Jumbembem, 15 / Dez. / 64.
Alguém gritou estarrecido:
– Há fogo na caserna!
Larguei o garfo, a mesa.
Corri.
O pânico espalhou-se. As
labaredas lambiam a lua e o azul molhado de estrelas.
Um soldado, por engano,
enchera o candeeiro de petróleo com gasolina. Ao acendê-lo, explodiu e
ele correu, de calças a arder, a esfregar-se na terra. E não tardou a
atear-se ao forro da caserna.
– Há fogo! Há fogo!
Começara uma azáfama
confusa, barulhenta. Uns começaram a destelhar a caserna e a borrifar o
forro com latas e terrinas de água. Outros, em baixo, atiravam cestos de
terra sobre o fogo que rondava alguns bidões de gasolina. E, a todo o
momento, receava-se o pior. Iria tudo pelos ares. Outros acarretavam
para fora tudo o que podiam roubar às chamas: colchões, malas, roupas.
Tropeçavam uns nos outros. Praguejavam. Lamentavam-se:
– Vamos dormir ao relento...
O fogo crepitava numa
torrente de estalidos. E o barulho quase abafava a lengalenga que os
sapos arengavam, estirados na margem do rio.
Quando entrei no quarto,
ardia-me a cama e a tosca
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mesinha de cabeceira, feita duma caixa de cerveja. E salvei, muito a
custo, (o fogo lançava-me lâminas vermelhas e baforadas de fumo
sufocavam-me) os rascunhos do diário, uma mão-cheia de poesias. O fogo
descera pela cortina da janela feita com um cobertor, pegara-se ao
mosquiteiro, à roupa.
Entretanto, os montes das
chamas começavam a ruir, abafadas. E o fumo começou a esfarrapar-se,
levado por um vento sul, a desfazer-se como borrões frescos no
firmamento. E os sapos... E os sapos continuaram a arengar ainda por
muito tempo.
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