Canjambari, 29 / Janeiro /
65.
Quando deixámos a estrada,
um negro da milícia disse:
– Deus vos acompanhe!
Afivelei o capacete. E
caminhámos no silêncio, na noite cerrada como a floresta. Mas, quando
veio a madrugada, sem darmos por isso, estávamos à boca de algumas casas
de mato e na boca do lobo que, emboscado, resistiu por breves minutos.
Seguimos. E, quando chegámos
à tabanca, que era o grande celeiro da zona, tiros e rajadas
fustigaram-nos. Enquanto o diabo esfregara um olho, eles fugiram para a
periferia. Mas, passados minutos, já estavam instalados do lado
esquerdo, ao fundo da tabanca, prontos a causarem-nos dores de
cabeça. Então, a fuzilaria engrossou de parte a parte e o perigo
mostrava-se maior para nós porque estávamos num terreno descampado, sem
abrigos e camuflagem. Mas num momento soou um grito:
– Vamos a eles!
Donde partiu não sei, mas o
certo é que saiu da boca e raiva dum valente anónimo e se comunicou a
toda a linha, electrizando a frente e os flancos. E começou a ouvir-se
por todo o terreno que estava a ser varrido por um fogo cerrado que
fazia uma enorme poeirada
– Vamos a eles!
– Vamos dar-lhes cabo do
pêlo!
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E todos, por lanças curtos e
rápidos, corriam, faziam fogo, deitavam-se. O Garcês impulsionava os
restantes, atirando-se para a frente, sempre de pé, de Madsen fixa nos
quadris. Era impossível resistir. E começaram a retirar desorientados
com a nossa perseguição que se tornava deveras eficaz, confundidos com a
audácia e com os gritos. Uns desciam das árvores, caíam como pedras. O
quarenta e sete espiava os troncos das árvores, fazia pontaria. E,
quando viu um terrorista varado a estatelar-se no chão, agarrado à arma,
esfregou as mãos e exclamou:
– Cão danado! Agora já não
nos esperas mais... – E com um ar de desprezo – Fica aí com o diabo!
Outros, alojados nos morros
de baga-baga, começaram a correr em ziguezague. E travou-se uma
luta, quase patética, entre o Casinhas e um terrorista que protegia a
retirada dum ferido. Cada um procurava defender-se o melhor possível e
acertar a matar. Ele fugia, parava, voltava-se, fazia fogo. Mas o
Casinhas, mais ágil e mais calmo, lançou-o por terra, quando ele virou
costas, arremessando uma granada.
– Desta não te safaste tu,
bandido!
Eles calaram-se.
O vinte, ferido,
contorcia-se na maca. Quando voltámos da perseguição, pelo capim
empastavam poças de sangue e um dos soldados cuspiu numa delas:
– Sangue de cães...
O helicóptero aterrou. Na
orla da mata, alguns soldados engrolavam palavras, suavam em bica. Era
meio-dia. Eu comia e o pão engrolava-me na boca.
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