faz de um modo intensivo
ou muito intensivo, como assinalámos, a estrutura agrária continua a
ser muito deficiente,
(5) caracterizada pelo predomínio
de pequenas unidades de produção artesanais, de acentuada divisão e
dispersão parcelar. Estas unidades de produção, que assentavam na
utilização de fortes doses de trabalho manual, persistem ainda em
face e apesar da emigração avassaladora e da fuga irreversível da
profissão agrícola em ritmo acelerado.
Deste modo verifica-se que a função
económica de tais unidades produtivas se degrada progressivamente e
que do seu funcionamento resulta uma rentabilidade cada vez mais
precária.
Perante as condições demográficas
existentes, de rarefacção de mão-de-obra na actividade agrícola,
torna-se cada vez mais evidente, de uma forma tendencial, a
sobre-utilização do solo em sistemas aráveis muito intensivos.
/ 52 /
A praticultura praticada nas suas
diversas formas (nomeadamente prados temporários de rotação sujeitos
a rega e eventualmente prados temporários de sequeiro) será, como
mostraremos, um dos meios de revalorizar a Agricultura regional.
Paralelamente à área descrita, o
património da Região detém uma outra de menor dimensão relativa, não
obstante considerável, ultrapassando 10 000 ha de solos na Bacia do
Curso Inferior do Vouga e que foi designada Zona Integrada de
Aproveitamento Agrícola.
Esta área é formada
predominantemente por solos de aluvião, férteis a muito férteis, de
textura argilosa e franca (e mais raramente arenosa, em campos
marginais «areados» pelas «quebradas» das cheias).
Localiza-se nos vales dos rios
Vouga, Águeda, Cértoma e de inúmeras linhas de água secundárias,
algumas desaguando directamente na Ria de Aveiro.
De ordinário são solos de enxugo
precário no Inverno, húmidos a muito húmidos ou mesmo encharcadiços,
formando brejos e pauis. Por vezes são inundáveis pelas cheias e
submersos ou não por períodos variáveis. Na proximidade da Ria a
invasão de água salgada das marés vivas determinou a existência de
manchas importantes de «salgadiços», parte com junco e caniço ou
canízio, aonde abundam plantas tolerantes da salinidade e plantas
halófitas.
Além da cultura do milho associada
ao feijão, seguida ou não de azevém anual, existem nela outras
formas de aproveitamento, como a cultura contínua de arroz, cujo
superfície tem diminuído progressivamente e que era ao terminar a Il
Guerra Mundial de aproximadamente, 2 000 ha.
Uma parte apreciável desta área de
vale está revestido de vegetação natural ou semi-natural, formando
prados permanentes de baixa produtividade, explorados com pastoreio
abusivo e contínuo (ou sobrepascigo) no período estival. A flora da
cobertura vegetal, mais ou menos modificada pela incidência de
factores fisiográficos, bióticos e humanos é, por vezes, muito rica
em espécies de interesse (como alguns inventários florísticos
parciais revelam), nem sempre, porém, com tipos de plantas de valor
forrageiro assinalável e, por vezes, medíocres mesmo, segundo
observações pessoais que temos conduzido de longa data. As actuais
condições de exploração traduzem-se, em regra, numa subutilização
do solo atendendo à sua capacidade produtiva e às suas grandes
potencialidades para a produção forrageira. A adequada valorização
destes solos através de prados (quer se trate de melhorar os
existentes, quer se recorra à sementeira de misturas de espécies
previamente estudadas) dependerá, consoante os casos, de factores
múltiplos entre os quais, a natureza e características de cobertura
vegetal, o enxugo, o domínio económico da água (na drenagem e na
rega), as condições de acesso ao terreno, etc., cujo exame e estudo
permitirão tomar as soluções mais aconselháveis.
Duas preocupações fundamentais se
inscrevem actualmente na Economia agrícola do distrito e, pode
dizer-se, na do Noroeste do país.
Uma, de natureza macroeconómica,
impele os economistas a estabelecer um balanço dos recursos
agrícolas que fundamente uma esclarecida política de investimentos
públicos. Visa-se, deste modo, criar infra-estruturas que permitam
incrementar e valorizar as produções de leite e carne de bovino para
os quais esta Região oferece condições favoráveis no Continente, de
forma a responder à procura cada vez maior destes produtos no
mercado português e a colmatar os déficits crescentes da
produção interna que têm sido anulados pelo recurso à importação nos
últimos anos.
Outra, de natureza micro-económica,
que os poderes públicos não podem ignorar, toca de perto e afecta a
grande massa de agricultores que suportam a crescente desvalorização
relativa dos seus rendimentos. Com efeito, à reduzida dimensão da
maioria das explorações (que, por isso, só atingem produções brutas
globais de valor limitado e consequentemente baixos réditos),
(6) juntam-se a
deterioração dos termos de troca da Agricultura, relativamente a
outros sectores da Economia, e dificuldades crescentes com a
diminuição da mão-de-obra familiar e alta dos salários que tornam
precária, "Ou economicamente inviável, o funcionamento de tais
unidades de produção.
Para obviar a grande parte dos
inconvenientes apontados às explorações agrícolas, é condição
fundamental aumentar a sua superfície útil para níveis
convenientemente estudados, (actualmente, em primeira aproximação,
20 a 30 e mais hectares para o tipo de exploração baseado na
policultura-pecuária), tal que possa facultar lucros satisfatórios
aceitáveis em termos de comparação intersectorial), assentes no
aumento das produtividades da terra e do trabalho. Com este
objectivo, pelo menos a curto e médio prazo, salientam-se, segundo
nos parece, pela sua importância: a organização do trabalho dentro
da exploração redimensionada, integrando-a com realismo na produção
agrícola e na produção pecuária (sem esquecer as especiais
dificuldades que o primeiro comporta pelo seu carácter flutuante,
aleatório e, por isso, exigente em espírito de adaptação e audácia
tantas vezes subestimado por quem nunca lhe pesou verdadeiramente as
dificuldades), o investimento judicioso em factores de produção de
grande e rápida reprodutividade com influência directa na produção
(sementes de qualidade, fertilizantes, concentrados para
complementação alimentar do gado,
/ 53 / melhoramento genético
dos efectivos, etc.), a introdução persistente do progresso técnico
que abarque as actividades da exploração e vise principalmente o
aumento de eficácia dos referidos factores, verdadeira alavanca da
produtividade da exploração e, por último, o planeamento metódico
prudente, parcimonioso dos investimentos em equipamento, máquinas e
instalações. (7)
É evidente que o aumento da dimensão
da superfície agrícola das explorações não pode ser conseguido
satisfatoriamente pela simples aglutinação dos minifúndios
existentes (tão numerosas, reduzidas em área e dispersas são, em
regra, as parcelas que os constituem). Sem emparcelamento,
(8) mesmo com
gestão cuidada, a aglutinação de minifúndios na actual situação
conduzirá, por certo, a um aumento da superfície agrícola útil das
unidades de produção, mas o progresso técnico na actividade do campo
ficará inevitavelmente bloqueado, em agravamento de transportes e na
reduzida eficácia económica de utilização das máquinas, na falta de
oportunidade dos trabalhos, no desgaste de mão-de-obra, bem como na
impossibilidade ou dificuldade de introdução de determinadas
técnicas de interesse assinalável, nomeadamente, a utilização dos
prados através do pastoreio.
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Excelente
prado temporário com cerca de 3 ha, cuja instalação se fez à
custa de uma composição botânica mista com base em Trifolium
repens – trevo branco – (Mira, J.C. I., 1973). |
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A noção simplista de que basta
substituir, nas explorações agrícolas redimensionadas, o braço
humano pela máquina, mantendo os antigos sistemas de produção,
pertence ao domínio das falácias e não das realidades tangíveis que
resultam, por vezes, de insuficiente e superficial revalorização da
Agricultura tradicional. O observador atento muito pode descobrir
nas condições e modo como ela se exerce, nomeadamente no domínio dos
solos aráveis, desde a dificuldade dos acessos até ao ondulado do
terreno, passando pelas suas, por vezes, peculiares características
topográficas, com planuras de extensão variável, entrecortadas por
múltiplos vales, frequentemente abertos, nos quais as courelas de
cultura estão implantadas longitudinalmente em vários níveis desde a
várzea do talvegue.
Com o desejável aumento da dimensão
económica das explorações agrícolas (entrevista sob o ângulo do
aumento da superfície agrícola útil pois só a esta modalidade
pretendemos referir-nos), em geral, toma-se necessário nas condições
actuais e correntes do distrito, por imperativos humanos, técnicos e
económicos, diminuir a superfície relativa do milho, substituindo-o
em parte por prados temporários de regadio que alternarão com aquela
cultura forraginosa anual, ou eventualmente com outras, nos afolhamentos e rotações. Nas condições referidas a introdução de
prados temporários de regadio é uma urgente necessidade cujas
vantagens podem, com brevidade, ser enumeradas do seguinte modo:
– constroem e mantêm a
fertilidade dos solos, constituindo, deste modo, o alicerce de
uma Agricultura permanente (com forte probabilidade desde que a sua
duração seja pelo menos de 3 a 4 anos, mas que só a experimentação
local poderá determinar com segurança), quer pelo aumento do teor de
matéria orgânica, quer pela melhoria de estrutura que podem
proporcionar;
– e do mesmo passo reduzem
substancialmente a necessidade de estrumes na exploração e, em
média, a requerida por unidade de superfície e consequentemente os
transportes que anualmente lhes estavam afectos; os estrumes
continuarão a desempenhar, porventura, o seu importante papel como
fertilizante, mas em escala menor, como é óbvio;
– fornecem alimento barato
para alimentação do gado vacum, nomeadamente ao gado de leite, rico
em proteínas, sais minerais e vitaminas se a sua composição
florística e manejo forem judiciosamente considerados;
– diminuem o número de
mobilizações e lavouras conduzidas anualmente, pelo que um
sistema conservativo da matéria orgânica do solo é melhor
assegurado;
– diminuem os riscos de produção
relativamente aos sistemas intensivos em uso e já evocados;
– asseguram, em regra, melhores
condições de defesa do solo contra a erosão, embora se não possa
deixar de admirar, sobretudo ao Norte do Vouga, o que, sob este
aspecto, múltiplas
/ 54 / gerações de agricultores
conseguiram admiravelmente realizar com êxito apesar de utilizarem
sistemas intensivos de produção.
O mecanismo de manutenção e melhoria
da fertilidade dos solos nos sistemas intensivos em uso baseia-se
fundamentalmente nos gados e matos e ainda no moliço e junco nas
áreas mais próximas da Ria de Aveiro. Pode dizer-se que, durante
muitas gerações, os pinhais têm fornecido, através da manta viva
e manta morta do seu sub-bosque, um recurso muito valioso
para a fertilidade dos solos, retirando ao pinhal o seu carácter de
floresta. Em relação ao moliço (e ao junco, também, em parte) pode
afirmar-se constituir fundamento precioso dos sistemas muito
intensivos dos solos pobríssimos de areia do Moderno e Dunas,
confinantes ou em relação com a laguna.
(9)
Caracterizam também os sistemas
intensivos tradicionais a reduzida importância que as forragens
assumem directamente sobre a fertilidade do solo (posto que valiosas
como base da alimentação do gado) e a grande soma de trabalho
requerido na colheita, transporte e manipulação dos matos e do
moliço, não obstante ser o seu custo muito variável com os
condicionalismos de cada exploração.
Em resumo,
e de um modo geral, pode afirmar-se que os sistemas tradicionais
de manutenção da fertilidade dos solos, além de caros, são
largamente tributários do pinhal (e da laguna), fundamentam-se na
existência de gados e forragens de ciclo anual, reservando-se,
porém, às culturas forraginosas um lugar modesto na indução directa
de fertilidade.
E os sistemas modernos
assentes nos prados temporários de regadio? Nestes consagra-se o
prado temporário como a cultura chave ou «pivot» do sistema
reservando-lhe um papel relevante na construção directa da
fertilidade do solo (além de constituírem o suporte na alimentação
do gado). Os benefícios directos resultam do aumento de matéria
orgânica e do teor de húmus do solo, em relação com a massa de
raizame das Gramíneas pratenses e também das Leguminosas que lhes
estão associadas e também do enriquecimento do solo em azoto
«fixado» pelas bactérias dos nódulos das Leguminosas e melhoria
conferida, em geral, à estrutura do solo.
(10)
O gado mantém nos sistemas modernos
a sua grande importância sobre a fertilidade do solo, induzindo-a
por reposição parcial, directamente através do pastoreio, ou,
indirectamente, através das camas e estrumes (ou ainda por outra
forma de retorno ao solo baseada na ferti-irrigação).
Sob o ponto de vista da alimentação
do gado bovino, a adopção de sistemas baseados na cultura dos prados
temporários tem uma finalidade dupla: o aumento da participação da
forragem na alimentação de modo a torná-la mais económica e ou mais
apropriada aos herbívoros, fazendo baixar a utilização de
determinados tipos de concentrados, e também a diminuição do custo
de produção da erva, pela substituição parcial de culturas
forraginosas intercalares, por culturas de ciclo multi-anual. A
substituição nos sistemas intensivos das forragens anuais por prados
temporários pode ter o inconveniente de conduzir ao abaixamento da
produção de erva por hectare (ou melhor, do número de unidades
forrageiras por hectare).
(11)
Dado que as despesas de alimentação
representam a verba mais importante do custo da produção animal,
compreende-se o grande interesse dos prados, principalmente quando
explorados através do pastoreio ou também em verde através de corte
da erva. Por isso se torna vantajoso regularizar a sua produção e
alongar o seu período de utilização, antecipando-a na Primavera e
prolongando-a no Outono. Este resultado pode conseguir-se pela
exploração racional dos prados temporários com utilização de
espécies e ou estirpes mais precoces, mais resistentes à secura
estival e de rebentação mais vigorosa no Outono e por manejo
adequado. Pode também recorrer-se em certos casos a culturas
intercalares outono-invernais (cereais forraginosos, azevém anual e
outras plantas).
A partir de plantas pratenses
obtidas nos Centros de Melhoramento e devidamente ensaiadas
na Região, a revolução forrageira que se impõe tem por objectivo
utilizar ao máximo o seu potencial genético de produção, no sentido
do abaixamento dos custos unitários da forragem para chegar
aos melhores Rendimentos líquidos.
A alimentação do gado bovino nos
sistemas tradicionais caracteriza-se por uma profunda variação
estacional da forragem ou forragens utilizadas sendo marcada por
flutuações de produção e qualidade, ritmadas estacionalmente com
períodos de notória carência.
Nos sistemas baseados na cultura de
prados temporários, observa-se uma melhor regularização de produção
de forragem verde, cuja qualidade (se bem que dependente do regime
de exploração e manejo, época e oportunidade de corte ou utilização)
varia menos estacionalmente. Mercê de condições ecológicas
favoráveis no distrito é possível, com o recurso à rega, em extensas
zonas, produzir-se forragem verde, com maior ou menor dificuldade,
em grande parte do ano. Deste modo mesmo na quadra outono-invernal
de aproximadamente 6 meses (de Outubro a Março), em cerca de metade
deste período, pode-se ensaiar a produção directa de forragem verde
pela experimentação de técnicas adequadas, certamente e em regra
mais interessantes do que o recurso sistemático e inconsiderado ao
artificialismo da conservação por períodos demasiado
/ 55 / longos e não
economicamente justificáveis. O recurso à fenação e à ensilagem em
explorações agrícolas correntes seria, segundo nos parece, mais
indicado para conservação de excedentes de produção em períodos de
ponta para cobrir os «vazios» reais, nos quais não fosse possível
obter forragem verde, mercê da ocorrência de factores adversos de
clima ou outros.
Assim, e em resumo, a
adopção de sistemas de produção baseados em prados temporários
pode conduzir actualmente a níveis de obtenção de forragem verde da
ordem de 6000 – 7000 e mais unidades forrageiros por hectare,
correspondendo melhor à necessidade de alimentação dos herbívoros,
com menor recurso a concentrados, tornando a alimentação mais barata
(na produção de leite e em regimes semi-intensivos de recria),
resolvendo mais economicamente o problema da fertilidade do solo,
limitando, porventura, o espinhoso problema do sobre-equipamento e
diminuindo quer riscos de produção forrageira, quer atenuando os
seus desajustamentos estacionais.
(12)
A experimentação para o estudo,
cultura e utilização de prados e forragens na Região, exige uma
consistente actividade técnica apoiada em ensaios de campo,
mantidos contínua e persistentemente ao longo dos anos com o seu
fluxo inacabado de problemas que se forem propondo e resultados
correspondentes a que se chegar.
A necessidade de experimentação, que
vise dar resposta urgente a múltiplos aspectos da cultura e
utilização dos prados dentro das explorações agrícolas, convém que
coexista com a ampla indagação de carácter científico e prático,
enraizada nas condições da Região.
Com o fundamento da actividade da
Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas, através dos seus organismos
especializados, Estação Agronómica Nacional e Estação de
Melhoramento de Plantas e actuação, em vários períodos, da Brigada
Técnica da IV Região e pela observação local de muitos anos nalguns
casos e ensaios culturais recentes, parece-nos de grande interesse a
introdução em cultura e ensaio para constituição dos prados de
regadio, nomeadamente de tipos e estirpes de valor comprovado, das
espécies forrageiras que se indicam seguidamente. Entre as
Leguminosas aptas a constituir a base dos prados sobressaem,
pela sua importância, Trifolium repens (trevo branco),
Trifolium pratense (trevo violeta) e ainda Medicago sativa
(Iuzerna). Esta última espécie, de grande capacidade produtiva,
parece oferecer maior interesse em oásis de solos e condições ao Sul
do Vouga. Podem também estar indicadas, além de outras, para
condições especiais e ou difíceis, Trifolium fragiferum e
Lotus cornicolatus.
Nas Gramíneas para associar
às leguminosas, sobressaem, além de muitas outras, pelo seu
interesse, Lolium perenne e o seu híbrido com Lolium
multiflorum e também esta última espécie anual, Festuca
Arundinacea, espécie dotada de ampla flexibilidade de adaptação
e de utilização, e Dactylis glomerata. Todas as espécies
indicadas possuem numerosos tipos e variedades de valor agronómico
distinto.
O estudo botânico da vegetação dos
arrelvados naturais ou semi-naturais da Região foi abordado no
interessante trabalho do Professor João de Carvalho e Vasconcellos –
«Ervagens naturais – subsídios para o seu estudo», promovido
e editado pela Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas em 1936,
infelizmente sem continuidade. Existem também alguns inventários
florísticos parcelares que fornecem alguma informação e
esclarecimentos.
A um técnico preparado, estudos
desta natureza podem constituir uma base para a determinação de
tipos locais de possível interesse e valor, sob o ponto de vista
forrageiro, após a sua individualização na cobertura vegetal a que
pertencem, através de observações metódicas e por adequada
relacionação de dados ecológicos.
(13)
Os referidos estudos podem também
interessar à zonagem forrageira da Região, cuja realização se
baseia nas inter-relações de solo, topografia, exposição, chuva e
humidade, comprimento da estação de crescimento e outros factores
que afectem a adaptação, o crescimento, a produtividade e a
utilização das leguminosas, gramíneas e outras plantas de valor
forrageiro.
Em face da importância económica da
produção pecuária a instalação de um Núcleo Experimental de
Praticultura justifica-se plenamente como forma efectiva de
valorizar a actuação técnica regional. Esse Núcleo poderia ganhar
consistência através de um estreito trabalho cooperativo com
Agências especializadas da Direcção Geral dos Serviços Agrícolas,
como, por exemplo, a Estação de Melhoramento de Plantas e ou
a Estação Agronómica Nacional. Após o arranque o Núcleo
poderia estabelecer indispensáveis laços de colaboração com
instituições regionais de exploração animal, como, por exemplo, a
Estação de Fomento Pecuário.
Segundo nos parece, um Núcleo desta
natureza deveria comportar, pelo menos, um, ou preferivelmente os
dois, meios fundamentais de actividade e estudo, a saber:
a) uma exploração agrícola
com as características e dimensão suficiente, representativa de uma
determinada zona ecológica;
b) um campo de observação e
estudo anexo à exploração ou considerado isoladamente.
/ 56 /
A exploração agrícola
permitiria a inclusão de prados e forragens nos afolhamentos e
rotações como forma de esclarecer aspectos técnicos e económicos
fundamentais ligados à sua cultura e o apuramento das vantagens e
limitações dos sistemas de produção baseados na praticultura e forma
de os melhorar.
O campo de observação e estudo
reuniria, através da cultura, material genético de diversa origem,
sobretudo Gramíneas e Leguminosas, de possível ou reconhecido
interesse para a zona considerada (e, porventura, para a Região),
nomeadamente:
1) uma colecção de tipos locais
devidamente individualizados, dotados de superiores características,
de espécies nativas e naturalizadas, podendo, em certos casos,
chegar-se à definição de ecotipos;
2) uma colecção de estirpes
nacionais e estrangeiras, de possível ou reconhecido interesse
regional;
3) uma colecção com produtos do
melhoramento forrageiro para ser submetida a ensaios locais, depois
de estudo prévio.
Patamar de influências climáticas
distintas e zona de complexas condições geográficas e
geomorfológicas (que a constituição e características dos seus solos
e da sua flora traduzem), a Região de Aveiro é dotada de uma grande
variedade de aspectos culturais, oferecendo ao agrónomo e ao
ecologista vasto campo de observação e estudo.
______________________________________
NOTAS
(*) – apenas a vinha
assume importância nesta epígrafe, sendo de muito reduzida
importância o olival e o pomar.
(1)
– Serviu de base, em parte, a uma palestra integrada no Colóquio da
II Exposição – Feira da Agricultura de Aveiro – 1973, acompanhado da
projecção de diapositivos.
(2)
– Pelo que respeita ao conjunto dos agricultores-empresários do
distrito, verificou-se recentemente que, cerca de metade, tinha
idade superior a 55 anos e apenas 14 % possuía menos de 35 anos
(Inquérito às Explorações Agrícolas do Continente, 1968, I. N. E.).
(3)
– Como relíquia do passada subsistem ainda os «lameiros» nas zonas
montanhosas, entre outros, dos concelhos de Arouca e Vale de Cambra,
prados permanentes explorados com Holcus lanatus (erva molar)
e Plantago lanceolata (carrajó ou língua de ovelha),
submetidos, em regra, a rega de lima e a rega estival, outrora com
muito maior representação ao Norte do Vouga e Águeda.
A área de prados temporários no
distrito incluída na superfície de terras aráveis no referido Inq.
Expl. Agr. Cont., 1968, atingia apenas 194,0 ha.
(4)
– Cf. os nossos artigos desta Revista a que nos reportámos nesta
parte inicial: «Problemas da reconversão agrícola na orla
marítima de areias de Aveiro à Figueira da Foz», 1970, n.º 10, e
«Alguns traços essenciais da Agricultura como actividade
económica dentro do distrito de Aveiro, no limiar da década de
1961-70», 1971, n.º 12.
(5)
– Cf. o «Inquérito às Explorações Agrícolas do Continente», 1968, I.
N. E.
(6)
– Cf. nota (5) e também o excelente estudo promovido pelo C. E. E.
A. da Fundação Gulbenkian: Alfredo Lousa Viana e José Manuel
Barrocas, «Estudo Económico da Exploração Agrícola numa Região da
Beira Litoral, 1970.
(7)
– Se não erramos, a economia em equipamento, máquinas e
instalações, a curto e a médio prazo, em explorações
redimensionadas deverá ser uma preocupação dominante. Factores fixos
de reduzida ou nula acção directa na produção quase todos eles fazem
perder flexibilidade de adaptação a muitas empresas inexperientes,
pela necessidade de amortização em um determinado número de anos, e
pela sujeição a encargos de juros e a reparações por vezes onerosas.
Ê manifesto que os gastos nestes factores fixos não estão em relação
algumas vezes com a deficiente estrutura e dimensão do
empreendimento económico e com a inexperiência e precariedade da
preparação humana.
Não é verdade que a maioria do
equipamento é importado e é comparativamente caro? Não é
economicamente estimável que se valorize ao máximo a terra, factor
de produção regional não importado, e o Homem, empresário-agricultor
e familiares, de carne e osso (e não abstracções deles), com as suas
virtualidades e também defeitos que, por ora, os caracterizam? Ou
vamos continuar a embevecer-nos com realizações materiais de
duvidosa eficácia económica?
(8)
– O emparcelamento deveria ser estudado e realizado para cada casa
de efectiva iniciativa empresarial que se proponha e não como
panaceia geral, automática, para resolver dificuldades.
Parece-nos que talvez só em casos
especiais, por exemplo, manchas importantes de solos de qualidade
(aluviões de vales dos rios, etc.), afectados gravemente pelo regime
de cheias ou outros factores, que imponham uma intervenção global e
urgente dos puderes públicos para sua defesa e recuperação, se
justificaria por si só o emparcelamento (além de outras
modalidades).
(9)
– Seria interessante estudar a possibilidade de colheita e
utilização destes produtos, em particular do moliço, com recurso à
energia motriz e secagem por ventilação forçada ou outro sistema,
tão rico manancial constitui de matéria orgânica, de macro e
micronutrientes com interesse na nutrição das plantas e na nutrição
animal, como recentes e minuciosos estudos laboratoriais
químico-analíticos revelam (comunicação verbal do Eng.º Agr.º V. F.
Malha).
(10)
– A. Burkart cita na sua preciosa monografia «Las Leguminosas
Argentinas» (2.ª edição, 1952, ACME AGENCY, pág. 31) que Hopkins,
trabalhando nos Estados Unidos com luzerna, encontrou que, pela sua
actividade simbiótica, esta planta, em relação a um rendimento
médio, «fixa» por hectare e ano, cerca de 200 kg de azoto
atmosférico em solos comuns não fertilizados, o que corresponde,
grosso modo, a cerca de 1250 kg (200 kg x 6,25) de proteína bruta
por hectare e ano.
Muitos outros exemplos poderiam ser
dados (alguns portugueses) que poderiam confirmar o que se indica.
(11)
– Nem sempre a quantidade de unidades forrageiras produzida
por hectare diminui quando a sucessão anual erva x milho-forragem é
substituída por um prado com base em Trevo Violeta ou Trevo Branco e
sobretudo em Luzerna. Depende das estirpes dos trevos e luzerna,
depende das condições do meio, do manejo do prado que podem fazer
variar muito a produção unitária em confronta com a sucessão
indicada, com base num milho híbrido de boa capacidade produtiva.
Com estirpes muito produtivas de
Luzerna obteve a Estação de Melhoramento de Plantas, em Ervas, em
solos favoráveis para esta cultura, em regime de corte, produção
superior em unidades forrageiras por hectare e muito mais
rica em proteínas do que a proporcionada pela sucessão anual, erva x
milho híbrido-forragem.
Na região de Aveiro obtivemos, há
anos, sugestões, em ensaios de campo, de que assim acontece, em
solos favoráveis para esta Leguminosa forrageira, e em determinadas
condições climáticas. Só por via experimental, nas condições da
Região, se poderá esclarecer devidamente este e outros problemas.
(12)
– Numa exploração agrícola, em solos pobres de areia Mira, (J. C.
l.) tem-se procurado resolver o difícil problema da manutenção de
uma Agricultura permanente nestas condições desfavoráveis, muito
propícias à oxidação rápida. da matéria orgânica da camada arável.
Os resultados parcelares obtidas nos
últimos anos são encorajadores, tendo-se conseguido melhorar muito a
qualidade, quantidade e regularidade de produção de forragem verde
para alimentação de um efectivo de gado bovino da raça
holando-portuguesa, composto de vacas de leite e de bovinos em
recria.
Assim num prado temporário de
3 ha, com base em Trifolium repens e Festuca Arundinacea,
que se apresenta vigorosa, obtiveram-se, no primeiro ano, cerca de
9030 kg de matéria seca por hectare e ano, o que correspondem,
aproximadamente, 6 000 unidades forrageiras – produção boa, não
constituindo caso único, pois têm sido obtidos resultados
comparáveis noutros prados da exploração. Em relação ao prado
referido, e para a produção indicada, verifica-se um encabeçamento
médio de 5 vacas de leite por hectare durante o período de Abril a
Setembro-Outubro.
Presentemente a encabeçamento
média anual na exploração é de cerca de 2 vacas de leite por
hectare, atendendo à baixa produção de Inverno. Pretende-se nos
próximos anos, com a introdução de técnicas adequadas, elevar o
encabeçamento médio anual, aumentando a produção de erva no período
mais favorável e ajustando melhor a produção na desfavorável.
/ 57 /
(13)
– A título de exemplo podemos indicar, com o suporte da nossa
observação e estudo directo, a riqueza de tipos espontâneos com boas
características, existentes nalgumas zonas da Região, de Dactylis
glomerata. Porventura o possível interesse, para determinadas
condições, de Lotus ulginosus, espécie que, desde 1955, nos
impressionou favoravelmente quando a encontramos na Região como
componente valiosa de arrelvados em locais húmidos. Outro tanto
podemos referir em relação a Phalaris Arundinacea, espécie,
pelo que temos observado, não isenta de defeitos, mas dotada de boa
capacidade produtiva e merecedora de estudo atento, pela profusão de
tipos que se nos têm deparado de manifesto interesse agronómico.
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