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        NOTAS 
        
        As notas que seguem visam o 
        desenvolvimento de alguns pontos que na conferência não puderam 
        tratar-se com a conveniente largueza; e pretendem ainda esclarecer, na 
        medida do possível, um ou outro passo obscuro da vida e feitos de 
        Antónia Rodrigues. 
        
        São, para tudo dizer, um registo de factos apurados e uma tentativa de 
        solução de problemas confusos. 
        
        Houve, ao redigi-las, a preocupação de reproduzir o que de mais 
        interessante se tem publicado sobre a heroína aveirense: fazem-se, 
        assim, algumas transcrições que seriam dispensáveis, atendendo a que os 
        poucos leitores deste modestíssimo trabalho só muito dificilmente poderiam 
        obter todas as obras nele referidas. 
        
        Possivelmente, dormirão ignorados nos arquivos alguns documentos 
        importantes para a biografia da esbelta e virtuosa cavaleira; e, por 
        certo, muitos outros escritores se ocuparam da sua vida e enalteceram os 
        seus heroísmos. Oxalá apareça quem, na posse de mais completos elementos e senhor da necessária competência 
        − que de todo falta a um 
        simples curioso sem fôlego para estudos desta natureza − possa erguer 
        sólido monumento em louvor da heroína que foi coroar-se de louros a 
        Mazagão. 
        
         
        
        NOTA I 
        
        Num artigo publicado em 1895, ADRIANO COSTA, um modesto admirador das 
        nobres qualidades e assinalados feitos de Antónia Rodrigues, lastimava 
        que em Aveiro se não tivesse honrado convenientemente a sua memória e 
        acrescentava que, ao proceder-se à alteração da nomenclatura das
        ruas, lhe ocorreu lembrar o nome da heroína, abstendo-se todavia de 
        fazê-lo por temer que a sugestão não fosse aceite dada a obscuridade da 
        sua origem(1). 
        
        /
        178 / 
        
        Infundado receio, que obrigou a demorar alguns anos 
        mais tão singela e justa homenagem. 
        
        Em 1928, a Câmara Municipal de Aveiro deliberou dar o nome de Antónia 
        Rodrigues a uma das ruas da cidade. Em sessão de 22 de Março daquele 
        ano, a Comissão Administrativa, como se vê do respectivo Livro de Actas, 
        «resolveu, a pedido da Comissão Central dos festejos da celebração do 
        Centenário da Liberdade, alterar os nomes de algumas ruas, da seguinte 
        forma: ... a Rua de São Roque passa a denominar-se Rua Antónia 
        Rodrigues, a célebre Antónia de Aveiro, que, fugindo de casa aos quinze 
        anos, foi, vestida de homem, combater gloriosamente os mouros em 
        Mazagão, onde obrou prodígios de valor, conservando durante anos, com a 
        sua virtude, o segredo do seu sexo.» 
        
        Não obstante os termos da deliberação, a Rua de Antónia Rodrigues 
        corresponde apenas a metade, aproximadamente, da antiga Rua de São 
        Roque, nome que se mantém na parte restante(2). 
        
        As modestas placas de mármore que identificam a rua com o nome da 
        heroína aveirense reproduzem o que se escreveu na acta da sessão 
        camarária, onde, a meu ver, só há a corrigir a idade com que se diz 
        ter fugido de casa da irmã. 
        
        Nada conheço que autorize a modificar o que, sobre este ponto, escreveu 
        o licenciado DUARTE NUNES DE LEÃO: «Efta moça nam podendo fofrer a 
        afpereza de fua irmãa e o mao tratamento que lhe daua, 
        fe determinou 
        fairfe de fua casa &
        irfe a terras eftranhas, como fez fendo de idade de doze
        annos.» 
        
        (3) 
        
        Não sei de outra homenagem que Aveiro tenha prestado à memória de 
        Antónia Rodrigues. 
        
        Se DUARTE NUNES DE LEÃO fosse... edil da nossa Câmara, certamente teria 
        já proposto que, numa das praças da cidade, se erguesse um monumento em 
        honra da heroína. É curioso o voto do historiógrafo e interessante a 
        maneira de justificá-lo. 
        
        «Aa qual (Antónia Rodrigues) com tanta e mais razaõ fe podera poer em 
        Mazagaõ huma ftatua equeftre de molher, como os romanos poferaõ aa fua 
        Chloelia que fendo pofta em arrefens com outras donzellas em poder 
        delRei Porfena de Tofcana que tinha cercado Roma animou fuas 
        companheiras & as guiou a paffarem nuas o Tibere a nado que eftaua entre 
        o arraial dos imigos & a cidade, & tornarem 
        
        /
        179 / liures a cafa de feus pais. Porque maior esforço he acommeter armada a caualo os imigos armados, 
        que fugir delles
        paffando hum rio com os vertidos aas cabeças fem nunqua caualgar em cauallo.»(4) 
        
        O CONDE DE SABUGOSA secundaria o voto de assim perpetuar a memória da heroína, sem dúvida com melhores fundamentos:  
        
        «Porque, encontrando-se nela tantas das qualidades da nossa raça 
        aventurosa, sonhadora e resoluta, e tantas das virtudes da mulher 
        portuguesa, enérgica, valente e leal, bem teria merecido a intrépida 
        amazona uma estátua equestre na
        melhor praça de Mazagão:»(5) 
        
        E porque não erguê-la numa das praças de Aveiro, mais acertadamente em 
        sítio escolhido da antiga Vila Nova? 
        
          
        
        
        NOTA II 
        
        Escreve RANGEL DE QUADROS que António Rodrigues se despediu do serviço marítimo logo depois de a caravela ter  entrado em 
        Mazagão, sendo todavia certo que os autores não estão de acordo neste 
        ponto. 
        
        Dizem uns que o capitão do navio despediu o pequeno  grumete por já não 
        necessitar dos seus serviços; afirmam outros que foi este quem, desejoso 
        de novas aventuras, se despediu dos trabalhos de bordo, pretendendo alguns que 
        as coisas se passaram deste modo: 
        
        Chegada a caravela a Mazagão, descobriu-se a bordo um
        desfalque, não se sabe ao certo se de objectos, se de dinheiros 
         
        existentes ou apurados na venda de parte do carregamento. 
        
        Recaíram as suspeitas em diversos tripulantes, entre os
        quais António Rodrigues. Este, porém, soube defender-se tão habilmente 
        que, descobrindo os verdadeiros culpados, salvou não só a sua inocência 
        como a do capitão da caravela. 
        
        Redobrou o mestre do navio a estima que votava ao
        pequeno embarcadiço; não obstante, e embora com profundo  desgosto 
        daquele, o esperto grumete, empenhado em novas aventuras, despediu-se 
        do serviço(6). 
        
        MARQUES GOMES conta de outra forma: 
        − António Rodrigues foi obrigado a 
        abandonar a embarcação porque, chamado
        a depor, como testemunha, sobre um roubo feito no carregamento, e 
        dizendo, como era de esperar, toda a verdade, culpou 
        
        /
        180 /
        o capitão da caravela, o que lhe valeu ser imediatamente excluído da 
        tripulação(7). 
        
        Em trabalho posterior, MARQUES GOMES reafirma que o pequeno grumete 
        foi 
        expulso de bordo por haver deposto em juízo sobre um furto cometido pelo 
        capitão da caravela(8). 
        
        Isto mesmo repete autor desconhecido numa publicação recente: 
        − «Chegada 
        a Mazagão, foi expulsa de bordo, por haver deposto num processo por 
        furto cometido pelo capitão»(9). 
        No dicionário de ESTEVES PEREIRA e GUILHERME RODRIGUES,
        refere-se o facto com uma variante: − «Admitida a bordo como grumete, com 
        o nome de António Rodrigues, chegou àquela nossa praça africana; sendo, 
        porém, ali chamada a depor como testemunha contra o capitão da caravela, 
        que era acusado de
        roubo, decidiu não voltar a Portugal no navio em que fora embarcada, e 
        alistou-se como soldado num regimento de infantaria.»(10) 
        
        Há ainda quem afirme que António Rodrigues foi 
        «abandonado em Mazagão 
        pelo mestre da caravela, a quem culpara pelo roubo que este fizera no 
        carregamento durante o trajecto.» 
        
        Outros, finalmente, dizem que Mazagão era «o termo da viagem e, 
        portanto, ali terminava o contracto do grumete, bem a pesar do mestre, 
        que via no pequeno um marinheiro audaz»(11). 
        
        Nenhuma destas versões tem a aboná-la, que eu saiba,
        documentos irrefragáveis ou o testemunho de autores coevos. 
        
        Nem o pequeno grumete  foi acusado de furto ou sobre ele recaiu qualquer 
        suspeita; nem o capitão da caravela o despediu, por já não precisar dos 
        seus serviços, ou o abandonou ou expulsou, porque contra ele depusera em juízo; nem ele próprio tomou a iniciativa de despedir-se, desejoso de 
        novas aventuras ou mesmo, o que seria natural supor, por temer 
        represálias do capitão. 
        
        Dizer que António Rodrigues ficou em Mazagão, com
        profundo desgosto do mestre da caravela, por ser aquela praça o termo da 
        viagem e ali terminar o contrato do pequeno grumete, parece-me de todo 
        inaceitável, pois nada o impedia
        de sucessivos ajustes para novas derrotas. 
        
        DUARTE NUNES DE LEÃO esclarece o  problema: 
        − «Chegando 
        
        /
        181 / a 
        Mazagaõ foi certificado ao Capitaõ que o meftre da carauella 
        fizera furto e falfidade no trigo que leuaua: & tirandofe do caro 
        teftimunhas foi o grumete Antonio huma dellas que defcobrio a verdade. 
        Polo que o Capitão nam confentio que tornaffe na carauella por o meftre lhe 
        nam fazer mal: & o affentou no numero dos foldados, & fe começou a chamar, 
        Antonio Rodriguez.»(12). 
        
        Foi, portanto, o Capitão-Mor da praça de Mazagão quem tomou a iniciativa 
        de não consentir que o pequeno grumete  continuasse embarcado na 
        caravela, por muito avisadamente temer as vinganças do mestre − o que, sem 
        dúvida, não exclui  que esse fosse igualmente o desejo de António 
        Rodrigues,
        receoso de represálias e ávido de novas aventuras. 
        
        Adopto corno boa esta versão por ser, além de inteiramente verosímil, a 
        do autor que, no caso, se mostra digno de maior crédito. 
        
        Perfilhou-a também Frei JOÃO DE SÃO PEDRO, que deste modo se 
        exprime: − «Chegou a caravella a Mazagaõ, e achando-fe na conta do trigo 
        diminuto o algarifmo dos moyos, fe fez fofpeitofa a fidelidade do meftre, 
        de que fe tiráraõ por
        ordem do Governador hum fummario de teftemunhas, em  que jurou o Gurumete Antonio Rodrigues, confeffando a verdade do furto. E temeroJo o 
        Governador da jufta vingança do meftre, o deixou ficar em Mazagaõ, e 
        com praça de Soldado de pé em poucos dias daquella milicia mereceo fobre 
        os cuidados de deligente, attençoens de valerofo.»(13). 
        
        Anota-se apenas que a vingança do mestre da caravela, sendo de temer, 
        não seria, de modo algum, «justa». Não se -quis, evidentemente, 
        significar que pudesse haver justiça na vingança, senão que o mestre 
        tinha fundamento para ela na acusação do grumete. 
        
        Foi seguindo a versão adoptada que o CONDE DE SABUGOSA, emoldurando 
        artisticamente os factos, escreveu: 
        
        «Teve então o Governador uma denúncia certificando-lhe «que o mestre da 
        caravela fizera furto e falsidade no trigo que levava». Procedeu-se a 
        um inquérito, ou, como nesse tempo 'se dizia, abriu-se uma devassa para 
        averiguar, «tirando-se do  caso testemunhas». Uma delas foi o grumete 
        António, que compareceu perante uma espécie de conselho composto do 
        governador e alguns magistrados. Logo a todos impressionou a viveza do 
        olhar do marujito, a sua expressão inteligente e decidida, a sua airosa 
        cabeça enquadrada pelo cabelo cortado à altura do mento, e aquela 
        aparência de efebo, um 
        
        /
        182 /
        mixto de escudeiro e de pagem, que lhe dava ao mesmo tempo um ar 
        marcial, e a graça de cortesão. 
        
        Interrogado, disse a verdade sem rebuço nem receio, a despeito dos 
        olhares minazes do mestre do navio, que esperava assim atemorizá-lo. 
        
        Não sabemos qual foi a sentença do Tribunal. É porém certo que António 
        revelou tudo, desde as suspeitas, que logo no princípio da viagem o 
        tinham assaltado acerca da honestidade do mestre, até à prevaricação no 
        caso das medidas. 
        
        O rancor do embarcadiço transudava nos olhos 
        injectados, pelo que não 
        era de invejar a sorte que esperava o intrépido marujo, quando se 
        achasse de novo na caravela à mercê do seu ódio. 
        
        O Governador 
        da fortaleza não consentiu portanto que o rapaz fosse 
        exposto às iras vingativas do mareante, e desde logo assentou praça, 
        como soldado, ao grumete António Rodrigues.»(14) 
        
          
        
        
        NOTA III 
        
        Tendo servido como peão durante pouco mais de um ano,
        António Rodrigues passou a fazer parte do corpo de cavalaria. 
        
        Quais as razões da 
        transferência? 
        
        O que a tal respeito se lê no 
        Theatro Heroino é o
        seguinte: − «Havia hum anno, que tinha affentado praça de Soldado de pé, 
        e com defejo de chegar aos Mouros com mais pefada maõ fe mudou para a 
        Cavallaria, em que mereceo fama naõ vulgar entre os mais guerreiros, 
        bufcando nos mayores perigos refpeitos à peffoa, emulaçoens ao valor, 
        com que fe fazia taõ amado naõ menos pelo esforço, que pela gentil 
        difpofiçaõ, trato cortez, e affavel, que algumas Portuguezas folicitàraõ 
        o feu cazamento, a que refpondia grato, e difcreto fem mover a queixas, 
        nem deixar efperanças»(15). 
        
        Foi, segundo creio, de Frei JOÃO DE SÃO PEDRO que mais
        recentes escritores colheram esta versão. 
        
        MARQUES GOMES, adoptando-a, escreve: 
        − «O jovem soldado em breve ganhou 
         
        a estima de todos os seus camaradas e se tornou destríssimo no manejo 
        de todas as armas; porém, passado um ano, desejando conhecer de perto 
        os inimigos de fé e da pátria, os mouros, transferiu-se para um 
        corpo de 
        cavalaria, onde praticou grandes e novos rasgos de valor...» 
        
        (16).  
        
        /
        183 / 
        
        Na Enciclopédia publicada sob a direcção do Dr. MAXIMIANO DE LEMOS 
        encontra-se esta passagem: − «Admitida como grumete, pois o capitão como 
        um rapaz a aceitou, chegou ao seu destino, onde depois se alistou como 
        soldado num regimento de infantaria, passando mais tarde para a 
        cavalaria a fim de melhor poder combater os moiros».(17) 
        
        Lê-se semelhantemente nos dicionários de MANUEL PINHEIRO CHAGAS e de 
        ESTEVES PEREIRA e GUILHERME RODRIGUES, cujas palavras são as mesmas: − 
        «Logo que entrou nas fileiras do exército, dedicou-se com ardor a todos 
        os exercícios que podiam desenvolver-lhe as forças físicas e desejando 
        entrar em combate com os moiros pediu e obteve passagem para a 
        cavalaria, realizando assim a sua vontade de tomar parte na luta quotidiana que então os moiros travavam com os inimigos da fé.»(18) 
        
        Abre-se um parêntese para corrigir o evidente lapso dos dicionaristas: 
        − 
        Inimigos da fé eram os moiros; e a luta que se travava, e na qual 
        Antónia Rodrigues desejaria tomar e tomou parte, era entre aqueles e os 
        portugueses, defensores da fé cristã. 
        
        É muito natural supor que o garboso militar ardentemente desejasse 
        «entrar em combate com os moiros», como dizem PINHEIRO CHAGAS, ESTEVES 
        PEREIRA e GUILHERME RODRIGUES, «melhor poder combater os moiros», como 
        escreve com mais propriedade o Dr. MAXIMIANO DE LEMOS, «conhecer de 
        perto os inimigos da fé e da pátria», como se exprime MARQUES GOMES, 
        «chegar aos Mouros com mais pesada mão», como afirma Frei JOÃO DE SÃO 
        Pedro. E é lógico admitir que esse desejo nascesse, não apenas do 
        irrequietismo do seu espírito aventureiro ou da ânsia de praticar 
        assinalados feitos e cobrir-se de glória, mas do propósito de servir a 
        fé que professava e a pátria que estremecia. 
        
        Mas nada, que eu saiba, autoriza a afirmação de que foram estes os 
        motivos pelos quais «se mudou», «se transferiu» ou «pediu e obteve 
        passagem para a cavalaria». 
        
        É manifesto que a transferência se não operou por autoridade própria; 
        mas parece mesmo que António Rodrigues a não solicitou, sendo-lhe antes 
        concedida por iniciativa do Capitão-Mor da praça e como justo prémio das 
        qualidades
        que revelara. 
        
        Assim o diz DUARTE NUNES DE LEÃO: 
        − «... O qual em 
        /
        184 /
        pouco tempo fe fez tam deftro nas armas que quando ião aa
        barreira defafiaua a outros & lhes fazia tanta vantagem que
        ninguem lhe ganhaua. E nas ruas publicas efgrimia & todos os jogos de 
        armas fazia com tanta graça como fe toda a vida
        as exercitara. Polas quaes partes e por fua branda condição era mui 
        amado de todos os foldados & cada hum procuraua de fer fua camarada... E affí feruio pouco mais de hum
        anno de foldado. Porque como por fua deftreza tiueffe
        muito nome & o Capitão o fauorecia, o fez de cauallo
        & lhe deu foldo & mantimento como aos mais caualleiros.»(19) 
        
        O Dr. HIPÓLlTO RAPOSO segue esta opinião, indiscutivelmente a mais 
        autorizada: − «.. .ordenou o Governador que o grumete assentasse praça 
        nas fileiras da infantaria de Mazagão. Mas tal desenvoltura, actividade 
        e destreza ali mostrou, no primeiro ano do seu exercício, que o capitão 
        entendeu por bem mudá-lo de arma, alistando-o na cavalaria.»(20) 
        
        Adopta-a o CONDE DE SABUGOSA, repetindo, com pouca
        diferença, as palavras do historiógrafo: − «Durante mais de
        um ano fez serviço entre os peões. Mas notando-lhe as qualidades e valor 
        o Capitão incorporou-o entre os de cavalo, dando-lhe soldo e mantimento 
        como aos outros cavaleiros.»(21) 
        
        De modo semelhante se exprime o romântico D. ANTÓNIO DA COSTA: 
        − «Em Mazagão o grumete da caravela transforma-se em soldado. 
        Estimavam-no pela sua boa índole. Nas ruas da cidade 
        esgrimia com tanta graça, que o mudou para cavalaria o Capitão.»(22) 
        
        E assim também ADRIANO COSTA: 
        − «Pouco tempo depois do seu alistamento no 
        exército luso, o seu nome tornou-se assaz conhecido em toda a vila, pela 
        destreza com que jogava
        as armas e intrepidez com que antecipava os cristãos nas sortidas 
        contra os descendentes de Mahomet. Antes de decorridos dois anos, 
        António foi mudado, por distinção, para a arma de cavalaria; e tão 
        rapidamente e com tal mestria nela se desenvolveu, que poucos meses 
        depois ninguém, entre todos os fidalgos, montava um cavalo com tanta firmeza 
        e elegância.» 
        (23) 
        
        Foram portanto, as apreciáveis qualidades que revelou
        durante mais de um ano, em que galhardamente serviu nas 
        
        /
        185 / fileiras dos peões de Mazagão, que impuseram António Rodrigues à 
        admiração e estima dos seus camaradas e do Capitão
        -Mor e, determinaram este a premiar, o jovem soldado, transferindo-o 
        para cavalaria e concedendo-lhe os benefícios de que gozavam os 
        restantes cavaleiros.» 
        
        Se por outros motivos aspirava à transferência, a verdade é que só 
        como prémio lhe foi espontaneamente concedida. 
        
         
        NOTA IV 
        
        Põe-se a questão de saber se António Rodrigues foi, por 
        seus méritos, 
        promovido ao posto de  oficial das milícias de Mazagão. 
        
        Num estudo de RANGEL DE QUADROS, publicado no semanário 
        "Districto de Aveiro", lê-se o seguinte: 
        
        − «O jovem suposto soldado mostrava-se sempre intrépido 
        nos combates e hábil no manejo das armas, pelo que chegou a ser 
        incumbido do comando de algumas tropas em  diversos encontros. 
        
        Soube António Rodrigues que os mouros pretendiam, numa noite, fazer uma sortida em forma aos campos mais 
        próximos e destruir as searas, que então estavam muito abundantes e quase maduras. 
        Animou-se pelo ensejo de alcançar maior glória e pediu ao Governador 
        da praça que lhe entregasse um troço de tropa para, sob o seu comando, fazer uma derrota completa nos mauritanos. O Governador acedeu ao 
        pedido, esperando que António Rodrigues cumpriria com valor o que 
        prometera por dedicação. 
        
        Quando os mouros menos o esperavam, aparece o jovem militar com a sua 
        tropa; e com tanta valentia se houveram
        os portugueses, e tão bem comandados foram, que os invasores tiveram de 
        fugir feridos e envergonhados e António Rodrigues entrou em Mazagão 
        ouvindo aclamações de vitória e recebendo os maiores elogios. 
        
        Por este e já por outros feitos, foi elevado a oficial,
        sendo então mudado para cavalaria.» 
        
        (24) 
        
        Um pouco adiante, acrescenta aquele escritor: 
        − «Enquanto foi simples soldado de infantaria, divertia-se e folgava com os seus camaradas. E nos seus divertimentos soube sempre portar-se com 
        tantas precauções, que nenhum dos seus camaradas pôde supor que tinha 
        ao seu lado uma donzela... Elevado aquele suposto mancebo à posição de 
        oficial de .cavalaria, começou a ter entrada nas casas das famílias mais 
        respeitáveis. Assistia aos saraus, dirigia galanteios às damas, 
        
        /
        186 / 
        apresentava-se com garbo e gentileza e era fluente nas 
        suas conversações, apesar de não ter tido estudos regulares.»(25) 
        
        Em conversa com o escritor JOSÉ AGOSTINHO, que esconde o seu nome sob o 
        pseudónimo de Victor de Moigénie, RANGEL DE QUADROS diz, mais 
        precisamente, que o aguerrido
        militar foi promovido ao posto de capitão de cavalaria(26). 
        
        Por seu turno, MARQUES GOMES escreve: 
        − «... transferiu-se para um 
        corpo de cavalaria, onde praticou grandes e novos rasgos de valor nas 
        contínuas correrias operadas pela guarnição, o que lhe valeu ser elevado 
        ao posto de oficial.» E logo a seguir: − «António Rodrigues era o enlevo 
        de todas as beIas de Mazagão, e não foram poucas as que o desejaram para 
        esposo; porém ele, vendo que mais tarde ou mais cedo havia de ser 
        descoberto o seu segredo, declarou ao Governador da praça que era 
        mulher; e, quando todos menos o esperavam, o valente oficial de cavalaria apareceu trajado com as vestes próprias do seu sexo.»(27) 
        
        Num outro livro seu, diz semelhantemente: 
        − «... Receoso de que 
        viessem a descobrir o seu sexo, confessou-o ao Governador da praça, e despiu a 
        farda de oficial de cavalaria.»(28) 
        
        VASCONCELOS DIAS fere também a mesma nota: 
        − «Com
        o nome de António Rodrigues desembarca em Mazagão e alista-se como 
        soldado. Tais proezas comete nesta sua nova situação que é promovida a 
        oficial.»(29) 
        
        Onde teriam estes escritores colhido a notícia de que
        António Rodrigues, antes ou depois de transferido para cavalaria, foi 
        elevado ao posto de oficial? 
        
        Custa supor que tenham, pura e simplesmente, inventado 
        o facto que 
        relatam com tanta insistência e tal ar de certeza; a verdade, porém, é 
        que não indicam as fontes em que o colheram e, por mim, não descubro 
        quais sejam. 
        
        Recentemente, e por certo copiando algum deles, alguém repetiu: 
        − «... 
        passando para um corpo de cavalaria, tomou
        parte nas correrias da guarnição pelas terras de mouros, 
        praticando 
        tais actos de valor que chegou a envergar a tarda de oficial.»(30) 
        
        Não é de crer que, se o facto fosse verdadeiro, o tivesse esquecido 
        DUARTE NUNES DE LEÃO, tanto mais quanto é certo. que refere outros menos 
        importantes. 
        
        Por outro lado, num alvará de Filipe II 
        relativo à heroína, 
        /
        187 /
        lê-se o seguinte: − «Ev El Rey faço saber aos que este aluara, uirem que 
        auendo respeito a Antonia Rodriguez seruir na villa de mazagaõ cinco 
        annos despingardeiro de cauallo e
        de pee em trajos desoldado, ey por bem de lhe fazer merçe de cinqo mil 
        reis de tença cada ano em sua vida pagos no almoxarifado da dita uilla 
        alem dos dez mil reis de tença que tem nas obras pias...»(31) 
        
        Nenhuma referência, em todo o documento, a qualquer posto de António 
        Rodrigues como oficial de cavalaria, referência que, parece-me, o alvará 
        não teria omitido se o espingardeiro de cavalo e de pé que, durante 
        cinco anos, serviu em trajos de soldado, tivesse, na realidade, sido 
        promovido
        a oficial. 
        
        Sem que tenha qualquer fundamento para afirmá-lo, ocorre-me que possa 
        haver confusão com uma contemporânea espanhola de Antónia Rodrigues, D. Catalina de Erauso, também grumete e soldado, que ficou conhecida na 
        história
        pela Monja-Alteres.  
        
        O senhor Prof. Doutor JOAQUIM PIRES DE LIMA, que a ambas se refere, diz 
        que «a guerreira espanhola é uma aventureira, muito valente, sim, mas 
        sem a correcção e a nobreza de sentimentos da nossa Antónia Rodrigues.»(32) 
        
        Pois que em história não se inventa, deixemos o posto de oficial à 
        aventureira espanhola e, até que porventura se encontre documento que 
        justifique a afirmação dos referidos escritores, fiquemos com a nossa 
        Antónia Rodrigues simples. soldado raso − peão aguerrido, cavaleiro 
        esforçado, «distinto como um valente e de trato gentil como uma 
        donzela». 
        
         
        NOTA V 
        
        No seu estudo sobre os vícios de conformação do sistema uro-genital, o 
        senhor Prof. Doutor PIRES DE LIMA, entre alguns casos curiosos, colhidos 
        principalmente na literatura portuguesa, inclui o da nossa Antónia 
        Rodrigues. 
        
        Segundo o eminente catedrático, em quase todos os que enumera deverá 
        tratar-se de pseudo-hermafroditismo ou de inter-sexualidade. E explica: 
        − «Entre o homem, com todos os atributos próprios do sexo masculino, e a 
        mulher completa, com todas as características do seu sexo, há uma 
        série progressiva de indivíduos, inter-sexuais, que se inclinam
        
        /
        188 /
        mais ou menos para a morfologia, fisiologia e psicologia do
        :macho ou da fêmea.» 
        (33) 
        
        Eu não sei o que a morfologia, a fisiologia e a psicologia 
        teriam a alegar para convencer de inter-sexualidade uma linda mulher de formas femininas correctas, que casou e deu à luz um filho, pelo menos, que sempre foi continente, honestíssima, e que revelou em tudo grandeza de alma e delicadeza de sentimentos. 
        
        Seja como for, o CONDE DE SABUGOSA, comentando o facto de Antónia Rodrigues haver retomado o trajo de mulher ao
        cabo de longos anos de disfarce, escreveu o seguinte: − «Não foi custosa a iniciação, porque a varonilidade de Antónia
        provinha mais da sua energia de ânimo, que da máscula
        rudeza das suas maneiras. Não era a virago das revoluções das ruas; era antes o atleta andrógino dos colégios atenienses, cujas 
        formas foram consideradas a suprema expressão da estética. 
        
        O novo trajo, longe de se desajeitar no seu corpo, deu-Ihe 
        a graça feminina com que adquiriu um encanto próprio. Era isso o que lhe afirmava a família que a recolheu. 
        
        E DUARTE NUNES DE LEÃO, que a conheceu mais tarde, quando
        ela tinha trinta e cinco anos achava-a bem «parecida, com
        muita graça no falar, e grande viveza no espírito que justificava a sua fama»(34), ou, para reproduzir fielmente as palavras do historiógrafo, «... molher ainda moça de menos de
        trinta & cinquo annos, bem parecida & que tem muita graça
        'no que falla & grande viueza de fpirito, perque juftifica bem o que della 
        fe diz.»(35) 
        
        Atleta andrógino? 
        
        − Os sábios que resolvam o problema, se quiserem e
        puderem. A mim basta-me a certeza de que o ânimo varonil de Antónia Rodrigues, os seus trabalhos marítimos e os seus
        feitos guerreiros, em nada prejudicaram os atributos e encantos do seu sexo. 
        
         
        NOTA VI 
        
        Mais de um autor ilustrou o que sobre a heroína aveirense escreveu, com 
        referências, bem ou mal cabidas, ao
        celebrado romance da donzela que vai à guerra. 
        
        Falando do moço militar que se impressionara com a esbelteza de Antónia Rodrigues, que furtivamente a olhava
        
        /
        189 /
        e só com visível comoção lhe dirigia a palavra, e que, afinal, com ela 
        veio a casar, diz o CONDE DE SABUGOSA: 
        
        − «Cantar-lhes-iam talvez na memória, com misteriosa significação, os 
        versos daquele romance tão lindo A donzela que vai à guerra, melopêa 
        com que em criança sua aia o adormecia: 
        
        «Tende-los peitos mui altos 
        Filha conhecer-vos hão. 
        − Venha gibão apertado 
        Os peitos encolherão. 
        
        . . . . . . . . . . . . . . 
        . . . . . . . 
        Senhor Pai! Senhora Mãe! 
        Grande dor de coração. 
        Que os olhos do Conde Daros 
        São de mulher, de homem não!»(36) 
        
         
        O Dr. HIPÓLlTO RAPOSO, escrevendo sobre a cavaleira, de Mazagão, faz 
        também uma breve referência ao encantador romance: 
        
        − «O admirador fiel que era fidalgo apresentou-se, então, a oferecer-lhe 
        casamento que foi aceite e consumado, partindo logo para o reino o 
        ditoso casal, trazendo ela como
        único dote esponsalício o atestado em que o Governador referia os 
        heróicos serviços de Antónia Rodrigues, em sucessivos lances.  
        
        Repetia-se com melhores auspícios o romance da donzela que foi à 
        guerra, e para a felicidade ser completa, desta abençoada união nasceu 
        um filho que, segundo parece, veio a ser depois moço da real câmara.»(37) 
        
        Este belo romance, «de inquestionável origem castelhana», foi recolhido 
        por ALMEIDA GARRETT no seu Romanceiro, sob o título, de sabor popular,
        Donzela que vai à guerra, que nas ilhas lhe davam. 
        
        Lamentava-se o Conde Daros da sua velhice, que o impossibilitava de 
        pelejar nas guerras, que se anunciavam, entre a França e Aragão, e de 
        não ter, entre as suas sete filhas, um único varão que pudesse 
        substituí-lo: 
        
        «Já se apregoam as guerras 
        Entre a França e Aragão:  
        Ai de mim que já sou velho  
        Não nas posso 
        brigar, não!  
        De sete filhas que tenho, 
        Sem nenhuma ser varão! 
        
        
        /
        190 / 
        
        Estas guerras devem ser as que se travaram no século XVI entre Carlos I 
        de Aragão (Carlos V da Alemanha) e Francisco I da França (depois 
        continuadas por seu filho e sucessor Henfique lI), a primeira das quais começou em 1521, datando a última de 
        1557 
        (38) 
        − todas muito anteriores, portanto, a Antónia Rodrigues, que 
        nasceu em 1580. 
        
        A filha mais velha do Conde Daros ofereceu-se, resolutamente, para 
        substituir o pai. O Conde, porém, receava que lhe denunciassem o sexo a viveza dos olhos, as fartas tranças, a 
        altura dos ombros, a proeminência dos seios, a pequenez das mãos ou a 
        delicadeza dos pés. Para tudo a varonil rapariga soube encontrar 
        disfarce, com que a todos conseguiu iludir durante sete anos de guerras; 
        a todos, excepto ao capitão sob cujas ordens servia e que, só pelos olhos 
        descobrindo o seu verdadeiro sexo, dela se enamorou. 
        
        O senhor Prof. Doutor PIRES DE LIMA, transcrevendo os
        deliciosos versos, acrescenta: 
        
        − «Esta formosa lenda pode ser que tenha tido um fundamento verdadeiro. 
        Em fins do século XVI, durante a dominação filipina, combateu em 
        Mazagão uma esforçada cavaleira portuguesa (Antónia Rodrigues), 
        que pode 
        considerar-se a verdadeira encarnação da donzela que vai à guerra.»(39) 
        
        Seria, de facto, a heroína aveirense a inspiradora do 
        delicado romance? 
        
        Há que repelir formalmente a inconsiderada sugestão. 
        
        O romance já existia ao tempo de JORGE FERREIRA DE
        VASCONCELOS que, na sua Aulegraphia, o intitula
        O rapaz do Conde Daros.(40) 
        
        Ora JORGE FERREIRA faleceu, ao que se supõe, em 1585(41), quando Antónia 
        Rodrigues tinha apenas cinco anos de idade. E sabe-se que a
        Aulegraphia 
        ficou inédita pela morte do príncipe D. João, em 1554(42), vinte e seis 
        anos antes de ter nascido a heroína aveirense. 
        
        Não podia, portanto, o romance ter fundamento na vida
        da esforçada cavaleira portuguesa. 
        
        Não sei se a aia do moço fidalgo que da heroína se enamorou lho teria 
        cantado em criança, para adormecê-lo, e se aquele o recordaria mais 
        tarde, ao contemplar os olhos vivos 
        
        / 191 /
        da esbelta aveirense, como fantasia o CONDE DE SABUGOSA. O que 
        seguramente pode dizer-se, com o Dr. HIPÓLITO RAPOSO, é que, casada 
        Antónia Rodrigues com o nobre militar, se repetiu, com melhores 
        auspícios, o saboroso romance. 
        
          
            | 
             
               | 
           
          
            | 
             
            Mazagão − Um baluarte do lado da terra  | 
           
         
        
         
        NOTA VII 
        
        Não serão descabidas umas breves notícias sobre a praça de Mazagão, 
        testemunha das virtudes e heroísmos de Antónia Rodrigues. 
        
        «O forte de Mazagão, 
        começado por D. Manuel numa
        baía da costa marroquina em 1506, viu aumentadas as suas proporções com 
        o activo trabalho dos Arrudas, por 1514, após a expedição a Azamor. E 
        para se certificar da sua segurança lhe fez vistoria o italiano Benedito 
        de Ravena, às ordens de D. João III, quando as obras ainda prosseguiam,
        mas agora sob a direcção de João de Castilho. A construção
        
        /
        192 / desta 
        fortaleza e a fundação da vila dariam matéria para um canto de epopeia.»
        
        (43) 
        
        Numa carta enviada por João 
        de Castilho a D. João III
        e escrita em Mazagão em 18 de Julho de 1542, relatam-se
        pormenorizadamente os trabalhos da construção da fortaleza,
        obra «muy grande e muy poderosa», erguida para defensão da terra por verdadeiros «martyres» 
        − operários mal alimentados e mal agasalhados, sem casas para abrigo, sem camas para repouso, passando dias inteiros dentro de água ou ao
        sol e  ao vento nas pedreiras, adoecendo às centenas e morrendo em 
        elevado número. 
        
        É curiosa esta passagem, que não resisto à tentação de
        transcrever: − «He necessario que V. A. mande loguo prover
        esta jente dalghũas farinhas boas por que tudo sera serviço de V. A que 
        como a gente andar cõtente trabalha dobrado, por que as cousas que qua mãdã os seus feitores passam por
        muitas mãos e quando chegam são bisnetas»!... 
        
        (44) 
        
        Referindo-se às cartas de João de Castilho, escreve o Dr. VERGÍLIO CORREIA: 
        − «Mereciam ser conhecidas e divulgadas mais do que já o foram pela publicação no volume primeiro do 
        Diccionario dos Architectos, de SOUSA VITERBO,
        as missivas do mestre das obras reais. Páginas vivas do
        esforço lusitano, não do guerreiro, mas do construtivo, sem
        o qual o outro não possuiria uma base em que se estear;
        revelação dos sacrifícios que custava erigir uma fortaleza, cimentada, na verdadeira acepção da palavra, com o sangue dos obreiros, 
        essas cartas poderiam e deveriam incluir-se entre as páginas mais belas 
        da nossa epopeia, irmãs, como
        as considero, das narrativas da história trágico-marítima.»(45) 
        
        Compreendem-se os especiais cuidados postos nas obras
        militares de Mazagão. Decidido ou obrigado a abandonar
        as praças de Safim e Azamor, o Rei «projectava fazer de
        Mazagão o baluarte invencível do domínio português em
        Marrocos». D. João III desejou que Mazagão «ficasse inexpugnável». E a villa tornou-se particularmente querida da
        gente do reino, já «por ser porteguêsa de raiz», já exactamente «por nela se haverem concentrado os maiores recursos da nossa arquitectura militar.» 
        
        (46) 
        
        /
        193 / [VoI. XlV - 
        N.º 55 - 1948] 
        
          
            | 
             
            A praça, edificada sobre uma rocha, era de forma quadrangular e tinha cinco baluartes, três para o lado da terra
        e dois para o lado do mar, assim denominados: o do Governador ou dos 
        Generais, o de Santo António (primitivamente de S. Pedro), o do Anjo 
        (primeiramente de S. Tiago), o de S. Sebastião e o do Serrão 
        (antigamente do Santo Espírito). 
            
            A população da vila excedia quatro mil pessoas, entre
        elas muitos nobres e cavaleiros, da Ordem de Cristo, que tinha ali 
        quatro comendas.  | 
            
             
               | 
           
          
            | 
             
            Mazagão − Porta quinhentista do baluarte de Santo António  | 
           
         
        
        Além do palácio dos Governadores, dos celeiros, dos armazéns, do forno 
        da cal, do chafariz, dos poços, de inúmeras construções diversas, havia 
        na vila quatro igrejas e 
        
        /
        194 /
        oito ermidas, edificadas em praças, ruas e travessas com nomes 
        caracteristicamente portugueses.(47) 
        
          
            | 
             
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            Mazagão − Baluarte do Anjo  | 
           
         
        
        O Prof. Doutor VERGÍLIO CORREIA, que em 1923 visitou
        e estudou os monumentos de Marrocos, informa que pouco
        resta da Mazagão erguida pelos nossos antepassados. «Os
        vestígios materiais do nosso domínio de dois séculos e meio»
        estavam então reduzidos «às muralhas, à cidadela, núcleo
        central de direcção e defesa, e às paredes de três capelas ou
        igrejas.»(48) 
        
        Uma destas, a de Nossa Senhora da Assunção, foi reconstruída e restituída ao culto em 1921.
        
        /
        195 / 
        
        Não se apagou por completo em Mazagão 
        o claro testemunho do nosso esforço guerreiro, construtivo e civilizador.(49) 
        
        Apesar de tudo, falam bem alto as pedras que restam de 
        fortalezas e igrejas, penosa e amoravelmente erguidas por mãos de 
        portugueses. 
        
        Junto a elas combateu e orou a nossa Antónia Rodrigues; 
        e, como ela, tantos outros que sacrificada e heroicamente trabalharam 
        pelo alargamento da Fé e do Império, em louvor de Deus e para maior 
        honra de Portugal. 
        
         
        
        NOTA VIII 
        
        Diz o CONDE DE SABUGOSA que Filipe lI, quando visitou
        Lisboa em 1619, quis ver Antónia Rodrigues, cujo prestigio
        era bem conhecido, não apenas para satisfazer uma natural curiosidade, 
        mas talvez por um compreensível motivo de ordem política. 
        
        Desejoso de captar as simpatias da nação, «afigurou-se-lhe que era passo hábil dar um testemunho da sua graça à heroína, que tão brilhantemente tinha honrado 
        o brio português.» 
        
        Mandou chamá-la. E acudindo Antónia Rodrigues ao chamamento, subia pouco depois a escadaria do Paço da
        Ribeira, onde o monarca se encontrava de regresso do convento dos Jerónimos, atravessava a sala dos Tudescos, entre os olhares curiosos da corte, e, introduzida na câmara das
        audiências, avistava-se com o Rei, que a conversou longamente. 
        
        «Acabou o colóquio (conforme 
        diz o cronista) por lhe fazer mercê de duzentos cruzados para ajuda do custo, uma 
        fanga de trigo em cada mês, e uma tença de dez mil reis em sua vida.» 
        
        (50)  
        
        /
        196 / 
        
        Transcreve, mais adiante, o alvará (de que só teve notícia depois de concluído o seu estudo) pelo qual o rei concede a Antónia 
        Rodrigues «cinqo mil reis de tença cada ano  em sua vida pagos no 
        almoxarifado da dita uilla (Mazagão) alem dos dez mil reis de tença que 
        tem nas obras pias», pondo em
        relevo que o documento «vem corroborar as afirmações 
        do
        cronista, havendo apenas divergência na quantia que foi dada como tença 
        à heroína). 
        
        (51) 
        
          
            | 
             
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            Alvará concedendo uma tença a Antónia Rodrigues.  | 
           
         
        
        VILHENA BARBOSA(52) e RANGEL DE QUADROS(53), entre muitos outros, referem a entrevista de 1619 e a concessão  
        
        /
        197 / da mercê: 200 cruzados para 
        ajuda de custo ou despesas da
        jornada, 1 fanga de trigo (de farinha, diz o primeiro) em cada mês e uma 
        tença de 10.000 reis. 
        
        O Dr. HIPÓLlTO RAPOSO informa semelhantemente, mas
        já de olhos postos no alvará, que o soberano intruso quis
        conhecer a heroína, mandou chamá-la ao Paço da Ribeira,
        recebeu-a benignamente, ouviu a narrativa da sua vida de soldado de África e 
        houve por bem fazer-lhe mercê de 5.000 reis  de tença 
        cada ano em sua vida.(54) 
        
        Há em tudo isto grande confusão. 
        
        Contrariamente ao que afirma o CONDE DE SABUGOSA, o 
        cronista não refere qualquer colóquio durante ou findo o qual o Rei tivesse concedido a Antónia Rodrigues a tença de  10.000 reis ou a de 5.000 reis. 
        
        Não refere, nem podia referir 
        − pela inabalável razão de
        que, quando a entrevista se realizou, em 1619, já DUARTE
        NUNES DE LEÃO tinha falecido havia onze anos. Sabe-se perfeitamente que a 
        Descripção do Reino de Portugal foi publicada em 1610, dois anos depois da morte do autor. 
        
        Não há divergência alguma entre o que afirma o historiógrafo e o que consta do alvará, relativamente à quantia atribuída como tença à heroína: aquele noticia a mercê de
        uma tença de 10.000 reis (fora 200 cruzados de ajuda de custo e 1 fanga de trigo em cada mês); este concede uma nova
        tença, de 5.000 reis, a pagar no almoxarifado da vila de
        Mazagão, além dos 10.000 reis de tença que Antónia Rodrigues já tinha nas obras 
        pias. 
        
        Sem qualquer desacordo quanto à importância, o alvará corrobora a afirmação do cronista da mercê de uma tença de 10.000 
        reis, evidentemente anterior a 1608. 
        
        Importa transcrever as palavras de DUARTE NUNES DE
        LEÃO: casada Antónia Rodrigues com um cavaleiro mancebo dos principais 
        da vila, «com elle fe veo a efte reino com certidão de feus feruiços que fez pelas armas, & a defpachou
        elRei com merce de duzentos cruzados para ajuda de cufta
        & de huma fanga de trigo cada mes & de dez mil reis tudo
        de tença em fua vida. E agora ha pouco tornando qua lhe
        tomou hum filho por moço da camara por os seruiços della fua mãi. He hoje viua & efta nefta cidade com outro requerimento: he 
        molher ainda moça de menos de trinta & cinquo annos...»(55) 
        
        Parece, assim, que Antónia Rodrigues veio ao reino, com o marido, logo após o casamento, muito antes de 1608. 
        
        Por então, e em face do certificado dos seus serviços 
        
        /
        198 /
        militares, lhe fez o Rei mercê de 200 cruzados para ajuda de custo e de 
        1 fanga de trigo em cada mês e 10.000 reis de tença em sua vida. 
        
        Retirou a heroína, por certo para Mazagão. E voltando ao reino pouco 
        antes de 1608 − «e agora ha pouco tornando qua» − o Rei, ainda em atenção 
        aos serviços dela, tomou-lhe um filho para moço da sua câmara. 
        
        Em 1608, ou muito perto desta data, sendo mulher e ainda moça, de menos 
        de  35 anos de idade, estava em Lisboa «com outro requerimento». 
        
        É isto o que se apura do que escreveu o cronista; e com
        ele está de acordo o P.e FRANCISCO DE SANTA MARIA ao afirmar
        que, casada a heroína, «El Rey lhe fez muitas mercês.»(56) 
        
        Reparo, porém, que a tença 
        de 5.000 reis foi concedida,
        como consta do alvará, em 4 de Dezembro de 1602 − teria, então, Antónia 
        Rodrigues 22 anos de idade − pelo que a de 10.000 reis lhe era, necessariamente, anterior. Nada disto impressiona; mas não deixa de 
        causar estranheza que DUARTE NUNES DE LEÃO se não tivesse referido, 
        concretamente, à mercê de 1602. 
        
        O esclarecimento do problema depende da felicidade de se encontrarem 
        documentos cuja pesquisa não estou, ao menos por agora, habilitado a 
        fazer. 
        
         
        
        NOTA IX 
        
        Quase todos os escritores fixam a 
        data do nascimento de
        Antónia Rodrigues em 31 de Março de 1580.(57) 
        
        ADRIANO COSTA adopta-a também, contra a indicada por
        VILHENA BARBOSA, afirmando que grande número de escritores antigos, 
        entre os quais DUARTE NUNES DE LEÃO, dão o nascimento da heroína em 
        1580.(58) Afirmação inexacta, ao menos pelo que respeita ao cronista, 
        que em parte alguma se refere, que eu saiba, à data do nascimento da 
        celebrada amazona aveirense. 
        
        RANGEL DE QUADROS diz haver sobre este ponto diversas
        opiniões, sendo a mais seguida e mais conforme às datas dos 
        
        /
        199 /
        diferentes factos da vida da heroína a que a dá como nascida em 
        31 de 
        Março de 1580.(59) 
        
        Opiniões em desacordo com a ordinariamente adoptada,
        só conheço a de VILHENA BARBOSA, que afirma ter Antónia
        Rodrigues nascido pelos anos de 1560 a 1562.(60) 
        
        Quando não há documentos ou testemunhos fidedignos,
        o melhor é lastimar a falta e não enveredar pelo caminho
        das conjecturas, muitas vezes aceitáveis mas sempre falíveis.
        Se bem o compreendo, nem por isso me abstenho de raciocinar sobre o 
        problema. 
        
        Impressiona a precisão com que a generalidade dos
        autores fixa o dia, mês e ano do nascimento da heroína: 31 de Março de 1580. É certo que alguns se limitarão a
        copiar de outros; mas sempre há os que, pelas responsabilidades dos seus nomes, se não determinariam levianamente. E seria 
        necessário admitir, no que primeiro revelou tal data,
        um espírito desmarcadamente invencionista para fazê-lo com
        tamanho rigor. 
        
        Por outro lado, não me parece aceitável a opinião de VILHENA BARBOSA. Se 
        Antónia Rodrigues houvesse nascido
        pelos anos de 1560 a 1562, teria à data do falecimento de
        DUARTE NUNES DE LEÃO, 1608, 46 a 48 anos de idade. E o
        cronista afirma que a conheceu mulher ainda moça de menos
        de 35 anos.(61) 
        
        Se esta maneira de dizer significa que a heroína tinha
        então 35 anos incompletos, e se o historiógrafo escreveu
        precisamente no ano do seu falecimento, haveria de concluir-se que Antónia Rodrigues nascera em 1573. 
        
        Mas não repugna absolutamente acreditar que a forma
        imprecisa do cronista traduza um simples cálculo feito sobre
        aparências: bem podia mostrar aspecto de pouco menos
        de 35 anos de idade quem apenas tinha 28 ou ser DUARTE
        NUNES DE LEÃO mau calculista. 
        
        Se, como o historiógrafo refere, Antónia Rodrigues fugiu
        de casa da irmã aos 12 anos de idade, serviu 5 anos de soldado em Mazagão e lá casou poucos dias depois de ter revelado o seu verdadeiro sexo, é de supor que tenha constituído
        família à volta dos 17 anos; e assim, era possível que, aos 28,
        tivesse já um filho em idade de ser tomado pelo Rei como
        moço da sua câmara. 
        
        Estas considerações me levaram a aceitar como data do
        nascimento da heroína a ordinariamente indicada. 
        
        /
        200 / 
        
          
        
        
        NOTA X 
        
        Inspirados no livro Brasileiras célebres, de J. NORBERTO,
        os historiadores cariocas TEIXEIRA DE MELO e BARÃO DO RIO
        BRANCO, o primeiro nas Efemérides nacionais e o segundo
        nas Efemérides brasileiras, referem-se à vida aventurosa da fluminense 
        D. Maria Úrsula de Abreu Lencastre. 
        
        Aos 18 anos de idade, ao que parece por virtude de um
        amor contrariado, fugiu da casa paterna e, com o nome de
        Baltasar do Couto Cardoso, assentou praça em Lisboa, em 1
        de Setembro de 1700. 
        
        Como soldado seguiu para a Índia, onde tomou parte em
        numerosos combates, obrando prodígios de valor, especialmente no assalto à fortaleza de Ambona e na conquista das
        ilhas de Corjuém e Penelém. 
        
        Ao cabo de 13 anos  de disfarce, durante os quais prestou serviços 
        distintos e procedeu sempre de modo irrepreensível,
        casou com o valente oficial Afonso Teixeira Arrais de Melo,
        que fora governador do forte de S. João Baptista. 
        
        D. João V fez-lhe mercê de uma tença e do usufruto do
        paço de Pangim. 
        
        O académico brasileiro GUSTAVO BARROSO fundamentou
        na vida da heroína o seu romance A Senhora de Pangim,
        no qual, falando-se da fama por ela alcançada, se lê esta
        passagem: 
        
        − «Portugal tinha agora, 
        graças à brasileirinha − rosnava o duque de Lafões para o Marquês de 
        Valença, na sala
        do Conselho de Estado, entre duas pitadas de rapé, sob os
        olhos melosos do prior de S. Nicolau − Portugal tinha agora a sua heroína 
        autêntica para contrapor à famigerada
        D. Catarina de Erauso, a monja alferes de que se orgulhava a Espanha. 
        
        − Com uma grande diferença, 
        e para melhor, adiantou o valido de Sua Majestade.  Ouço dizer por todos que a brasileira teve sempre muito bom procedimento e que só descobriu 
        o sexo para casar-se honestamente, que nunca bebeu, nem jogou, nem se deu a outras irregularidades, enquanto
        que a espanhola, pelo que me contam, tinha todos os vícios
        e defeitos... Mais merece a nossa, que não chegou a alferes
        e somente a cabo, pois além de tudo é bela...»(62) 
        
        Sublinhei o que interessa ao meu intento. 
        
        Vê-se que o douto académico não tinha notícia do nome
        e façanhas da nossa Antónia Rodrigues. Portugal não teve 
        
        /
        201 /
        de esperar pelos tempos do Rei Magnânimo nem de alongar a vista para 
        fora do continente para encontrar heroína que, com vantagem, pudesse 
        ombrear com a famosa guerreira espanhola. 
        
        Quanto a esta, há mesmo quem chegue a supor que não  era mulher, mas um 
        homem com hipospadias, um pseudo-hermafrodito.(63) 
        
        Seja como for, as falas do duque de Lafões e do valido de Sua Majestade 
        no romance  de GUSTAVO BARROSO seriam ainda melhor cabidas a respeito 
        da nossa Antónia Rodrigues. 
        
        Graças à celebrada aveirense, Portugal teve, ainda antes da Espanha, uma 
        outra D. Catarina de Erauso, que não sendo  alferes, como a espanhola, 
        nem cabo, como a brasileira, foi grumete, como aquela, soldado, como 
        ambas, e que, saindo «pura, virginal, intemerata, de todas as promiscuidades perigosas», tinha sobre a primeira, além de outras 
        vantagens, a de uma grande beleza. 
        
        ANTÓNIO CHRISTO  | 
      
      
        | 
         
        
        
        (1) 
        − 
        ADRIANO COSTA, Antónia Rodrigues − A heroína aveirense, artigo 
        publicado no Almanak Aveirense para 1896, Aveiro, 1895, pág. XLIX.. 
        
        
        
        (2) 
        − 
        
        Cfr. Roteiro da Cidade, Aveiro, 1945. ed. da Comissão Municipal 
        de Turismo. pág. 6. 
         
        
        
        
        (3) 
        − DUARTE NUNEZ DE LEÃO, 
        Descripção do Reino de Portugal, 2.ª ed.,
        Lisboa, MDCCLXXXV, pág. 346. 
         
        
        
        
        (4) 
        − 
        lbidem.  
        
        
        
        (5) 
        − 
        CONDE DE SABUGOSA, Neves de Antanho, 3.ª 
        ed., pág. 281.    
        
        
        
        (6) 
        − 
        JOSÉ REINALDO RANGEL DE QUADROS OUDINOT, Aveirenses notáveis 
        − Antónia Rodrigues, artigo publicado no semanário "Districto de Aveiro". 
        
        
        
        (7) 
        − 
        MARQUES GOMES, Memórias de Aveiro, 
        pág. 185.. 
        
        
        
        (8) 
        − 
        MARQUES GOMES, O Districto de Aveiro, 
        pág. 152.   
        
        
        
        (9) 
        − 
        Figuras egrégias nascidas no 
        concelho, artigo publicado no Portugal económico, monumental e artístico, fasc. LVII, 
        pág. 51.   
         
        
        
        
        (10) 
        − 
        ESTEVES PEREIRA e GUILHERME 
        RODRIGUES, Portugal − Diccionário 
        corographico, biographico, bibliographico, heraldico, numismatico e 
        artistico, vol. VI, pág. 342, 1.ª .col. 
        
        
        
        (11) 
        − 
        ADRIANO COSTA, art. e loc. cits., 
        pág. L. 
        
        
        (12) 
        − 
        DUARTE NUNES DE LEÃO, ob. cit., 
        pàg.346. 
        
        
        
        (13) 
        − 
        DAMIÃO DE FROES PERYM, Theatro Heroino, tom. I, Lisboa, 
        MDCCXXXVI, pág. 55.. 
        
        
        
        (14) 
        − 
        CONDE DE SABUGOSA. ob. cit.. págs. 
        271 e segs. 
        
        
        
        (15) 
        − 
        DAMIÃO DE FROES PERYM, Theatro Heroino, Lisboa, MDCCXXXVI.
        tom. I, págs. 55 e segs. 
        
        
        
        (16) 
        − 
        MARQUES GOMES, Memórias de Aveiro, pág. 185.    
        
        
        
        (17) 
        − MAXIMIANO DE LEMOS, Encyclopedia portuguesa ilustrada - Diccionario universal, vol. IX, pág, 479, col. 
        3.ª 
        
        
        
        (18) 
        − MANUEL PINHEIRO 
        CHAGAS, Diccionário popular, historico, geographico, 
        mythologico, biographico, artistíco, bibliographico e litterario, 
        Lisboa_ 1881, vol. 9.º. pág. 359, col. 3.ª; ESTEVES PEREIRA e GUILHERME 
        RODRIGUES, ob. e vol. cits., pág. 342, col. 1.ª  
         
        
        
        
        (19) 
        − DUARTE NUNES DE LEÃO, ob. 
        cit., pág. 347. 
        
        
        
        (20) 
        − HIPÓLITO RAPOSO, Mulheres na Conquista e Navegação, na
        revista Brotéria, Lisboa, MCMXXXVIII, vol. XXVII, fasc. 4, pág. 307. 
        
        
        
        (21) 
        − CONDE DE SABUGOSA, ob. 
        cit., pág. 272.    
        
        
        
        (22) 
        −
        D. ANTÓNIO DA COSTA, A Mulher em Portugal, Lisboa, 1892, 
        pág. 33.  
         
        
        
        
        (23) 
        −  ADRIANO COSTA, 
        ob. cit., pág. L.   
        
        
        
        (24) 
        − JOSÉ REINALDO RANGEL DE QUADROS OUDlNOT, art. e loco cits.     
        
        
        
        (25) 
        −  Ibidem...    
        
        
        
        (26) 
        −  JOSÉ AGOSTINHO, O Homem em Portugal, 
        Porto, 1908, pág. 242.     
        
        
        
        (27) 
        − MARQUES GOMES, Memórias de Aveiro, pág. 
        185.   
        
        
        
        (28) 
        − MARQUES GOMES, O Districto de Aveiro, pág. 152. . 
        
        
        
        (29) 
        − LUIZ DE VASCONCELLOS DIAS, 
        Aveiro-Notícia historica, Aveiro, 1903, pág. 41.  
        
        
        
        
        (30) 
        − 
        Portugal económico, monumental e artístico, art. 
        e loc. cits. 
        
         
        
        (31) 
        − 
        Arquivo da Torre do Tombo, Chancel. de Filipe II, Doaç.
        Liv, 12, fls. 18 v. 
        
        (32) 
        − 
        J. A. PIRES DE LIMA, Vícios de conformação do sistema uro-genital, Porto, 1930, pág. 13. 
        
        (33) 
        − 
        J. A. PIRES DE LIMA, ob. cit., pág. 29.  
        
        (34) 
        − 
        CONDE DE SABUGOSA, ob. cit., pág. 277. 
         
        
        (35) 
        − 
        DUARTE NUNEZ DE LEÃO, ob. cit., pág. 348.
         
        
        (36) 
        − 
        CONDE DE SABUGOSA, ob. cit., pág. 275.
         
        
        (37) 
        − 
        HIPÓLITO RAPOSO, art. e loc. cits., pág.. 308.
         
        
        (38) 
        − Cfr. ALBERT MALET et 
        JULES ISAAC, XlV.e−XVe−XVIe siècles, 4.ª ed.,
        págs. 347 e 356. 
         
        
        (39) 
        − 
        J. A. PIRES DE LIMA, ob. cit., pág. 10. 
         
        
        (40) 
        − Cfr. ALMEIDA GARRETT, Obras completas 
        − VIII − Romanceiro,
        Lisboa, 1904. pág. 39.
         
        
        (41) 
        − Cfr. MENDES DOS REMÉDIOS, 
        História da Literatura Portuguesa,
        5.ª ed., pág. 167.
         
        
        (42) 
        − Cfr. TEÓFILO BRAGA, 
        História da Literatura Portuguesa, lI, Renascença, Porto, 
        1914,pág. 372. 
        
        (43) 
        − 
        HIPÓLITO RAPOSO, art. e loc. cits., pág. 305.  
        
        (44) 
        − 
        Torre do Tombo, Corpo Cronologico, parte I.., maço 72, doc. 68,
        e SOUSA VITERBO, Diccionario dos Architectos, voI. I, págs. 196 e segs.,
        cits. por VERGÍLIO CORREIA, ob. cit., pág. 48. 
        
        (45) 
        − VERGÍLIO 
        CORREIA,. ob.. cit., pág. 46. 
        
        (46) 
        − 
        HIPÓLITO RAPOSO, art. e loc. ,cits., pág. 306; VERGÍLIO CORREIA,
        ob. cit., pág. 53. 
        
        (47) 
        − LUIZ MARIA DO COUTO DE ALBUQUERQUE DA CUNHA, 
        Memorias
        para a Historia da Praça de Mazagam, nas Memorias da Academia Real nas Sciencias de Lisboa, 2.ª Classe, tom. 
        III, p. 11, págs 5 e segs.  
        
        (48) 
        − VERGÍLIO CORREIA, ob. cit., pág. 40. 
        
        (49) 
        − 
        Escrevo assim, não obstante a lição 
        do senhor Prof. DAVID LOPES
        no sentido de que não exercemos nenhuma acção civilizadora a favor das 
        populações de Marrocos (Prof. DAVID LOPES, Os portugueses em Marrocos  no 
        tempo de D. João III: decadência do domínio português, na História de
        Portugal, ed. mon. da Portucalense Editora, Ldª, voI. IV, pág. 129). Não
        se põe em dúvida o nosso esforço construtivo e guerreiro em Mazagão.
        E quanto  ao civilizador, se, «à luz do conceito colonial moderno, que é 
        de protecção, educação e pacificação, Portugal deixou essa página de 
        Marrocos  em branco», também é certo que tal conceito quase se 
        desconhecia nos séculos XV e XVI, como o senhor Prof. DAVID LOPES, 
        aliás, reconhece. Combater pela fé cristã contra a moirama, edificar 
        fortalezas e templos, cuidar da instrução pública, a cargo de dois 
        religiosos que ensinavam gramática e de dois professores régios que 
        dirigiam as aulas de primeiras letras e de música, resistir no cativeiro 
        a promessas, ameaças e torturas dos imperadores, dando lições 
        magníficas de fidelidade à crença que se professava e
        ao rei, que se servia − tudo isto, integrando os factos no tempo, se me 
        afigura um notável esforço civilizador.  
        
        (50) 
        − 
        CONDE DE SABUGOSA, ob. cit., pág. 
        280. 
        
        (51) 
        − 
        Ibidem, págs. 281 e segs. 
        
        (52) 
        − 
        INÁCIO DE VILHENA BARBOSA, nos Subsídios para a História de
        Aveiro, de MARQUES GOMES, pág. 570. 
        
        (53) 
        − 
        RANGEL DE QUADROS, art. e loc. cits. 
        
        (54) 
        − 
        HIPÓLITO RAPOSO, art. e loc. cits., pág, 308. 
        
        (55) 
        − 
        DUARTE NUNES DE LEÃO, ob. cit., pág. 
        348.  
        
        (56) 
        − 
        Padre FRANCISCO DE SANTA MARIA, Anno Historico, tom. 
        I,
        pág. 540.  
        
        (57) 
        − 
        CONDE DE SABUGOSA, ob. cit., pág. 
        259; MARQUES GOMES, Memórias de 
        Aveiro, pág. 184. e O Districto de Aveiro, pág. 152; PINHO LEAL, ob. 
        cit., pág. 262; Dr. HIPÓLITO RAPOSO, art. e loc. cits., pág. 306; VASCONCELOS 
        DIAS, ob. cit., pág. 41; MANUEL PINHEIRO CHAGAS, ob. cit.,
        pág. 359; ESTEVES PEREIRA e GUILHERME RODRIGUES, ob. cit., pág. 342;
        Portugal económico, artístico e monumental, art. cit., pág. 51.
         
        
        (58) 
        − 
        ADRIANO COSTA, art. e loc. cits., págs. L e 185.
         
        
        (59) 
        − 
        JOSÉ REINALDO RANGEL DE QUADROS OUDINOT, 
        art. e loc. cits.  
        
        (60) 
        − 
        INÁCIO DE VILHENA BARBOSA, art. e loc. cits, pág. 570.
         
        
        (61) 
        − 
        DUARTE NUNES DE LEÃO, ob. cit., pág. 348.
         
        
        (62) 
        − 
        GUSTAVO BARROSO, A Senhora de Pangim, 
        Rio, 1932, págs. 196
        e segs. 
        
        (63) 
        − 
        NICOLÃS DE LEON, La Monja Alferes Dona Catalina de Erauso, no 
        Arquivo de Medicina Legal, Lisboa, I, págs. 3 e segs., cit. pelo Prof. 
        J. A. PIRES DE LIMA, ob. cit., pág. 13.  |