José Tavares, Informação paroquial da Bemposta, Vol. XIV, pp. 136-140

INFORMAÇÃO PAROQUIAL DA FREGUESIA

DA BEMPOSTA

(hoje Pinheiro da Bemposta) DE 1758

RELAÇÃO DO QUE SE PERTENDE SABER

DESTA FREGUEZIA DA BEMPOSTA

1.º − Esta terra he da Provinçia da Beyra bayxa, Bispado de Coimbra, Comarca da Esgueyra, freguezia de Sam Payo da Villa da Bemposta.

2.º − He Donatario della o Ilustrissimo Marquez de Angeja, e lhe confirma as Justiças.

3.º − Tem a villa da Bemposta trinta e sinco fogos, o numero das pessoas mayores he de çento e seis, o dos menores he de quinze o dos auzentes des.

4.º − Está situada na planicie da estrada publica, por onde passa quem vem das Cidades de Lisboa e Coimbra, pera a do Porto, ou do Porto pera as tais Cidades, ou pera onde lhe importar descobre se da dita freguezia a Villa de Aveyro, que dista coatro legoas, tambem se descobre a villa de Estarreja as freguezias de Santiago, Mortuza, Veyros, Avanca, Loureiro, que são Igrejas do Bispado do Porto em distancia de duas e tres legoas para a parte do mar.

5.º − Esta freguezia he Cabeça de Conselho, e termo da Bemposta, cujo termo, e Conçelho consta de onze freguezias a saber Pardelhas, Santiais, Sam Martinho de Sal Reu, Canellas, / 137 / Fermelam, Branca, Ribeyra de Fragoas, Palmaz, Travanca, Sancta Maria de UI, Loureiro.

6.º − A Igreja Matriz ou Parochia esta a um lado do lugar do Pinheyro, o qual tem sesenta e dois fogos, o numero das pessoas mayores he de cento e noventa e tres, o dos menores vinte e tres, o dos Abzentes vinte e hum, tem a Parochia a villa da Bemposta com os referidos fogos pessoas maiores, menores, e abzentes ut supra no interregatorio terceyro. Tem tambem o lugar de Figueredo de Sima, que tem trinta e dons fogos, pessoas mayores noventa, menores dezanove abzentes seis. Tem o lugar de Figueredo de bayxo, que tem sinquoenta fogos, pessoas mayores çento e vinte e tres, menores vinte, abzentes onze. Tem tambem o lugar da Hermida, e Covais com vinte e sinco fogos, pessoas mayores oitenta e duas, menores catorze, abzentes nove. Tem tambem a Parochia o lugar de Thogilde com doze fogos, pessoas mayores trinta e sete, menores oito sem abzentes. Tem mais o lugar de Fonteschans com. seis fogos, pessoas mayores quinze, menores sinco, abzentes dous.

7.º − A Igreja tem por Orago, ou Padroeyro o Ilustre e insigne Sam Payo, que está colocado na tribuna do Altar mor, na qual estão tambem as Immagens de Nossa Senhora dos Escravos, Saro Pedro ad vincula, e o gloriozo Patriarcha Sam Francisco, alem do Altar mor tem mais a Igreja coatro Altares pera a parte do Evangelho hum com a Immagem de Nossa Senhora do Rozario, em correspondençia deste pera a parte da Epistola tem outro altar com a Immagem de Nossa Senhora da Esperança. Abaixo delle da mesma parte otro Altar com a Immagem do Divino Spirito Sancto a Senhora Sancta Anna e Sam Sebastião, em correspondençia deste pera o otro lado otro Altar com a Imagem de Nosso Senhor Jezu Christo Crucuficado, he a Igreja de hũa só nave, tem só hũa Irmandade a que chamão das Almas com seus compromissos, e estatutos, e algũas mordomias sem elles.

8.º − O Parrocho he e domina sse Prior, e he Igreja da aprezentação de Sua Magestade que renderá com fructos certos e incertos noveçentos mil reis.

9.º − Não tem beneficiados.

10.º − Nem tambem tem Conventos.

11.º − Nem Hospital.

12.º − Nem caza da Mizericordia.  / 138 /

13.º − Tem a freguezia algũas Capellas, ou Hermidas, das quais se administra aos enfermos o Sacro Viatico, dentro da Villa da Bemposta ham duas Capellas hũa de Sam Sebastião que he da freguezia, onde vão terminar as provisois da Justiça que sabem da Igreja. Ha outra Capella da invocação de Sancto Antonio, que administra o capitão Mor João Pereyra de Mello Leytão da quinta do Pinheyro no seu dia se canta missa, fora da Villa da Bemposta ha outra Capella da invocação de Sam Thomé, cujos administradores são Marianna Alveres, Izabel Tavares viuvas da mesma Villa, e no dia do Sancto se canta hũa missa, e se dizem rezadas mais de sinco, pela alma dos instituidos. No lugar de Figueredo de baixo, ha otra Capella da invocação de Sam Luiz, a qual he da freguezia, e nella se canta missa por devoção em os vinte e sinco da rpes de Agosto.

Tem tambem a freguezia hũa Hermida da invocação de Nossa Senhora da Rybeyra por baixo do lugar dos Covais, em que se faz festa a dous de Fevereyro, e no segundo domingo de Mayo por devoção com concurso de povo.

14.º − Tem tambem a freguezia otra Capella no lugar do Curval da invocação de Sam Silvestre, em cujo dya vay da Igreja procissão e la se canta missa, ou as vezes se reza ao concurso do povo, que se ajuncta, e tambem a dita Capella vem procissão da Igreja da Branca, e he a modo de mercado, porque se vendem nabos, pão, vinho, castanhas, tremoços, e algũas alfayas rurais. Na quinta do Curval ha otra Capella da invocação de Sam João Baptista, que por indecente, e estar ameaçando ruina se não celebra, e está hoje possuidor da quinta e Capella hum filho de Gonçalo de Almeyda de Souza e Saa. Na quinta de Fonteschans ha otra Capella da invocação de Jesus Maria José, que paramentão, e adminisirão os Doutores Joze Cardozo da Cunha, Inoffre Teixeira de Almeida seus irmãos assistentes na mesma quinta, todos os Domingos e dias Sanctos ha sempre missa na dita Capella.

15.º − Os moradores desta freguezia, os frutos que recebem em mayor abundancia he milho e vinho verde, tambem semeão senteyo e painço.

16.º − Esta freguezia he Cabeça de Conçelho, ha nella dous juizes ordinarios, vereadores, Almotaceis não está sogeito a governo algum das Justiças, só sim se apellão as cauzas para a Overdoria de Angeja, e desta para a relação do Porto.

17.º − Está dito.   / 139 /

18.º − Nada(1).

19.º − Nada.

20.º − Não tem correo esta freguezia, só por elle passa o estafeta com os massos fechados na sexta ferra de manhãm, e volta do Porto no domingo de tarde, e algũas pessoas se valem do correo de Aveyro, que dista desta freguezia coatro legoas.

21.º − Nada.

22.º − Nada.

23.º − Nada.

24.º − Nada.

25.º − Nada.

26.º − No dia do terremoto não padeceu ruina algũa esta freguezia somente cahio o capitel da cruz que estava no frontespicio da igreja, o qual era de pedra esquadria.

Pelo que toca a serra(2) não ha que se diga e pelo que toca ao Rio(3) digo somente que por esta freguezia corta e divide hum certo Rio, que tem o nome de Sitio por onde passa como he o campo do Rio, os Moinhos da Moura, a Minhoteyra, o ferrá, he incognito o seu nascimento, de inverno se engrossa com as chuvas, e com alguns regatos, que incorporão nelle, divide o Bispado de Coimbra do do Porto ficando o do Porto para a parte do ocidente, não he navegavel, porque he cingido de moinhos e assudes, nem no districto desta freguezia ha ponte algũa, corre com as muitas agoas arrebatado por inverno, e pelo verão parece regato que se passa a pé enxuto sobre pedra, que lhe servem de poyas vay findar a / 140 / sua corrente no Rio de Aveyro, o peixe que nelle se pesca são barbos, vogas e trutas nos mezes de Agosto, e Setembro, não ha lagares de azeite, nem noras, de alguns logares desta freguezia se avista o mar da direitura de Aveyro, athe alem da villa dovar, que farão sinco para seis legoas, e por elle se divizão na viagem navios, caravelas, patachos, e não se me offerece dizer cousa que mais relate. Rezidencia da Bemposta vinte e dous de Abril de mil setecentos e sincoenta e oito. − O Prior Domingos Leyte de Amarante. [Arquivo Nacional da Torre do Tombo Dicionário Geográfico de Portugal − Vol.. 6, Folhas 667].

JOSÉ TAVARES

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(1) No quesito deste número perguntava-se se havia «memória de que florecessem, ou della sahissem, a alguns homens insignes por virtudes, lettras ou armas». Ora de tempos anteriores a 1758 alguns homens notáveis podiam apontar-se. Veja-se Annaes do Municipio de Oliveira de Azemeis (Porto, 1909), págs. 323-324.

(2) Daqui até o fim, responde-se, em globo, aos quesitos relativos aos capítulos do questionário intitulados: «O que se procura saber d'essa serra é o seguinte» e «O que se procura saber do rio d'essa terra é o seguinte.» 

(3) − Trata-se do rio Antuã, que na freguesia do Pinheiro da Bemposta é conhecido pela designação de rio da Minhoteira. Acerca dele e do seu afluente UI, leia-se o notável estudo que o Abade JOÃO DOMINGUES AREDE, nosso ilustre colaborador, publicou no Arquivo em 1944 (Vol. X, págs. 269-294).

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