BIBLIOGRAFIA

O ARQVIVO DO DISTRITO DE AVEIRO dará sempre notícia das obras à sua Redacção enviadas quer por autores quer por editores.

De harmonia com a prática seguida pelas publicações suas congéneres, fará também algum comentário crítico aos livros de que receba dois exemplares.


MANUEL MENTARFA - O marco miliário da milha XII. Porto, Imprensa Portuguesa, 1948.

É um opúsculo de 82 páginas, formado por uma colectânea de artigos que o autor publicou no jornal "Correio de Azeméls" em defesa de um marco miliário romano existente em Oliveira de Azeméis.

Este marco − o marco miliário da milha XII − foi encontrado em 1790 nos alicerces da velha igreja paroquIal de UI, quando se procedia à sua demolição, e daqui foi trazido há anos para Oliveira de Azeméis por iniciativa do falecido Dr. Bento Carqueja; e no átrio dos Paços do Concelho desta vila ficou guardado até ao ano de 1945.

Neste ano, a Câmara Municipal mandou retirá-lo de lá e colocá-lo em estado de abandono na praça pública fronteira. Nestas circunstâncias, a inutilização ou desaparecimento de tão interessante relíquia histórica e arqueológica eram quase certos.

MANUEL MENTARFA lutou tenazmente para que o marco miliário fosse respeitado e salvo, e conseguiu o que tanto desejava, pois a Câmara Municipal fez colocar novamente o marco no átrio dos Paços do Concelho, nos fins do ano de 1947.

Diz o autor que o cipo da milha XII «foi ignobilmente sepultado nos alicerces da velha igreja de UI demolida em 1790». julgo que foi isto a salvação de tal documento arqueológico.

Também a ara romana de Esturãos, concelho de Ponte de Lima, se salvou por ter sido enterrada no altar-mor da igreja paroquial desta freguesia, onde foi encontrada há perto de cinquenta anos.

Mas quantos séculos esteve o referido marco enterrado nos alicerces da antiga Igreja de UI? Sem dúvida, tantos quantos os que durou a igreja demolida em 1790. E quem sabe se já teria estado enterrado nos alicerces da igreja que a precedera?

O autor relaciona também o marco miliário de UI com a discutida via militar romana de Lisboa a Braga e com a cidade luso-romana de Talábriga situada nesta via, e que os historiadores e investigadores dizem ter sido subjugada por Décimo Júnio Bruto pelo ano de 132 antes de Cristo, após uma sucessão de revoltas contra o domínio romano. O oppidum que Bruto subjugou neste ano nada tem que ver com Talábriga, mencionada no Itinerário de ANTONINO PIO. / 80 /

Na inscrição do marco miliário de UI, agora existente em Oliveira de Azeméis, encontra-se isolado o número XII que se diz ser a milha XlI.

Ora os números que medem as distâncias em milhas costumam ser acompanhados das letras M. P. que significam milia passuum ou milhares de passos. Tal inscrição, porém, como está transcrita no opúsculo, não as tem já se é que alguma vez as teve. Mas, mesmo que seja XII a indicação da milha XII, não ficamos sabendo qual era a povoação que, a partir de UI, estava à distância de doze milhas, ou dezoito quilómetros aproximadamente.

Que prazer teria tido frei BERNARDO DE BRITO, se tivesse encontrado o marco miliário de UI, quando por volta do ano de 1600 andou na região de Albergaria-a-Velha e Oliveira de Azeméis á procura de antiguidades romanas! Ele que, não as tendo encontrado, as inventou!

MANUEL MENTARFA, com a sua oportuna e patriótica campanha em prol do marco miliário de UI, conseguiu salvá-lo de uma destruição iminente. Merece, pois, os louvores de todos os portugueses, que poderão agora admirar e venerar um monumento histórico com cerca de dois mil anos de existência.

F. F: N.

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