A. S. de Sousa Baptista, O mosteiro de Sever, Vol. XIX, pp. 41-48.

O MOSTEIRO DE SEVER

O MACIÇO da Gralheira ergue-se entre o Vouga e o Caima e alonga-se até ao Paiva. É formado por várias cordilheiras com seus nomes próprios e altitudes diferentes. Serra de Sever, do Arestal, de Freita, de Arouca, e outros. O povo só conhece por Gralheira a que se levanta paralela ao Vouga em frente de Oliveira de Frades e Vouzela.

Quem olha a Gralheira à distância, sobretudo em frios dias de sol no inverno, coberta de neve, em cuja brancura sobressaem as sombras esparsas das cristas de granito, não pode perceber nem imaginar a beleza florestal das suas encostas, a água cristalina dos seus ribeiros, as largas e fecundas várzeas dos vales, onde branquejam aldeias e vive gente feliz e da melhor que há em Portugal. Pessegueiro, rica do ouro das suas laranjas doces; a vetusta Sever; a Senhorinha, de solar brasonado, orgulhosa do chumbo e prata que lhe enriquece as entranhas e vai aflorar lá em baixo, no Braçal; Silva Escura, a medieval Selva Escura. Ornelas, Rocas, Couto de Esteves, e tantas outras. Mulheres bonitas, bem proporcionadas no corpo e no espírito, guardam com zelo as virtudes dos antepassados e repelem com energia os galanteios atrevidos que a educação moderna já inscreveu no código das boas maneiras. Os homens, de compleição forte, roupas modestas, mas limpas, são afáveis no trato e sérios em seus negócios. Respeitam-se mutuamente e recebem o visitante com alegre franqueza. O estudioso que se disponha a lidar com esta gente, durante algum tempo, facilmente se aperceberá de que ela possui rico património moral que lhe vem de geração em geração desde tempos muito remotos. Ainda algum dia ali aparecerá algum dos nossos raros folcloristas a rebuscar nas romarias e nos serões de inverno achegas para um cancioneiro da região. E não perderá o seu tempo.

São outros os meus caminhos, mais escuros e enfadonhos. Mas também às vezes destes surge pálida centelha / 42 / que descobre em factos longínquos a razão daqueles que se passam em nossos dias.

Quero hoje falar de Sever, onde já nos começos do século X se sentem os primeiros estremecimentos daquele sentimento que mais de dois séculos depois aflorava na independência de Portugal.

Afonso III, o repovoador, governou a monarquia de Leão de 866 a 910. Este rei foi o continuador da obra de seu pai e antecessor, Ordonho I. Com este é que começou o repovoamento das terras que Afonso I desorganizara. E fez-se em larga escala ao norte do Minho, em Tui, Orense, Astorga.

Afonso III estendeu-se para o sul e chegou a Coimbra. Tem-se escrito muito sobre as campanhas de Afonso I despovoando e as de Ordonho I e Afonso III repovoando. Em minha opinião é preciso escrever ainda muito mais, pois afigura-se-me que ainda se não assentou definitivamente na verdadeira natureza destas campanhas, definindo-lhes rigorosamente a extensão e propósitos. Nem Afonso I tomou, destruiu e levou consigo os habitantes com o fim estratégico de criar uma cinta de desertos para defesa de seus estados, nem deixou a terra erma. Talvez esta atitude guerreira possa e deva ser vista por um outro prisma, pelo da necessidade de quebrar as últimas resistências do povo suevo que aceitou pela força o domínio godo, que não reagiu contra a invasão árabe e que não aproveitou a oportunidade de sacudir o jugo desta quando os berberes em revolta deixaram sem guarnição e sem defesa todas as cidades do nordeste peninsular. E também o repovoamento não teria sido provocado ou impulsionado só pela ambição política de conquista e alargamento, mas, e principalmente, pela necessidade de dar expansão aos suevos comprimidos em terras que já os não podiam comportar; de dar satisfação às suas ambições políticas, latentes mas fortes e perigosas ainda.

Afonso III encarregara três homens de conduzir as colunas militares para orientar e garantir o repovoamento ao sul do Minho. Odoário foi para as terras dentre o Tâmega e o Tua. Vímara Perez viera até ao Porto e, depois de fundar Guimarães, foi morrer além Minho em 873. − O Conde Hermenegildo, Mendo, Nuno, ou Munio, que por todos estes nomes é conhecido nos documentos (ANTÓNIO LOPES FERREIRA, Hist. da Santa A. M. lgreja de S. Tiago de Compostela, voI. II, pág. 49, nota I) foi mandado em 879 à conquista de Coimbra, que cercou, tomou e povoou de cristãos depois de expulsar os árabes.

O Conde Hermenegildo era mordomo de Afonso III e, nos actos da sagração da nova Igreja de S. Tiago de Compostela, em 899, figura como conde de Tui e Porto, e seu filho Arias conde de Coimbra. Sua mulher Ermezinda era / 43 / irmã de Elvira mulher do príncipe Ordonho II, que sucedeu a seu pai Afonso III; e as duas eram filhas de Bermudo, conde de Torres, e netas dos condes D. Gaton e Egilone povoadores de Astorga em 856.

Foram filhos do conde Hermenegildo: Enderquina Pala − Arias − Guterre − Aldonça.

Arias foi conde de Coimbra e Enderquina Pala casou com Gundesindo Eroni; Aldonça casou com o conde D. Guterre Osório; D. Guterre casou com Ilduara, irmã de seu cunhado Gundesindo. Gundesindo e Ilduara eram filhos dos condes Era e Adozinda. Pessoas da mais alta nobreza, da corte de Afonso III e da de Ordonho II. Os condes Guterre Mendes e seu cunhado Guterre Osório foram os mais poderosos dignitários da corte com Ordonho II, Fruela II e Afonso IV.

Agora só tratarei de Gundesindo Eroni. Esta família deve ter-se fixado na região dentre Minho e Douro ou por ocasião do repovoamento no último quartel do século IX, tomando parte activa nele, ou veio no governo do conde Hermenegildo, acompanhando Ordonho II, quando Afonso III o associou ao trono para governar a Galiza. Acredito que Gundesindo tenha acompanhado o sogro na conquista de Coimbra porque muito antes do fim do século IX já ele era senhor de muitas terras ao sul do Lima e ao sul do Douro, estendendo-se à beira mar ainda para além do Vouga.

Há alguma confusão nos escritores sobre a paternidade de Enderquina Pala, mulher de Gundesindo. LUÍS GONZAGA DE AZEVEDO (Hist. de Portugal, voI. II. pág. 94, n. 2) diz que Enderquina era filha do conde Guterre Mendes, portanto neta do conde Hermenegildo. Apoia-se no documento do D. C., pág. 7, em ANTÓNIO LOPES FERREIRA, ob. cit., voI. II, pág. 82, e na España Sagrada, voI. XVIII, págs. 75 a 379. Deve estar errada a citação de LOPES FERREIRA, e o documento do D. C. a pág. 7, também, porventura, terá sido mal lido. Diz este: «...enderquina conmento pala filia dux menendus Gutierizi et ermezinda iermana de domna geluira regina que fuit mulier de ordonius rex mater ranemirus princepe.. .» Enderquina era, pois, filha do capitão Mendo Guterre e não de Guterre Mendes. Também PINHO LEAL no seu Dicionário sob a rubrica Monte Cordoba chama Guterre Arias ao irmão de Enderquina. Não sei onde ele foi buscar o patronímico. Arias não era pai de Guterre, mas irmão dele, o que sucedeu a seu pai, conde Hermenegildo, no governo de Coimbra (ANTÓNIO LOPES FERREIRA, ob. cit., voI. II, pág. 15, n. I). Também a data do documento de fls. 7 do D. C. é para alguns suspeita. Que está errada é o próprio documento que no-lo diz de maneira incontroversa: «...ermesinda iermana de domna geluira que fuit mulier de ordonino rex», o que significa que à data da feitura do documento a rainha / 44 / Elvira já era falecida. Ora esta morreu em 921 e o rei Ordonho em 924 (LUÍS GONZAGA DE AZEVEDO, ob. cit., voI. II, pág. 9). Diz mais o documento: «mater ranimirus princepe...» o que quer dizer que Ramiro não era ainda rei. De facto só o foi em 930. Gundesindo conta no documento a sua vida de casado e viúvo, menciona os filhos e o destino de dois. O documento só podia ser feito no fim da sua vida e ele era vivo em 926, pois confirma uma doação do príncipe Ramiro, quando este, por ordem de seu pai, governava a Galiza e vivia em Viseu. A data verdadeira do documento deverá, portanto, estar entre 926 e 930.

Entre as muitas vilas que Gundesindo e Enderquina possuíam entre o Douro e o Vouga contam-se Esmoriz, Azevedo, Sever e Carvoeiro. Tiveram quatro filhos − Suário, Ermesinda, Adosinda e Froilo. Este nasceu defeituoso, com os ossos da bacia ligados, de maneira que não podia sentar-se tendo que viver de pé ou deitado. Os pais viram esta desgraça como um castigo de Deus aos seus pecados. Para os remir fundaram Mosteiros em muitas das suas vilas. Em Azevedo o de S. Miguel, em Sanguedo o de S. Cristóvão. Estes dois foram particularmente dotados, para ficarem com o encargo de receber e cuidar de Froilo durante toda a sua vida.

Suário casou com Goldogrodo. Na vila de Sever, em fins do século IX ou princípios do X estes fundaram também um mosteiro, que dotaram com tudo quanto ali tinham. Era grande o termo de Sever, pois confinava com as vilas de Silva Escura − Paçô − Nespereira e S. Martinho. Confiaram o mosteiro ao abade Jacob, que durante anos o habitou e regeu. Jacob, porém, não deixou sucessor e o mosteiro, abandonado e arruinado, assim ficou por muitos anos até que os filhos de Suário − Sandino Soares e Gundesindo Soares, em 964, já velhos, pois tinham nascido no século anterior, resolveram entregar o mosteiro aos dois irmãos, o diácono Gudesteo e o presbítero Sandino, que dotaram ainda com uma outra vila, a de Pinitelo, entre Cedarina e ldolo.

A este tempo era já numerosa a população das terras entre o Douro e o Vouga, sendo grande o número de servos ligados à lavoura e também muitos os senhores que nela viviam. A presúria fizera-se não só pela beira-mar, mas ainda pelo vale do Paiva, Arouca, Vale de Cambra, e deste pelos vales do rio Mau e Caima para o Vouga.

O Condado de Coimbra que, depois do conde Hermenegildo fora governado por seu filho Arias, foi dado em 930 ao conde Exemeno, irmão da Mumadona, que o teve até à sua morte em 963 ou 964, sucedendo-lhe o conde Gonçalo Muniz.

O Condado do Porto, entre o Lima e o Douro, andava governado no reinado do rei Ramiro pelo conde Hermenegildo / 45 / Gonçalves, marido da Mumadona. Hermenegildo morreu em 949 e sucedeu-lhe o filho Gonçalo Mendes, que governou até ao fim do século X.

As terras de Limia eram governadas pelo conde Rodrigo Velasques. Sisenando Mendes, bispo de Compostela, governava a Galiza ao norte do Lima. Amigo íntimo e parente do conde Gonçalo Mendes, com este fez aliança nas lutas políticas. Não sei se será ousado dizer-se que foi em seu tempo que começou a definir-se, ao longo do Minho, a linha fronteiriça de Portugal, com a determinação das esferas de influência político-religiosa de Guimarães e Compostela. Braga-Porto-Viseu-Lamego e Coimbra estavam há muito tempo sem bispos. Braga e Porto que começaram a declinar desde a extinção do reino suevo, nos fins do século VI, eram agora pouco mais que ruínas. Vimara Perez fundou Guimarães e ali é que foi o centro de administração do condado. O Porto nem como centro de defesa militar teve mais importância. Os documentos não falam nele. Julgo pouco segura a maneira de ver o repovoamento, marchando de sul para norte, do Douro para o Minho, sob a protecção das muralhas do Porto.

O conde de Coimbra, Gonçalo Muniz, inimigo de Gonçalo Mendes, era por sua vez aliado do conde de Limia − Rodrigo Velasques.

Mumadona tinha fundado em 950 o mosteiro de Guimarães e este, dentro de poucos anos protegido por torre e outras obras militares, cresceu rapidamente, estendendo o seu poder para além do Lima e pelo Oriente até às margens do Côa, como que definindo por este lado as fronteiras que ainda hoje perduram. E onde chegava a actividade religiosa do mosteiro chegava também o poder político do conde Gonçalo Mendes.

No mosteiro de Lorvão é que se encontrava o poder político do conde Gonçalo Muniz.

Não corriam bem os tempos para o reino de Leão. Estes condes e o bispo de Compostela, aproveitando-se das lutas entre os reis Sancho o Gordo e Ordonho IV, governavam os seus senhorios com larga independência, quase perdido o respeito à autoridade régia. Por outro lado as invasões dos Normandos traziam em grande sobressalto e perigo todos os povos da beira-mar, que os reis por sua fraqueza não podiam defender. Desgraça maior estava ainda reservada aos cristãos. Almançor, aproveitando a desordem e a corrupção que entre eles lavrava, fez ataques sucessivos contra eles, levando-os de vencida até aos redutos das Astúrias, onde tinham começado a reconquista. Estas guerras ocuparam as duas últimas décadas do século X.

O bispo Sisenando Mendes morreu em 979 em combate com os Normandos. O conde Gonçalo Muniz morreu / 46 / em 984 ou 985 deixando como sucessor seu filho Munio Gonçalves.

No fim do século morreu o conde Gonçalo Mendes, passando o governo a seu filho Mendo Gonçalves.

Em 987 caiu Coimbra em poder do Almançor; depois Viseu e Lamego e a terra toda até o Douro.

E foi então que durante 25 anos tudo se modificou entre o Douro e o Vouga. A maior parte dos senhores que ali viviam e tinham suas terras fugiram para Além Douro.

Fugiu Egas Erotes, rico proprietário de terras entre os dois rios; fugiram os descendentes dos senhores do mosteiro de Severo Outros passaram-se para Almançor, e renegando a pátria lutaram contra os seus irmãos de fé. Foram estes chefiados pelo conde Froila Gonçalves, filho natural do conde Gonçalo Mendes. A seu pai, no governo de Coimbra, sucedera o filho legítimo Munio Gonçalves. Ou por esta razão ou por outra, a verdade é que Froila Gonçalves foi homem de confiança de Almançor que lhe entregou o governo da terra conquistada com a capital em Monte-Mor.

É agora tempo de voltarmos aos descendentes de Gundesindo Eroni. Os seus dois netos, que, como atrás disse, fizeram nova doação do mosteiro de Sever aos dois irmãos Gudesteo e Sandino, tiveram descendência: Froila Gundesindes, filho de Gundesindo, foi o que vendeu Alquerubim à Mumadona (D. C., pág. 46); Sandino Soares, casado com Exemena, teve três filhos: Fernando Sandiniz, Suarius Sandiniz e Goldogrodo.

Suarius Sandiniz casou com uma outra Enderquina Pala, que era irmã ou parente do rei Ramiro II e foi a que doou Aguada de Baixo, e o mosteiro do Marnel ao Mosteiro do Lorvão em 961 (D. C., págs. 29-53 e 74).

Goldogrodo casou com Vimiara Emiariz poderoso senhor de Além Douro (D. C., págs. 99, 132 e 136).

Fernando Sandiniz casou com Elvira e teve larga e nobre descendência. Fernando era vivo em 984, pois neste ano doou por si e por pedido que seu irmão, já falecido, lhe tinha feito, os bens que tinha em Recardães e Bêlhe, ao mosteiro de Lorvão (D. C., pág. 82). Foram filhos de Fernando e Elvira: Ermesinda − Nunus − Sandinus − Exemena − Sarracina. Depois que Almançor se apoderou de Coimbra em 987, estes fugiram para o norte, abandonando as suas terras dentre Douro e Vouga (D. C., pág. 150). Froila Gonçalves conde de Monte-Mor, estendeu a dominação árabe até às margens daquele rio.

O abade Gudesteo, senhor do mosteiro de Sever, tinha morrido e ficara só o irmão. Sandino, ou por medo ou por sentimento, este vendeu o mosteiro a Froila Gonçalves em 1005 (D. C., pág. 119) e foi-se com ele para Monte-Mor. / 47 /

Já três anos antes, em 1002, tinha doado à Vacariça o mosteiro de Rocas que também era seu. Sandino entrou assim francamente na campanha ao lado dos árabes contra o rei Bermudo, e com ele grande número, o que não é de admirar se tudo faz crer que na última campanha de Almançor, com ele se aliaram também Gonçalo Mendes e filho Mendo Gonçalves, que o deixaram atravessar todo o Minho com as suas tropas reunidas em Viseu, depois de reforçadas com as que por mar se lhe vieram juntar no Porto. Era afinal toda a fidalguia dos condados do Porto e Coimbra que reagia contra um rei que eles tinham posto no trono e que faltara às suas promessas.

Morreu o rei Bermudo em 999. Morreu Almançor em 1002. A Bermudo sucedeu o filho Afonso, sob a regência de Mendo Gonçalves que vê acrescido, como nunca o viram os seus antecessores, o seu poder. Ele e Sancho Garcez, conde de Castela e tio do rei, eram na verdade os senhores do reino de Leão e Castela. Mendo Gonçalves nada tinha perdido do seu território para os árabes. Almançor respeitara-o. Ao sul do Douro, porém, tudo se perdera. Froila Gonçalves governou em Montemor toda a terra de Coimbra, donde foi expulso depois de 914 ou 915 pelas forças de Afonso V comandadas por Mem Lucidio.

Froila Gonçalves, ambicioso, não renegou a sua crença. O mosteiro da Vacariça nascido em seu tempo ou pouco antes, foi o seu centro religioso, como o de Lorvão fora o de seu pai. Protegeu-o e enriqueceu-lhe o património com a doação de todas as herdades e vilas que tinha de ezebrario usque in uauga (D. C., pág. 145).

Mendo Gonçalves foi assassinado pelos normandos. Foram as incursões destes durante os quinze primeiros anos que impediram a reconquista das terras a sul do Douro. Embora fosse fraco o poder de Froila Gonçalves, ela só se fez até Montemor aí por 1015. Froila Gonçalves foi expulso desta cidade pelas tropas de Mem Lucidio e não houve mais notícias dele. Entre os bens que Froila doara à Vacariça estava Sever, Paradela e outros. Receoso de que lhe não respeitassem esta doação, encarregou sua prima D. Tota, viúva do conde Mendo Gonçalves, sogra de Afonso V, de confirmar esta doação, o que ela fez em 1018. E eram fundados os receios de Froila porque nem o acto da Condessa D. Tota foi respeitado. Quando Mem Lucidio estava em Montemor, os filhos de Fernando Sandiniz, Nuno Fernandes e Sandino Fernandes vieram, por si e por seus irmãos, reclamar os seus direitos sobre o mosteiro de Sever, que lhes foram reconhecidos. Mem Lucidio entregou-lhes todos os documentos que eram de Froila Gonçalves. De posse destes documentos, Nuno e Sandino Fernandes, fizeram por sua vez / 48 / doação do mosteiro de Sever ao da Vacariça (D. C., pág. 150). Também o presbítero Sandino, o que vendeu o mosteiro a Froila Gonçalves, não renegou a sua fé. Antes de vender o mosteiro de Sever a Froila, mas quando já andava com este, em 1002, fez doação ao abade Anderias da Vacariça do mosteiro de Rocas, que também lhe pertencia (D. C., pág. 116). E no documento em que vende Sever a Froila, depois de dizer que os ismaelitas vieram de Coimbra e apoderaram-se de toda a terra até ao Douro, devastando a pátria e todos os lugares santos, tem estas palavras «cadiui in delicto in vita mea necquis miscretur super mi» (D. C., pág. 119).

OS mosteiros de Sever e Rocas estiveram na posse do da Vacariça até 1094, quando o conde D. Henrique deu este convento ao bispo de Coimbra D. Crescónio. Nunca chegaram a desenvolver-se, mas foram a origem das duas freguesias de Sever e Rocas que ainda hoje perduram nos seus limites antigos.

AUGUSTO SOARES DE SOUSA BAPTISTA

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