T30 / Nov. / 63.
Chegámos ao destino.
Sentámo-nos à sombra de uma
velha árvore e alguns começaram a gravar, a canivete, na casca lisa do
tronco, nomes e datas.
A casa, que sobressaía, era
a do chefe da tabanca, feita de adobes e toscamente pintada de um
amarelo pálido, à frente da qual presidia à vida de todos a bandeira das
quinas. Ele disse-me que havia ali alguns doentes, mas que estavam na
casa do menino morto.
E, falando eu de bandidos,
ele disse-me:
– Isso ser gente sem
cabeça, nosso alfero!
E apontando-me alguns
rapazes que tinham cumprido o serviço militar:
– Aqui tudo português
limpo, nosso alfero!
Depois mostrou-me radiante,
como um pai carinhoso, o filho mais novo que tinha um ano e trazia ao
peito um talismã para afastar o feitiço:
– Filho, menino di mim…
Quando chegámos à casa do
menino morto, um ror de gente estava sentada à porta, de pés cruzados,
sobre esteiras, e conversava em voz baixa. Em volta das laranjeiras,
dezenas de cabeças de gado. Milhares de moscas pousavam em tudo. À uma,
todos nos estenderam as mãos. Era um nunca mais acabar.
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A visita às tabancas é
fundamental a fim de criar nos seus habitantes uma confiança sólida.
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Então, apareceram
algumas mulheres que traziam desajeitadamente crianças nos braços,
dizendo:
– Menino cabeça quente...
mist mesinho!
E o enfermeiro, passando a
mão pela testa das crianças, fazia-lhes engolir um comprimido e
explicava com dificuldade às mães quando lhes deviam dar os outros. E,
às vezes, esfregava com pomada as costas de algum velho. Para o negro,
tomar comprimidos, andar com um penso num braço ou num pé, e apanhar
injecções é manga di ronco. E é tão verdade que o número dos
doentes foi aumentando de tal modo que, ao fim e ao cabo, toda a gente
tinha a mesma doença: cabeça quente, dores nas costas. Até eu tive que
fazer de enfermeiro, dando comprimidos e mais comprimidos.
No fim, o homem grande
deu-nos laranjas e pediu para tirar connosco uma fotografia, o que nós
aceitámos. Era uma pequena prova de amizade.
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