Já aqui me referi às
contendas havidas entre Esmoriz e
Cortegaça, por causa dos marcos que dividem duas freguesias
(1). As relações de Esmoriz com Riomeão e
Paramos são bem mais pacíficas, se exceptuarmos as
questões com o Morgado de Paramos.
Esmoriz dividia-se da Comenda de Riomeão, pertença da Ordem de Malta,
por três marcos, denominados, actualmente, do sul para o norte, o de Cardielos, o de Lagoelas e o de Gondesense. Pela data gravada nos dois
primeiros, − não
conheço o terceiro − a demarcação foi efectuada em 1629
(2).
Em Cardielos, encontra-se um marco prismático, de três faces, com a
cruz de Malta voltada para nascente e a data de 1629, que dividia
Riomeão, de Cortegaça e Esmoriz. O Tombo da Comenda situa-o na Mâmoa do
caminho de
Cortegaça
(3), topónimo desconhecido já em 1721, em cuja
data os habitantes de Cardielos o denominavam «mamoa do marquinho de
Cortegaça» e os de Esmoriz e Cortegaça «mamoa do alto de Cardiellos as
partilhas de Cortegaça».
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Em Lagoelas, um marco de xisto, mal talhado, ostenta, igualmente, a
cruz de Malta voltada para nascente e a data de 1629.
O terceiro e último achava-se, segundo o Tombo, na mamoa de gondesende.
Em 1791, porém, estava plantado em sítio raso e sem vestígios alguns de
haver sido mâmoa(4).
*
*
*
O Dr. André António Pinto da Cunha, abade de Esmoriz, que já se tinha
visto em séria contenda (1787-1791) com
o Cónego Regular D. Ildefonso da Madre de Jesus Carneiro e (ou de) Sá,
abade de Cortegaça, por causa da demarcação
da freguesia, requereu em 1813 ao Vigário Geral que se embastecessem os
marcos entre o seu benefício e o de Paramos
(5), por estarem bastante
distanciados entre si. Evitar-se-iam, assim, dúvidas, de futuro, sobre a percepção dos direitos
paroquiais. Deferida a sua petição, foi passada comissão ao vigário da
vara da Vila da Feira, P.e Francisco de Paula de Sá Farinha, Reitor de
Santa Marinha de Avanca, para assistir à demarcação, que se efectuou em
9 de Dezembro do dito ano de 1813. Começou-se pelo sítio do Chão do
Grilo, onde estava um marco divisório, e não mediram para o nascente,
«por estar muito povoado de pinheiros». Junto deste, ao nascente, e
separado, apenas, dois palmos e meio, meteram outro. Começaram, agora, a
medição, em direcção ao poente. Deste, ao da Rigueira do P.e José dos
Santos,
mediram seis varas e um palmo. Continuando no mesmo
sentido, meteram novo, no sítio do Forno da Telha, que dista do marco do
Chão do Grilo duzentas e quatro braças.
Seguindo a medir até à carreira da Lomba, contaram quinhentas e trinta
braças e puseram outro. Daqui, até à estrada que vem do Porto para Ovar,
onde foi colocado o quarto marco, mediram cento e noventa e três braças.
Meteram o quinto, que «fica apartado da lagoa quando está em seu
estado natural e não cheia, onze braças» nas Senras, «ao fim
das terras do Prazo e algum juncal», e deste àquele acharam ter
trezentas e trinta e uma braças. Entre os dois, foi posto outro, no
sítio do Rego da Água. Na «Redonda d'areia onde existe o marco antigo»,
mediram para nascente até à Ponte
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da Barrinha, onde meteram novo, cento e noventa e cinco braças e meia, o qual marco «confronta pelo Sul com a valIa
da Aberta em distançia dello quatro varas e pelo Norte com
o [...] desaguadouro da Barrinha para o Mar que actualmente se acha separado do dito marco vinte e sete varas,
cujo desaguadouro nem sempre existe neste estado pois a
proporção dos ventos corre já para o Norte já para o Sul e
deste novo marco athe o marco das Senras se não medio por
não dar o terreno lugar por se achar inundado de agoas, nem
tão bem se meterão mais marcos desde o da Senra athe o
Mar por não careser delIes em razão de correr deste marco
athe o Mar hua linha recta [...]».
Concluídos os autos e apresentados ao Vigário Geral,
proferiu a sentença seguinte: «Julgo a louvação e demarcação
por Sentença e mando se cumpra e goarde na sua forma
pagas as custas pelo Reverendo Autor ex cauza. Porto vinte de Mayo de mil oito centos e quatorze. Joze Dias de Oliveira»(6)
P.e AIRES DE
AMORIM |
(1)
−
P.e AIRES AMORIM − Notas sobre
Esmoriz − Questões entre Esmoriz e
Cortegaça, por causa dos marcos que separam as duas freguesias, em Arq.
do Dist. de Aveiro, n.º 64 (1950), págs. 241-246.
(2)
−
O Tombo da Comenda foi concluído em 1630. Por volta de 1772, foi,
novamente, organizado.
(3)
− Sobre a
localização da mamoa, houve grande litígio entre
Cortegaça e Esmoriz. A mamoa, como contesta o Dr. André António Pinto
da Cunha, abade de Esmoriz, «só hé bem claram.te aquella onde existe o
Marco das 3 quinas, no alto junto do Lugar de Cardiellos; porq ali se
achão o Com.º da just.ª do Coutto, e o que vem de Mourão Freg.ª de
Cortegaça».
(4)
−
Cfr. uma pasta de documentação intitulada
«1791 − O Abade de
Cortegaça requer ao Snr. Juis da Commenda de Riomeao (...)» − Arq.
Paroquial de Esmoriz.
(5)
−
Era, então, Reitor o Dr. Manuel António Osório.
(6)
−
Cfr. a «Snnca Civel de demarcação a favor do Rd.º Andre
Antonio Pinto da Cunha Abb.e da Igr.ª de Santa Maria de Esmoris da Comarca
da Feira deste Bispado do Porto &. ª − Arq. Paroquial de Esmoriz.
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