A
PRODUÇÃO mineira do nosso distrito, assim como a total portuguesa, é muito pequena; contudo, a primeira apresenta certa importância comparada com a
segunda, como veremos adiante.
Será Portugal um país pobre em minérios? O assunto
tem sido muito debatido e a ele já nos referimos no N.º 243 da.
revista Indústria Portuguesa. Nada se poderá afirmar
enquanto não se fizer o inventário das riquezas do nosso subsolo, por
nós já sugerido em 1931 (Exposição da Classe
de Minas da Associação Industrial Portuense). Mas algumas
causas da nossa pequena produção mineira são bem conhecidas; entre elas, podemos citar a nossa imprevidência
própria de meridionais, a vinda de muitos estrangeiros aventureiros e pseudo-técnicos e a nossa falta de ensino elementar de minas,
ensino que propusemos em 1931 no 1.º Congresso Nacional de Engenharia
(O Ensino Elementar de Minas em
Portugal) e decretado só em 1948. A falta do inventário a que acima
aludimos está a ser suprida pelos trabalhos de
reconhecimento mineiro a que agora procedem os Serviços de Fomento
Mineiro. Durante a última guerra muitas pessoas, com a mira em lucros, executaram trabalhos para a
exploração de minérios de volfrâmio e de estanho. E desses
trabalhos resultou, como prevíamos na 1.ª edição do nosso
livro Volfrâmio e Estanho, a descoberta de novos jazigos
de minérios destas substâncias, e a produção de volframite
e de cassiterite em 1947 foi superior a 100:000 contos e em 1948
foi de 140:000 contos, ou seja, aproximadamente metade de toda a nossa
produção mineira.
Nas linhas que seguem falaremos apenas de combustíveis, minérios metálicos, caulino e águas
minero-medicinais,
porque não possuímos elementos para as outras substâncias
[VoI.
XV - N.º 60 - 1949]
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minerais, como as argilas aplicadas em cerâmica e muito exploradas na Bairrada, Aveiro, Águeda, etc., o gesso na
Bairrada, o calcário nesta região e aplicado na construção
civil e no fabrico da cal, e os arenitos de Eixo e das faldas
do Buçaco, gneisses da Feira, Ovar e Oliveira de Azeméis, granitos e
xistos que se encontram em muitos pontos do distrito, todos servindo,
quando de boa qualidade, para construções civis.
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Combustíveis
− No nosso distrito encontra-se a turfa,
a hulha e a antracite.
A turfa aparece na lagoa de Fermentelos, mas sem valor
industrial.
A hulha, nas faldas do Buçaco. As pesquisas que aqui fizemos durante
muitos meses evidenciaram um jazigo de fraca possança e de combustível
com muito de estéril e carregado de ferropirite, jazigo sem valor industrial e de que
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se extraíram somente algumas centenas de toneladas de carvão.
Falaremos apenas da antracite.
Da povoação do Sul (perto de S. Pedro do Sul) parte um jazigo deste combustível, que segue na direcção aproximada NNO, atravessa o concelho de Castelo de Paiva, passa por S, Pedro da Cova
(Gondomar) e estende-se para Esposende, apresentando camadas que mergulham, em média, 45º para ENE,
de possanças muito variáveis, que em alguns pontos se anulam mesmo. Este
jazigo começou a ser explorado há perto de século e meio, mas com muito
pequena intensidade durante muitas dezenas de anos. Só no concelho de
Castelo de Paiva (na margem esquerda do
Douro) e no de Gondomar (Midões e S. Pedro da Cova) é que evidencia
valor. No primeiro concelho, junto do rio Douro
(Germunde) a antracite é dura e graúda e o jazigo pouco possante, mas
aproveitável; pouco ao sul, no
lugar do Pejão, o carvão é friável, mas o jazigo muito possante.
Há muito tempo (cerca de 80 anos) em exploração, mas
insignificante, as minas de Castelo de Paiva só nos últimos
anos têm sido lavradas com intensidade. O gráfico N.º 1
mostra o aumento da produção de ano para ano: − em 1944
já foi de 14:600 contos; em 1945, de 18:700 contos; em 1946, de 23:000
contos; em 1947, de 23:500 contos; em 1948,
de 24:100 contos. Comparando estes números com os da
produção total de combustíveis portugueses, notamos que
são muito importantes, pois que correspondem às percentagens respectivas de 29 %, 35 %, 41 %, 47
% e 45 %.
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Os números indicados não representam os valores dos combustíveis no
mercado, mas no local das minas. Os valores no mercado são superiores o
e variam de terra para terra, consoante o custo dos transportes.
Volfrâmio e Estanho
− Para efeitos de estatística, não podemos separar
os minérios destas duas substâncias, porque muitas vezes se encontram
associados nos mesmos
jazigos, e figuram juntos nas estatísticas oficiais a que recorremos.
Durante a última guerra e até meados de 1944, época em
que foi proibida a sua exploração, a produção destes minérios foi muito grande e as estatísticas indicam, para o nosso
país e para esse período, o valor de muitas centenas de milhar de
contos, e para o nosso distrito o de 178:000 contos. Nesse tempo o preço
oficial médio dos minérios de volfrâmio foi
de 120$00 o quilograma e o da cassiterite (minério de estanho) foi de
70$00. Mas o certo é que tais minérios foram
vendidos por preços muito superiores aos oficiais, chegando
o quilograma da volframite a 600$00 e mais; não haverá
exagero afirmando que a produção portuguesa destes minérios ascendeu, durante esse período, a alguns milhões de contos e a do
distrito de Aveiro a mais de 300:000 contos.
Os jazigos de minérios de volfrâmio e de estanho no nosso distrito estão
localizados no Norte e principalmente
no concelho de Arouca.
Apesar de, nos últimos tempos, terem descido muito os
preços dos minérios de volfrâmio e de estanho, a produção portuguesa foi
de 128:000 contos em 1947 e, a do nosso distrito de 4:830 contos no
mesmo ano, ou sejam respectivamente 50 % e 2 % da produção mineira total do nosso país
(incluindo os combustíveis).
Manganésio
− Os jazigos de minérios de manganésio estão situados no concelho de
Anadia; a sua exploração é muito antiga e foi quase sempre feita de
maneira gananciosa
pelo que o estado de conservação dos trabalhos mineiros é,
em geral, mau.
Nos anos que precederam imediatamente a guerra era
quase nula a produção destes jazigos e em alguns anos foi
mesmo nula; em seguida, graças à alta de preço provocada pelo conflito
mundial, a sua produção subiu a 3:000 contos em 1942, a 5:450 contos em
1943 e a 2:300 contos em 1944.
Agora a produção é outra vez nula, em parte devido à fraca
cotação do metal e em parte devido ao estado deplorável em
que se encontra grande extensão do jazigo, embora seja boa a sua
situação geográfica.
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Arsénio − No concelho de S. João da Madeira, e a pequena distância da vila
deste nome, encontra-se a mina de mispíquel (sulfoarsenieto de ferro) conhecida pelo nome de Mina do Pintor, que
em época relativamente recente foi grande produtora de minério, com o
qual se fabricava no local o arsénico (anidrido arsenioso), que era
exportado; Em 1907 fabricaram-se 1:300 toneladas de arsénico,
correspondentes a 6 % da produção mundial. Hoje a sua produção é nula.
A Mina do Pintor era a única mina portuguesa propriamente de arsénio.
Outras havia, de volframite e de cassiterite, a que vinha associado o mispíquel, e das quais se aproveitava este minério como
subproduto.
Na mina do Pintor chegaram a trabalhar mais de 300 operários.
Cobre
− Durante a penúltima guerra e mesmo alguns anos depois de
terminada, estiveram em lavra activa as Minas do Vale do Vouga, que
melhor se denominariam do Vale do Alfusqueiro, porque estão na margem
direita deste rio. São conhecidas vulgarmente pelo nome de Minas das
Talhadas, por se encontrarem nesta freguesia do concelho de Sever do
Vouga.
Em 1915 extraíamos grande quantidade de calcopirite (sulfureto duplo de
cobre e ferro) e mandávamos diariamente para o estrangeiro 3 toneladas
(se a memória não nos atraiçoa) de minério, lavado e com grande
percentagem de cobre. Nesta mina chegaram a trabalhar perto de 500
operários.
Em 1930 a produção diminuiu muito, e em 1931 era
nula.
Parece que este jazigo já está esgotado.
As minas de Telhadela e do Palhal (no concelho de Albergaria-a-Velha)
foram exploradas há dezenas de anos. Hoje está suspensa a sua lavra.
Chumbo
− Das minas das Talhadas, de que acima falámos, extraía-se, há algumas dezenas de anos, grande quantidade de
galenite (sulfureto de chumbo), valorizada pela prata que continha (300
a 800 gramas por tonelada de minério). Actualmente é nula a sua
produção.
A mina do Braçal (concelho de Sever do Vouga) foi concedida em 1836.
Teve uma exploração intensa; em 1889 a sua lavra já estava à
profundidade de 280 metros e tinha 12 quilómetros de galerias.
Em 1912 e nos anos seguintes extraíam-se centenas de toneladas de galenite,
e a sua população operária chegou a
atingir o número 350.
Mais tarde a exploração diminuiu muito, tornando-se nula em 1926 e nos
anos seguintes.
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Ultimamente a lavra das minas do Braçal aumentou um pouco, tendo sido o
valor da sua produção de 2:250 contos em 1946, de 2:950 contos em 1947 e de
3:200 contos em 1948.
Caulino
− Este mineral, aplicado principalmente no fabrico da porcelana,
é explorado, a céu aberto e por bolsadas, nos concelhos de Ovar, Feira e
Oliveira de Azeméis. Foi originado pela decomposição do feldspato
resultante da desagregação das partes menos resistentes dos gneisses e
dos granitos daqueles concelhos.
Em Eixo (Aveiro) explora-se uma argila que nos parece refractária, e
que, só por conveniência comercial, figura como caulino nas estatísticas
oficiais.
Águas minero-medicinais
− Não é fácil estabelecer a
comparação sob o ponto de vista económico, entre algumas águas
minero-medicinais, porque seria necessário atender a
diversos factores, como água consumida nas nascentes, águas
expedidas, banhos, etc. Por isso, as encararemos atendendo apenas aos
impostos que pagam.
No nosso distrito as principais águas
minero-medicinais
são as do Luso, seguindo-se-lhes as da Curia.
O imposto das águas do distrito de Aveiro representa
10% do imposto pago pelas águas de todo o país, o que, comparativamente,
tem certa importância.
RESUMINDO − Havendo no nosso país 22 distritos, o de Aveiro teve, nos
últimos anos, uma produção mineira correspondente a 1/6 do total do país(1).
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Melhor que quaisquer outras palavras mais, a consulta dos gráficos aqui
incluídos dará ideia da produção mineira do distrito de Aveiro em
relação à do país.
MENDES DA COSTA
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