Como, 1 / Março / 64.
A noite caiu com olhos de
morte sobre o caminho e o silêncio pesado que o percorre dói, magoa como
um punhal de traição que nos espreita. E apetece-me parar o coração,
gritar, como um doido-varrido, aos quatro pontos cardeais: cantar,
chorar.
A noite guarda o segredo de
cada passo: para a vida? para a morte?
Só Tu sabes, Senhor, a minha
hora.
Mas tenho medo porque sou
homem e tenho o destino de mãos vazias.
Que as minhas mãos não façam
correr sangue inocente, mas que não sejam cobardes se for preciso
castigar, matar ou morrer.
Mas tenho medo, Senhor!
Tu bem sabes que eu tenho
uma mãe que chora e reza a minha ausência e que a saudade chora dentro
de mim como uma criança longe dos braços maternos.
Tu sabes que eu tenho sonhos
de ouro e espero de olhos azuis no futuro.
Tu sabes que eu tenho um
amor na vida de mãos cheias de primavera e cabelo preto, da candidez dos
lírios. E Tu bem sabes como dói cair uma rosa no chão só porque não
choveu…
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E só Tu sabes o segredo da
noite: para a vida? Para a morte?
A hora é de luta para vencer
ou morrer.
Mas tenho medo sem ser
cobarde. E tremo todo como cana agitada ao vento.
Espero em Ti.
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NOTA
– No original, há partes que
o censor considera como «negativo» e outras como «bom». Todo o capítulo
está assinalado com um traço vertical na margem esquerda.
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