Como, 20 / Jan. / 64.
A lua, suavemente pálida,
escondera-se no fim do mundo e a noite era de breu e cheia dum frio e
denso cacimbo que formava um muro alto e forte que os nossos olhos não
eram capazes de vencer e, junto a ele, acocorados, medos e sustos.
Um tiro súbito, seguido de
mais dois, partira do meu lado esquerdo e, passando-me rente aos
ouvidos, interrompeu-me o sono, sobressaltou-me, quebrou a noite.
Ergui-me. Indaguei o que
quer que fosse, porque não via nada. Então, o vigia, que disparara à
queima roupa, disse-me que três vultos, de pé, se aproximavam
vagarosamente do meu abrigo e que, quando atirara, desapareceram num
momento e nunca mais vira nada e que, talvez, fosse alguém que ainda não
soubesse da nossa presença ali. (E eu acrescento: talvez, gente que nada
tem a ver com a guerra...). E o Abílio concluía em voz serena, como bom
cumpridor do seu papel:
– Decerto, vinham buscar a
bandeira…
Eram duas horas da manhã.
Um vento húmido, de norte,
trazia o cheiro horrível a carne a apodrecer algures, cortado pelos
estrondos da artilharia que se prolongavam por distâncias infindáveis.
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Quando acordei com o sol a
dar-me nos olhos piscos, fiquei-me a saborear longamente a alegria de
viver nas fumaças dum cigarro que pedi, enquanto espirais de fumo
erguiam cânticos e preces à vida. Perto, uma esteira enrolada e uma
cabaça partida que eles deixaram na fuga.
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