Farincó Mandinga, 24 / Set.
/ 64.
– Chô! Olha o raio do burro
deita-se!
O burro, pequeno, enterrou
uma das patas, caiu sobre os joelhos enormes com leves arranhões,
afocinhou sobre o arrozal da bolanha. Mas o Gaimota obrigou-o a
levantar-se imediatamente, puxando-o pelo rabo quase pelado. Depois,
deu-lhe três palmadas encorajadoras no lombo:
– Anda, molengão! Andas
fraco...
E ele agradeceu em zurros de
espanto, focinho pregado no céu quente, a admirar o T6 que nos
sobrevoava, atirando pelas narinas o fumo da respiração.
O caminho era longo há
muito. Mas quase ninguém sentia as bolhas nos pés molhados e o sono a
vencer os olhos e o peso da água e da lama que se pegava às botas, às
calças até à forcada.
Fora dia de caça grossa.
Recompensou uma noite perdida, o que nem sempre acontece.
Ao alvorecer, o tiroteio
rebentou simultâneo nas casas de mato do lado de lá, da bolanha e
na tabanca que ofereceu forte resistência. Porém, nas casas de
mato os terroristas foram apanhados de surpresa e, em vão, pediram
pernas a Alá, abandonando um número razoável de armas e munições. Os
pilões calaram-se, arderam. Mas mesmo assim apanhei um susto. Sustos de
todos os
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dias. E, caminhando, lembrei, aliviado, o arrepio que me tolheu quando
uma rajada, violenta e perdida, rompeu as folhas das ervas à minha
frente e passou rente ao capacete, e, livre, agasalhei-me na memória dos
caminhos da minha terra, onde o dia acorda, tão diferente, com a toada
bíblica dos sinos a perder-se pelos campos fora, a rezar sobre os
beirais do casario e sobre as gândaras e a despertar as asas, a
criançada.
Caminhava de olhos presos às
orelhas do burro. A água da bolanha subia-lhe a barriga e ele
levantava o focinho, esticava-o. Ia carregado de velharias como um
cigano e seguia, muito conscienciosamente, a fila das fardas de sardão,
como um velho conhecido e nem sequer mostrava a menor recusa.
Porém, de repente, estacou e
não queria andar.
A chibata começou a cair-lhe
em cima como uma penosa carícia.
– Vê lá se matas o burro.
Sabes que depois de «burro morto cevada ao rabo.»
– Decerto, também é
bandido...
Imaginei-me então em
cavalgadas e vitórias. Lembrei-me de D. Quixote travando dura luta com
os moinhos de vento e das suas tristes figuras. Mas ninguém se ria,
porque todos temos uma costela de D. Quixote e outra do amigo Sancho
Pança.
Moía entre os dedos uma
folha qualquer.
A estrada apareceu.
E o Gaimota, montado, pés a
roçar o chão, afagava o pescoço do prisioneiro com a chibata, com as
mãos:
– Arre, burro! Arre, burro!
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